quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Os adversários tremem quando veem o São Paulo no retrovisor


Si arguém tivé zuação contra nóis porco, e se fô ingraçada, pódi mandá qui nóis pubrica tamém, falô? Contra a gambazada, intão, vixi...

Foda-se: que ganhe o Rio

O Comitê Olímpico Internacional (COI) anuncia nessa sexta a cidade que sediará os Jogos de 2016. Pela enésima vez, o Rio é candidato e, ao que parece, agora com chances reais de vitória. Copenhague recebe comitivas de apoio. Pelé, Lula e Paulo Coelho – para citar apenas os brasileiros mais conhecidos no mundo – estarão lá para defender a candidatura carioca. Barack Obama defenderá Chicago. Tóquio e Madri estão na parada. A briga é de cachorro grande.

Sim, eu sei que a decisão não está por conta da caneta do COI, que é uma eleição reunindo os representantes nacionais, mas sei também que a tal família olímpica tem de tudo, menos fair play. Ali, meu amigo, o mais ingênuo dá nó em pingo d’água.

As chances do Rio de Janeiro se devem menos às soluções que a cidade deu aos seus magistrais problemas – transporte, segurança, rede hoteleira, telecomunicações – e mais à possibilidade, real, de que o COI penda suas asas para a América do Sul. Depois da Fifa levar a Copa do Mundo à Ásia e, agora, à África, é bem capaz de o COI entrar na barca e, pela primeira vez, aprovar uma Olimpíada no Terceiro Mundo.

É indiscutível que a ideia divide o País. Basta ler e ouvir o que as pessoas – nos gabinetes, nas ruas – estão dizendo para constatar que é dúbio o sentimento nacional em torno da perspectiva de o Brasil sediar os Jogos. De um lado, os que acham que não, não temos condições de sediar um evento tão importante, em função dos problemas que enfrentamos. De outro, os que acham que catzo, ora bolas, vamos trazer essa bagaça para cá e foda-se o resto.

E é exatamente assim que eu me sinto. Absolutamente dividido. De um lado, querendo muito que o Rio ganhe essa parada. Que a cidade, no fim das contas, vai herdar um legado físico e histórico importante. Que teríamos, assim, a honra de sediar a primeira Olimpíada do continente.
De outro lado, a certeza de que meu bolso vai sangrar, assim como sangrou no Pan-2007. Que essa candidatura do Rio virou uma obsessão inaceitável. Que quem vai lucrar é a mesma turminha de sempre, a mesma que encheu os bolsos com o Pan. Que o legado físico (ginásios, piscinas, campos, raias) vai ficar ao léu como ficou a estrutura do Pan. Que, com a vitória, vamos encher ainda mais a bola do Lula, que já está artificialmente inflada faz tempo.

Caramba, que dilema. Mas penso que é nessas horas que ninguém pode ficar em cima do muro. Mermão, se formos absorver ao pé da letra a tese de que primeiro precisamos arrumar o País para depois pensarmos em eventos dessa grandeza, vamos sediar uma Olimpíada quando? Quando acabarem as reservas do pré-sal? Quando a Amazônia estiver definitivamente a salvo da burrice nacional? Quando nossos índices de corrupção se equipararem aos da Noruega? Quando enterrarmos o jeitinho brasileiro? Quando a nossa mistura étnica e racial finalmente dar um bom caldo além de pés habilidosos e bundas empinadas? Quando o Corinthians ganhar a Libertadores?

Não, não podemos esperar tanto. Foda-se o resto. Que ganhe o Rio. Mas eu preferia São Paulo.

domingo, 27 de setembro de 2009

De olho nas licitações


Terça à noite acontece, na ACIL, a assembleia de fundação do Observatório de Gestão Pública de Londrina. Pessoas físicas e jurídicas vão ficar de olho nas contas municipais, em especial nas licitações, alvo preferencial das maracutaias no dia a dia desse bravo povo varonil. O foco principal não é o combate à corrupção, posto que isso é trabalho das nossas otoridades constituídas, mas o de acompanhar processos e alertar a Prefeitura sobre preços e condições mais favoráveis no mercado. A inspiração vem de Maringá, onde o Observatório Social atingiu bons resultados, com economia real de milhares de reais para os cofres públicos. Sei que a articulação, em Londrina, está a cargo de pessoas sérias e bem intencionadas. Informe-se e participe. Cidadania não combina com braços cruzados.

O herói nosso de cada dia


Em contraposição ao post abaixo, é destacável a atuação de Danilo contra o Atlético-PR no sábado. A diretoria teve uma iniciativa ousada e de alto risco: colocá-lo em campo e pagar multa de R$ 100 mil ao Atlético-PR, que o emprestou ao Verdão. Muricy tem poucas opções na zaga, mas poderia improvisar sem problemas, com Edmilson ou mesmo o temível Marcão. Mas resolveu apostar na escalação de Danilo, que fez a assistência do primeiro gol, marcou contra e definiu a partida com um golaço, de pura raça, na força de vontade, num bate-pronto difícil mesmo para atacantes. A continuar assim, e com os bâmbis, agora chorões, tropeçando por aí, o caneco fica mais plausível. Foram os R$ 100 mil mais bem gastos pelo Palmeiras em décadas. Não é que esse Beluzzo está indo bem, caramba?

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

A falha nossa de cada dia


Tudo bem, ganhamos do Cruzeiro, vitória importante, fora de casa, jogo nervoso, jogaço, aliás, nos isolamos na liderança, mas palmeirense que é palmeirense não pode deixar de dar umas cutucadas no time, mesmo na fase boa. Por isso, vos digo: se o Palmeiras for campeão com esse Marcão, vou me convencer, então, de que o futebol brasileiro está mesmo uma merda. Sim, é possível montar grandes times com alguns jogadores apenas medianos. É até bom tê-los na equipe - dá um equilíbrio necessário para um esporte tão imponderável como o futebol. Na máquina de 93/94, o lateral direito era Cláudio, ruim de dar dó. Atualmente, temos Wendell e Armero cumprindo esse papel. Mas são jogadores que se encaixam num grande time, fazem a deles, sem brilho, mas, pelo menos, ocupam a posição sem comprometer, enquanto os craques dão conta do recado. Com Roberto Carlos na esquerda e Antônio Carlos na zaga, era possível ter um Cláudio no time. Mas, até que me provem o contrário, não é possível ser campeão tendo na equipe um cara que entrega o ouro como quem troca de roupa. Poxa, custou livrarmo-nos do Fabinho Capixaba, agora temos de dar um jeito desse Marcão procurar o caminhão de mudança do qual ele caiu. Lembro que foi apresentado como boa alternativa para a zaga e a lateral esquerda, como alguém importante para o grupo, pela qualidade e versatilidade, mas, caramba, o cara é uma peneira. É raríssimo uma partida em que ele não entrega a rapadura. Ronaldo Gordo deve muito da sua recuperação a ele. Foi o dito cujo que deixou o Fenômeno marcar aquele gol em Prudente para, na sequência, derrubar o alambrado. Ronaldo poderia ter feito, depois, as grandes atuações que fez, mas, na boa, não seria a mesma coisa se não tivesse empatado aquele clássico em Prudente. Nesta quarta, em BH, começamos perdendo porque uma desviada de cabeça após um chutão da defesa pegou nossa retaguarda de calças curtas. O tal Marcão não marcava nem a bola nem o adversário, pois ambos passaram incólumes debaixo de seu bigode, e o adversário saiu na cara do Marcão - esse sim, um Marcão que preze - e socou para dentro na maior facilidade. Nem um nem outro. O cara não estava na bola nem no adversário. Como, meu Deus, deixar um cara assim como último homem? Seus defeitos não são apenas de marcação. Com a bola nos pés, também entrega o ouro facinho, facinho. O que mais me indigna é que os treinadores não vejam isto. O histórico do cidadão é um atentado aos bons costumes. Tudo bem, o clube contratou, agora em de cumprir o contrato e pagar o salário do cara, deixar o cara treinar etc; mesmo assim, acredito que o presidente deveria estipular uma multa por cada - a cacofonia é pertinente e necessária - vez que o Muriçoca o escalasse. Porque o prejú é batata. Primeiro, contratamos um balaio de zagueiros ruins e passamos um Paulistão e meio primeiro turno do Nacional testando opções até encontrarmos uma dupla mais ou menos, com Danilo e Maurício Ramos. Isso, porém, não permite que esse Marcão seja escalado como terceiro zagueiro ou lateral, pois o equilíbrio da nossa zaga é frágil demais, e uma peça espanada pode colocar tudo a perder. Na direita, Wendell dá conta do recado, enquanto o tal Figueroa não resolve estrear. Pô, o cara é contratado do Chile para assumir a posição e fica meses no bem-bom. Nada original nesse Palmeiras obtuso - o Valdivia ficou quase um ano coçando até ser colocado para jogar, lembram-se? Sinto-me até mal em falar isso tudo de um jogador que está defendendo a equipe com galhardia, que até parece ser gente boa, mas, caramba, convenhamos, é jogador para Náutico, Goiás, Ipatinga, não para um Palmeiras. Enfim, é admissível que jogadores medianos ajudem a formar um time campeão, mas com um entregador de ouro desse quilate? Sei não, sei não...

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vergonha nacional


Deveríamos confiar mais na nossa intuição. Não sei com vocês, mas comigo ela funciona assim (como se fosse fácil explicar): no instante em que deparo com algo, há um aviso de que aquilo é, de alguma forma, importante. Não sei exatamente o que ocorre. Talvez uma minidescarga de adrenalina. Algo que te deixe momentaneamente "ligado", coisa de milésimos de segundo, o suficiente para o aviso. Na verdade, não sei se fico "ligado" ou entorpecido, mas algo ocorre, algo químico, acho, acompanhado de uma breve sensação de deja-vù. Se fosse preciso apontar alguma parte do corpo onde ela ocorre, eu diria na barriga. O fato é que a intuição nunca falha. Agora consigo entender que foi isso que senti naquela corrida em Cingapura, ano passado - a primeira prova noturna da história da Fórmula 1. A sensação foi camuflada por um misto de raiva e decepção quando Nelsinho Piquet porrou o muro, bestamente, sem motivo aparente. A decepção não veio por causa de Nelsinho em si, por um brasileiro estar fora da prova, mas porque outro brasileiro, Felipe Massa, havia sido monstruosamente prejudicado. Felipe Massa, que largara na pole, se finou-se com a batida e a entrada do safety car. Caiu da liderança para a 13ª posição, se não me engano. Alonso, que estava lá atrás, assumiu a ponta e ganhou a prova. Ao parar, Massa saiu com a mangueira do combustível atarracada no carro, perdendo muito tempo. No fim, ele, que buscava aproximar-se de Hamilton na luta pelo título, nem pontuou. Agora que sabemos que o acidente de Nelsinho foi uma farsa, premeditada, bate a indignação. Acredito que não estejam dando a importância devida àquela ocorrência. O consenso é de que trata-se de um dos maiores escândalos da história da F-1, senão o maior. Todos sabemos que aquele circo é mesmo um circo de intrigas, vaidade, poder, grana. Mas daí até mudar-se um resultado por um acidente deliberado... O que Nelsinho fez não mancha apenas a sua carreira. Mancha, sobretudo, a carreira do pai. E o automobilismo nacional também. Pô, o pai dele é tricampeão mundial. E o que pode ter levado Nelsinho a aceitar a tramoia estúpida perpetrada pelo Briatore? Se ainda dependesse de apenas alguns segundos para pensar, no calor da corrida, vá lá. Mas a coisa foi precipitada. Foi discutida e decidida antes da corrida. Para garantir um lugar na Renault? E isso é justificativa para alguém que nasceu em berço de ouro, que disputou um lugar na F-1 correndo em escuderias criadas pelo próprio pai para alavancar sua carreira? Evidente que não surpreende uma atitude dessas num país em que Lula abraça Quércia, lubruza com Maluf, absolve Collor, separa-se de Marina e casa-se com Sarney, mas vá lá, ele tem até motivos para isso, muita gente depende dele, mas Nelsinho não precisava ajoelhar-se a Briatore e agarrar-se a ele como a um prato de comida. Isso é para quem precisa de um prato de comida. Tivesse ele contrariado suas próprias características e mandado Briatore à merda, ele perderia, sim, a vaga na Renault, mas ganharia moral com meio mundo e pavimentaria seu retorno à F-1. E agora, mermão? quem vai querê-lo à sua volta? Com que cara esse piloto vai encarar uma equipe de engenheiros, uma entrevista coletiva, uma arquibancada patrícia? Quem vai respeitá-lo agora? O duro, como torcedor, não é lamentar a cagada de um piloto brasileiro por causa de uma atitude antidesportiva, é constatar que essa atitude antidesportiva tirou o título de um brasileiro em 2008 - ou já nos esquecemos que Massa perdeu o Mundial por um ponto na última curva da última prova, e no Brasil? Nelsinho tirou o título de Massa e perdeu o respeito do Brasil.

Fila para ingressos no jogo do SPFC


Outro e-mail enviado por um amigo corintiano para zoar os são-paulinos. Acho sacanagem esse negócio de gambás utilizarem esse porco espaço para atingir os inimigos, mas sabem como é, acaba virando irresistível. Dizem as más línguas que a imagem retrata a busca de torcedores do São Paulo por ingessos no clássico do próximo domingo. Trata-se de torcedores canadenses, entusiasmados com as notícias de que o Tricolor deflagrou uma arrancada fulminante em busca do tetracampeonato brasileiro. Daí, correram às bilheterias de lá para garantir uma vaga no Panetone domingo que vem. Tem gente que jura ter visto um deles com a cara do Cláudio Osti. Mas eu acho que não...

sábado, 19 de setembro de 2009

Fala a verdade: eles merecem...


Não, não é uma retaliação ao apavoro que o São Paulo, com suas várias vitórias seguidas, está colocando no meu Parmera. Juro! É que tem coisas que falam por si. Eis uma delas. A foto me foi enviada por um amigo corintiano, com a tradicional "uma imagem vale mais que mil palavras". Além de atiçar, nos rivais, a irresistível vontade de tirar um sarro, o jaleco do camarada aí de cima corrobora a tese segundo a qual o Morumbi é chamado de Panetone porque é um bolo cheio de frutinhas dentro.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Um especialista em ter o nome trocado


O que faz uma pessoa errar o nome de outra? O nome em si, facilmente confundível? A maneira como se fala o próprio nome, algo relativo a entonação? A maneira como a outra pessoa ouve? Distração de ambos os lados? Não faço a menor ideia. Só sei que, se não sou campeão mundial da Fifa nessa categoria, devo estar pelo menos no G-4. Me ocorreu de escrever sobre isto porque nesta quinta-feira, 17 de setembro, fui brindado com mais um engano. Subi as escadarias do Comercial Taquari, na esquina da Rio de Janeiro com a Jorge Velho, em Londrina, até pegar o corredor central rumo à CRCOM, para quem estou fazendo um frila. Ao passar pelo Art Café, vi o Adauto lá dentro. Notei a falta do cara por lá, nesses primeiros dias de frila. É que quando fiz outros trabalhos para a CR, sempre tomava cafés ali, e o Adauto, dono do pedaço, era quem fazia as honras da casa. Desta vez, porém, ainda não o havia visto. Entrei para um rápido aperto de mão e ele tascou: "Sumido, Ricardo. Por onde andava?" Cumprimentei-o gentilmente, respondi qualquer bobagem e segui rumo às salas do fundão, com aquele "Ricardo" na zunindo na cachola. Fazia tempo que não tinha o nome trocado - se é que três ou quatro dias podem ser considerados pouco tempo nesse caso. Aquela troca do nome não me incomodou, por dois motivos: primeiro porque parece que nasci para isso e, convenhamos, Ricardo está muito próximo de Rogério. Se o pai entrar naquelas de dar nomes aos filhos começando com a mesma letra, e se um deles for Rogério, Ricardo é quase obrigatório para o irmão seguinte. Roberto e Ronaldo parecem também se encaixar nesse perfil. Tinha ficado mais acabrunhado no início da semana, quando fui ao Bar do Jota deflagrar mais uma noite etílica. O pessoal arrumava as últimas mesas. Fui o primeiro a chegar. Puxei papo com o Giba que, antes de virar garçom, foi um dos meus adversários favoritos no pebolim eletrônico na casa do Bruka, antes dele se mudar para São Paulo, quando ainda morava na Rua Olinda, de cara para o Zerão. A Maibe, que durante muito tempo foi funcionária e hoje toca o Jota, aproximou-se da conversa com o Giba e, ao perguntar sei lá o que, me presentou com um "Marcelo". Era para ser outro caso para não alterar os humores, mas da Maibe não, caralho. Ela me conhece há bem uns 15 anos, senão mais. Frequento o bar desde antes de amarrar os trapos com a Cris, e a Natália, que já fez 13, deu seus primeiros passos em volta daquelas mesas de sinuca, para o deleite da Maibe, que não cansava de elogiar os cachichos amarelados da nossa filha. Enfim, bateu mais no afetivo, sacô? A semana, portanto, começara bem. Após esse "Marcelo", pensei em quais nomes ainda poderia vir a ser chamado, depois de tantas trocas. Lembrei de um "Robson", este ao telefone, durante uma entrevista, semanas atrás. Lamentei não ter anotado todos as trocas; sei que daria uma lista imensa e hilária. Uma dessas trocas foi histórica e acabou rendendo um apelido que, graças a Deus, ficou restrito ao pequeno grupo do qual faz parte o autor da proeza. Quando conheci os Collor de Mello (pela designação dá pra sentir de que madeira são feitos aqueles cabras), o Renato Gordo, rei da manguaça, me chamou de Reginaldo. Como aquela turma (Misa della Barba, Batata do Ipem, Samuketa, Ricardinho da Bota, só para citar os principais) vale bem menos - todos juntos - do que uma nota de três reais, logo passaram a me tratar por "Reginaldo". Enfim, achei que aquele "Ricardo" proferido pelo Adauto seria, na melhor das hipóteses, a última do mês, quando, no fim da tarde, fui ao Instituto Ecometrópole para entrevistar o João das Águas, rumoroso ambientalista local, sobre o cinquentenário do Lago Igapó, que se avizinha. Cheguei antes dele e, ao subir as escadas, deparei lá em cima - é um sobrado - com o Eduardo Panachão, outro ambientalista dos bons, que eu entrevistara ano passado para a revista Top de Marcas. A entrevista fora por telefone. Mesmo assim, Eduardo lembrou-se de quando tomamos algumas juntos, na casa do Tele, pai da Laila, namorada dele, em Maringá. Lembrou-se de mim, mas do nome... Entre os cumprimentos e saudações de praxe, na hora de um falar o nome do outro, Eduardo enroscou-se todo, balbuciou algo inintelígivel, tipo assim o Zé Buscapé narrando um gol do Corinthians, mas juro ter ouvido algo próximo de "Gilberto". Pô, até tu, Panachão?

Só não vê quem não quer


Sim, ele está ali. Olhe bem. Está de pernas cruzadas, um pouco receoso, porque daquele tamanhão, nessa cadeira capenga, tem medo de um tombaço, porque desajeitado o cara é. Lata na mão, porque não é muito de pedir copo. Está ali, rindo das besteiras do Wartão, procurando na memória algum causo para contar, no momento oportuno, porque também não é de interromper prosa boa só pra falar de si. Sempre esperou o momento certo; sabe que, mais do que dos causos, os amigos gostam dele pela presença. Só dele estar na roda já vale o ingresso. Já deixa as pessoas satisfeitas. Pudera: mau humor, ali, passa longe. Sempre de bem com a vida. Grana curta, distância da filhota, fotos mal aproveitadas pelo editor – nem isso é capaz de lhe fazer fechar a cara, transmitir maus fluidos. Pedra noventa, o caboclo. Se tem happy hour pós-trampo, está lá. Se tem churrasco na Cariovaldo, é caixa. Se tem futebol no sítio dos França, idem. Se tem balada coletiva no MPB, no Dionísio, onde for, é presença garantida. Então por que ele faltaria a esse flagrante? Logo a esse, junto de três grandes camaradas? Você acha que ele ia perder a chance de ver o Ivan, mais uma vez, dando uma de chefe? Você acha que ele ia perder a presença do Johnny Negrini, primo do Marquinho, seu melhor amigo? Ou a chance de ver o Wartão tomando 15 doses de Pau de Sapo, até o dono do boteco perder a conta? Se o dono do boteco perdeu a conta, imagina o Warte, em que estado lamentável ficou. Que nada... Bem sabe ele que o Walter, quanto mais manguaça, melhor fica. Você acha que ele ia perder essa estripulia da turma no interior da Bahia? Está vendo ele ali agora, pernas cruzadas, corpo para trás, ajeitando o cabelo, Marlboro vermelho – que, para ele, esse negócio de filtro branco é coisa de viado – no canto da boca? Ah, essa o Cabeça não ia perder. De jeito nenhum. Nem morto!

domingo, 13 de setembro de 2009

A terceira grande chance de Rubinho


Rubinho não pode reclamar da vida. É mesmo um sujeito afortunado. É praxe dizer que todos têm uma grande oportunidade na vida e, se o tal cavalo passar encilhado, não se pode desperdiçar a chance de montá-lo. No final da carreira, agora que estabeleceu recorde absoluto de participações na Fórmula 1, o que pouco ou nada importa para o torcedor brasileiro, o piloto ganha a terceira chance de conquistar um título mundial. A terceira grande chance! Não saberia citar outro piloto que tivesse experimentado tal situação. A primeira grande chance aconteceu em 2000, quando foi contratado pela Ferrari. Ganhou apenas dois inexpressivos vice-campeonatos, mas daí dava para dar um desconto colossal. Teve como companheiro de equipe um dos mais talentosos - o mais trapaceiro, com certeza - pilotos da história. Tudo bem, superar Schumacher não era lá das tarefas mais fáceis, mas quando tudo sinalizava para um final de carreira pacífico e sereno, após pilotar para a apenas promissora BAR, eis que lhe cai nas mãos, quando já se discutia a sua aposentadoria, uma vaga na Brawn GP, escuderia fundada pelo seu ex-chefe na equipe italiana, Ross Brawn. Ao contrário do que todos pensavam, a caçula começou o campeonato com tudo, demonstrando ter o melhor carro, anos-luz à frente de Ferrari, McLaren, Williams, graças a umas inovações que só ela tinha. Sim, Barrichello brigaria pelo título, na melhor equipe do campeonato, tendo como companaheiro um inglês que não conquistara nada de importante, numa temporada em que os grandes pilotos (Hamilton, Alonso, Massa) estavam em equipes tradicionais porém inferiores à surpreendente Brawn. Seria, apenas, o caso de vencer o duelo particular com Jenson Button e levar o caneco para casa. Eis que o brasileiro leva uma sova monumental na primeira fase do Mundial. Button vence seis provas, cinco consecutivas, e o brasileiro vai alternando somente resultados intermediários. Disparado na frente, sem adversários à altura, Button conquista o status de primeiro piloto e deflagra a contagem regressiva para um título antecipado. Quando o mundo parecia de saco cheio das trapalhadas e das desculpas esfarrapadas de Rubinho, eis que o dito cujo ganha a terceira grande chance. Em má fase, Button passa a sofrer resultados ruins e abre espaço para o brasileiro obter bons resultados, que vão se sucedendo até que Rubinho vence o GP da Itália, neste domingo, em Monza, e diminui para 16 pontos a vantagem de Button, que chegou em segundo. São 16 pontos para serem descontados em quatro provas - a penúltima, no Brasil, onde, ano passado, Massa perdeu o título para Hamilton na última curva, na chegada mais emocionante da história da categoria. Enfim, Rubinho renasceu das cinzas e, a dois meses do final do campeonato, tem a grande oportunidade de sua vida. Com um detalhe: no decorrer da reação, seu carro soltou uma mola que por muito pouco não matou Felipe Massa durante um treino classificatório. Massa agora se recupera do traumatismo craniano e torce pelo sucesso do compatriota. Uma eventual conquista de Barrica neste ano não apagará toda uma trajetória de trapalhadas e chororôs, mas encerraria com chave de ouro a história mais longeva de um piloto na F-1. Resta saber se as próximas quatro etapas serão de comemorações efusivas ou de lamentos repetitivos.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Era uma segunda-feira


O 11 de setembro de 2001 é daquelas datas que quase todo mundo se lembra do que fez naquele dia, assim como o 1º de maio de 1994, quando morreu Ayrton Senna. No dia do atentado às torres gêmeas, eu chegara, como de costume, por volta de 8 horas ao escritório da Gazeta Mercantil em Londrina, no último quarteirão da Rua Piauí, próximo da Concha Acústica, no centro da cidade. Fazia quase um ano que tinha sido demitido da Folha, onde trabalhei 14 anos. No início do ano, durante algumas semanas, tinha dado uma mão ao Capucho, que abrira O Popular de Londrina. O jornal abrigava novos repórteres, como Marcelo Frazão, Rodrigo Grota e Fábio Cavazotti. Também trabalhei alguns meses no Mais Londrina, de João Arruda, até Nilson Monteiro, de Curitiba, me convidar para cobrir a licença-maternidade seguida de férias da repórter Josiane Schulz na GM. Era segunda-feira. Abri o escritório da Gazeta pensando no desastre daquela madrugada, quando deixara o celular do jornal despencar do 9 º andar de um prédio na Alagoas, em frente ao cemitério. Era o apartamento da fotógrafa Luciana Franzolin, de Bauru, que fazia pós na UEL e que pegara uns frilas no Mais Londrina. Havíamos tomado todas e eu estava na sacada fumando o 120º Hollywood do dia quando o celular da Gazeta – um tijolão analógico de uns 800 gramas – escorregou entre maços de cigarros, isqueiro e canetas que lotavam o bolso da camisa e foi se esbugalhar no estacionamento do prédio. Abrira o escritório naquele dia pensando no que falar ao Nilson. Principalmente em como falar. Liguei o computador e os sites de notícias falavam de um suposto atentado em Nova York. Um avião tinha batido numa das torres do World Trade Center. “Deve ter sido algum piloto bêbado”, desprezei, ainda com o caso do celular na cabeça. Desci para o indefectível café no Bar do Lema e, enquanto adoçava o dito cujo, vi na pequena TV do bar o segundo avião atravessando a outra torre. Pronto, agora estava claro: os EUA estavam sendo, pela primeira vez na história, vítima de um atentado terrorista em seu próprio território. As imagens dos dois aviões entrando nos prédios nova-iorquinos como espetos num pedaço de costela só foram suplantadas com o desabamento das torres, primeiro uma, a outra depois. Daí sim todos nós fizemos ideia do tamanho da coisa, da dimensão da tragédia que aquilo representava. Os noticiários já despejavam números: milhares de mortos, e outros aviões despencavam em outros lugares dos EUA, em alvos-chave, como o Pentágono. Havia estupefação, mas, também, excitação no ar. Ninguém em são consciência deixaria de admitir o terror daquele tudo, mas havia algo que mexia com as pessoas. Seria imbecilidade dizer que estava gostando daquilo, mas era mais ou menos isso que eu sentia. Estava gostando, evidentemente, não da tragédia em si, os milhares de mortes, um país assustado, o mundo boquiaberto, mas, de alguma forma, aquele acontecimento, daquela grandeza, aquelas cenas de cinema ao vivo, de verdade, enfim, havia naquilo tudo um quê de não sei o que, um tipo de lado B que instigava, que batia na sua cara e falava “Ó aí, meu chapa, algo de muito importante está acontecendo no seu mundo, e está acontecendo agora”, acrescido de algo tipo “O gigante foi ferido, alguém muito menor planejou tudo e feriu o gigante, tá ali, ó, a história do Davi contra Golias”, e nisso tudo havia uma ponta de satisfação, de você ter, a partir daquilo, a certeza de que, sim, é possível alguém muito menor ferir o inimigo grandão, bastam uma boa dose de planejamento e um caminhão de ousadia. Mas eu tinha também outras coisas com que me preocupar naquela segunda-feira, e a principal era contar para o chefe como eu tinha destruído o celular da empresa numa madrugada de farras.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Taí, seu Maladona sem alça


Cabeça com raiva não pensa direito. E é com raiva que fico sempre que ouço Maradona espezinhar Pelé. O argentino se acha o número 1 do mundo porque uma enquete da Fifa na web lhe deu essa colocação, colocando o brasileiro em segundo. Daí por diante o mala branda a pesquisa sempre que fala do Rei, a quem se refere como "o segundo". Sempre pensei num jeito de rebater esse mala. Caraca, esse cara não se toca de que não tem nada a ver uma enquete mundial com internautas trinta anos depois que o Negão parou de jogar? Mas, como disse, cabeça quente não pensa direito. Se pudesse, pegaria o cara pela orelha, tipo daquele jeito que os pais fazem com filhos traquinas, o jogaria num sofá e o obrigaria a assistir a "Pelé Eterno" umas oito vezes seguidas, sem direito a beber água nem ir ao banheiro. E toda hora ia ficar falando para ele: "Viu essa?", "viu aquela?", "e essa então?". Quando o filme mostra uma porrada de gols em série, voltaria o filme várias vezes nesse ponto até ele decorar gol por gol - de cabeça, em bola parada, em movimento pela direita, pela esquerda, dentro e fora da área e o escambau. Como sou um humilde caipira paulista radicado no Paraná, jamais conseguirei fazer isso. Mas agradeço aos céus ao jornal Marca, da Espanha, cuja versão on-line, aproveitando a data de hoje, 9/9/09, publicou uma enquete perguntando aos internautas qual o melhor atacante da história do futebol. Em primeiro ficou Ronaldo, com 49% dos votos, seguido por Di Stéfano com 10%, Romário com 10%, Van Basten com 7%, Raul com 6% e Pelé com 6%. Pronto: está aí nossa vingança, malígrina. Lógico que os internautas votariam em quem viram jogar mais recentemente, e na Espanha, de onde partiu a enquete. Lógico. Ronaldo Gordo arrasou no Real e no Barça. Di Stéfano, no Real. Romário, no Barça. Raul, nos dois. Com todo respeito ao nosso querido Gorducho, que é fenomenal, até ele sabe que Pelé foi muito mais craque. Entonces, seu mala argentino, seu Maladona, chupa que a cana é doce. Aliás, seu mala sem alça, Pelé foi votado sem nunca ter sido um camisa 9, mas um 10, como usted. Mesmo assim ele entrou na pesquisa e você nem tchuns. Ademais, olhando o resultado em si, outra acachapante derrota procê: um brasileiro em primeiro, um argentino em segundo. Até nessa vocês perderam, seu toquinho de açougue. Mas como mala é mala, não tenho a menor esperança de que o atarracado argentino vá se curvar um dia. Até porque, com aquela barriga, não é mole não.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

No papel, um senhor time

Estão vendo a foto ali embaixo? Não a do Maradona e do Tevez se beijando - realmente, tem coisa que não tem preço - mas a da Seleção Brasileira de 1990. Observem bem o time e digam se não é um timão. É que anos atrás, em Maringá, eu disse que, apesar do resultado pífio naquele Mundial, e da raiva que nutrimos até hoje do Lazaroni, considero aquela equipe, "no papel", para usar um velho jargão, uma das melhores de todos os tempos. É fácil colocar as equipes que ganharam Copas acima daquela, pois elas vêm com o título no bolso. Difícil é dizer que uma seleção que fracassou pode, sim, estar, pelo menos em termos de escalação, entre as melhores. E fui ridicularizado por uns idiotas da objetividade quando disse isso em Maringá. E insisto. Senão, vejamos. O time de 1990, o da foto aí embaixo, tinha Taffarel no gol; Ricardo Rocha, Maurão Galvão e Ricardo Gomes na zaga (sim, Lazaroni jogava no 3-5-2); Jorginho e Branco nas alas; Dunga e Alemão como volantes; Valdo como meia-armador; Muller e Careca no ataque. É mole? Alguma restrição em relação a Taffarel? Algo a dizer sobre os alas? Alguma crítica sobre a zaga (que zaga, hein?!?); Dunga era o capitão. Valdo comia a bola no Grêmio. Muller, nem se fala. E Alemão e Careca simplesmente jogavam com Maradona no Napoli. Muito melhor que o time de 94, pô. Para ficar em uma só comparação. Digo e reafirmo: no papel, era uma baita seleção, a de 90. Ah, na reserva tínhamos, entre outros, Silas, Renato Gaúcho e Romário. E, se não me engano, Bebeto. Tínhamos, também, uma montanha de problemas extra-campo. Fomos eliminados pela Argentina, porque não conseguimos fazer um gol - tivemos várias chances - e deixamos Maradona fazer uma única jogada. Mas, como diz meu amigo Bruka, naquela época ninguém, no mundo, parava Maradona. Entonces... Phoda-se a objetividade.

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Pingos nos is



A acachapante vitória sobre a Argentina serviu para que fossem colocados pontos em vários is, em especial para segurar a língua de Diego Armando, que nesse quesito também é pior do que o Edson Arantes. Edson também fala muita besteira, mas o besteirol invariavelmente vem sem a carga de arrogância e prepotência que permeiam as besteiras do atarracado hermano. Não nos iludamos muito, porém, com a hipótese de um cala-boca definitivo: tivesse ele um mínimo de humildade e não seria argentino. Diego continuará falando besteira – eu, tu, ele, nós também. Desta relação com nuestros vizinhos, fico ainda com a pérola elaborada por alguém, citado por Juca Kfouri em seu blog dias atrás: o brasileiro adora odiar os argentinos; os argentinos odeiam amar os brasileiros. Assim sendo, pode continuar, Maradona, a falar que foste melhor que Pelé. Vai, continua...
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Das Eliminatórias para o Brasileirão. As primeiras rodadas do segundo turno mostram claramente que há três equipes na disputa direta pelo título: Palmeiras, Internacional e São Paulo. A ordem não é alfabética, segue a tabela de classificação. Faço essa ponderação porque, dos três, o meu Parmera é o que demonstra menor punch. Achava que sairíamos da última rodada com alguma folga, depois de vencermos o Barueri. Afinal, o Inter tinha o Avaí em Floripa e o São Paulo pegaria o Cruzeiro no Mineirão. No final, ambos venceram. E com autoridade: o Inter, sem sofrer a menor ameaça e com dois jogadores a menos; o São Paulo, de virada, diante de um adversário de respeito, com gols marcados por jogadores que saíram do banco de reservas – o que demonstra que o treinador sabe mexer com as peças que tem.
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Sim, os bâmbis têm elenco, o que imprescindível em um campeonato longo, têm um time que joga junto faz tempo e podem muito bem repetir o que fizeram nas duas últimas temporadas: com regularidade repleta de goleadas de 1 a 0, superaram fácil adversários apenas medianos. Num cenário de técnica pobre, o São Paulo sobressai-se no embalo. A diferença é que, neste ano, Palmeiras e Inter podem imprimir um quê a mais, suficiente para superar o apenas bom tricolor. Achava que, em 2008, já seria demais o São Paulo conquistar um tricampeonato nacional com uma equipe boa, sim, mas não brilhante. Mas aconteceu. Agora, tetra... Já é demais. O futebol brasileiro não pode ter um tetracampeão nacional se não for uma equipe absolutamente brilhante – o que o São Paulo não é.
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Como palmeirense, temo mais o Inter. O Colorado alia duas virtudes que, praticadas ao mesmo tempo, deixam um time imbatível: um ferrolho defensivo e um toque de bola invejável. Isso, de maneira coletiva. Quando aliamos isso a talentos individuais, como um bom goleiro, bons alas, um segundo volante – Giuliano – jogando o fino e craques como Tayson... Mais uma dose, garçom!
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O Palmeiras vai indo, vai indo... Mas vai precisar melhorar o entrosamento, o espírito de grupo, para superar algumas dificuldades. Lesionado no tornozelo, Pierre está fora do campeonato. Sem ele, o time não perde apenas um craque no seu setor – perde uma referência, o que é muito ruim em termos de grupo. E Cleiton Xavier, pêndulo da equipe, joga há várias rodadas com o tornozelo baleado, o que é um perigo. Sem ele, Diego Souza cai bastante de rendimento. E é real a dependência que o ataque tem deles. O ponto positivo foi a estréia de Vagner Love. Surpreenderam a velocidade e a disposição do centroavante. Se não for apenas fogo de palha, aquele negócio de estréia, a coisa pode engrenar.
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Acho que Goiás e Atlético Mineiro não têm fôlego suficiente para chegar à última rodada com chances de caneco. Fora daquele trio, acho que a única surpresa pode vir do Corinthians, mas a maneira despreocupada com que a gambazada joga o Brasileirão, por já estar garantida na Libertadores, é uma faca de dois legumes. De qualquer forma, para que a surpresa ocorra, Mano Menezes teria de refazer o time já, o que não é fácil. Na parte de baixo da tabela, coitado do Fluminense. É paciente terminal. Penso que as outras três “vagas” na Série B vão ficar com um pernambucano (Náutico ou Sport), Santo André e um paranaense (Coritiba ou Atlético), mais para Náutico e Atlético. O Botafogo acredito que se salva por não ser tão ruim quanto esses rivais. Mas é Botafogo, o que não dá pra desprezar.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Dá-lhe, Dunga


Gosto muito mais, torço muito mais, sofro muito mais pelo meu clube do que pela seleção. Talvez porque se meu clube perder certamente vou cruzar com rivais em cada esquina, todos com uma piadinha na ponta da língua. Se a seleção perder, ninguém vai me alugar - no café do Royal, no balcão do Lucílio e na mesa do Jota vamos todos nós descer a lenha em quem falhou, no que está errado, no que poderia ter sido feito e não foi. O time é entidade particular; seleção é de todo mundo. Talvez seja essa a diferença entre torcer pelo time e pelo escrete. Até porque da seleção nós, brasileiros, temos muito pouco a reclamar. Temos o maior número de conquistas e participações em Mundiais, temos o Rei, somos temidos por onde passamos etc. E mesmo assim reclamamos, porque assim tratamos a seleção. Com o clube é diferente. O empedernido são-paulino sofre tanto quanto o fanático pelo ASA de Arapiraca. O torcedor da Chapecoense vibra tanto com uma vitória suada quanto o corintiano em viradas de gala. Em delírios de torcedor, Maracanã e Vila Xurupita têm a mesmíssima dimensão. Com o time, choramos uma ou duas vezes por semana. Com seleção, sorrimos abertamente na vitória ou ignoramos olimpicamente na derrota. Com exceções. E uma dela estará em campo neste sábado, em Rosário. A rigor, poderíamos apenas nos divertir com o desespero argentino. Afinal, los hermanos necessitam dos três pontos para visualizarem África-2010; nós, não. Eles estão buscando afirmação; nós, por increça que parível, estamos felizes com Dunga & Cia. Eles precisam ganhar para melhorar o retrospecto contra nós; nós não estamos nem aí, temos vantagem de sobra. Mas o confronto em Rosário é mais do que um "simples" Brasil x Argentina. É a chance - talvez derradeira - de Dunga colocar uma pedra em cima de um período negro de sua própria história, de devolver com juros o que lhe foi feito na Copa de 1990. Na Itália, ainda como jogador, Maradona, em apenas um lance, decidiu o jogo contra o Brasil e inaugurou a "Era Dunga", um período negro para o futebol brasileiro encarnado no estigma com que tratamos o nosso então raçudo volante. Período que teria fim no Mundial seguinte. Pode-se considerar que ali, nos EUA, Dunga dera o troco em Maradona, pois Maradona saiu da competição pela porta dos fundos, pego no antidoping, enquanto Dunga levantou a taça e deu o primeiro grito de "tetra". Mas não. O troco oficial tem de ser dado agora. No confronto direto. Na casa do adversário, contra um adversário completo e sedento. É este jogo, o de pelar sabugo, que vale. É nestas ocasiões, nas quais a jiripoca pia e a onça bebe água, que se comprova superioridade. Ainda hoje sofremos com a jogada de Maradona, que entortou nossa linha de defesa e, com um toque, deixou Cannigia na cara de Taffarel. Como sofremos com toda derrota brasileira em Copas, porque achamos que, de 50 para cá, deveríamos ter vencido todas elas. Neste sábado, o confronto é entre Dunga e Maradona. E, admiradores de bom futebol, até daria para termos esquecido a ferroada de 1990, se pelo menos Maradona parasse de falar besteira sobre Pelé.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Provas do crime


Flagrantes do domingo 30 de agosto, quando Elzira Ilza Tizziotti completou 90 anos de vida. O almoço-festança foi na casa dela, que ganhou tinta nova semanas atrás. Nesse quadradinho de grama, onde há uma roseira, havia uma frondosa árvore. Sem ela, passamos um calorão infernal. Na parte de trás da casa, que fica defronte o Nehif Antônio, onde estudei dos cinco aos quinze anos, havia um pé de laranja baiana. Na época em que frutificava, eu subia no telhado com uma faca de cozinha e um potinho de sal. Ficava chupando laranja com sal e olhando as meninas na aula de educação física. De saco cheio da molecada jogando pedra para panhar laranja, meu vô cortou a laranjeira. Neste domingo, colocamos duas mesas na garagem e almoçamos lá. Foi o primeiro dia de sol ardido em Guará, onde 15 graus é frio pra cacete. Na foto de baixo, dona Zizinha com os três filhos Fischer: José Moacyr, João Luís e Maria Aparecida, vulgo Ciló. Na de cima, com os quatro netos: a bancária Mônica (formada em turismo), o agrônomo Luís Henrique, o também bancário Emerson (gerente da CEF em Cravinhos) e o galã aqui, jornalista há 25 anos, agora um pouco mais chateado, depois que Gilmar Mendes et caterva cassaram a exigência do diploma para o exercício profissional. Não era para a vó ter nome composto. Na festa, ela contou a história - que eu não conhecia. Ela se chamava apenas Elzira. Quando o pai morreu, em Sales de Oliveira, e foram repartir a herança, uma casa e um sítio, o banco não quis dar a parte dela porque lá ela estava identificada com Ilza. A vó era menor de idade e a solução foi agregar o Ilza no nome para satisfazer o banco. Foi ao cartório como Elzira e saiu Elzira Ilza Tizziotti. É a caçula de onze irmãos. E a única viva. Ficou 51 anos sem falar com o irmão Silvio - que morreu há alguns anos, com 94 - depois de uma desavença dele com o marido dela, Paulo Fischer. Foi convocada pelo irmão no leito de morte. Depois de tanto tempo sem se verem, Silvio morreu num quarto da Santa Casa quando estava a sós com a irmã, num hiato de tempo em que todos os outros haviam saído do quarto. Ao cumprimentá-la pelos 90 anos, às 10h55 da manhã, disse que ela é um orgulho para toda a família e, como os descendentes de italianos gostam de dar uma no cravo e outra na ferradura, completei dizendo que concederíamos a ela prazo de dez anos para deixar de ser resmungona. Seu único lamento é não poder trabalhar - o mesmo lamento do marido, que se foi há três anos, aos 88. Neto de alemães, Paulo Fischer sonhava em poder percorrer novamente, três ou quatro vezes por dia, os 5 km de casa ao sítio, de bicicleta Gorki, levando duas latas cheia de lavagem para a porcada e trazendo galões de leite cru. E também por não poder empunhar uma enxada, com a qual, a partir dos 15 anos, com a morte do pai, ajudou a mãe a criar os quatro irmãos menores e com a qual construiu casa para os três filhos, quando estes se casaram. Se lhe dessem a ferramenta e um restinho de força, talvez desenterrasse o olho de enxada que ele fincou ao pé de um mourão no dia do casamento, em um local que nunca revelou a ninguém.