segunda-feira, 29 de junho de 2009

Sou a favor do diploma e do curso universitário

Como todo palmeirense, tenho gosto por grandes jogos. Se pudéssemos, só jogaríamos clássicos. Temos uma queda para grandes confrontos e, por outro lado, uma certa ojeriza para jogos de menor expressão. É que meu time goleia o Flamengo de Zico no Maracanã com a mesma facilidade com que perde um título para a Inter de Limeira. Vence duelos arrepiantes com o melhor Corinthians da história na mesma proporção em que é eliminado pelo ASA de Arapiraca. Nós, palestrinos, curtimos mesmo é encarar rivais de qualidade, de jogar em estádios lotados – nem que seja pela torcida adversária. E é com essa filosofia de boteco que volto à polêmica sobre o diploma para jornalistas, instigado por novo artigo de Paulo Briguet. Eu avisei que a briga é de cachorro grande.

Em seu blog (www.tipos.com.br), Briguet volta a festejar a recente decisão do STF, repisando uma antiga convicção pessoal: a de que os cursos de Jornalismo são ruins e, para aprender esse ofício, bastariam não os quatro anos convencionais de uma faculdade, apenas meses – talvez semanas. Bastaria, segundo ele, um curso à la Instituto Universal Brasileiro, cuja propaganda sustentou muitos gibis da nossa época. Não que eu ainda não leia gibis; pelo contrário, ainda não desisti de devorar as coleções inteiras de Asterix, Luke Lucky e Milo Manara, quando tiver grana para isso.

Temos muito em comum, Briguet e eu. Torcemos pelo mesmo clube, nascemos no mesmo Estado, nos formamos na mesma universidade, começamos no mesmo jornal, freqüentamos o mesmo boteco, dividimos as mesmas amizades, encaramos o ofício com a mesma seriedade. Já as diferenças residem basicamente no fato dele ser um ótimo escritor e eu saber dirigir automóvel.

Nos une, também, a glória de termos feito um curso ruim. Sim, não é por defender a exigência do diploma que farei vistas grossas à qualidade dos cursos, nem mesmo o da Universidade Estadual de Londrina. Meu curso foi ruim sim. Em termos de técnica, quase tudo que sei aprendi na prática. Meus professores – e, por conseguinte, as aulas e os projetos acadêmicos – não eram nenhuma brastemp. Nem por isso devo aceitar a ideia (ah, que vontade de acentuar esse ditongo) de que a boa formação jornalística possa estar encerrada num curso a distância ou num reforço de verão.

A qualidade de um curso superior não é ditada por uma mão única. Não são apenas a qualidade do corpo docente, dos equipamentos, o tamanho da biblioteca e a grade curricular que determinam essa qualidade. Ela vem também do interesse e da dedicação do aluno. De nada adiantam excelentes recursos humanos e materiais se o estudante não quiser aprender. Falo isso de cátedra, porque sou exemplo vivo dessa negligência. Ainda hoje me ressinto da falta de aprendizado em disciplinas básicas, como rádio e TV. É só ocorrer um desses percalços da vida, em que você se vê com uma mão na frente e outra atrás, que bate o arrependimento de não ter se dedicado um pouco mais nisso ou naquilo.

Admito, na boa: não faço apenas impresso porque só gosto dele, mas porque, na verdade, durante o curso me lixei para rádio e TV, o que – vim a sentir na pele depois – me restringiu sobremaneira meus horizontes profissionais, as possibilidades de uma recolocação profissional mais rápida, menos traumática. Daí porque defendo a necessidade de um curso de duração convencional: são muitas as vertentes do exercício profissional. Além de jornais diários e publicações impressas periódicas, há o rádio, a televisão, a assessoria de imprensa e, agora, também o mundo virtual, cada um com suas especificidades, suas características, suas demandas próprias.

Sei que isso não rebate o argumento inicial. Afinal, bastaria que a pessoa fizesse um curso rápido já dirigido para a especialidade requerida. Mas daí colocaríamos o ambiente jornalístico dentro de um tecnicismo absurdo. Estaríamos criando profissionais esquartejados em áreas de interesse, não profissionais em Comunicação Social, conscientes de seus princípios, direitos e deveres. Todo profissional que se preze, seja ele da área humanista, das exatas ou biológicas, tem de ter o entendimento do todo.

- E aí, mermão, já decidiu que curso vai fazer?
- Ainda não. Estou em dúvida em ser repórter de TV aberta ou fotógrafo de impresso diário.
- E eu, então? Estou em dúvida entre estudar para pauteiro de rádio AM ou editor de sites noticiosos corporativos.

É imprescindível, para alguém que vá trabalhar com algo tão importante quanto a informação, que tenha sim contato com um pouco de sociologia, filosofia e todas aquelas disciplinas do tronco básico. Um arquiteto pode ser muito melhor, profissionalmente falando, se entender melhor a sociedade brasileira. E não venham me dizer que basta ele ir a uma livraria e comprar um Roberto Campos ou um Sérgio Buarque de Hollanda. Se um jovem de 18, 19 anos, não for instado, ele não vai sair de uma livraria dando risada com um Nietzsche ou um Friedman debaixo do braço, nem vai espontaneamente a uma biblioteca deleitar-se sobre os grandes escritores contemporâneos. É preciso que alguém – uma instituição, preferencialmente – diga a ele pra que aquilo serve, de onde veio, em que contexto surgiu. Fôssemos valorizar o autodidatismo, bastaria, a rigor, fazer chegar a toda residência um cartãozinho com o endereço da biblioteca municipal. E o cidadão que se vire para ler e aprender o que quiser.

Quatro anos de um curso universitário, ademais, não são percorridos apenas com disciplinas regulares divididas em seriados. Quatro anos de faculdade servem para as pessoas conhecerem gente de lugares e costumes diferentes, amizades que vão lhe marcar para o resto da vida; servem para você interagir com a cidade onde está morando e, a partir dela, ser universal; servem para uma eventual iniciação política nos centros acadêmicos e nos diretórios estudantis; servem para que um moleque de Palmital, Jardinópolis ou Echaporã saibam que o mundo é muito maior do que a praça matriz; servem para que se derrube mesas de lata em rodadas de truco; para xingar reitor e diretor de centro; servem para catar cogumelos, participar de saraus, engrossar passeatas; servem até para você já ir conhecendo, a fundo, a personalidade do seu futuro prefeito, para que você saiba se deve ou não votar naquele cara da turma de 84/2. O ambiente universitário não é uma enrolação. É um período fundamental na vida de uma pessoa, no qual ela vai, se não definir totalmente, no mínimo sinalizar o que vai ser dali pra frente. Caráter e convicções não se formam por correspondência. Antes, na vivência.

A atividade jornalística tem sim sua complexidade específica, tanto quanto a Engenharia ou a Medicina. Uma cobertura jornalística mal feita causa tanto prejuízo quanto um edifício mal planejado ou uma lipo mal conduzida. Mata tanto quanto, aliás – no sentido literal e no figurado. Afinal, quem sofreu mais: a vítima de um choque anafilático, os moradores do Palace 2 ou os donos da Escola Base? O que é pior: uma sequela cirúrgica, um prejú gigantesco ou uma honra trucidada? Tenho absoluta convicção, amigo Briguet, de que a caneta está no mesmíssimo patamar da calculadora científica e do bisturi.

E vamos parando por aqui, porque você não gosta de textos longos e temos mais coisas com que nos preocupar. Há poucas horas, nesse 28 de junho, por exemplo, nosso Palmeiras perdeu dois pontos fáceis em casa. O campeonato está no início e de repente Luxemburgo não é mais o técnico. Já vi esse filme, alguns anos atrás. E não gostei do final.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Seção fotos de ontem


Estamos em algum ponto do campus da UEL. No centro, Rose, de Marília, de cuja página no orkut chupei a foto. À direita, Dirceu Herrero Gomes, de Andradina, fazendo pose de galã de quermesse. Eu, de Guará. Três paulistas que se encontraram na turma de Jornalismo de 84/1. É a turma veterana do atual prefeito de Londrina, Homero Barbosa Neto. Enquanto Barbosa circulava todo marombado lá e cá, fazíamos festas e mais festas. Rose era da turma dos quietinhos e bem-comportados. Dirceu e eu morávamos na lendária república da Paraíba 322, em cima da madeireira Paroschi, na Paraíba quase esquina com Mossoró. Dois anos mais velho que a maioria, o que conta pra caralho quando se tem 18 anos de idade, Dirceu organizava as festas. Recolhia "ingresso" de cinco ou seis, para, à noite, recepcionar 100 ou 200. E impedi-los de entrar quem havia de? Eram três quartos grandes, um pequeno, uma sala ampla, uma cozinha gigantesca e mais um cômodo pequeno antes de se chegar ao banheiro. Aquilo virava um fervo só. Ainda vou achar as fotos de uma festa que se quis temática para a qual Ariel Palácios e Alexandre Horner chegaram fantasiados de televisão - ou um ou outro, não me lembro bem. Nosso recorde foram oito garrafões de vinho e quatro de pinga. Garrafões de cinco litros. Fora o que vinha em mãos. A rep ficava no primeiro andar, o único. Ao lado, o portão da madeireira. Embaixo, o escritório. Não havia muitas residências em volta, por isso o bicho pegava. Socávamos o som nas alturas. Das nove e pouco da noite, quando sorvíamos as primeiras caipirinhas, até o último maluco. A turma da casa geralmente bodeava antes. Eu aguentava até umas três, três e meia. Não havia festa em que o sofá - oh, sacrilégio, chamar aquilo de sofá - não amanhecia com dois ou três remanescentes. Às vezes, até o duro e gélido chão da cozinha abrigava uns bebuns desmaiados. Na mesa da cozinha também. A porta, ninguém lembrava de fechar - achou que nunca fechou. O ar ficava absolutamente irrespirável. Um ser humano normal não suportaria ficar 15 minutos lá dentro. Ficávamos sete, oito horas. Não nos preocupávamos com eventuais ataques fortuitos à geladeira, porque nunca tinha nada lá mesmo. Os quartos ficavam abarrotados. Às vezes tocava-se Caetano no violão para oito neguinho enquanto Tom Waits, aos 800 decibéis, chacoalhava cento e oitenta no cômodo ao lado. Loucura total. Na manhã seguinte, aula. O campus ficava - fica ainda, claro - a uns 20 minutos de busão. A gente pegava ali na pracinha da Quintino, em frente à padaria Flor de Liz. Muitas vezes cruzávamos com os travecos que subiam da HM ou com as últimas putas do Nanico. No Bar Globo, o café da manhã misturava-se com a última pinga da madrugada. O xis-tudo da Flor de Liz era a coisa mais ignorante do planeta, principalmente quando era o Roberto quem fazia. Sempre almoçávamos ali nos finais de semana, porque a pensão da dona Ana fechava e ninguém sabia cozinhar e não conseguíamos manter a mínima organização em termos de despensa. Dona Maria, uma de nossas muitas empregadas, chegou a cozinhar carne de segunda sem óleo. Ela chamava o Loyolla de "aio e óio". Foi o Mário Fragoso quem me alertou que garrafa de conhaque não se guarda na geladeira. Uma noite, no aniversário de 18 ou 19 anos da Carla Sehn, ele dormiu na cadeira e foi caindo aos poucos de lado, até encontrar o cestinho de lixo, que estava tão cheio que escorou o cara e o Marião passou o restante da festa roncando com a mão no queixo e o cotovelo no lixo. No casamento do Milton Dória com a Susy, ele entrou tão bêbado e desmaiado no Fiat 147 amarelo dele que tivemos de rebocar o carro na traseira do caminhão da cerveja, porque simplesmente não conseguimos jogá-lo do banco do motorista para o banco ao lado. Numa manhã em que chegamos ao campus com uma ressaca monstruosa, vimos nossos veteranos - Jogó, Jersey, Fredão, Texugo, Jotabê, Careca - dormindo em redes armadas no gramado do CECA, em protesto a sei lá o quê. E neguinho ainda vem me dizer que não precisa de diploma para ser jornalista. Na minha opinião, quem não passa por um ambiente universitário de verdade não poderia nem vender espetinho na esquina.

Trocaria Michael Jackson pelos Bee Gees


Há assuntos dos quais não se pode escapar, e a morte de Michael Jackson me parece um deles. Um milhão de desculpas a cada um de seus fãs, mas a morte desse rapaz não me toca em nada além do que a morte prematura de qualquer outra pessoa me tocaria. Não curto música pop norte-americana. Não curto aquele visual dark melancólico. Cintura dura, não sei dançar, achava aqueles passos escorregadios até esteticamente bonitos, mas jamais tentaria imitá-los, nem os passos nem os requebros insidiosos, embora fosse, além de jovem, também bastante magro quando eles apareceram. Nunca gostei muito de videoclipe, e sei que Jackson o revolucionou. Fico sabendo, agora, que seu álbum mais famoso e marcante, “Thriller”, é de 1982. Teria vendido cento e tantos milhões de cópias, algo assim como a carreira de Roberto Carlos inteira. Poderia ter me apaixonado pelo cara. Tinha 16 anos, época em que a gente se apaixona fácil pelas coisas que surgem assim de repente. Lembro de ter me emocionado com Embalos de Sábado à Noite cinco anos antes. Se pudesse escolher, escolheria os requebros de John Travolta. Aquilo sim eu queria ser. Tinha 11 anos e ouvia sem parar as músicas dos Bee Gees. Adorava aquelas vozes graves dos irmãos Gibb. Podem ser tão bregas quanto Michael Jackson, mas a lembrança que tenho de Thriller é de as músicas deste disco serem tocadas com muita insistência, talvez mais do que a lambada e o Fuscão Preto juntos. Nunca gostei muito dessas músicas que são tocadas a todo instante, de encher o saco. Nem as de Raul, que eu adorava. Dos 15 aos 17 anos, quando já passei a entender um pouco mais de tudo, já julgava Travolta um tonto e curtia muito MPB. Adorava Rita Lee, Belchior, Tim Maia, Jorge Ben. Ficava me perguntando por que Chico Buarque não gravava mais discos e ouvia todas aquelas velhas canções maravilhosas. É o cara, é ocara. No colegial, acho que também em 82, fiquei de cara quando ouvi Alceu Valença. Lembro de pegar a capa de “Cavalo de Pau” antes de uma aula no COC em Ituverava e decorar os nomes de todas as músicas do Lado A e do Lado B. Gostava das maluquices de Pepeu Gomes e Baby Consuelo. Fagner, Djavan, Caetano, Itamar. Em 83, quando ainda morava em Guará, fui a Ribeirão Preto ver um show de Gilberto Gil, “Umbanda Um”, na Cava do Bosque. Ginásio lotadaço, de repente as luzes se apagam, a banda arregaça um som impactante do caralho e Gil surge em meio a uma fumaceira dos infernos. Aquilo sim era de arrepiar. Delírio, meu, delírio. Tinha alguma música, não do Gil, que falava isso e acrescentava: “Você pode perceber nitidamente que estão todos delirando, meu, no mínimo”. De quem era? Aurélio Albano e Pedro Livoratti devem lembrar. Arrigo, Patife, acho. Mas nunca curti Michael Jackson. Cheguei aos 18, entrei na faculdade em 1984 e daí explodiu o rock nacional, com Titãs, Paralamas, Ultraje, Legião, Blitz, Barão, Engenheiros, Kid Abelha, Erva Doce, Lulu, Lobão e o escambau de bico. Paralelamente, Sampa nos oferecia Lira Paulistana, Língua, Joelho. Na faculdade, festinha de república, coisa e tal, Rua Paraíba 322, rolava muito internacional sim, mas daí era Purple, Led, Sabath, Rainbow, as pesadas e ao mesmo tempo sofisticadas bandas de rock, Pink Floyd, porra, gostava delas, mais do que Stones e Beatles. Gostava mais dos psicodélicos, das guitarras melódicas, aqueles solos gigantescos, limpos, Ian Guillan desafiando a guitarra com a voz, aquelas músicas de sete, dez, quinze minutos, aquela coisa menos comercial, pesada e refinada, os caras bons de serviço mesmo. Santana, pô. Van Hallen. Clapton. Meu pessoal, o Bruka, o Rodrigo Garcia Lopes, curtia muito também os negrões do jazz, do trompete, Miles Davis, Armstrong, eu achava legal, mas era mais B.B. King, aquela coisa de fechar os olhos e imaginar cores dando formas àqueles sons. Tom Waits, Velvet, Dire Straits, sim, um pouco de The Cure, mais por causa do Nelson Sato, que, nessa hora, deixava de lado milênios de introspecção e soltava os bichos. Parei naqueles dinossauros. De lá pra cá, não sei o nome de banda nenhuma, música nenhuma, ídolo nenhum. De Michael Jackson, então, não curtia nada. Na boa, não trocaria o gargarejo da Banda Beco no RU, com o Kadu detonando na batera, pelo Michael Jackson no Morumbi. Daquele auge dele, nos anos 80, lembro de uma ou duas músicas com batidas legais, das quais nem sei o nome. Se não curtia o som, podia pelo menos admirar a vida do cara, essas coisas, mas nem isso. Sempre achei estranho aquele celebrismo todo, qualquer peido que ele dava entrava no Fantástico, todo mundo louco atrás do cara, o cara sempre todo de preto e óculos escuros, numas de fazer tratamento para alisar cabelo, ficar branco... Enfim, meus pêsames a quem adora Michael Jackson. Mas eu me incluo fora dessa.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

terça-feira, 23 de junho de 2009

Você não vale nada, mas eu gosto de você


Respeito quem considera desnecessário o diploma universitário para o exercício do jornalismo. Tenho amigos de alto gabarito que pensam assim. Paulo Briguet, de Londrina, acha o diploma uma piada. Para ele, todas as profissões humanistas não deveriam depender de formação acadêmica. “O resto é corporativismo e fanatismo”, acredita ele, segundo texto postado em seu blog, http://www.tipos.com.br/. Escritor de primeiríssima qualidade, Briguet nomina uma série de grandes jornalistas sem diploma, como os “locais” Widson Schwartz e Jota Oliveira. Pelos exemplos, assino embaixo.

José Fernando, de Curitiba, é outro amigo que defenestra o diploma. Diz ele, em seu blog http://www.magnacuritiba.blogspot.com/, que nunca distinguiu os colegas com ou sem diploma, mas em outros dois grupos: os que sabem e os que não sabem escrever. “Como são poucos os que pertencem ao primeiro grupo, sempre me posicionei contra o diploma”, afirma ele, acrescentando: “Sempre defenderei o sagradíssimo direito de expressão de quaisquer pessoas que tenham condições para tal. Esta é a liberdade que importa”, vaticina o Zé, que, além do jornalismo, domina o latim como poucos. “O resto é o choro dos reacionários e medíocres.”

Valho-me desses dois colegas primeiro pela liberdade que acredito ter com eles e, segundo, para elaborar um raciocínio a partir de duas opiniões que valem a pena, pelo nível de inteligência e de probidade de seus autores. A maneira peremptória e radical como eles se manifestam também é um desafio interessante a quem pensa diferente. E convenhamos, meus colegas: esse é o momento de todos se manifestarem. Omissão agora não, pelo amor de Deus!

Não pretendo elaborar nenhuma tese sobre o tema, posto que nem tenho cabedal para isso, mas apenas rebater um e outro ponto que considero mal entendidos, mal colocados, mal interpretados. E o principal deles, na minha opinião, é o argumento segundo o qual é preciso garantir liberdade de expressão a todos. Esse é o argumento de nove entre dez pessoas contrárias à exigência do diploma e, pelo que li, foi também o que motivou a votação – oito contra um – no Supremo Tribunal Federal.

Considero essa colocação um engano magistral. Estão confundindo liberdade de expressão com exercício profissional. Basta invertermos o raciocínio para constatarmos que se trata de uma premissa falsa. Se a lei do diploma foi derrubada em nome da liberdade de expressão, significa então que há exatos 40 anos não temos liberdade de expressão no Brasil. Por essa tese, desde 1969, quando foi instituída a lei que regulamentou a profissão de jornalista, a liberdade de expressão nesse país é restrita. Valeria dizer, por conseguinte, que só agora, com a manifestação da principal corte, é que a tal liberdade foi resgatada.

Assim fosse, a decisão do Supremo deveria ser saudada por todos os democratas do mundo – inclusive e principalmente os jornalistas – como o fim de um período de trevas. “Brasil enfim garante liberdade de expressão!” deveria ser a manchete de todos os jornais, sites, blogs, no mundo inteiro. A ONU deveria divulgar nota oficial enaltecendo a medida, assim como a OEA e todos os organismos, públicos e privados, que prezam os direitos individuais e a democracia.

Lula, depois de transformar o Brasil de devedor em credor do FMI, convocaria o Grupo do Rio para anunciar outra grande vitória: em seu governo, em processo relatado por magistrado indicado por ele, esse grande país emergente finalmente instituiu a plena liberdade de expressão, mola mestra de uma verdadeira democracia. A Transparência Brasil ficaria exultante. Ao fim da votação no STF, a Rede Globo entraria com aquela famosa chamada extraordinária. Para imprimir a real importância do fato, com a música-tema de Ayrton Senna de fundo.

Uai, diríamos nós nesse pedaço paulista perto de Minas, mas a decisão do Supremo não foi tomada em prol da liberdade de expressão? Então é mais do que sensato concluir que a lei de 1969 fosse um entrave à liberdade de expressão no Brasil. A regulamentação profissional da atividade jornalística era, até então, uma restrição absurda, uma barreira, um cala-boca a todos os brasileiros que quisessem expor seus pontos de vista nos veículos de comunicação aqui sediados.

Percebem, pelo raciocínio invertido, o tamanho do absurdo que se apresenta? A lei que regulamentava – já estou colocando no passado – a profissão de jornalista no Brasil nunca foi restritiva à liberdade de expressão coisa nenhuma. Foram os próprios jornalistas, os bem intencionados, os verdadeiramente éticos, os profissionais que enaltecem a pluralidade, que buscavam e ainda buscam, entre a sociedade, gente que possa enriquecer um debate, que possa contrapor uma opinião dominante.

Essa é a verdadeira missão de um veículo de comunicação social: pluralizar o debate ao extremo, abrir as portas para todos os tipos de manifestação, permitir que se aflorem as mais variadas correntes de pensamento. E isso, meus caros, é feito justamente pelos jornalistas, muitas vezes contra a orientação dos próprios donos dos veículos em que trabalham. Então não me venham dizer que somos contra a liberdade de expressão.

Os bons jornais e revistas brasileiros, impressos e eletrônicos, sempre abriram suas páginas para os mais diversos profissionais de outras áreas. Advogados, médicos, economistas, gente das ciências agronômicas, da saúde, todos têm espaço, respeitando-se o foco editorial de cada publicação, seja pela encomenda de artigos específicos, pelas seções destinadas aos leitores ou pelas próprias entrevistas efetuadas.

O que a lei de 1969 preconizava é que o exercício do jornalismo – ou seja, a busca de informações, a redação de reportagens, a reportagem-fotográfica e cinematográfica, a pauta dos assuntos a serem abordados, a revisão, a edição das matérias, toda essa complexa atividade, exercida nas redações, fossem realizadas por profissionais formados para esse fim. Jamais, corporativamente falando, colocamos obstáculos à livre manifestação de pensamento. Aliás, se houve obstáculos, esses foram colocados pelos donos dos veículos ou por jornalistas mal intencionados, e não pela grande parcela de profissionais que nele trabalhavam e trabalham.

Se há pouca liberdade de imprensa no país, que o doutor Gilmar Mendes e quem de direito tratem de aglutinar outros setores para a discussão, porque, a esse debate, nós, jornalistas, nunca nos furtamos e nem nos furtaremos. Será que, para a sociedade, está bem esclarecida a diferença entre jornalistas e donos de veículos? Será que a sociedade sabe que para possuir um veículo não é preciso ser jornalista? Sabe a diferença entre um jornalista e um dono de jornal? Sabe a diferença entre abrir um jornal impresso ou uma emissora de rádio e TV?

Será, doutor Gilmar, que os outros setores envolvidos na tal liberdade de expressão vão querer participar desse debate? O senhor sabe quantas rádios e emissoras de TV estão nas mãos de deputados, senadores e outros quetais? Sabe Vossa Excelentíssima que a grande parte dos legisladores – a quem, conceitualmente, mais interessa a liberdade de expressão – tem concessões e as tem de modo irregular? A sociedade sabe como se dá, na real, a concessão desses veículos? A sociedade que o senhor representa em altíssimo grau, doutor Gilmar, sabe em que condições essas concessões são hoje atribuídas?

Se querem derrubar a exigência do diploma para o exercício profissional, então diga-se claramente que é seu o desejo de que qualquer cidadão neste país possa escrever para jornais, rádios e TVs, mas não me digam que a lei foi derrubada para garantir a liberdade de expressão. Essa é uma miopia que desvirtua o debate, que põe uma grossa cortina de fumaça aos olhos da sociedade, que escamoteia a questão – como dizíamos nos tempos de movimento estudantil. Não há profissional na face da Terra mais interessado em ampla liberdade de expressão do que um jornalista com vergonha na cara.

O que a lei de 1969 garantia, meus caros leigos adversários do diploma, é a regulamentação da profissão. Sim, porque, se vocês não sabem, jornalista é trabalhador. Jornalista não é um ser que passa as horas viajando na maionese em busca de uma sacada extraordinária, elocubrando por semanas a fio, em suas confortáveis residências, temas e manchetes que farão a delícia dos leitores e espectadores. Jornalista é gente que tem hora para tudo: para entrar no trabalho, para sair, para cumprir tarefas, para respeitar convenções profissionais.

Jornalista é gente, gente que trabalha, que pega ônibus, que almoça fora de casa, que muitas vezes tem dois empregos para se sustentar com dignidade. E gente assim, meus amigos, tem de receber salário, tem de ter jornada de trabalho definida, tem de ter piso salarial, tem de ter convenção coletiva de trabalho estipulando uma montanha de deveres e direitos, como férias, hora extra, plano de cargos etc. Como um metalúrgico, um bancário, um atendente de balcão. Igualzinho.

A diferença é que trabalha com informação. E, para tratar essa informação, não basta saber escrever. Alguém aí já leu uma sentença judicial? Um inquérito policial? Esses também têm de saber escrever, mas ninguém cogitou sacar diploma de delegado e de juiz por causa de textos com ortografias estupradas, pronomes sequestrados, concordâncias assassinadas. Em relação à informação, meus senhores e minhas senhoras, é preciso saber onde buscar, como buscar, como tratá-la, em seu aspecto técnico e ético também.

Portanto, não basta a alguém que saiba escrever querer aventurar-se a exercer as atividades jornalísticas. Isso seria suficiente para se redigir um artigo. Para entrevistar alguém, é preciso saber fazer isso, para que todas as questões sejam abordadas, para que todos os lados de um assunto sejam contemplados e a informação chegue à sociedade da maneira mais límpida e honesta possível. Para fazer uma boa foto, é preciso muito talento. Para editar uma matéria, impressa ou eletrônica, é preciso conhecer as ferramentas – técnicas e éticas – deste ofício. Para se pautar uma equipe de jornalistas é preciso, sim, um feeling que talvez um engenheiro ou um arquiteto também tenha, mas um domínio e uma compreensão do ritual jornalístico que outro não tem. Enfim, enquanto o balconista lida com roupas, calçados, gêneros alimentícios, sacaria, fertilizante ou arroz a granel, os jornalistas lidam com informação. E é preciso estudar para isso.

As faculdades são ruins? O ensino de jornalismo é ruim? Claro que é. Mas ao invés de melhorá-lo – em tese, isso sim, é de interesse de toda a sociedade –, vamos enfraquecê-lo? Para curar a enxaqueca, vamos cortar a cabeça do paciente? Essas são questões nas quais eu nem queria tocar, por entender que são absolutamente menores, como o argumento de que “ah, mas eu vejo tanto jornalista escrever mal, falar errado, dar informação errada...” Meus caros, se formos tirar a exigência do diploma de todo profissional que erra, convenhamos, vamos implodir todas as universidades, né? Da Contabilidade à Física Nuclear, do Direito à Medicina, das Letras à Mecatrônica, não vai sobrar um curso de pé.

Culpam-nos por supostamente defender reserva de mercado. Vamos discutir mercado, então. Primeiro: a quem interessa o fim do diploma? Se com a disseminação das faculdades particulares há um número absurdo de profissionais formados sem emprego, o que, por uma lógica de mercado, já enfraquece a condição salarial, pela grande oferta de mão-de-obra, imaginem então abrir as portas dessa atividade para cento e tantos milhões de brasileiros. Não é absurdo extrair disso tudo indícios claros de uma operação para “colocar no seu devido lugar” uma categoria cuja parcela significativa é uma pedra no sapato de poderosos – inclusive dos que sonham com terceiro mandato.

Não tenho a menor dúvida de que, depois do fim da exigência do diploma, virá um movimento gigantesco para derrubar a atual jornada de trabalho e achatar o piso salarial em cada Estado. Em nome da liberdade de expressão, vão surgir inúmeros “veículos” de mão e voz únicas recheados de caras ganhando quinhentão. E um alerta aos jornalistas talentosos, para quem, alega-se, nunca faltará emprego: vamos virar um país de jornalecos comandados por alguém talentoso ganhando bem e comandando um exército de zé-manés e lambe-botas brandindo uma carteira de jornalista.

Enfim, esse é um tema apaixonante que comporta inúmeras abordagens, mas seria ingenuidade sem tamanho tirá-lo de um contexto maior, sobretudo político e econômico. Minha única preocupação, nesse momento em que o tema ainda está fervilhando, é evitar que as pessoas confundam alhos com bugalhos – como liberdade de expressão e exercício profissional. E dá pra perceber que tem muita gente deliberadamente interessada nessa confusão. Eu, de minha parte, só queria entender por quê.

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Sou membro não-praticante desse movimento


Sempre caio em presepadas de amigos. A última, já contei aqui, foi em São Paulo, coisa de um mês, quando assisti Palmeiras x Coritiba na torcida do Coritiba. Minha lista de manezices é ilimitada. Algumas, inocentes. Outras, brabas. E não faço muito esforço para ser diferente. Vou aceitando as coisas que acho que devo aceitar e pronto. Se me danar no final, foda-se. Prefiro me danar fazendo as coisas de peito aberto, coração limpo, de boa, do que ficar me policiando para não parecer otário. Otário é quem acha que me faz de otário. Enfim, tem coisas que você aceita por achar que deve fazer e pronto. Dias atrás recebi dum amigão e-mail falando sobre o Movimento Marina Silva Presidente. Para mim, que já me estrepei por convicções político-ideológicas, aquele e-mail do Montezuma Cruz passou batido como passa um informativo sobre promoções do shopping, mas, sei lá, deu um estalo e cliquei no dito cujo. Até porque o que vem do Monte, figurativamente falando, não precisa de antivírus. O texto informava sobre o movimento e convidava para fazer parte. Preenchi lá um troço rápido e passei, em poucos segundos, a integrar o Movimento Marina Silva Presidente. Depois parei para pensar. Gostei do que fiz. A iniciativa me fez lembrar da figura da Marina. Taí uma pessoa porreta. Do bem. Pedra 90. Nunca li uma vírgula falando mal dela. Tudo bem, com o PT, no começo dos anos 80, também era assim, seu mané. Mas é diferente. Marina é petista histórica e, apesar deste governo, do qual fez parte, parece que nem petista é. Manteve, após alguns anos no Ministério do Meio Ambiente, uma reputação ilibada. Se teve erros, foi por excesso de zelo, de franqueza e sinceridade. Enfrentou o turbilhão progressista com altivez, embora estejamos falando de um progresso à la Sarney, à la Jader, à la Blairo, à la Cassol, mais pautado na motosserra que na sustentabilidade. Enfim, tem horas que parece inevitável que tenhamos que queimar cartuchos para termos energia, por exemplo, mas é de emocionar como era difícil, com Marina no governo, aprovar uma obra que mexesse com o habitat natural. Enfim, cliquei naquele e-mail do Monte como quem vai para a missa, sem compromisso algum. Sou tão atuante no movimento como sou na igreja, porém, mesmo esse apoio tímido, solitário, descompromissado, me fez bem. Me fez bem participar de algo, depois de tanta frustração com que achávamos que viraria o país quando o PT chegasse ao poder. É bom saber que esse país ainda tem reservas morais como essa moça. Nunca fez badalação, nunca leu-se nada sobre um acordo espúrio, um aliança nada a ver, um conchavo dela, nada. Vou confessar uma coisa: quando estou sem nada para ver na TV, um jogo, um filmão, algo assim, se eu zapeio a TV Senado, eu paro pra ver. Audiências em comissão, inclusive. E ver essa moça atuando é garantia de bons momentos. Ela não esmorece nunca. À menor pisada na bola de uma vossa excelência qualquer, ela coloca o sujeito no seu devido lugar. Se você tiver alguma dúvida sobre alguma questão crucial que esteja em pauta, pergunte a Marina – ela lhe dará um parecer que, no mínimo, te colocará por dentro da coisa. Sempre tem uma opinião balizada, calibrada, enérgica. Lancinante e ao mesmo tempo meiga. Ela consegue destruir o raciocínio alheio com uma calma, uma ternura inigualáveis. É o Che de saias. E sem disparar um estilingue sequer. Do seu rosto só se depreende seriedade. Contar uma piada com Marina Silva na roda soa até esquisito. Falo tudo isso a distância, lógico, posto que não a conheço pessoalmente. Mas diga aí, de sopetão, a quem você daria a chave do cofre? A quem você confiaria seu imposto de renda? A quem você faria uma confidência? Quem, se esse poder tivesse, você alçaria à presidência da República? Dilma? Aecinho? Ciro? Serra? José Ato Secreto Sarney? Você vai pensar um ano e vai ficar eternamente na dúvida. No Lula 80%? Nem que a vaca tussa, ô meu. Nem que chegue a 99% de aprovação. Não, não vou satanizar o presidente, ele faz o que pode com o que tem. Mas Marina traz uma confiança que eu acreditava perdida. Gosto daquele prefeito do Rio também. Marina, contudo, é mulher formada, pronta, acabada. Forjada na vida e na política. Daria a ela a chave do Planalto e da Granja sem pestanejar. E sabe por que eu não culpo o Lula? Porque não adianta. Mesmo que tivéssemos uma Marina presidente, é preciso conviver com a escória legislativa, judiciária. Todo presidente tem seu esquema. O de Lula, depois que o mensalão veio à tona, foi se segurar em Delfim, Sarney, Renan, Collor, Quércia, Jefferson e o escambau de bico para manter-se no poder, ele e a turma, que parecia pé de amendoim: quando é arrancado, vem aquele monte de apêndices junto. O esquema de Lula é nomear Ricardo Barros vice-líder, é permitir que deputado aproveite “o fortalecimento da mídia regional” para emplacar notinhas em jornais. É fazer tudo igual como sempre foi, para ver se faz uma coisinha aqui, outra ali, que justifique o título de Partido dos Trabalhadores. É elogiar desmatador, é absolver grilheiro, é afagar usineiro, é abraçar banqueiro. Com Marina ou qualquer outro, esse esquema, essa coisa maior, essa coisa macro, que os sociólogos, acho, chamam de status quo, não mudaria. Mas sei lá. Com Marina, eu dormiria mais tranqüilo. E isso, pô, isso não é pouco.

domingo, 21 de junho de 2009

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Futebol, maus costumes e F-1

E o São Paulo capitulou frente ao Cruzeiro. Ufa! Temi que a treva ficasse bem maior. Kleber ajudou a derrubar o Tricolor. Dedicou a vitória no Morumbi ao Palmeiras. O afago já fez a diretoria verde pensar em recontratar o Gladiador. Que ficou dando sopa o início da temporada inteiro e os caras negaceando uns eurozinhos. Agora, arrependidos, escorneados, eu diria, falam em contratá-lo. Deixaram de se reforçar para reforçar o adversário. Daí contratam Lenny, Obina... Ah, Parmera, você ainda me mata de raiva.

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O futebol continua em alta neste find. Pela Copa das Confederações, o sossegado Brasil pega a desesperada Itália. Vai ser gostoso dar olé nos campeões mundiais à espera da sensação Espanha. Isso, no domingo. No sábado tem vários jogos do Brasileirão, com destaque para o jogo da TV (pelo aqui, no interior de SP), Atlético-PR x Palmeiras. O time de Luxemburgo, que foi para Curitiba direto de Montevidéu, para não encarar a Mancha em Sampa, vai demonstrar o quanto sentiu o golpe da eliminação na Libertadores.

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No domingo, três buchas de canhão. Na Vila, o Santos desafia o líder Galo. No Rio, o Mengo, em crise, recebe o co-líder Inter, que vem de derrota para o Corinthians no meio de semana pela decisão da Copa do Brasil. E o Corinthians, que ganhou, pega o São Paulo, que perdeu. Vixe... Muriçoca já élvis. Com Felipão e Autuori empregados, quem o Juvenal contratará? Mistério...

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Contribuição de Ivan Amorin, melhor repórter-fotográfico de Maringá, para a seção Humor, com o seguinte comentário: "Até que enfim vou poder obedecer minha mãe. Finalmente vou tomar juízo!"

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Luís Henrique e eu levamos a dona Zizinha ao médico hoje em Ituverava. Que merda é essa de atraso em consulta? É algo impregnado nos costumes nacionais? É irremediável? Não terá fim nunca? Chegamos às 15h para a consulta das 15h20 e fomos atendidos às 16h25. E dona Zizinha, que reclamava de dores no pé, completa 90 anos em agosto. Não a nada a fazer contra isso? No caso dos bancos, criaram a lei dos 15 minutos - embora nunca tenha presenciado ninguém fazê-la valer. Já que ando mesmo meio escorneado depois que o presidente do STF comparou a prática do Jornalismo à colunária e ao corte e costura, eu digo: você também não sai de um consultório, após aquele atraso regulamentar, com a mesma sensação de quando sai de uma oficina mecânica ou de um escritório de advocacia? Aquela sensação de que te passaram pra trás?

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Sabadão, na chácara da família, na Grotinha, vai rolar peixe assado, que o Fernando Papelão, marido da tia Dite, trouxe do rio São Francisco. Voltaram domingo passado. Ficaram uma semana num rancho lá. Olha o time: Papelão, Mineirinho, Luís Bigode, Nilton Mogiana e Parcerim. Você bota fé?

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E recomeça a Fórmula-1. Domingo tem Silverstone. Rubinho diz que é seu circuito favorito e que basta uma vitória para deslanchar. Desisto! Trégua rompida, Barrica. Agora é pau mesmo! Nem que você ganha o GP inglês vou te dar sossego. Se morrer antes, o que é muito provável, volto para puxar teu pé. Se ficar concretizado o racha na categoria, com McLaren, Ferrari e as grandes equipes de um lado e Max Mosley do outro, você é capaz de correr na outra, contra Bruno di Grassi, Nelsinho Piquet, Satoru Nakajima, Sarah Fisher e perder.

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Já desopilei meu fígado. Tratarei de massacrá-lo neste final de semana. Desejo o mesmo a todos!

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Caiu a ficha: virei irmão do Luís Henrique


Sou a prova viva de que o tempo muda referências de uma pessoa perante uma comunidade. Mesmo referências que pareciam cravadas para sempre. De dezembro de 1965, quando eu nasci, até poucos dias atrás, eu era conhecido na minha cidade natal por Fichinha. Não, nunca fui comparado a uma ficha pequena. O correto seria, até, escrever Fischinha. Sou neto do Paulo Fischer e filho do José Moacyr Fischer, mas, sabe como é, a linguagem coloquial transforma as pronúncias, ainda mais se tratando de pequenas cidades do interior. Imagine, então, nesse pedaço de terra que fica a meio caminho – 80 km de cada lado – entre Ribeirão Preto e Uberaba.

Resumindo, somos paulistas quase mineiros, e as palavras, aqui em Guará, têm a pronúncia simples e simplificada da nossa gente. E é esse comportamento que transforma um Fischer num Ficha. Na real, sou neto do Paulo Ficha e filho do Zé Ficha. E filho de Ficha é... Fichinha, claro. Quando moleque, ia no açougue e alguém me atendia: “O que vai hoje, Fichinha?” Chegava na padaria e... “Fala, Fichinha. E o pai, como vai?” No mercado: “Marca pro Ficha, Fichinha?”

No futebol amador, quando o Vila Nova entrava em campo, a escalação invariavelmente era Cidão da Bicicletaria; Luizão, Luís César, Dudi e Agenor; Rogério, Nenê e Luís Barriga; Joaninha, Santana e Moitinha. “Quem é aquele polaco ali, de volante?”, alguém sempre perguntava nas arquibancadas, querendo saber quem era aquele alemão no meio daqueles pretos todos. “O fii do Ficha”, outro respondia.

Depois de 25 anos no Norte do Paraná, estou em Guará há umas três semanas, curtindo a comida da mãe e a vida gostosa e sossegada daqui antes de voltar para Londrina e recomeçar a batalha. E, nessas férias a que me dei direito, estou, é claro, visitando lugares novos e principalmente revisitando os velhos – bares, de preferência. Onde quer que eu vá, as pessoas me recepcionam com entusiasmo, contam histórias em alto e bom som, em especial dos tempos do Vila Nova, e, diante de um espectador que aparente não estar entendendo de quem se trata, logo vem a referência: “É irmão do Luís Henrique!”

Esse meu irmão, vou te falar. Anda mais conhecido que andar pra frente. Boleiro aposentado, formou-se em Agronomia perto dos 30 anos e ajuda meu pai no escritório de venda de adubo e sementes, com grandes dificuldades, diga-se, numa região que abandonou os grãos e entregou-se à cana. Nunca colocou uma gota de álcool nem um milímetro cúbico de fumaça na boca, mas conhece cada canto – inclusive os mais ermos, se é que você me entende – da cidade.

Aos 17 anos, sem que tivesse passado convencionalmente pelas categorias de base, foi levado à Ferroviária de Araraquara pelo Betão, guaraense que se destacou no Botafogo de Ribeirão, integrou a Seleção Brasileira de Novos e aposentou-se em Natal, onde é ídolo até hoje da torcida do ABC. Foi treinado pelo Bazani, lenda em Araraquara, por ter integrado o time da Ferroviária com Dudu, o eterno companheiro de Ademir da Guia no meio-campo da Academia palmeirense.

Disputou, o meu irmão, alguns Campeonatos Paulista de Aspirantes pela Ferroviária e, assim, jogou em todos os grandes estádios de São Paulo. Teve passagens pela Platinense, de Santo Antônio da Platina-PR, levado por um diretor que nunca lhe pagou um centavo de salário. Da última vez que tive notícias desse cabra, um advogado cujo nome não me lembro, graças a Deus, era vice-presidente da Federação Paranaense de Futebol, nesse mundo em que os canalhas se dão bem. Luís Henrique passou ainda pelo São Paulo, de Avaré, e Internacional, de Bebedouro, até pendurar as chuteiras, com problemas na visão e nos joelhos.

Certa vez, quando vim visitar a família, certamente aproveitando um feriadão qualquer, entrei em casa e logo vi um cinzeiro, grande, com o distintivo do São Paulo, no barzinho da copa, e já fui ralhando: “Mas que troço é esse aqui?”, ao que meu irmão imediatamente esclareceu: “É de Avaré, brother”. Ah, bão! Mesmo assim, sempre olhava torto para aquele cinzeiro.

Grandão, com uma barriga proeminente pelas quantidades industriais de chocolate, sorvete e refrigerante que ingere todos os dias, puxou mais o Tizziotti da vó que o Fischer do vô. Fisicamente, inclusive. A vó Zizinha é da tribo dos Pavarotti, aqueles italianos atarracados de cabeça redonda como uma melancia. É do tipo brincalhão, sorridente, a voz sempre uns decibéis a mais, típica de todo bom italiano. As conversas dele com a tia Ciló, por exemplo, são tão silenciosas e disciplinadas quanto um bando de maritacas. Faz amizades com muita facilidade, o Zenrique.

Quatro anos mais velho, sou o inverso dele. Fui o único neto que puxou o Paulo Fischer – magro, alto, caladão, como todo bom alemão. Sou capaz de morar anos sem conhecer o nome do vizinho da direita, da esquerda e da frente, do dono da mercearia da esquina e da padaria do outro quarteirão. A última vez que isso ocorreu foi em Maringá. Perguntem ao pessoal das ruas Cariovaldo Ferreira e Saint Hilaire. Fiquei quatro anos na primeira e um ano na segunda e, apesar disso, quase ninguém lá sabe o meu nome e o que faço da vida, mas é bem capaz de um monte de gente lembrar-se do nome do Luís Henrique, mesmo que ele não tenha me visitado mais que duas vezes. Do Zé Ficha então...

Assinado: irmão do Luís Henrique.

Palmeiras empata, Corinthians ganha. É a treva!

Demorei para postar algo hoje sobre futebol. Só agora de noitinha estou conseguindo concatenar as ideias. Ressaca monstro. Esse Parmera ainda me mata. Maledeto. Tomei quatro Skol no Bar do Moitinha aguentando um corintiano gritando a toda hora que o Parmera ia se fuder. Disseram que o cara tem um parafuso a menos, mas, caraca, aquilo passou da conta. Eu e meu irmão, mais um punhado de palmeirenses, gastamos tolerância por três encarnações. Daí saí atrás de outro bar aberto aqui em Guará. Parei no Zezé e tomei mais não sei quantas. Capotei sem comer. E a cabeça está um caco. Phoda não foi cair fora da Libertadores. Foi cair fora precisando de um golzinho só e o maldito jujú não me dá um pênalti claro, e ainda por cima ver o Curíntia colocar a mão na taça com um gol irregular. Já estávamos encafifados com erro de arbitragem desde o pega com os bâmbis, no Palestra, naquele pênalti claríssimo ignorado pelo juiz. Agora, essa. O Christian cobrou a falta que resultou no gol do Gordo com a bola rolando. E cobrou ao lado do Héber Roberto Lopes. Conheço ele. É de Londrina. Quando o Galvão Bueno fez sua primeira festa de aniversário na cidade, depois de casar com a Desireé, o Heber passou no Bar do Robertinho antes de seguir para o Empório Guimarães. Ou seja, antes de flertar com a elite, tomou uma com a rapeize. É um bom sujeito. Mas queimou o filme para a decisão. Com a falha de ontem, fica difícil ser indicado para apitar em Porto Alegre. Agora só falta o São Paulo reverter a vantagem do Cruzeiro, logo mais. É a treva!

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Nem dá pra reclamar do Palmeiras. O time lutou muito. Foi bravo. É limitado e, pior, com um treinador que lastra-se muito mais no gogó do que na capacidade técnica. Dizia a amigos: "Você quer ser campeão com Fabinho Capixaba, é isso?" Não dá, né? Capixaba até que já foi afastado do time, mas o Palmeiras tem muitas deficiências para quem quer levantar a Libertadores. O pessoal da zaga é esforçado, aguerrido, emociona até pela garra, mas todo mundo fraquinho. Nossa esperança era o Edmilson, mas o cara vai me machucar sério, pô. Ele machucou nas vésperas daquele pega com o Corinthians em Prudente. Com ele, poderíamos ter ido mais longe na Libertadores. E não teríamos tomado aquele gol do Gordo, o gol do alambrado derrubado em Prudente. E o Gordo teria demorado bem mais para fazer o que fez de lá pra cá.

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Em Montevidéu, os atacantes falharam feio. Eles não tinham direito de perder oportunidades claras numa partida em que se sabia que seria infernal, com pouquíssimas chances. Naquela cobrança de escanteio de Cleiton Xavier que bateu na trave, o Keirrison mostrou que o faro de gol dele está precisando de uma calibrada. Se ele fica parado, a bola voltaria na cabeça dele e era só empurrar com o gol vazio. Se a bola foi lá no alto, com o goleiro na jogada, o que ele foi fazer lá? Cabecear a trave? E Obina poderia ter dado já o retorno de sua contratação. Duas chances claras. Na segunda, aquela de cabeça, por que o cara foi jogar o corpo no ar, meu Deus? Por que não permancer com os pés no chão, para dar mais precisão ao cabeceio?






A culpa é do Luxa mesmo. Afinal, qual a contratação que deu certo? Vamos fazer um breve balanço, então. Keirrison começou a temporada arrasador, mas já anda devendo, mas tudo bem, é promissor e coisa e tal, além do que essa contratação já vinha sendo namorada há tempos, Luxa tem pouco a ver com isso. Obina, o emergencial, falhou hoje. Willians ainda não aconteceu. Mozart também não. Marquinhos é uma piada. Fabinho Capixaba também, só que de mau gosto. Jeferson, idem. A zaga, tadinha. Muito voluntarismo, pouco talento. Jumar, Sandro Silva, argh. Então, seu Luxemburgo. Qual é?

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Ronaldo mostrou que é o cara. Incrível como não conseguem marcar o sujeito, apesar daquela pança toda. O Corinthians fez o melhor resultado possível, levando-se em conta uma decisão equilibrada, claro. É muito difícil imaginar uma reação colorada, apesar de toda a qualidade do time gaúcho. E também é muito difícil que o Corinthians vá perder a Copa do Brasil dois anos seguidos do mesmo jeito. Ano passado, fez 3 a 1 no Sport e levou 2 a 0 no Recife. Desta vez, 2 a 0 contra ainda dá pênalti. O Inter vai jogar pisando em ovos. Se levar um, precisa fazer quatro. Não é mole não.

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De manhã, seleção. Legal, o Dunga ter colocado André Santos, Miranda, Ramires. Não mexeu com a estrutura do time e deu a chance aos novatos. O único que não se deu bem, na minha opinião, foi o lateral do Corinthians. Jogou com o freio de mão puxado. Tudo bem, era a estreia do cara na seleção, competição oficial e o escambau, mas fiquei com a ligeira impressão de que a amarelinha pesou. Vamos ver...

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Maicon voltou bem. Estamos bem na lateral direita. A esquerda é que ainda é o problema. E deu pra perceber que, mesmo exercendo cargo de confiança do treinador, Gilberto Silva está começando a se sentir ameaçado. Contra os EUA, correu com um doido, apareceu na área adversária várias vezes, quase fez gol por mais de uma vez. O Ramires realmente é bom, pode contribuir muito com o time, mas na vaga de Gilberto Silva, não na de Elano. Coragem, Dunga!



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E a Itália me perde do Egito na Copa das Confederações! Pagou o pato pelo fato do juiz ter dado aquele pênalti para o Brasil contra o Egito. Os egípcios jogaram com uma gana fora do comum e a atual campeã, repito, pagou o pato.


quarta-feira, 17 de junho de 2009

Um golaço de Ronaldo


Pelas declarações que deu na segunda-feira, em São Paulo, um dia depois do empate sem gols do Corinthians com o Goiás, no Estádio Serra Dourada, estou cada vez mais convencido da importância da volta do Fenômeno ao futebol brasileiro. A maneira direta com que criticou a baderna no estádio goiano, cheio de gente que nada a tinha a ver com o espetáculo, impedindo, inclusive, ele próprio, Ronaldo, a concluir o aquecimento em campo, foi um direto de direita no queixo da cartolada. "Aquilo foi coisa de várzea", disparou. Podemos, então, apontar três boas consequências do repatriamento de Ronaldo: a qualidade técnica do cara; a sinalização de que, por aqui, também pode-se jogar e ganhar um bom dinheiro; e o enfrentamento com a banda podre dos dirigentes, que insistem em fechar os olhos para o que há de ruim e errado nos nossos campeonatos, e isso a cinco anos da Copa-14. Boa, Gordo!


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Vi alguns lances deEspanha 1 x Iraque 0, hoje, pela Copa das Confederações. Esse time espanhol é mesmo insinuante. É bom vê-lo jogar. Parece uma equipe compacta, entrosada. A bola parte de um lado a outro com perfeição. Deu para perceber até uma certa ginga. Já estou torcendo para enfrentá-los na decisão - ou na semifinal, tanto faz. Será um ótimo teste para a seleção brasileira, de olho na Copa-10.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Seção humor


Jogos de pelar o sabugo

Como diria o Jefinho, maior torcedor do Tubarão do mundo, este meio de semana futebolístico vai ser de pelar o sabugo. Tubarão é o apelido do Londrina Esporte Clube, assim batizado em meados da década de 70, sob inspiração do então empolgante filme de Spielberg. Mas infelizmente o Tubarão do Jefinho e de uns dois mil abnegados torcedores londrinenses está muito distante das competições que vão chacoalhar o bambuzal desta quarta e quinta-feiras. E, na minha opinião, o primeiro jogo será o mais tenso de todos. Marcado para as 19h20, no Estádio Centenário, em Montevidéu, o bicho vai pegar nesse Nacional x Palmeiras. O gol que os uruguaios fizeram no final da primeira partida, em São Paulo, deixou tudo mais difícil para o time de Luxemburgo, que teve a cara de pau de se esfregar no Felipão, ontem, para pegar sorte. O Palmeiras vai precisar vencer ou empatar por dois gols ou mais para avançar às semifinais da Libertadores. Keirrison desencantou contra o Cruzeiro, domingo, pelo Brasileirão. Está, porém, devendo ainda uma atuação decisiva na Libertadores. Será amanhã?

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O São Paulo, na quinta, também terá uma parada duríssima contra o Cruzeiro, embora jogue em casa e se garanta com um magro 1 a 0. Mas não é apenas o resultado que tem de ser analisado nessa parada. Assim como no caso do Palmeiras, no qual está em jogo a soberba do senhor Luxemburgo, no Morumbi também estará em jogo uma questão particular. Depois do tricampeonato nacional, Muricy Ramalho chamou para si a responsabilidade de vencer esta Libertadores, que ele ainda não tem no currículo. E talvez essa quarta-de-final seja a etapa mais difícil para o Tricolor.

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Nesta terça, dia 16, faz 10 anos que o Verdão levantou a Libertadores de 1999. Vi o jogo no Bar do Souza, na rua Mato Grosso, em Londrina. O bar não existe mais. Meses depois daquele título, o Souza, palmeirense roxo, levou o estabelecimento para a avenida Madre Leônia, endereço chique da cidade, e fechou. Mas as lembranças daquela decisão... Vixe, Maria! O Souza, por exemplo, de cima do freezer principal, bebia e jogava champagne em si mesmo, como se estivesse no pódio da F-1 em Mônaco. Naquela quarta-feira, saí mais cedo da Folha, umas sete da noite, deixe a edição de Esportes por conta do santista Alberto Macedo e fui pra casa. Comecei vendo o jogo em casa, tremendo mais que vara verde, e acabei parando no Souza no intervalo, quando procurava bar aberto para reabastecer o estoque de cerveja. Quando passei pela Mato Grosso, já estava começando o segundo tempo. Parei e, então, vi as jogadas decisivas daquele jogo contra o Deportivo Cali. O gol de Oséias, o 2 a 1 que levaria a decisão para os pênaltis e, ai meu Deus, os pênaltis. Bem, deixa pra lá.

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Nos confrontos da Libertadores, é previsível que a raça, a atenção ao mínimo detalhe decidam a parada. Diferentemente do que vai acontecer no Pacaembu, quarta, no primeiro pega de Corinthians x Inter pela decisão da Copa do Brasil. Vão ser dois jogaços, com o Timão, em tese, precisando abrir vantagem. Muitos fatores, contudo, deixam essa partida sob um suspense danado. Ronaldo, além de gordo, está gripado. André Santos, destaque do time, está na África com a seleção, que também roubou Nilmar do Colorado. E D'Alessandro também está fora. São quatro estrelas ausentes ou baleadas, mas que, ao invés de tirar o brilho, atiram mais mistério sobre como vão se comportar as duas equipes, que terão, aí sim, equipes completas na grande decisão, no Beira-Rio.

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Jefinho deve estar perambulando pelos bares de Londrina, desde segunda-feira, repetindo para quem quiser ouvir e para ele mesmo, que não perde uns jogos desses de jeito nenhum, mesmo que o Santos não esteja na parada. "Vai ser de pelar o sabugo". E vai mesmo.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Os altos e baixos da seleção contra o Egito


Com o olho sempre na Copa do Mundo, que é como acho que devemos discutir seleção brasileira, vão aqui meus pitacos sobre o desempenho do time de Dunga na manhã desta segunda-feira, na África do Sul, nos 4 a 3 sobre o Egito, na estreia de ambos na Copa das Confederações. Por setores:


GOL - Se Júlio César não cometer um caminhão de besteiras, é o titular em 2010 e ponto final. Não comprometeu em quase nada hoje. A única falha foi no primeiro gol egípcio. Se ele saiu do gol, então que tinha de completar a saída. Saiu e recuou. É o que de pior pode acontecer a um goleiro nesse tipo de jogada. Palmeirense que é palmeirense não esquece que Bruno fez a mesma pipocada naquele jogo em Prudente e ajudou, e muito, a recriar o mito Ronaldo. A falha contra o Egito pelo menos sinaliza que, apesar de todas as virtudes, Júlio tem de treinar mais esse fundamento. Menos ruim que o time dele ganhou a partida, e isso significa que tem estrela. Goleiro sem sorte tem de trabalhar em repartição pública. É o caso do Bruno.


LATERAL DIREITA - Maicon marcou toca e parece ter perdido a posição para Daniel Alves. O jogador do Barça combate bem e apoia (ah, que vontade de acentuar esse ditongo, meu Deus!) melhor ainda. E tem disposição, gana. De qualquer forma, vão brigar até as vésperas do Mundial. O próprio Júlio César considera Maicon o principal jogador da Inter de Milão, o que não é pouco. Pelo visto, temos, enfim, os sucessores de Cafu. Dunga, porém, precisa explicar ao Daniel que ele não é o dono do time. Não pode bater toda e qualquer falta. Ronaldinho Gaúcho tentou essa imposição, quando estava em boa fase, e olha no que deu. Pombas, lá no Recife, contra o Paraguai, já nos acréscimos, o Kaká pediu para cobrar uma, porque queria homenagear o aniversário de um ano do filho, e o cara negou. Bem, pelo menos personalidade tem, né...


LATERAL-ESQUERDA - Definitivamente, uma posição em aberto. Não sei se é ordem do treinador, para ficar mais preso na marcação, em vez de avançar, já que, pela direita, Daniel Alves ou Maicon sobe a todo instante. Dentro de um 4-4-2 conservador, como é o de Dunga, é aceitável. Mas Kléber simplesmente não faz uma coisa nem outra. Na marcação, está muito mais ou menos. No apoio, zero. Não faz outra coisa, quando pega a bola, senão recuar ou tocar de ladinho. Quando tenta algo mais desafiador, como um passe de dez metros, erra. E esse era justamente o ponto forte dele: os cruzamentos que fazia no Corinthians e no Santos mais pareciam passes. Ele abandonou essa virtude, ou está taticamente proibido. O fato é que não saiu da má fase que dura anos. E Dunga insiste com ele. Será que é mais uma posição em que ele tem "jogador de confiança"? Pensei hoje: "Se o André Santos entrar, não sai mais". Entrou, só que faltando apenas 10 minutos. Não pegou uma única vez na bola, o lateral do Corinthians. Na primeira, inclusive, furou. Mas, enfim, com ele em campo o time conseguiu o gol da vitória. E isso sempre conta. Nesses jogos da Copa das Confederações, merece uma chance. De jogar o jogo inteiro. Se não fizer isso, é sacanagem do Dunga. Então, para que levá-lo à África?


ZAGA - Lúcio e Juan, na boa. Sem maiores comentários. Não tiveram maiores culpas nos gols. Acho que continuam mal protegidos pelo Gilberto Silva. E a jogada decisiva do quarto gol foi de Lúcio, que marcaria o gol se o zagueiro não tivesse cortado com o braço.


VOLANTES - Então, é isso: acho Gilberto Silva meio capenga, mas o cara é cargo de confiança do "professor", então fazer o quê? Torcer para ele torcer o tornozelo às vésperas da Copa, à la Emerson em 2002? Foi assim que descobrimos Kléberson. Se Felipe Melo não estivesse tão bem, proporia Kléberson-Ramires como volantes. Mas qual treinador há de abrir mão de um mordedor de canelas à frente da zaga? Em se tratando de Copa do Mundo, nem eu.


MEIAS - Elano esteve sumido do jogo, foi justamente substituído por Ramires, em quem, ao que parece, Dunga anda botando fé. Se entrar bem em alguma partida, pode representar, para o grupo de Dunga, o que Kléberson representou para o de Felipão no penta. E Elano é pau para toda obra. Não se abateria com uma eventual reserva. É homem de grupo, bom de tê-lo. Kaká teve atuação razoável. O ponto forte foi o gol de pênalti. É nessas horas que se vê o cara de personalidade.


ATACANTES - Robinho até que suou bastante, mas não conseguiu escapar da marcação e caiu fora. Pato entrou e até agora não disse a que veio na seleção brasileira. Uma ou outra boa exibição, e olhe lá. Não creio que Dunga pretenda fazer com ele o que Parreira fez com o hoje gorducho Ronaldo em 1994 - levar a uma Copa para ganhar cancha. Se pretende, está fazendo errado. O gol que Pato perdeu contra o Paraguai, naquela jogada deslumbrante do Lúcio na linha de fundo, já nos acréscimos, passou despercebida porque o jogo terminou 2 a 1. Porque foi vergonhoso aquilo. Dunga tem de se convencer que o cara da vez - e futebol é muito isso - é o Nilmar, e pronto. Não sei por que, mas Pato me faz lembrar malabarismos, quadrado mágico... Argh! Parece querer fazer uma obra-prima a cada toque, e acaba deixando o feijão queimar na panela. Já Luís Fabiano fez a dele: movimentou-se bem, fez um e... só. Bão também, diriam uns amigos aqui de Guará-SP.


A seleção volta a campo quinta-feira, contra os EUA. De novo, às 11h.

Seção humor: santa inocência!


Foto repassada pelo meu primo Alessandro Giannini, de Araraquara, ex-atleta e homem-forte do ciclismo no interior paulista, com a seguinte legenda: "Querido Papai do Céu, este ano por favor mande roupas para aquelas pobres mulheres que estão no computador do meu pai; amém". De cortar o coração do maior dos cafajestes.

Só em Londres mesmo, diz a Lubru


Abro o computador nessa friorenta manhã de segunda-feira e, na caixa postal, em meio a uma ou outra impertinente assessoria de políticos, que, incrível, conseguem nos achar onde quer que estejamos, está uma mensagem da Luciana Franzolin, fotógrafa de Bauru com passagem por Londrina, onde fez uma pós na UEL e alguns frilas para o Mais Londrina, semanário de João Arruda do qual eu era o editor. Lubru há alguns anos está em Londres. Termina mestrado agora em agosto. Com o título "Soh em Londres mesmo", assim mesmo, com h em lugar do acento, Lubru manda o seguinte texto, datilografado no mesmo velho teclado no qual ela não consegue praticar acentuação: "Olha o que estava acontecendo quando eu saih do trabalho ontem. Centenas de pessoas pedalando e correndo na rua PELADAS! No meio da Oxford street, a rua mais movimentada de Londres. Eles estavam protestando contra a dependencia de petroleo no mundo!" E olha que para surpreender a Lubru não pode ser pouca coisa não. Repórter-fotográfica que é, clicou o protesto e mandou cinco fotos. Escolhi a de cima aí. Saudades de você também, menina. Volte logo.

domingo, 14 de junho de 2009

Seção humor


Seção família

Depois do aniversário da dona Maura na sexta, regado a cerva, refri e salgadinhos, além do indefectível bolo cuca da Ciló, rolou feijoada na casa da vó, sábado. Trabalho duro para a Ciló e a tia Vera, que lidaram com as carnes, e a vó Zizinha, que, quase aos 90, picou toda a couve que o João Luís trouxe do sítio. À tarde, o único programa possível após dois pratos ignorantes de feijuca: jiboiar ao sol, em mais um dia frio nesse pedaço geralmente tórrido do interior paulista.

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Nos birinaites pré-feijuca, a gente vai colocando a conversa em dia e fica sabendo das coisas que andam rolando em família. João Luís, que arrendou os sete alqueires agricultáveis do sítio para a usina, a fim de saldar dívidas bancárias, e virou tratorista da própria usina, conta que descobriu o autor dos últimos furtos de frangos e galinhas lá no Barro Preto: uma sucuri que certamente habita a represa do sítio vizinho e anda fazendo suas refeições nos domínios dos Fischer. Ele viu a baita com um frangão gordo na boca, arrastando-se no mato. E, parece, agora está também explicado o sumiço de dois cachorros pequenos, meses atrás.

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Emerson, que trabalha no setor de habitação da Caixa em Ribeirão Preto, conta que a partir de segunda-feira assume a gerência da CEF em Cravinhos, a 15 km de lá. Boa sorte ao primo, que disse ter visto na internet uma dessas compilações sobre "Placas do Brasil". Uma delas, segundo ele, dizia: "Banho e tosa: aqui seu cão sai um gato"! Não é à toa que a propaganda brasileira é uma das melhores do mundo.

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À noite, quermesse na praça. E o reencontro com um monte de velhos amigos. Vinho quente, batata frita, leilão de prendas, cerveja com o primo Dim até altas horas. Agora cedo, além da ressaca, os preparativos para irmos para o sítio, "renuir" a família, com disse o Dim, bebum, na sexta à noite, sem conseguir pronunciar o "reunir" de jeito nenhum. À noite, talvez mais quermesse, último dia, depois de ver Palmeiras x Cruzeiro no bar do corintiano Moitinha.

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Bom domingo a todos!

sexta-feira, 12 de junho de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Coisas de família

Nesta sexta é aniversário da minha mãe. Pode uma mãe fazer aniversário no Dia dos Namorados? Exagero puro! Sétima de uma prole de onze, dona Maura faz 67 com corpinho de 66. Devem vir quase todos os sete irmãos vivos. Sem contar que já se perdeu na lembrança a última vez que aniversariou com os dois filhos presentes. E está rolando quermesse na praça da matriz. Festão à vista, sô.

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Por falar em aniversário, dona Zizinha – Elzira Ilza Tizziotti de nascimento – faz 90 no final de agosto. É minha avó paterna. Dos meus quatro avós, restou ela. É caçula também de onze. E a única viva. O marido Paulo Fischer foi-se há uns dois ou três anos. E se foi sem revelar no pé de qual mourão está aquele olho de machado que enterrou quando se casaram.

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Mas não dá pra reclamar. Paulo Fischer viveu até os 88, morreu sem sentir dor, a não ser a dor de não poder mais trabalhar. Perdeu o pai com 13 anos. Junto com a mãe, criou os cinco filhos menores. O pai dele morreu com 45 anos. Pisou num prego enferrujado e, semanas depois, calçou sua primeira botina. Morreu de tétano.

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Nossa descendência alemã é longínqua. Meu avô era neto de alemães. Já dona Zizinha é filha de italianos. Não se lembra de onde vieram, porém. Lembra-se apenas da mãe falar que vieram de Nevécia. Essa é a pronúncia. Não sei se é Veneza em italiano ou há outra cidade assim por lá. Lembro de ter lido sobre alguma Nova Venécia não sei onde. No interior de São Paulo ou do Mato Grosso.

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Somos ruins quando o assunto é memória. Cultivamos muito pouco isso. Uma pena. Embora eu acredite que o pessoal, além da pouca instrução, não tinha lá muito tempo para pensar nisso. Trabalho na roça é phoda. Meu avô criou os cinco irmãos menores e, depois, três filhos, tocando um sítio de dez alqueires – sete agricultáveis. Deu casa a cada um dos filhos, assim que casaram. Foi-se deixando o sítio e uma casa de herança, e nenhum centavo de dívida.

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Do lado paterno, minha família é muito pequena. Da vó Zizinha até a Natália, minha filha, somos em apenas dez. Do lado dos Cherutti, da minha mãe, o bicho pega. São 30 primos de primeiro grau. De segundo, 40. Não conheço a metade. É uma parte também italiana: Cherutti e Bife, embora o patriarca seja o Bernardo Cerut – daí, toda vez que ia registrar um filho, acrescentava-se um h, um t, um i. Um rolo danado. Eu achava que Cerut era espanhol.

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Mas não. A Judite, oitava dos onze irmãos, é a que mais se preocupa com a descendência. Falou esses dias que gostaria muito de ter a árvore genealógica da família. Nossa documentação é parca. Judite é professora aposentada e fica procurando coisas para passar o tempo. Tá numas de cibernética. É ativa integrante da Pastoral da Criança. Entrou em aula de computação para aprender mandar e-mail. Propus que procurasse aquele lance dos mórmons de Salt Lake City, onde, reza a lenda, há um bunker com os registros de todos que nasceram do neolítico para cá.

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Estou falando da família porque hoje à tarde, depois de limpar um frango que já estava virando galo, ao riscar uns mamões pra madurar, minha mãe contou que sempre que risca mamões lembra do Vadico, irmão dela. Vadico é o terceiro dos onze. Moravam todos na roça. Minha mãe disse que, quando chegava a hora de namorar, o Vadico lavava as mãos com nódoa de mamão para impressionar a Maria. “Como ele gostava daquela Maria...” Casaram, tiveram três filhos. Os dois mais novos – Durval e Noraldo – levam a vida em Ribeirão Preto, fazendo não sei o quê. O mais velho, Norivaldo, é gerente regional, ou algo assim, superintendente, talvez, do Bradesco, em Osasco. Todos têm filhas. Cada uma mais bonita que a outra. Vadico morreu de Chagas, aos 33 anos.

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O segundo dos onze irmãos Cherutti é o Jair. Perdeu a mulher cedo, casou de novo. Aos 78, é pai de um rapaz de 24 e outro de 22. Cruzei com ele no Bar do Dalmo, terça-feira. Foi buscar coca-cola pro jantar, sentou-se e tomamos umas quatro ou nove, como diz meu amigo-irmão Briguet, de Londrina. Sei que a conta deu R$ 24. Cerveja em cidade pequena é mais barata. Dois e alguma coisa.

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Jair voltara aquele dia de Ribeirão. Foi visitar a primeira filha e tirar sangue para exames pré-operatórios. Vai operar o menisco do joelho direito. O médico teria dito que não sabe como ele consegue andar com os meniscos naquele estado. E Jair jogava bola até três anos atrás. Parou por causa das dores. Vai colocar prótese. Acho que em velho artroscopia não cola mais. Mas já avisou o pessoal da chácara que ainda pensa numa boa pelada.

Desafio superado


Portou-se muito bem a seleção: o esquema de Dunga "simplezinho mas bonitinho" voltou a funcionar, como contra o Uruguai, e o Brasil venceu o Paraguai nesta quarta, no Recife, com certa tranquilidade, apesar do 2 a 0. E o gol do gordinho Cabanãs, em chute desviado por Elano, apenas apimentou o desafio de vencer o sempre encardido Paraguai, o que acabou ocorrendo, com gols de Robinho ainda no primeiro tempo e de Nilmar no início do segundo. Líder isolado das Eliminatórias, o Brasil vai para a África do Sul com moral elevado para enfrentar, de verdade, Itália e, quem sabe, Espanha, pela Copa das Confederações. Egito (segunda-feira) e EUA (na quinta), os dois primeiros jogos da fase de classificação, vão servir só para esquentar os motores.


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Praticamente garantido na Copa-2010, o Paraguai tem um time difícil de ser batido. O técnico argentino Marcelo "El Loco" Bielsa montou um esquema de marcação bastante eficiente, pressionando o adversário já na saída de bola. E onde quer que o adversário esteja, há três ou quatro paraguaios em cima. Se aquele time de 1998, que quase complicou a França, tivesse esse Cabanãs, talvez teria ido mais longe. Aquela equipe começava com três jogadores que disputariam eventual eleição entre os melhores do mundo em suas posições - Chilavert, Arce e Gamarra. Mas do meio para a frente era sofrível. Se Bielsa descobrir, até a Copa, mais um meia e um atacante para ajudar Cabañas, o Paraguai vai dar trabalho na África.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Istórias do interiô


Há menos de três semanas em Guará (SP), curtindo a família, já ouvi um sem número de piadas, posto que aqui, como na maioria das cidades do interior de São Paulo que conheço, o povo gosta mesmo é de beber, escutar Tião Carreiro e dar risada. Como piada, conta-se também passagens reais, fruto da caipirice com a qual o povo se diverte, zombando, como se zombasse de si mesmo. Três delas:


1. Na década de 80, quando Guará tinha uns 15 mil habitantes, hoje tem uns 21 mil, um "empreiteiro" - pessoa que arregimenta gente para uma determinada obra - muito conhecido na cidade, como, de resto, todo empreiteiro é, candidatou-se a vereador. Eleito com votação maciça, já assumiu a presidência da Câmara. Sujeito bom porém muito simples, passou no carrinho de lanches de um primo meu, após uma sessão noturna da Câmara, pediu um xis qualquer e estava lá, saboreando o dito cujo, até que resolveu trocar os complementos e pediu, em alto e bom som: "Leva esse moio de tomati e trais a marionésia pra mim". A partir daí, e até hoje, a maionese nossa dos domingos, na maioria das casas guaraenses, é a famosa marionésia do vereador.


2. Lavrador das antigas, trabaiadô, esperto que nem mineiro, mais conhecido dos botecos do que dos ambientes chiques, Chico entra numa loja de calçados para comprar um tênis número 40 para o filho, que há tempos vinha querendo uma marca famosa para fazer bonito na escola. Olha daqui, olha dali, todo encabulado, observando os Asics, Nikes, Olympikus, Rainhas e outras marcas, até que chama a vendedora e pergunta:

- Quanto custa aquele nique ali?

- Aquele naique?

- Não, aquele nique ali, ó, preto.

- Eu sei, senhor, escreve nique, mas fala naique.
- Uai, então meu nome é chaique!


3. Essa aconteceu em Pires do Rio (GO), onde meu tio César, caçula de 11 dos Cherutti, família da minha mãe, mora há uns 15 anos, desde que vendeu uns alqueires aqui para se aventurar por lá. Mexeu com terra, virou caminhoneiro e agora sossegou, está tocando um mercado - minibox, como se diz por lá - com a família. Tempos atrás entra um cidadão com o mesmo linguajar do Chico lavrador ali de cima. Passa pelo caixa e pergunta pro César:

- Ô Xerife (apelido que o César ganhou lá, por causa do zóio pequeno e do cabelo e do bigode à la Charles Bronson), cê tem quéti chópi?

Ao que o meu tio, meio distraído, pensando que ele tivesse perguntado sobre pet shop, responde:

- Tem um pouco de ração, mas não vendo muita coisa de cachorro não.

E o cliente, que na verdade estava pensando em dar sabor ao lanche da tarde:

- Então me dá maionese mesmo.

Seção colírio


Vanessa Giácomo: o que é isso, torcida brasileira?

terça-feira, 9 de junho de 2009

O diferencial da seleção e o desafio desta quarta-feira


Alertado por um amigo jornalista de que Kaká teria sido a única voz dissonante contra a balbúrdia em que se transformara o ambiente de preparação para a Copa de 2006, passei a prestar mais atenção na performance e nas declarações de jogadores e comissão técnica, em busca de diferenciais desse time de Dunga em relação à equipe de Parreira & Zagallo, que festou muito e trabalhou pouco na Alemanha - quem não se lembra dos pouquíssimos treinos e muitas badalações do elenco na sofisticada Weggis, Suíça, nos dias que antecederam o último Mundial? E nem foi necessário esperar muito para obter uma resposta eloquente: na primeira entrevista no Recife, após o histórico 4 a 0 sobre o Uruguai, questionado justamente sobre a diferença de ambiente que estaria ocorrendo em relação ao grupo passado, Kaká, mesmo diplomático, foi bastante claro: "Esse grupo tem vontade de trabalhar e sede de vitórias". Para bom entendedor, uma frase com dois períodos basta. Fica claro, pela atuação em Montevidéu e pelas palavras do agora jogador do Real Madri, que o empenho é o fator que distingue o grupo de Dunga do grupo dos complacentes Parreira e Zagallo. Ou não foi esse sentimento - a falta de empenho, de raça, a falta de pegada - que ficou cravado no peito do torcedor após a derrota (mais uma, my God) para a França nas quartas-de-final? Quando teremos outra chance como aquela, de bater a seleção que nos tirou o título de 98? E que nos eliminara em 86? Chance como aquela, de vencer Zinedine Zidane e outros remanescentes de 98, never more! Nunquinha da silva. Isso que doeu mais. Tudo bem, podemos nos vingar em 2010 ou em outro Mundial, mas superar os mesmos carrascos de 98, essa já élvis, meu irmão. Jamé! Aquela atuação apática do dia 1º de julho, em Frankfurt, vai marcar nossa geração. Justo a geração do penta! Como que para provar que nem tudo pode ser perfeito, já que ganhamos dois títulos e fomos a três finais nas últimas quatro Copas, vamos ficar marcados pela pecha de não nunca termos conseguido vencer a França. Não que eu me lembre. Analisando agora, com mais calma, pode-se concluir que a goleada sobre o Uruguai - que enterrou um tabu de 33 anos sem vitória brasileira no Centenário - se deu, sobretudo, à vontade, à garra, à disposição dos jogadores em campo, a começar pelo despretensioso chute de Daniel Alves que facilitou deveras a dura missão daquela tarde. Com aquela vitória, foi-se o incômodo tabu e veio a inesperada liderança das Eliminatórias, ainda que no saldo de gols, devido à derrota, também inesperada, dos paraguaios, em casa, diante do Chile. Com o futebol aguerrido e encardido de sempre, o Paraguai - que liderara as Eliminatórias desde o início - é o desafio da vez: superar a retranca alvirrubra, demonstrar o mesmo empenho do último domingo, consolidar a marca da disposição, se possível com alguma arte, é a tarefa que a seleção tem pela frente nesta quarta-feira, no Estádio do Arruda. Uma vitória que consolidaria a liderança, nos aproximaria da África do Sul e comprovaria que a turma de Dunga é muito melhor que o galático e insosso grupo de 2006.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Pato-Nilmar, Renato-Romário

Na "janela" da seleção para a imprensa, hoje, no Recife, o tititi ficou por conta de quem vestirá a camisa 9 quarta contra o Paraguai: Nilmar ou Pato? Suspenso, o titular Luís Fabiano ficou curtindo uma piscina. Apesar de cinco anos de diferença, Nilmar - o mais velho - e Alexandre Pato têm muitas semelhanças. Ambos são paranaenses. Ambos são cria do Inter. Ambos saíram cedo para o exterior. Pato permanece no Milan. Nilmar voltou ao Colorado. Parei pra pensar: caramba, imaginem a inveja dos treinadores das outras seleções. Quem, além do Brasil, pode dispor de dois nomes desse calibre para o comando do ataque? Isso porque ambos são reservas. Isso porque o maior artilheiro da história das Copas está ressuscitando novamente agora, no Corinthians. Isso porque, além deles, temos Fred, temos Washington, temos Grafite. Devo estar esquecendo de uns quatro. Temos Keirrison, amadurecendo. Lembrei de uma cena em Porto Alegre, final dos anos 80, Brasil x Alemanha, amistoso preparatório para a Copa da Itália. Brasil 2 a 0, meados do segundo tempo. A câmera focaliza o técnico - se não me engano, o Vogts - no banco alemão, cabisbaixo, a cabeça a prêmio. De repente, ele para de coçar a cabeça, vira pro lado e vê dois caras se aquecendo em frente ao banco do Brasil, prontos para entrar em campo: Renato Gaúcho (que jogava na Fiorentina) e Romário (que já estraçalhava no PSV). Imaginem a sensação de quem está perdendo um jogo para o Brasil, fora de casa, e vê dois diabos daqueles se preparando para entrar! Nosso menu de opções é realmente coisa de outro mundo. Fôssemos 5% melhores na parte político-administrativa, não sobrava pra ninguém. E quem disse isso, vários anos atrás, foi Julio Grondona, eterno vice da Fifa e presidente da Federação Argentina. O 5% é por minha conta. Mas o raciocínio é dele.

Agora me ajuda aqui, Bico!

Um dos motivos de ter criado o blog foi a cobrança sistemática de alguns amigos. Pois agora recorro a eles para tirar minhas primeiras dúvidas sobre essa geringonça. Inicialmente, o dino aqui precisa saber: 1) Como ajustar o relojinho das postagens, que parece estar no fuso horário do Afeganistão; 2) Como inserir fotos (de arquivo pessoal ou "chupadas" da net, para ilustrar uma ou outra nota); 3) Como inserir enquetes. A cobrança definitiva para criação do blog partiu do Marquinho Freitas, amigo curitibano que trabalha na Band. O "Bico Doce" - apelido que lhe imputei nos nossos tempos de Folha de Londrina - vivia zombando da minha pessoa. "Com três cliques você cria um blog, mané!" Ele mora no primeiro andar de um edifício em São Paulo. A vantagem é que a laje que cobre a portaria é dele, e fica de frente para a praça Benedito Calixto. De lá, subo um barrancão, passando pelo Instituto Goethe, desco a escadaria, pego o canteiro central da Sumaré e, depois de uma pernada de uns quatro ou cinco km, vou bater lá no Palestra Itália. Foi assim há algumas semanas, quando vi o primeiro pega contra o Sport pelas quartas da Libertadores. Era uma terça. No sábado seguinte, fomos no carro de um amigo dele ver a estréia do Verdão no Brasileiro contra o Coritiba. Ambos são coxa-branca. Marquinho é filho da dona Halina, a maior coxa-branca do mundo. O pior é que, numas de camaradagem, fui ver o jogo na torcida do Coritiba. Que experiência amarga do caralho. Eu, palmeirense juramentado, no Palestra Itália, em meio ao pessoal da Império, comprimido num cantinho da arquibancada, aquele que dá para ver as piscinas, sem poder abrir a boca. Na minha casa! Como eu caio nessas presepadas do Marquinho, meu Deus? Pênalti pro Coxa, 1 a 0. Segundo tempo, empate. Começa a chuviscar. Frio tremendo. Keirrison vira o placar já nos descontos e o pateta aqui tendo de rir por dentro. Mas acho que consegui pelo menos esboçar um sorriso matreiro que passou despercebido pelos coxas enfurecidos. Vai, Bico, agora me ajuda com esse troço aqui, pô.

Enquete na Itália põe Senna disparado na frente


Recebo e-mail de Armando Duarte Júnior com link para votar no melhor piloto de Fórmula 1 de todos os tempos, em enquete do Corriere della Sera. Armandinho é jornalista ponta firme de Londrina, filho de dona Azize e do Armandão, do Comercial da Folha na época em que eu trabalhava lá. Segui o link e depositei meu voto em Senna. Não por patriotismo, mas por achar que o cara era mesmo o bicho. Concorrem com ele Prost, Schummy e Fangio. Quando cliquei, o jornal italiano informou o resultado parcial: 66,9% para o brasileiro, 18,1% para o francês, 13,8% para o alemão e 1,1% para o argentino. O temor do autor do e-mail repassado pelo Armando é de que a pesquisa está sendo pouco divulgada no Brasil e, portanto, precisamos dar uma força ao patrício. Pfff! Enquete popular desse tipo, para Senna, é nhambu no embornal. Mesmo assim, se você quiser reforçar o voto nele ou nos concorrentes, vá .

Pirata propõe Rubinho como garoto-propaganda das Havaianas

Minha proposta de armistício pró-Barrichello foi bombardeada pelo primeiro chegado que se manifestou. Eduardo "Duzera" Affine Neto, que por muitos anos tocou o "Piratas", bar que marcou época em Londrina, é terminantemente contra. "O cara é um perdedor, eternamente reclamão, me parecendo sempre que a imagem dele cola legal na de uma criançinha mimada que não entendeu as regras do jogo e, quando sifú, chora querendo que mudem as regras exclusivamente pra ele", argumenta o Du, que tasca, em linguagem internáutica: "Tô pedindo pra iniciar, via teu blog, uma campanha pras Havaianas convidá-lo, e ele aceitar o Pédechinelo que os cassetas salpicaram nele, como garoto propaganda, nosso eterno recordista (de número de corridas), ou pra Brahma... Sou Brasileiro, não desisto nunca! (não levo nunca também! Mas volto o ano que vem!)". Fica, então, a sugestão do nosso ilustre pirata. Como a proposta do armistício partiu de mim, fico na moita, preservando o lema "Poupemos Rubinho, desde que ele nos poupe também".

domingo, 7 de junho de 2009

Notas da rodada do Brasileirão

1 - O surpreendente apagão flamenguista na Ilha do Retiro.
Quando parecia que tiraria proveito da ressaca do Sport pela eliminação na Libertadores, com dois fáceis gols nos primeiros minutos, o time de Cuca levou quatro gols ainda no primeiro tempo. Assim, o Flamengo desperdiça chances de criar gordura de pontos enquanto os principais candidatos ao título ainda estão com a cabeça na Libertadores (Cruzeiro, São Paulo, Grêmio, Palmeiras) e Copa do Brasil (Inter e Corinthians).

2 – A eficiência corintiana.
Está mais provado do que nunca que a grande tacada de André Sanches desde a queda para a Segundona foi mesmo a contratação desse Mano Menezes. De lá para cá, o treinador gaúcho transformou o Corinthians em uma equipe encardida, eficiente, difícil de ser batida. O jogo contra o Coritiba era daqueles feitos sob medida para o time favorito perder pontos. Pois o time foi lá e fez a lição de casa: somou três importantes pontos às vésperas da decisão da Copa do Brasil.

3 – A defesa de Marcos.
Claro que a bola entrou, mas a defesa do arqueiro palmeirense no cabeceio de Roger, do Vitória, foi magnífica. Puro reflexo, excepcional elasticidade e sorte: o corpo do goleiro impediu que a bandeirinha (opa!) pudesse ver a bola entrando.

4 – A maré paranaense.
Com o Paraná Clube já na Segundona, Coxa e Atlético abrem perigoso precedente, com esse início ruim de Brasileirão. E, desde que o Londrina caiu para a Série Y, o interior do Estado não faz grande papel no cenário nacional. É o futebol paranaense em baixa.

Poupemos Rubinho, desde que ele nos poupe também

Nessa altura do campeonato, falar mal de Rubens Barrichello é chover no molhado. Chega a ser um pleonasmo. Incoerência até, porque normalmente critica-se quem tem algo a mostrar. E o nosso Barrica, definitivamente, não tem. Tudo que o envolve chega revestido de frustração. Sempre que está à beira de fazer algo, a decepção chega na frente. E o pior é que chega sempre fácil demais. Para a frustração, ele perde de goleada.

Neste domingo, em Istambul, ele sairia, mais uma vez, atrás de seu companheiro de equipe. Classificou-se em terceiro; Button, em segundo. Mas ele alardeara, antes da prova, que fora bom assim, porque pegaria o lado menos sujo da pista, o que permitiria uma largada melhor do que se tivesse obtido a segunda colocação. Então, vamos lá: todos sintonizados na Globo, porque Barrica fará uma largada sensacional e, além do companheiro de Brawn, pode, até, quem sabe, passar até o pole Vettel e assumir a ponta do GP a Turquia.

E o que aconteceu?

Patinou na largada, viu todos passarem por ele, caiu para décimo não sei o que, tentou uma patética corrida de recuperação, bateu em dois adversários e abandonou a prova antes do final. Esse é o problema de Barrichello: com ele, a decepção não vem assim tipo de repente, num detalhe que lhe atrapalhe em meio à prova, um acidente durante uma disputa espetacular de posição... Ele simplesmente patina na largada e, de favorito, cai para as últimas posições, de onde não sai mais. Vai do céu ao inferno em milésimos de segundo. Coloca tudo a perder num piscar de olhos. E resta, sempre, a indefectível explicação: “Foi uma pena, porque se...”

Sejamos cristãos com o nosso Rubinho. Vamos poupá-lo de xingamentos, de troças, piadas – qualquer tipo de gozação, enfim. Até porque dá para perceber, pelas imagens, que ele se aborrece muito com isso. E, afinal, é o piloto com o maior número de provas na história da Fórmula 1. Ele fez o que pôde, com acento diferencial. Se não dá para cobrar mais, vamos estabelecer com ele um acordo tácito: vamos poupá-lo, sim, mas desde que ele nos poupe também. Desde que ele não insista em dizer que está na melhor fase da carreira, que sente-se no auge de um piloto, que pode, sim, disputar o título mundial.

O destino foi muito generoso com Barrichello, disso ele não pode reclamar. Depois de disputar várias temporadas como parceiro de Michael Schumacher na poderosa Ferrari, e assistir cinco títulos do alemão, passou a ser tratado como ex-piloto, à beira da aposentadoria, até que um milagre ocorreu. Por causa de sua amizade com Ross Brawn na escuderia italiana, recebeu uma oportunidade única, extraordinária, cinematográfica: um carro anos-luz à frente dos concorrentes, o melhor carro da categoria, muito mais rápido, seguro e confiável do que McLaren, Ferrari, Willians. Só tinha de fazer uma coisa: superar seu companheiro de equipe, que, evidentemente, conta com o mesmo equipamento. E, passadas sete corridas, Jenson Button tem seis vitórias; Barrica, nenhuma.

Vou tentar convencer meus colegas jornalistas a assinarem esse acordo, Rubinho. Muitos vão virar a cara, resistir, mas acredito que, no fim, obterei um armistício. Mas duvido que o pessoal do CQC e do Casseta & Planeta aceite.