terça-feira, 24 de novembro de 2009

O 'capitão Agostinho'


Ele está de lado, meio que escondido pelo troféu, mas, com uma dose cavalar de boa vontade, acho que dá para conferir a semelhança com Agostinho Carrara, o impagável personagem de Pedro Cardoso em "A Grande Família". O cara levantou, no domingo, a taça de campeão amador de Echaporã. O cara - cujo nome real nem imagino - é o capitão da Granja Mizumoto, que venceu o Paraguai na disputa por pênaltis, após empate em 1 a 1 no tempo normal. 'Agostinho' foi o melhor em campo. Joga de segundo volante. Bom na marcação e no passe. Passa e lança com os dois pés - coisa rara até no meio profissional. Cobre a defesa com eficiência. No primeiro tempo, salvou dois gols em cima da linha, em pererecos provocados por dois escanteios muito bem cobrados pelo 10 adversário. No segundo tempo, chamou a responsa e equacionou um rumoroso bate-boca do treinador com o ponta-esquerda (um anãozinho lépido que saiu duas vezes na cara do goleiro adversário, que fez dois milagres). E foi o primeiro volante, companheiro de 'Agostinho' na proteção à zaga, quem empatou o jogo, de cabeça, completando cruzamento da esquerda e pegando o goleirão adiantado. Antes, o 10 paraguaio havia aberto o placar cobrando pênalti cavado por Rogério, o rechonchudo centroavante do time. Tivesse dois dentes sobressaltados e seria o próprio Ronaldo. Rogério protegeu a bola e desabou na frente do zagueiro - o juizão caiu certinho. Na hora da premiação, Pelé, o capitão do Paraguai, ergueu o troféu de vice com raiva e disse que sua equipe era a campeã moral, porque todos moram em Echaporã, ao contrário da equipe adversária, que contratou gente de Assis. Pelé, um negão espigado, de andar arrastado, cabelo afro bem armado, poderia ter evitado o empate se tivesse atrapalhado o cabeceio do volante rival. De qualquer forma, jogou bem. É do tipo que não perde a viagem. A bola pode até passar; o adversário, não - embora seja mais afoito do que propriamente violento. O Paraguai é genuinamente local - à noite, todos estavam enchendo a cara no bar em frente à praça matriz. Enquanto sãopaulinos torciam ferrenhamente pelo Goiás contra o Flamengo, os jogadores do Paraguai exibiam com orgulho o troféu na mesa posta no calçadão em frente. Perguntei ao prefeito Osvaldo Bedusque - que na foto debaixo entrega medalhas aos campeões - por que aquele time tinha o escudo da Federação Paraguaia na camisa, mas nem ele nem outros souberam explicar. A Granja Mizumoto, na verdade, não existe mais. Fechou há alguns anos, eliminando 400 empregos diretos e mais de mil indiretos, lamentou seu Osvaldo. Parece que mantém alguma atividade básica e ainda participa de eventos como o amadorzão de futebol. Umas 300 pessoas foram ao estádio municipal, que recebeu a banda marcial de um colégio de Bariri. A arquibancada é surpreendentemente grande para uma cidade tão pequena - nem na minha Guará, que já decidiu o título amador paulista (alguém aí lembra da Copa Arizona?), há um poleiro daquele tamanho. Ficamos, eu, o prefeito e o Bruka, sentados à frente de uma garota com dois garotos sãopaulinos no colo e que berrava estridentemente. Ficamos sabendo, depois do jogo, que era a mulher de Pelé, cuja profissão é cortador de cana. Faltou cortar aquele cruzamento, hein, meu rei...






segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Boa vida em Echaporã


Echaporã, a 156 km de Londrina, entre Marília e Assis, 1h40 de viagem, está em festa pelos 71 anos de emancipação política. Começou sexta-feira e vai até a próxima segunda, dia 30, data oficial do aniversário. Caí na estrada e fui lá curtir o final de semana com o casal Bruka (jornalista formado na UEL e músico formado na noite) e Giovana, o filho Pedro (de 10 meses) e o pai dela, Osvaldo Bedusqui, palmeirense de sete costados, que vem a ser o prefeito - em segundo mandato - do município onde nasceu, vejam só, Zé Ganchão. Bruka e Giovana estavam em São Paulo até meses atrás, mas depois de uns trupicões profissionais decidiram, como já disse aqui, deixar para trás a Selva de Pedra e criar Pedrão - futuro meia-esquerda do Milan - entre abacateiros e pés de manga. Bruka abriu um jornal, que deve circular nesta semana, tendo Giovana como fotógrafa e crítica mordaz. No sábado à noite, como demonstram as fotos de cima e de baixo, curtimos a Orquestra Paulista de Viola Caipira, que terminou a apresentação ao som de Cuitelinho. No domingo, depois de almoçarmos um carré bem temperado ao forno, curtimos a decisão do campeonato amador de futebol e à noite voltamos à praça para mais um passeio regado à música e cerveja. E foram muitas, hein... Brukão & Cia estão do jeito que o diabo gosta: andando descalços, comendo bem, bebendo todas e ouvindo Tião Carreiro, Belmonte e Amaraí e adjacências. Ah, se inveja matasse...



Matemática dos sonhos

Como palmeirense, não me sinto em condições de sonhar com nada, depois dessa queda histórica, vertiginosa e vergonhosa do meu time na reta final do campeonato, mas como torcedor dá para fazer uma matemática engenhosa que deixaria a última rodada do Brasileirão absolutamente fantástica, no alto e na parte de baixo da tabela, na briga pelo título e para deixar a última vaga em aberto para a segundona. "Basta" que na penúltima rodada, domingo que vem, o São Paulo perca para o Goiás, o Flamengo empate com o Corinthians e que Palmeiras e Inter vençam Atlético Mineiro e Sport Recife, respectivamente. Assim, chegariam, os quatro, com 62 pontos - com muita chance de o troféu ser decidido no saldo de gols, até mesmo no número de gols marcados, ou sofridos. Por outro lado, se o Fluminense vencer o Vitória, o Coritiba arrancar um empate do Cruzeiro e Atlético-PR x Botafogo terminar empatado, Flu, Coxa, Furacão e Fogão chegam à última rodada com 45 pontos. Como futebol é uma caixinha de supresas... Até podia acontecer, só para calar a boca de quem condena o sistema de pontos corridos. Com certeza, uma rodada assim mataria do coração muitos torcedores Brasil afora.

Vou embora pra roça

Paguei dois reais (R$ 1,98, para não ser chamado de mentiroso) pelo cheiro verde hoje no Mercadorama em Londrina. Um real para um pacotinho de salsinha, outro real para um pacotinho de cebolinha - bem fraquinhos, por sinal. Gostaria imensamente de saber quanto o produtor recebeu do supermercado. Se for pelo menos um quinto do valor, os hortifrutis da cidade devem estar nadando em dinheiro. Alguém aí tem uma daqueles vasos de plástico, de prefência retangulares? Vou cultivar alguns centímetros quadrados de salsinha e cebolinha aqui em casa para vender para o Mercadorama. Em poucos meses, esqueço o plano de convencer a CEF a me conceder empréstimo para comprar um barraco. Terei grana suficiente para comprar à vista.

domingo, 22 de novembro de 2009

Seção humor


Nóis perde a liderança, mas não perde o bom humor. Nem a pose. Do Macaco Simão, neste domingo, na Folha de S. Paulo: "O Palmeiras quer ser penta, o Flamengo quer ser hexa e o São Paulo quer ser hetero".

sábado, 21 de novembro de 2009

O basquete voltou

Graças a Deus, o basquete voltou em Londrina. Em grande estilo, aliás. Poxa, choveu pra caramba. Tempo ruim de sair de casa. Umas mil pessoas estavam no Moringão. Jogo perfeito: primeiro tempo com aplauso, segundo da virada e terceiro projetando o que não vai acontecer no quarto. Atrasado, subi a rampa na hora de algum ponto importante, pela gritaria. Fila. Comprei, entrei, terminou o primeiro quarto. 16 a 15. Peguei pela esquerda, fui direto ao bar. Neca de cerveja. Droga de mundo civilizado. Posicionei-me atrás da tabela, na altura dela. À esquerda, logo atrás do banco do Flamengo, dois caras, um com colete, passava uma fita torta à frente do parapeito. Era uma tentativa, tola, de afastar Paulinho da Bengala do banco carioca. Ele fala tudo pros caras. De supostas cornices ao apagão. Uma fita entre o parapeito e a primeira arquibancada. Que idiotice. Quando eles imaginaram que isso impediria o trabalho do Paulinho? Se tivessem jogado ele na primeira arquibancada, de cima para baixo, era capaz dele jogar o corpo à frente e esticar o pescoção até a fuça do adversário. Se eu fosse o adversário do Londrina no Moringão, pensaria seriamente em subornar o Paulinho. O jogo sem ele e com ele é completamente diferente. Para o adversário. Ele grita, xinga os caras o tempo todo. É grandão, e usa uma bengala. No Moringão antigo, sem os paredões atrás das tabelas, o círculo de arquibancadas completo, a bengala dele chegava dentro da quadra. Isso coincidiu com aqueles jogos nervosos anti-Oscar. A torcida com Moringão cheio era infernal. Eu não queria estar na pele dos caras. Reformataram o ginásio, ceifando parte da arquibancada - uma mordida atrás de cada tabela. O Paulinho não se conformava com a fita. Aproveitando que duas meninas, de três, quatro anos, brincando com a fita, passaram por ela, ele encostou na bengala na tira, que desmoronou. O cara mais grandão dos dois voltou e colocou a fita de novo. A coisa mais inútil do mundo. Vinte centímetros a mais ou a menos não é problema. Entregamos o segundo tempo. Voltamos para o terceiro titubeantes. O time do Londrina faz muitas jogadas bobas. Perde muitos pontos fáceis. Usam a bandeja e o jump para fazer um passe de dois metros. Aliás, viraram o passe. Qualquer passe é feito assim. E isso provoca muitas bolas para o adversário. E muitas cestas desperdiçadas. As falhas chegam a ser colegiais. Porém, sempre bem intencionadas, com empenho, vontade. Isso garantiu a empatia desse time com a torcida. Pela que vi hoje, ontem, enfim, uma hora e meia atrás, o time tem carisma semelhante às equipes de 96, 97, 98. Com o mesmo Enio Vecchi. Com ele, naquela primeira fase, a rigor, disputamos só sétimo e quinto lugar. Esse time pode não ser um time de ganhar o campeonato, mas uma hora e meia atrás ganhou do campeão brasileiro - e, ao que tudo indica, candidatíssimo ao bi. Ganhou com autoridade, escrespando no momento chave e resolutivo no momento crucial. Sinal de que tem muito a crescer - a começar evitando as cagadas juvenis. Mas eu dizia que tentaria subornar o Paulinho, e com isso correria um risco tremendo. Se desse uma chiquita, ele enrolaria bonitinho, colocaria fogo e acenderia o cigarro. Prejuízo moral certo para o sujeito ativo, que correria risco, ainda, de levar uns tabefes. O quarto tempo começou como de costume, naquele ar de indefinição total. É legal que um time chegue diante do outro, em casa, no último quarto, sempre em condições de vencer. Em especial, contra o campeão brasileiro, indiscutivelmente o melhor time do país, campeão sul-americano, sempre aguerrido, com o salário atrasado e o escambau. Empatamos o jogo faltando 6s, o Mengo reiniciou, Duda - que jogou no Londrina novinho de tudo, há uns 10 anos; ele é irmão do Marcelinho - chamou a responsa, fez o jump e perdeu o arremesso. Empate. Prorrogação. Lá e cá. Chegamos a ficar atrás, recuperamos. Na hora da onça beber água, os caras erraram um ataque e metemos quatro pontos de vantagem. Fizemos o que esse merda desse time do Palmeiras não fez no Brasileirão, sacou? Faltavam 23s. Mesmo que fizessem uma de três, sobrariam poucos segundos e teríamos a posse de bola. E levamos a falta. Dois arremessos. Perdemos o primeiro, fizemos o segundo. Cinco pontos. O mata-leão estava dado. Ippon. Zoeira total no ginásio. O basquete é muito legal. O pega vai sempre até o fim. Nóis gosta de basquete. Graças a Deus que o basquete voltou em Londrina.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

E o Igapó virou lagoa

A poucos dias de seu cinquentenário, o Igapó trocou de sexo. De lago, virou lagoa. É assim que o cartão-postal de Londrina está sendo tratado nas chamadas televisivas da maratoninha da Caixa, que encerra, aqui, no próximo domingo, dia 22, sua temporada nacional. A propaganda na TV - rapidinha, de poucos segundos - convida o telespectador para a prova, que será disputada a partir das 9 horas por centenas de crianças de seis a 12 anos de idade - na Lagoa Igapó 2. Pelo que pude notar, a chamada é assinada por F1 Produções, embora as imagens tremidas da minha CCE possam ter me traído. O Igapó é divivido em quatro: o Lago 1 vai da barragem à avenida Higienópolis; o 2, de lá até a Humaitá; o 3, até a Castelo Branco; e o 4, até a Mata Daher, onde nasce o Ribeirão Cambezinho. Criado pelo prefeito Antonio Fernandes Sobrinho, ilustre guaraense, em 1959, como presente para a cidade que completava, ali, as bodas de prata, o Igapó faz 50 anos no próximo dia 10, aniversário de Londrina. Arrisco-me a dizer que, nesse tempo todo, foi a primeira vez que ele foi chamado de lagoa.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Um grande abraço, meu camarada


Está fazendo um ano que morreu Henri Junior. Sei que foi mais ou menos por esses dias de novembro do ano passado que ele entregou os pontos, depois de meses batalhando contra um câncer devastador. Meses antes, ele se divertia mostrando aos amigos o buraco que tinha na cabeça. Bem no alto do crânio. Pedia para os amigos apalparem o crânio. Era um buracão. E a gente, lógico, não fazia outra coisa senão ralhar com ele para que fosse logo ao médico ver que merda era aquilo. Até que foi. Lembram daquela chuva de granizo que destelhou centenas de casas e derrubou árvores em Maringá? Então, foi em março/abril de 2008. Pois num domingo eu ainda estava limpando a casa onde morava, na Cariovaldo Ferreira, quando ele apareceu. Nas mãos, o resultado do exame que ele mostraria ao doutor no dia seguinte. Ele e Walter Tele ficaram tomando umas latinhas de cerva enquanto eu dava duro no rodo com pano. Minha casa ficara novamente alagada - voltou a chover dois dias depois do granizo que destruiu o telhado de eternit. Tele pediu para dar uma olhada no envelope. Horas depois, quando já havíamos dissolvido a rodinha, Tele me contou que procurara o significado de algumas palavras sinistras que ele havia lido no exame e que, salvo engano, o resultado daquele envelope era aterrador. Daquele texto de laboratório, Tele havia depreendido que havia algo grave e, pior, devastador. Não deu outra. Semanas depois, o Cabeça passava pela primeira cirurgia, na Santa Casa, na mesma rua Cariovaldo Ferreira. A recuperação, avisaram os médicos, seria lenta e sofrida - se houvesse recuperação. Enfim, o bicho voltou a atacar e, contrariando os primeiros prognósticos, que desaconselhavam uma segunda cirurgia, o Cabeçudo passou por mais uma e outra, em Maringá e Curitiba. Os médicos não conseguiam explicar como ele ainda resistia. Entrava e saía do coma. Vivia a base de morfina. Ficávamos, os amigos, divididos entre a torcida por um milagre e a torcida por um descanso - dele, da família, da heróica namorada. Até que, em meados de novembro, ele se foi. Eu estava em Londrina, assessorando o Sebrae na Semana do Pequeno Empreendedor. Estava hospedado no velho Hotel Aliança, na esquina da Goiás com a Duque. Acordei, como sempre, perto de sete horas, encafifado com o sonho daquela madrugada. Nele, o Henri me chamava para ver um determinado local. Chegando lá, vi o pai dele, o Francês, sentado, de costas - não vi sua feição. Era um daqueles barracões de estrutura armada, mas só a estrutura, sem paredes nem teto. No chão, três grandes canteiros, como se fossem canteiros semeados com hortaliças. Quando nos aproximamos, o Cabeça correu na frente e se jogava num daqueles canteiros, como uma criança que brincava na piscina de plástico de casa ou na enxurrada da sarjeta. Gritava, feliz, como gritam as crianças despreocupadas. Daí, acordei. Logo que cheguei ao Sebrae, na Santos Dumont, às oito, liguei o computador e liguei para a Dani, minha namorada, em Maringá. Perguntei se havia novidades sobre a situação do Henri. Dani disse que não ouvira falar nada - estava tudo na mesma. Contei o sonho. Hora e meia depois, ainda estava on-line quando Ivan Amorin, chefe dele no departamento fotográfico de O Diário, me mandou e-mail avisando que, poucos minutos antes, o Cabeça se fora. Daí entendi o sonho: camarada como era, como sempre foi, e como sempre será, o Cabeçudo tinha ido ao meu sonho se despedir. E, pelo jeito como se comportou, foi uma despedida feliz. Ele devia estar contente por ter lutado contra aquela merda toda e, sabe-se lá por que, entregara os pontos - talvez com dó dos amigos, da família, dele mesmo, que desafiara o câncer e a medicina meses a fio. As fotos desse post foram feitas pelo Ivan, sem sabermos. Estávamos na arquibancada no Willie Davids, num domingo chuvoso, esperando Paraná x Palmeiras. 2006, se não me engano. Cheguei ao estádio com duas horas de antecedência. Havia chovido a madrugada toda, o dia inteiro. Não havia mais lugares no estádio. Quando escolhi o ponto em que ficaria, deparei com o Cabeçudo com o indefectível copão de cerveja nas mãos. Flamenguista doente, não sabia o que ele fazia ali, naquele aguaceiro danado. Nem perguntei. Amigos não questionam esse tipo de coisa. Porque camarada é camarada, e ponto final. Ele estava contente por acompanhar o amigo "forasteiro" de Londrina no jogo do time do camarada no estádio da cidade dele. Tomamos trocentos copos de cerveja para aguentar a chuvarada. De repente, um maluco abre um encerado amarelo, desses de caminhão. Ficamos na pontinha, às vezes livrando-se da chuva, às vezes levando na cabeça aquela cachoeira de água que ficava acumulada no encerado. Eu tinha ido meio que preparado, com uma capa de chuva branca, que comprara antes de um jogo do Parmera em São Paulo, anos antes. Fiquei parecendo o Gasparzinho. Lembranças. Agora só ficam as lembranças. Do carisma do cara, que não podia faltar aos nossos churrascos, sob pena de a festa perder a graça. Do talento profissional do cidadão. De muita, muita amizade. E, no meu caso, ficam ainda dois DVDs que ele me emprestou, identificados como Asian II e Asian III, dos quais pretendo usufruir bastante ainda.





quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Palmeiras pelo avesso


“E agora, após o jogo com o Sport, vocês ainda vão continuar se sentindo vítimas das arbitragens?” Assim que abro o computador, é com isso que me deparo no e-mail de um velho amigo corintiano. Até ficaria incomodado, se não o conhecesse bem e soubesse tratar-se de um adepto incorrigível do provérbio segundo o qual perco o amigo, mas não perco a piada. Mas, puta que pariu, eu mereço! Então quer dizer que agora o Palmeiras passou a ser ajudado pela arbitragem? Então meu time faz uma jogada impecavelmente limpa, o juju marca touca, a gente faz gol e a culpa é do Palmeiras? O time faz um gol lícito e a jogada – na opinião raivosa de flamenguistas, atleticanos, cruzeirenses, principalmente sãopaulinos e, por tabela, corintianos – tem de ser anulada? Se subir à frente da zaga, como fez Obina contra o Flu, em posição legal, e cabecear para a rede, não vale, como assinalou Carlos Eugênio Simon, o que mais precisamos fazer? Daí, no jogo seguinte, meu lateral pega o rebote, joga a bola pra dentro da área, meu zagueiro domina no peito em posição absolutamente legal, vira e chuta para o gol, e também não vale? Então, meu Deus, me diga o que o Palmeiras precisa para ter um gol validado. Ah, o juiz apitou antes do Danilo chutar. O caralho: ele apitou de besta que é, precipitadamente, meio baixinho, sem convicção, achando que, por estar sozinho em frente ao goleiro, o Danilo estava impedido. Mas não estava. Quando Danilo dominou a bola e virou-se para o gol, a jogada já estava definida e o gol, claramente projetado. O fato do goleiro ter “parado” com o apito é desculpa esfarrapada. Ele ouviu o apito quando Danilo já havia armado o chute. O gol era mais que eminente. Defender que o juiz deveria anular o gol é defender a tese de que uma jogada legítima deveria ser anulada. Absurdo. Por outro lado, tem o fato do juiz ter apitado pouco antes da bola entrar. Então ele deveria ter anulado o gol. Mas peraí, anular um gol legal? O que justifica a anulação de um gol legal? O juiz que se explique a quem de direito. Essas coisas parece só acontecer com o Palmeiras. O time vem numa draga danada, precisando somar pontos de qualquer jeito, realiza uma jogada lícita, consegue um empate na bacia das almas e ainda tem de conviver com a suspeita de ter sido ajudado? Só me faltava essa. Se alguém, por falta de prova concreta, não tinha entendido o que Caetano Veloso queria falar no 19º verso de Sampa, eis o significado real de avesso do avesso do avesso.

domingo, 1 de novembro de 2009

Insolação, roça e picolé


Tinha aula programada para este sábado na pós-graduação e a perspectiva, portanto, era de mais um feriado prolongado e modorrento em Londrina. Mas na sexta-feira, assim que chegou o e-mail da faculdade anunciando o cancelamento da aula, não tive dúvidas: deixei bem encaminhado o frila que estou fazendo e, no sábado cedinho, puxei o carro para Guará – de onde raramente volto de mãos vazias. Portanto, além do reconforto familiar, a expectativa era entupir o porta-malas com o que houvesse no sítio (na verdade, uma chácara) da Grotinha. Infelizmente, não vai ser bem assim.

Bem, na saída de Londrina, em função do calorão que se prenunciava, decidi viajar de bermuda. No final do dia, todos puderam ver o resultado da imprudência: parece que colei quatro fatias de presunto na minha coxa esquerda. Normal... Mané é mané.

Cheguei no sábado à tarde, visitei a vó, à noite fomos comer pizza no Robertinho e neste domingo resolvemos dar um pulo na chácara, almoçar por lá e voltar antes do jogo em Prudente. É que lá na chácara a TV é uma velha digital que pula sozinha de canal – o que pode vir a ser desastroso num ambiente zen como costuma ser um Palmeiras x Corinthians. Quem assistiu a algum jogo do Parmera comigo, nem que tenha sido um amistoso de pré-temporada com o Taquaritinga, sabe disso.

Enfim, chegamos na chácara e fui logo vasculhando o pomar. E foi uma ducha d’água fria atrás da outra. Tamarindo, só os últimos, já apodrecidos, nas pontas dos galhos. Jabuticaba, idem: aquelas últimas, sequinhas, cheias de vento. Os cítricos – laranja, limão, poncã – estão tudo pequenininho ainda. Manga, mesma coisa. Cajamanga, já élvis. Caju, aqueles três pés nunca produziram nada mesmo. Perscrutei o terreno vizinho, em vão: no sítio do Francisquinho, a seriguela também está tudo pequenininha. E o pior: milho verde, nessa época, não passa de um sonho de verão. Tropecei em duas cidras, que levei para a Ciló fazer doce.

Tem pitanga e carambola, mas nessas aí eu passo batido. Sobraram, então, aquelas frutas que independem de estação. Forrei a cesta de mamão e já me conformava com a colheita exígua, quando minha mãe lembrou que no sítio do Diomedes, irmão dela, ali pertinho, seria capaz de acharmos mangas. Das comuns, que são as primeiras a madurar. Por aqui a gente chama aquela qualidade de manga comum. Deve haver outros nomes por aí. Acho que é comum porque não é das mais gostosas, tipo borboun, sabina, coquinho. Aliás, piorzinho que ela, só a tal manga manteiga. Cheirosa, até, mas de um gosto bem duvidoso. Os pés de manga comum no Diomedes são centenários. Três, cada um dos 40, 50 metros de altura. Varamos a cerca do mangueiro, onde Obina e Ortigoza – se algum tivesse trancinha, seria o Vagner Love – chafurdavam, desafiando os fios que dão choque. Apanhamos duas dúzias de manga comum, meu pai e eu, usando aquele bambu comprido com uma cesta na ponta, e já nos preparávamos para voltar para cidade, pensando no jogo, quando a Rita, namorada recente do meu tio, nos ofereceu picolé.

Na verdade, quem faz picolé lá é o Diô – herança da falecida tia Maria, que gostava de fazer e fazia muito bem sorvete e picolé. Era a alegria da garotada; filhos, sobrinhos, netos, quem aparecesse, se refestelava com a produção caseira da Tia Maria, que usava o leite tirado lá mesmo. Daí a Rita, numas de gentileza, nos ofereceu o picolé. Recusei, alegando que tínhamos almoçado havia pouco tempo – e era verdade: matamos um frango caipira com polenta divino. Meu pai, que estava sentado comigo na muretinha (aquela ali, da foto acima) da jabuticabeira, acabou aceitando, o que fez a Rita insistir pro meu lado.

- Chupa também, Rogério; o picolé do Diô é gostoso.

Ô loco. Sartei de banda.

Ensacamos as mangas e vazamos, com a cabeça no Palmeiras x Corinthians.