domingo, 31 de janeiro de 2010

Eu sei o que você fez em 1984


A sina de reencontros que parece estar caracterizando esse início de ano me jogou numa madrugada nervosa neste sábado/domingo. Mal havia postado o artigo anterior, um e-mail me convocava para a reunião de aniversário de Edra Moraes no Cemitério de Automóveis. Perder eu não havia de. Edra fez dois ou três anos de Jornalismo na UEL, puxou o carro para São Paulo, trabalhou com Faustão na época do Perdidos na Noite, passou por Joinville e foi parar na Irlanda. Agora toca um brechó na Vila Ipiranga, enquanto empanturra as gavetas de poemas. Conversei muito com Denise Gentil, dona da risada mais gostosa de Londrina. Nós três somos da mesma turma de faculdade, a turma que entrou em 84/1 - naquela época, o regime na UEL era semestral. O principal ponto de pauta da festa foi a festa já programada para 2, 3 e 4 de abril, intitulada "Eu sei o que você fez em 1984". Ariel Palacios já teria assegurado presença. Carla Sehn disponibilizara a casa dela, mas Edra achou mais prudente o Cemitério. Pretende-se fazer três dias de festa, com atrações culturais e, claro, muito mé, risadas e abraços, com a possibilidade de uma lágrima ou outra. Me propus a tocar uma horinha de vinil e, se rolar, já adianto que só vou tocar rock, de Led Zepellin a Ultraje a Rigor. Deve rolar também aquele tradicional mosaico de fotos antigas, como essa aí de cima - eu, Aurélio Albano e Mário Marins no Moringão, na nossa formatura. Aurelinho ensaiou ir à festa da Edra, mas pipocou. Marião Banespa - para diferenciar do Marião Fragoso - está na Globo de Prudente. Interessados, se preparem: quando essa turma faz festa, sai de baixo.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Reencontros

Depois que você passa dos quarenta, encontra velhos amigos só em velório. É ou não é? E sempre com aquela cara de bunda, por causa do falecido. Entonces, o bão mesmo é encontrar amigos vivos. Essa semana foi uma festa. Na quinta-feira, liguei pro Turco Aniz a fim de tomar um café no centro, onde iria engraxar os sapatos, sacar uma graninha e procurar, de novo, por aquele livro do Ruy Castro. Enquanto esperava-o em frente ao edifício da mãe dele, na calçada da João Cândido, quase vizinho com o Dá Licença, debaixo daquela chuvinha de molhar bobo, eis que alguém tasca: "Ei, Fischer". Me viro. "Aposto que não me conhece mais." Um pouco mais gordo, claro, mas conheci sim. "E aí, Soko?"

Era Marcelo Sokolowski, o estudante de Sociologia que encabeçou a chapa V.A.C.A. na eleição do DCE da UEL em 1986. Soko sucedeu Arnaldo Leonel, do Direito, de onde era também Marcos Góes, da Realidade, a quem vencemos. Alex Canziani, também do Direito, era um dos principais integrantes da Realidade. Ainda hoje, quando posso, dou uma alugada nele, que é deputado federal pelo PTB já há alguns mandatos. Foi uma grande vitória. No início da apuração, a Realidade abriu vantagem e a manteve até a última urna, do CECA (Centro de Educação, Comunicação e Artes), nosso reduto. Uma virada, naquela altura do campeonato, parecia impossível, pois não se sabia nem se o número de votos daquela urna seria suficiente para reverter o placar. E foi. O CECA votou em massa na V.A.C.A.

Filho talvez do maior advogado trabalhista patronal de Londrina, Soko conta que tem um filhinho de um ano com uma bióloga, Márcia eu acho. Trocamos telefone e ficamos de tomar umas e outras para colocar a conversa em dia. Depois da UEL, foi para São Paulo, estudou Gastronomia e é com isso que trabalha atualmente. Pelo que conheci dele nos tempos de faculdade, deve ser um grande chéf de cozinha.

Daí fomos eu e Turco Aniz tomar café na antiga padaria Olímpia - não sei como se chama agora - e trombamos com Tarzan, que trabalhou mais de 20 anos na área gráfica da Folha de Londrina. Esteve em Suzano recentemente diagramando e comercializando uma agenda para uma entidade religiosa e deve tirar por esses dias a tala que endireitou o dedão direito, quebrado numa pelada no Antares. Goleiro de razoáveis habilidades, Tarzan foi meu adversário em muitos campeonatos internos da Folha - ele, goleiro do Industrial, de Valdecir Milanez; eu, capitão do Calhau, o encardido time da Redação. Carimbei muito aquele papo! Grande Tarzan...

No dia anterior, de tardinha, caminhando no Zerão, topo com Jair, meu ex-vizinho de frente na rua Dona Carlota, onde eu tinha uma casinha até ir para Maringá, em 2004. Estava com a filha Carol e o neto Felipe. Disse que a sogra, dona Terezinha Vecchia, está firme e forte. Convidou para passar lá, para um café. Jair não é um vizinho qualquer. Além de adepto daquela teoria segundo a qual dois tomates por dia são a receita contra câncer de próstata, Jair integrou o time que conquistou o primeiro título paranaense do Londrina Esporte Clube, em 1962. Era um grande meia direita, me garante Apolo Theodoro, que entende do riscado.

Na mesma quarta-feira, enquanto esperava a fila na Unimed para liberar uma guia de consulta, encontro com o Jackson, antigo revisor da Folha e que hoje presta serviço para a Folha Norte, recentemente adquirida pelo Zé do Chapéu. Aproveito e pego com ele os contatos do irmão dele, Jonas Liasch Filho, a quem conheci na Unopar e que tem uma história de vida que, juro, ainda vou contar em alguma reportagem. O cara já escapou da morte umas trocentas vezes, em todo tipo de acidente: carro, moto, avião, elevador... Figuraça!

E hoje, sexta-feira, descendo de carro a Borba Gato rumo de casa, topo com o japonês que é uma lenda do futsal amador londrinense - e de quem não lembro o nome. Ali na frente da Pandor dei com a mão para ele, que retribuiu com aquele sorriso característico, mas, diabos, não lembro o nome do cara. Nem para o Ivo Akio, a quem telefonei pedindo ajuda, me socorrer... O cara trabalhava na pré-impressão da Folha e, de tão bom, raramente disputava nosso campeonato de suíço. No futsal, de fato, pelo pouco que vi, era mesmo uma fera. Talvez o Capucho, com sua memória de elefante, possa me ajudar.

Juro por Deus que, nos meus 44 verões, nunca havia visto um janeiro tão chuvoso. Aqui em Londrina chove todo dia. Todo dia! E fique bem entendido que não estou reclamando. Está gostoso assim. Não faz temperaturas desérticas e dá pra dormir melhor. Não sei se para o esquema global o fenômeno é bom ou ruim, mas o tal El Niño está uma delícia. Lógico que há transtornos. Ir comprar pão é um suplício. Quem tem casa sem varanda, como eu, também não deve se sentir confortável. Para as donas de casa, secar roupa não deve estar sendo fácil. Mas deitar com a noitinha fresquinha é outra coisa.

Lembro que quando cheguei por aqui, em 1984, para cursar Jornalismo na UEL, o pessoal ainda estava meio traumatizado pela enchentes do ano anterior. Parece que em 1983 foi o bicho. Paraná e Santa Catarina ficaram debaixo d'água. José Richa estava iniciando seu mandato como governador. Na bagagem rumo ao Paraná, minha mãe enfiou uma manta de algodão que ela e meu pai haviam ganhado de presente de um produtor de algodão de Guará, Benjamin Curi.

Como lá na minha terra aquilo era absolutamente inútil, e a fama do Paraná era a de um lugar frio, em trouxe a tal manta. O inverno de 1984 foi uma teta - se houve frio, ninguém ficou sabendo. Liguei para casa: "Mãe, aqui é que nem aí; só faz calor". Tá bão... No ano seguinte, 1985, o bicho pegou geral. Na república, cortávamos a resistência do chuveiro até o talo e fechávamos a torneira no mínimo possível para que a água pudesse descer com alguma caloria. Mas como vivíamos mais de cachaça e x-tudo do que com arroz e feijão, então tudo bem...











Fui ontem ao Catuaí ver o tal Avatar. Como entendo tanto de cinema quanto de física quântica, gostei do filme. Como diversão -e é assim que me dirijo ao cinema - cumpriu a tarefa, mesmo a 18 mangos o ingresso. Foi a primeira vez que botei os tais óculos 3D. O bagulho é realmente doido.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Tenham mais respeito com o Hino Nacional


Considero simplesmente ridícula a determinação para que, em São Paulo, se toque o Hino Nacional nos eventos esportivos. Não conheço o real alcance da lei; sei que no Campeonato Paulista não tem lero-lero nem vem cá que eu também quero: toca-se o hino e pronto. Seja num Palmeiras x Corinthians, num Oeste de Itápolis x Barueri, seja num Botinudos Fuebol Clube x Sociedade Esportiva Ranca Toco, lá está o Hino Nacional, executado, muitas vezes, sem aparelhagem adequada, sem o devido preparo cívico e tecnológico. Daí acontecem absurdos como vimos nos últimos anos: execuções precárias e impaciência de torcedores e jogadores. Nas arquibancadas, a galera ignora o hino e entoa gritos de guerra. Imagine o hino rolando e uma torcida mandando a outra à merda, com aqueles refrões chulos. Vi também, mais de uma vez, jogadores desalinhando ao final da primeira parte do hino. Lembro de um jogo que começou com a segunda parte do hino ainda sendo executada. Longe de caretice, mas o hino tem de ser tratado com respeito. E isso inclui parcimônia. Acho que a lei deveria dispor o contrário: organizadores de determinado evento deveriam pedir autorização para tocar o Hino Nacional, para que um dos maiores símbolos da pátria não ficasse exposto ao ridículo. Tipo assim: toca-se na abertura e na decisão do campeonato e, talvez, em algum jogo histórico. De tudo isso, dos males, o menor: neste noite de quarta, em Ribeirão Preto, como já ocorrera antes, o hino que precedeu Monte Azul x Palmeiras, no Estádio Santa Cruz, foi executado em solo de viola caipira, por um tal de Sandro, músico de Iacanga, segundo informou a Band. Ótimo! Para combater a mesmice, pelo menos um toque personalizado, genuíno, autêntico, na cidade que polariza uma região que se orgulha de ser caipira.

2010 em jogo


Em sete anos de mandato, Lula pintou e bordou. Para chegar lá, mandou dizer a quem manda no país que nada mudaria. Mas não precisava levar tão a sério. Condenou o Plano Real e, eleito, surfou nas águas plácidas da economia estabilizada. Crucificou FHC por viajar demais e, desde que assumiu, não fez outra coisa na vida. Xingou Sarney, Collor, Jáder, Quércia, Maluf, Delfim e, agora no poder, anda de braços dados com todos eles – em alguns, politicamente falando, até arrisca uns beijinhos. Abominava o coronelismo e, com a caneta na mão, instituiu um programa que lhe garante, por si só, 40 milhões de voto até o fim da vida.

Atacava a exploração política de conquistas esportivas e, hoje, abre as portas do Palácio até para vice-campeão de cuspe a distância. Disse certa vez que havia no Congresso pelo menos 300 picaretas e, para lidar com o Legislativo, criou (ou criaram para ele; o STF está investigando) um tal de mensalão. Enaltecia a história de vida e a probidade de seus correligionários que, de uns tempos para cá, gastam bem mais no advogado do que na mercearia. Criticava o culto à personalidade promovido por generais-presidentes e, às vésperas de um ano de eleições, chega às telas um filme sobre sua vida bancado por fornecedores do governo federal.

Isso não é um presidente – é uma metamorfose ambulante.

Em termos de defeitos e virtudes, Luís Inácio da Silva não é melhor nem pior que qualquer um de nós, que corremos atrás do prejuízo e dançamos conforme a música. Como diria Tião Carreiro, eu me viro do avesso e não sou pipoca. Lula: eis um legítimo filho do Brasil, no qual se encerram nossos sonhos, frustrações, conflitos, nossos paradoxos e nossas contradições. É ou não é o cara?

Para quem não gosta desse cidadão, para quem acha que ele já passou das medidas, para quem torce o nariz ao tomar conhecimento de cada pesquisa que o aponta com 80% de aprovação popular, vai aí uma má notícia – 2010 vai reunir dois eventos que darão vazão às atividades de que certamente Lula mais gosta: fazer política e falar de futebol.

Mais do que a preocupação com a camada de ozônio, do que a recuperação da economia mundial e a saúde do Roberto Carlos, o ano que começa será monopolizado pela Copa do Mundo e, depois, pela eleição presidencial. Na primeira, Lula entra como uma espécie de torcedor número 1. Não vai jogar, mas estará em campo. Duvido que não vá assistir à abertura e a duas ou três partidas do Brasil. E, é claro, vai colher os louros da glória se vier o hexa. Da segunda, embora fora da disputa, será o personagem central. Vestiu a 10 e está com a faca e o queijo na mão, disposto a eleger a gaúcha Dilma para cima do paulista Serra. O mesmo palmeirense que ele, Lula, corintiano, venceu em 2002, pode, agora, dar o troco. É revanche!

Ainda por cima, esses dois temas – política e futebol – terão eventos coadjuvantes. Antes da Copa, haverá a Taça Libertadores, obsessão corintiana, que vem com Ronaldo Gordo e um batalhão de veteranos dispostos a quebrar o tabu. E tem eleição para governador, deputado estadual, deputado federal e senador, que também vai chacoalhar o bambuzal. Lula já deixou claro que é bom de jogo – e os aliados botam fé nisso para ocupar mais e mais espaços. A esperança dos adversários é que, como torcedor, o presidente tem se revelado um tremendo pé-frio. 2010 vai ser divertido.
(Texto publicado na edição de número 2 do "Em Dia", jornal editado por Bruka Lopes que circula em Echaporã, Oscar Bressane e Platina, e do qual sou articulista. Pela repercussão da coluna no número 1, que saiu em dezembro, estou pensando em me candidatar a vereador na terra de Zé Ganchão!)

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Pequis de mentirinha


- O que esses pequis tão fazendo aqui?

Neguinho metido a cronista sempre fica atento a algo que possa lhe render um texto. E foi aquela pergunta que me fiz ao passar na manhã desta sexta-feira pela Rio de Janeiro, a caminho do centro de Londrina, onde postaria uma carta, consertaria os óculos e procuraria um livro – “Ela é carioca”, de Ruy Castro – para presentear uma amiga que trocou Ipanema pela Terra Vermelha. Na esquina com a Alagoas, uma meia dúzia de pequis estava na calçada, amassados como se um automóvel os tivesse flagrado num momento de bobeira. Lembra da piada dos tomates atropelados? Então...

Tem coisa que a gente acha que nunca vai experimentar na vida. O pequi – fruto típico do Centro-Oeste – se encaixa perfeitamente no meu caso, ao lado do vatapá e da moqueca capixaba. Em tese, seria muito mais fácil eu visitar Salvador e Vitória do que o sertão goiano, por motivos óbvios. Afinal, para ir ao Espírito Santo deve-se passar obrigatoriamente pelo Rio de Janeiro, o que já garante uma viagem bem-sucedida. E a capital baiana já prometi a mim mesmo umas oito mil vezes que não morrerei sem conhecê-la.

Toda vez que Ivan Amorin me avisa que está saindo de Maringá rumo à Bahia para mais um trampo como fotógrafo de formaturas, eu reforço a encomenda de três ou quatro baianas, daquelas que ele sempre me diz que existem por lá – mas Ivan, não sei por que, nunca atende meus pedidos. Paciência. Não que Goiás e, principalmente, as goianas não devam ser atraentes, mas, sei lá, na cabeça deturpada de homem, sol e mulher combinam mais com praia do que com o cerrado.

O fato é que aquelas frutinhas esborrachadas na calçada da Rio de Janeiro me lembraram que tive, sim, a oportunidade de saborear o tal pequi. Foi no início do ano passado, quando, sem ter o que fazer, passei uma temporada de engorda em Guará-SP. Um dia, fui surpreendido com o convite do Papelão e da tia Dite para acompanhá-los até Pires do Rio. Como fazem pelo menos duas vezes por ano, iriam visitar o César, o mais novo dos onze irmãos Cherutti, dos quais Dite e minha mãe fazem parte.

Fazia 15 anos ou mais que eu não via tio César, desde que ele e a Cleonice, cansados da mesmice da pequena Guará, venderam o que tinham, fizeram as trouxinhas e se pirulitaram para Goiás. Nem meus primos, já adolescentes, eu conhecia. Era, portanto, uma grande chance, imperdível, de rever tio César, conhecer meus primos e, de quebra, experimentar o pequi – ainda que não tivesse consciência disso. Até que na segunda ou terceira noite de estadia na progressiva Pires do Rio, a Cléo anuncia: “Hoje vamos de arroz com pequi e frango”. Pensei: “Pô, é hoje!”

Já tinha ouvido falar do dito cujo. Que é preciso cuidado para não machucar as gengivas no caroço do bicho. Imaginava-o como um cajamanga: gostoso, mas não vá com muita sede ao pote porque o caroço pode render surpresas desagradáveis. E, me desculpem os goianos e, especial, as goianas, mas para mim o pequi foi uma decepção. Orientado pela Cléo, peguei o bicho na mão e o raspei nos dentes. O troço é liso e o sabor... Sei lá, dei uma raspada só, não curti e minha história com o pequi terminou ali. Está longe de ser um trauma, mas digamos que se for a algum mercado não vou atacar uma bancada de pequis como nordestino faz com farinha e carne seca.

Na volta do centro, sem o livro do Ruy Castro (o sebo não tinha), sem ter postado a correspondência (parte do conteúdo ficara em casa) e com um orçamento de R$ 40 para o conserto do óculos na ótica do Carlão, passei pela mesma calçada e, desta vez, vi um monte de pequis no meio-fio, amontoados, abandonados. São frutinhas de médio porte, amarelas. Imagine um mamão papaia tirado de um bonsai. É isto!

Fui vendo outros “pequis” ao longo do caminho, até chegar ao posto defronte o cemitério e me tocar de que aqueles frutos todos tinham caído da árvore ali em frente. Questionei o frentista, que me disse que não era pequi não, era outro nome que tinha ouvido de alguém, mas que não se lembrava. De fato, abri um com a unha e, em vez de um caroço espinhento, encontrei algo como uma castanha.

Lavei as mãos e segui para a casa, enfrentando uma chuvinha de molhar bobo, tentando imaginar alguma outra coisa para me meter a escritor. Aliauses, alguém tem “Ela é carioca” dando sopa por aí?

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Terça insana

Deveria emendar o resto de tarde com uma tarefa profissional, mas a tarde desta terça-feira estava por demais convidativa para ficar trancado em casa, à frente de um computador e de um ventilador barulhento, e resolvi então fazer a caminhada vespertina, daquelas de limpar a serpentina. Já tinha dado uma checada básica nos e-mails e lido mais um texto fudido do ressuscitado Mário Bortolotto. Vesti a indumentária padrão, deixei a chave de casa no Nícolas - o espanhol dono do La Tienda, na Borba Gato entre Rio de Janeiro e Amador Bueno - e desci pro Zerão. Nícolas é torcedor do Real Santander e, claro, do Corinthians. Tem uma aposta eterna com o palmeirense Armandinho: todo jogo entre eles, seja final de campeonato, primeiro turno, qualquer coisa, Copa São Paulo, cuspe a distância, quem perder paga meia dúzia. Mas estava eu na primeira volta no Zerão quando deparei com o pessoal da Folha FM em frente aos aparelhos de ginástica, fazendo promoção. Distribuíam água gelada e chamavam o pessoal para a primeira das aulas de alongamento que dariam até de noitinha. Ganhei uma garrafinha daquelas de levar água, escondi atrás do alicerce das barras e vazei para o Igapó 2, onde a caminhada costuma ser mais aprazível, dado o povo que frequenta lá. O plano inicial era dar uma volta caminhando - coisa de uns três mil metros - e outra correndinho. No intervalo, faria uns exercícios na ATI construída ali há poucos meses, mas, como sempre, o local estava fervendo de gente que acha que aqueles aparelhos são bancos de descansar e de moleques pentelhando pra tudo quanto é lado. Grande iniciativa, a da Unimed, em colocar uma ATI ali. Já conhecia as de Maringá, onde há várias Academias da Terceira Idade, uma série de aparelhos para exercícios leves. Onde morava, na Zona Cinco, tinha uma pertinho, no bosque das Grevíleas, e ia lá quase todo fim de tarde. Em Maringá, pra variar, as ATIs eram mais uma coisa sob suspeita. O comentário geral era de que a Unimed de lá construiu as ATIs para... Enfim, deixa pra lá; Maringá que se resolva com os donos dela. Não é o caso de botar a mão no fogo, mas é difícil acreditar que em Londrina houvesse algo parecido. Issao Udihara, o presidente, não iria se queimar por tão pouco. E muito menos o nome do pai, o velho Udihara, médico pioneiro da cidade. O fato é que as tais Academias ao ar livre são uma curtição. Mais até do que em Maringá, em Londrina a Unimed poderia espalhá-las pela cidade, que seriam sucesso garantido. Só nas margens do Igapó daria para implantar, facinho, facinho, umas oito - e todas, em especial nessa época de verão, ficariam lotadas. Retornando da caminhada, dei uma geral no que precisava em casa e entrei para o banho, sem antes de tomar uma iniciativa pouco prudente: colocar um vinil na vitrola. Isso é de um risco absurdo, levando-se em conta o estado do meu toca-discos e dos meus vinis. Não deu outra: com poucos minutos de chuveiro, o disco do Purple enroscou no meio da primeira faixa, "Strange Kind of Woman", e logo depois do refrão "ai uont iú, ai nid iú" a agulha enroscou num tal de "celebreitis/ú, celebreitis/ú" do qual não saía mais. Não ia molhar metade da casa para tirar a agulha de lá e deixei rolar. Desculpa aí, vizinho. Debita mais essa na conta. Pô, o disco é do caralho. Made in Japan. Dois discos gravados ao vivo, em dois shows, um em Tóquio, outro em Osaka. O Lobo, do Menina Bar, ventilou a hipótese de levar para lá a Noite do Vinil, que Apolo Theodoro criou no bar que ele construiu para os irmãos na Casa do Jornalista. E disse que, se rolar, me chama para a primeira. O barato é o seguinte: um convidado vai lá e toca a seleção musical que quiser, desde que seja em vinil. Se rolar a do Menina, Deep Purple vai abrir e fechar a noitada. Já estava me preparando para mais uma noite de sossego e trabalho quando resolvo ligar pra Andrea Monclar, a fim de darmos cabo a um quilinho de tilápia congelada que trouxera de Guará e deixara metade em casa e metade na casa dela. Rango combinado, ela me conta que Regis Querino estava me procurando. Regis, o Papagaio, santista de nascimento, santista roxo, pai palmeirense, há anos em Londres com a mulher, Adriana, está de passagem por Londrina e pediu meu celular. Como não ligava, liguei eu para o hotel Igapó e o intimei para umas no Bar do Jota. O hotel fica a uma quadra da minha casa e o Jota, quatro. Ele pediu 40 minutos para tomar um banho e checar os e-mails - podia ser que houvesse algum enrosco de trampo na caixa postal, ele que edita uma revista em português em Londres. Daí, abri o notebook para registrar essas mal traçadas. Regis já tinha combinado com uns salafras dar um pulo no Valentino para prestigiar a Terça Tilt de Nelson Sato, mas eu tô fora. Em tese, pelo menos. O que vai virar disso tudo, só Deus sabe.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Muito cedo para sair de campo, rapá!


Que merda essa história de perder amigos muito cedo. Ney de Souza tinha 45 anos, foi atropelado em Cascavel no dia 31 e morreu dia 8. Era fotógrafo em Foz, no mês e meio que eu e o Briguet ficamos lá cobrindo a Copa América de 99. Aliás, um timaço: Albari Rosa e Ney de Souza nas fotos, Valmir Denardim e Lobão nas reportagens, Briguet na reportagem e na crônica. Ney nos levou a cada quebrada de assustar naquela Foz do Iguaçu sem fronteiras para o abuso. Destemido, o baixinho. Tinha medo de nada não. Nem de morrer, pelo jeito gauche que levou a vida. Tranqueira total, no que isso tem de bom e de ruim. Engraçado, contava piadas como ninguém. Fiquei sabendo pelo sempre alerta Montezuma Cruz, que trabalhou com ele vários anos na sucursal da Folha. Pelas redações que passei, em todas me dei muito bem com o pessoal da foto. É difícil achar gente mala nesse departamento. Na Folha, J. Pedro, Milton Dória, Dorico, Josoé, além de Albari na sucursal de Curitiba e Ney na de Foz. Quer dizer, muito mala. No Diário, em Maringá, Walter Fernandes, Ivan "Curotinho" Amorin e Henri "Cabeça" Júnior. Quando queríamos alugar o Ney, o chamávamos de Neide Souza. Poxa, Ney, aos 45? Do primeiro tempo?

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Sara e as galinhas chocas


Enquanto Danilo e Diô limpavam os peixes na pia de fora, e eu sorvia uma antárctica gelada sentado numa cadeira de varanda, a Sara, do Danilo e da Mikol, alimentava as galinhas, serelepe. Ao lado do mangueiro, flagrei um monte de galinhas aprisionadas. Segundo o Diomedes, é para elas saírem do choco. Senão, ficam lá, nos ninhos, chocando nada, já que os ovos são recolhidos e elas acham que ainda têm o que fazer - mas não têm. Cruel destino dessas galinhas. Pensando bem, menos pior que o dos frangos que, quando atingem cinco, seis meses, ganham uma faca no pescoço.




Histórias de pescador


Nas vésperas do fim das férias, levei a Natália e a Verônica, amiga dela aqui em Guará, para dormir no sítio. Tão logo ficou sabendo, Diomedes, padrinho da Verônica, cujo sítio fica a 600 metros do nosso, nos convidou para jantar lá. Rumamos pra lá no final da tarde. Ato contínuo, fomos pra represa, pescar. Pescar uma ova; a expressão correta é recolher peixes. A represa do Diô tá abarrotada de tilápias e patingas, que ele cria pra vender. Basta aproximar o anzol - com ou sem isca - da água e fiscar o primeiro incauto. Em poucos minutos, tiramos 14 quilos de peixe, que foram limpados, cortados e temperados pelo Diô e pelo filho dele, Danilo, como mostra a imagem acima. Pescamos de cima do girau - agora de concreto, depois que o antigo, de mandeira, despencou com o Diô, a Verônica e a Natália, dois anos atrás; foi todo mundo pra água. No fim, o Diô intimou minha mãe (irmã dele) e meu pai para irem jantar conosco. Mikol, mulher do Danilo, preparou fritadas homéricas de peixe e um panelão de frango caipira com polenta. As antárcticas do Diô já estavam tremendo de frio na geladeira desde o início da tarde. Bem, o resto é fácil de imaginar: aquela comilança dos diabos. Na manhã do dia seguinte, além de uma cesta de mangas bourbons que apanhei de um pé que preservou os frutos mais do que os outros por ter ficado na sombra do canavial, ganhei do Diô um quarto de leitoa, que certamente fará a festa de uns saláfrios na casa do Poka ou do Apolo Mário. Ah, e levo também o que sobrou da peixada, tudo cortadinho, bastando temperar, jogar na farinha de trigo (misturada com fubá, segundo ordenou minha mãe) e depois no óleo quente.

Ora, carambolas!


É, a moleza tá acabando. Tá chegando a hora de voltar a Londrina e retomar o batente. Para trás, entre muitas outras coisas menos tangíveis, deixo um pé de carambola que chega a dar raiva de tanto que produz. Pode ser sinal da poda que meu pai promoveu no início do ano. O fato que nesses dias todos que fiquei por aqui sempre que fomos ao sítio voltei com cestas abarrotadas de carambola, que fizeram a alegria dos vizinhos e demais aliados da Ciló, a quem eu incumbia de administrar a colheita. Andrea Monclar, fique fria: sua cota está garantida!

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Lembranças de Ribeirão Preto


Na volta de Ibitinga, dia 2, minha mãe, Natália e eu passamos em Ribeirão Preto para tentar encontrarmos um tênis que minha filha tinha visto numa revista e, claro, em Ibitinga não tinha. A caminho do Ribeirão Shopping, passamos pela avenida da qual dá pra ver uns 20% da arquibancada do Santa Cruz, o estádio do Botafogo local, onde, em março de 1981, meu tio Lazinho e eu vimos Brasil 2 x 1 Chile, gols de Zico. Era o time de Telê que, na Espanha-82, deixaria o mundo de boca aberta de surpresa e o Brasil de boca aberta de choro.

Mas a lembrança, nesse dia, foi outra. Fui remetido a 1995. Ribeirão sediou os jogos finais do Paulistão daquele ano. O Palmeiras se classificara para a semifinal contra o São Paulo. Estava engasgado com os bâmbis desde a Libertadores do ano anterior, embora tivéssemos sido campeões brasileiros, mas aquela era a hora de darmos um troco. Estava em Londrina, mas queria levar a família toda para ver o jogo, que seria dia 14, entre os aniversários do meu irmão (dia 4) e do meu pai (dia 20).

Mas como garantir ingresso?

Procurei Sandro Dal Picollo, que já trabalhava na Globo, mas ainda estava na Coroados, em Londrina. Ele disse que o pai dele quebraria o galho, sem problemas. Encomendei quatro ingressos. Vazei no sábado, passei em Ribeirão, peguei os ingressos e rumei para Guará. Os pais do Sandrão me trataram muito bem. Fizeram-me descer do carro, me ofereceram café, queijo, bolo, doces, enfim, aquela recepção de interior, de pais satisfeitos por estarem fazendo um favor a um amigo do filho deles.

Claro que, no dia seguinte, ao voltarmos a Ribeirão, a família toda, passamos lá, deixamos um frango caipira, agradecemos pra caramba o favor, coisa e tal, e fomos para o estádio. Meu irmão estava com a perna quebrada. O estacionamento ficava muito longe dos portões de entrada - é uma rampa semelhante, talvez maior que a do Estádio do Café. Pedi aos policiais para que permitissem que eu fosse de carro até lá em cima para deixar meu irmão, que eu voltaria. Permitiram.

Lá dentro, festa. Ganhamos de 1 a 0, gol de Rivaldo. Fomos para a final, contra o Corinthians. Seriam as duas últimas partidas de Roberto Carlos no Palmeiras - o lateral, agora contratado pelo Corinthians, já estava negociado com a Inter de Milão. E não é que o filho da mãe me perde pênalti no primeiro jogo da decisão? O cara, famoso pelo chute forte, tomou aquela distância, veio com aquela vontade, achávamos que jogaria o goleiro para dentro do gol, pegou na orelha da bola e deu um chute torto, fraco, rasteiro, mascado, pra fora. Merda!
No segundo e decisivo jogo, até endurecemos, graças a um gol de Nilson, mas o Corinthians ganhou com um gol de Elivelton na prorrogação. Foi a primeira vez que o Corinthians venceu o Palmeiras numa decisão de campeonato. Mesmo assim na prorrogação. Nos 90 minutos, até hoje eles nunca ganharam da gente.

Mas o inusitado dessa passagem é que, de volta a Londrina, meses depois, quando nos encontramos, Sandrão confidenciou que fora a única vez que o pai dele, comercialino roxo, botara o pé perto do estádio do Botafogo. Foi ao guichê comprar nossos ingressos, a pedido do filho. O que um pai não faz por um filho?

Se o Sandrão tivesse me falado da paixão do pai pelo Comercial, teria contado a ele, durante aquele café maravilhoso, que eu, aos 16 anos, promissor médio-volante, tinha jogado no Estádio Palma Travassos, defendendo o bravo Vila Nova, de Guará, num confronto com os juniores do Comercial, numa preliminar de Comercial x Portuguesa. Marinho Rã, atacante da Lusa, foi ao nosso banco de reservas nos cumprimentar pela partida, apesar da nossa derrota por 1 a 0, fatos - a visita do craque da Lusa e a magra derrota para o poderoso Comercial - que renderam comentários por meses nas mesas de bar de Guará.

Expressões nossas de cada dia

Ficar alguns dias em Guará é enriquecer o vocabulário na certa. Em duas rodas de conversa, entre o Natal e o Ano Novo, anotei três expressões das quais nunca tinha ouvido falar. Gulguei as três e consegui parcas referências sobre cada uma delas. Da primeira, nenhuma; a segunda vi num velho blogueiro de Divinópolis-MG; e a terceira, para minha surpresa, encontrei num texto do deputado Luis Eduardo Cheida (PMDB). Vamos a elas.

Deu o tomé
Meu irmão contava uma história qualquer quando soltou essa. Pelo contexto, captei de primeira. Ele se referia a um calote. “Deu o tomé” é dar o calote em alguém. Não sei se por ser nome próprio o tomé vai ou não em caixa alta. Mas, com certeza, esse Tomé original devia ser um grande dum caloteiro.

A casca é que engrossa o pau
Quem tascou essa foi meu tio Jair, agora o mais velho dos oito irmão vivos dos Cherutti, dos quais minha mãe faz parte. Eram originalmente onze. No feriado do dia 1º, Jair contava a história de um Fusca incrementado que ele tinha quando jovem. O carro atraiu a cobiça de um sujeito, que perguntou ao Jair se ele vendia. “Uai”, respondeu meu tio, “a casca é que engrossa o pau”. Daí o sujeito fez uma oferta irrecusável e levou o carango.

Empinar a carroça
Acho que também foi meu irmão que lançou essa, durante um conversê no Natal. Se referindo a uma situação em que um cara tinha ficado tiririca da silva, Luís Henrique falou que o dito cujo empinou a carroça para cima de outro sujeito. “Empinar a carroça”, portanto, é ficar nervoso. Eis o trecho em que Cheida usou a expressão: "Quero que os meus (e os seus) filhos empinem suas pipas. Caso contrário, vou é empinar a carroça com quem mexe tanto com a Terra que chega a atrapalhar a vida de quem tem que brincar".

Às vezes, a gente não se dá conta de expressões que rondam nosso cotidiano. Teve uma vez que eu passei vergonha numa reunião de editores n’O Diário, de Maringá. Em determinado momento, Décio Trujillo, o editor-chefe, vaticinou: “Vamos voltar à vaca fria”. Cochichei com Valter Tele, o pauteiro: “O que é isso?”. Pelo jeito, só eu na roda não sabia que voltar à vaca fria é retomar um assunto que havia sido interrompido. De fato, era capaz de jurar que nunca ouvira essa expressão. Na pesquisa no Google, as referências a ela ganharam de goleada das outras três.

Mais uma

Contribuição de Bruka Lopes, após ler a piada de baixo:

Um sujeito vai a médico para exames de rotina.
O médico, depois de ver a história clínica do paciente, pergunta:
- Fuma?
- Pouco.
- Tem que parar de fumar.
- Bebe?
- Pouco.
- Tem que parar de beber.
- Faz sexo?
- Pouco.
- Tem que fazer muito, mas muito sexo. Isto irá ajudá-lo!
O sujeito vai para casa, conta tudo a mulher e, imediatamente, vai pro banho. A mulher se enche de graça e esperança, se enfeita, se perfuma, põe roupa especial e fica na espera. O sujeito sai do banho, começa a se arrumar, se vestir, se perfumar e a mulher, surpresa, pergunta:
- Aonde é que você pensa que vai?
- Não ouviu e entendeu o que o médico me disse?
- Sim, mas, aqui estou eu prontinha...
O sujeito:
- AH! NEIDE, ... NEIDE, .. NEIDE..., LÁ VEM VOCÊ COM SUA MANIA DE REMÉDIO CASEIRO!!!

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Haja disposição!

Boa piada, enviada pelo Mirão, ex-prefeito de Apucarana:

O médico fala pro gringo logo após examiná-lo.
- Sr. Luigi Tovo, você está em muito boa forma para 40 anos - diz o médico. - Eu disse ter 40 anos ?
- Quantos anos você tem ? indaga o médico. - Fiz 57 em Maio que passou !
- Puxa ! E quantos anos tinha seu pai quando morreu ? - Eu disse que meu pai, o Bepo, morreu ?
- Oh, desculpe ! Quantos anos tem seu pai ? - 81 !
- 81 ? Que bom ! E quantos anos tinha seu avô quando morreu ? - Eu disse que o Nono morreu ?
- Sinto muito. E quantos anos ele tem ? - 103, e está muito bem de saúde !
- Fico feliz em saber. E seu bisavô ? Morreu de que ? - Eu disse que ele tinha morrido ? O Vecchio tá com 124 e vai casar na semana que vem !
- Agora já é demais ! diz o médico revoltado. Por que um homem de 124 anos iria querer casar ?
- Eu disse que ele QUERIA casar ? Queria porcaria nenhuma - vai casar porque engravidou a moça...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Era para ser light


Tudo encaminhava para ser um final/início de ano light, mas os acontecimentos acabaram atropelando tudo. Faríamos, como de fato fizemos, uma ceia maneira, com nós quatro aqui de casa mais o casal Loriz-Lazinho, mas não havia como deixar de dar uma passada na casa do Ronaldo Cueio, que estivera em casa à tarde e, mesmo não me encontrando, deixou recado com minha mãe dando aquela intimada. Ceei com minha turma e passei lá. No barracão da casa dele, no sentido de quem entra, primeiro ficava a mesa da mulherada e, lá no fundo, a dos sem-vergonhas: Bafinha, Gilberto Yamaguti, Marquinho "Garelli", Geraldo da Dalva, Zé Arseno e o Pimenta, um dos melhores copos da região. O pessoal foi debandando e, quando nos demos conta, só ficou a nata: o dono da casa, eu e o Pimenta, e o sobrinho do Ronaldo, Antônio, de 9 anos, goiano de Rio Verde, assando carne e a gente beliscando e bebendo até 4h30. Cueio queria porque queria ver o sol nascer, mas saí pela tangente assim que comecei a tropeçar na língua. É bom saber que a gente tem saúde para beber até as quatro da manhã. Saúde, sim, graças aos céus, tenho; idade, tenho lá minhas dúvidas. De qualquer forma, fui dormir com o primeiro canto dos galos de todos os quarteirões ao redor.


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Acordei tarde e, ato contínuo, já pensei nos pernis, nos frangos e demais quitutes do almoço na dona Zizinha. Na mesa do café, a notícia de que seu Wilson, mãe da tia Vera, mulher do João Luís, falecera nas primeiras horas de 2010. Dor, sim, mas acompanhada de alívio: internado em Barretos havia poucos dias, seu Wilson descansou da luta inglória contra o câncer. A mesa na dona Zizinha, que todo primeiro dia de ano recebia a família toda, ficou, desta vez, desfalcada de João Luís, Vera e Mônica, que foram para Barretos e, depois, para Ituverava, para o velório e sepultamento. À noite, estávamos todos juntos na vó. De qualquer forma, demos sequência à tradição: frangos e porco caipiras no fogão de lenha da dona Zizinha, preparados pela Ciló, como comprova a foto de aí de cima. Ficou curioso para saber o conteúdo das panelas? Clique na foto para ampliá-la.


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À tarde, sentado na varanda, jiboiando, de frente para o Bar da Madalena, vejo o Chico, baterista dos Mongóis, chegando, sentando e pedindo uma. Os Mongóis eram uma formação de baile reunindo músicos de Guará e São Joaquim da Barra. Animavam bailes em toda a região nas décadas de 70 e 80. Molecão, eu curtia as músicas dos caras, em especial a hora em que o Paulinho - o outro guaraense da banda - esmirilhava "Brasileirinho" no cavaco. Era um show à parte.


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Neste sábado, vou a Ibitinga, pego a Natália, dou uma passada em Ribeirão para ver se achamos um tênis que minha filha tá afim e voltamos para a última semana de forga antes de voltar a Londrina para tocar projetos em cumplicidade com Fábio Cavazotti. No caminho, uma passagem em Echaporã, no sábado, dia 9, para o primeiro aniversário de Pedro, futuro camisa 10 do Palestra Itália, por mais que Bruka Lopes, o pai, teime em querer vê-lo no Morumbi.