quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Em casa

À espera da costelinha de porco começar a fritar na panela, rolam Jogos de Inverno na Record. Esqui estilo livre. Saltos fenomenais. O cara pega um impulso, chispa na rampa, dá trocentas piruetas e pousa na rampa convexa, vibrando com as manobras. Os caras são bons nisso. Ontem, entre um chopp Itaipava e outro no Cine Lupulus, no telão, vi uns caras com patins de gelo soltando uma espécie de chaleira numa pista de gelo em direção a outra que está num círculo muitos metros adiante, e dois companheiros dele vão varrendo o gelo freneticamente até aquele troço parecido com uma chaleira chegar a seu destino; daí ela bate em outra chaleira que está dentro do círculo, expulsa ela dali e fica lá dentro. É a bocha do gelo. Quanto mais próximo do centro do círculo a chaleira ficar, ela ganha. Só não sei por que tem que ter dois malucos varrendo o caminho da chaleira lançada. Será que no gelo há tantos resíduos assim, capazes de mudar a direção desejada? É engraçado.

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Ouvindo Uberaba x Londrina na Paiquerê. Vagner, ainda estamos tentando descobrir que time é teu. Vinte minutos de jogo, parece que vai dar trabalho.

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Para quem zomba do título mundial do Palmeiras em 1951, basta lembrar que a grande obsessão do Corinthians – primeiro “legítimo” campeão mundial da FIFA – é a Libertadores. Ponto. Não tem nem comparação. Um, real, de que todos zombam; outro, ilusório, chancelado, mas de que todos zombam também. Fora os de Tóquio que, diante disso tudo, são uma piada.

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Dê o que der, Antônio Carlos foi uma grande tacada da direção do Palmeiras. A primeira, talvez.

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Faz quase um mês que o basquete jogou pela última vez. Esquisito, esse campeonato.

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Preciso largar da preguiça e falar da nova empreitada profissional. Porco, sem-vergonha e preguiçoso. É o fim da picada. Agora, com três celulares no bolso.

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Turca, na boa: nunca vi alguém tão tratante na minha vida.

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Rose, espero que você esteja certa.

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A todos, uma boa noite.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Assim falou Belluzzão


Primeiro parágrafo de matéria no site do Estadão de hoje, sexta-feira:


"O presidente Luiz Gonzaga Belluzzo elogiou o trabalho de Muricy Ramalho à frente do Palmeiras, mas disse não saber apontar as falhas que levaram ao fracasso do treinador no comando da equipe. Para ele, o técnico simplesmente não se "encaixou" ao time do Palestra Itália".


Demorou, presidente, mas antes tarde do que nunca.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Aos menos atenciosos...

...aviso que esse post aí embaixo não e de hoje não; é de domingo passado. Se fosse escrevê-lo hoje, mudaria alguns termos e a forma de abordagem. E não venham me dizer que a culpa é do diretor de futebol. A não ser que ele esteja exigindo do treinador que mantenha uma avenida aberta no meio-de-campo e nas laterais, uma porta escancarada na defesa para a chegada dos atacantes adversários, a obrigatoriedade em não agredir o rival e, sobretudo, a cobrança implacável para que o time entre apático em campo e finja que está tudo bem. Aí, sim, a culpa é do Cipullo.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Sonho meu

Belluzzo, chama o cara prum canto e diz o seguinte: “Muricy, poxa, meu, você é trabalhador, um cara gente fina, pedra 90, confiável, mas, convenhamos, não dá mais. Até achamos que o fato de seu pai ter sido palmeirense fanático poderia ajudar a “grudar” você aqui no Palestra, a criar uma identidade, sei lá, mas não deu, rapaz. A verdade é que você não se deu bem aqui - não ornou, como diz o pessoal do interior. Você está aqui já faz uns bons meses e, na boa, não vejo o seu dedo na equipe, não consigo discernir algo de seu trabalho. Aliás, vejo sim. Vejo uma defesa que não defende, um ataque que não ataca, um meio-campo que não articula. E olha que você pegou o time jogando redondinho com o Jorginho e depois de uma vitória de 3 a 0 sobre o Corinthians... Claro que não vou jogar toda a responsa nas suas costas, eu, como presidente, também sou responsável, mas, cara de Deus, pagamos o maior mico no ano passado. Contratei você achando que, naquela altura do campeonato, meu time só precisava de alguém que armasse uma boa defesa que o resto o Cleiton Xavier e o Diego Souza fariam, e o time seria campeão com um pé nas costas. Mas amarelamos, foi um vexame histórico. Perdemos um título ganho. Tudo bem, na verdade você pegou o bonde andando, o time do ano passado foi montado pelo Luxemburgo, dá pra dar um desconto. Mas começou 2010 e até agora nada. O time continua sem padrão de jogo, sem saber sair da defesa para o meio, do meio para o ataque. É só bola rifada, rapaz. Só ligação direta. O zagueiro pega ali atrás e bumba-meu-boi pra frente. Os alas pegam a bola e, quando acertam o cruzamento, não tem ninguém lá pra fazer gol, e quando pinta a chance o cara erra medonhamente. O time não tem alma, não tem coração. Pode até ter, mas, se tiver, é coração de bâmbi, não de porco. Você é bâmbi, Muricy. E não estou falando de maneira pejorativa, não. Você é sãopaulino. Dá certo lá, no Náutico, no São Caetano. Aqui é diferente. Aqui o buraco é mais embaixo. Pra dar certo aqui tem que ter alguma coisa de Osvaldo Brandão, de Filpo Nuñez, de Felipão, de Luxemburgo. Olhaí, desculpa, rapaz, vamos fazer um acerto aí, ninguém paga multa pra ninguém, e você sai na boa, portas abertas, sabe aquela coisa? Vai ser feliz, meu filho”.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Toque-se com um barulho desses


Uma coisa aparentemente não tinha nada a ver com a outra, mas o fato é que fui ver Os Beto tocar no Bar do Pingüim, nesta sexta-feira à noite, ainda com a polêmica da OSUEL na cabeça. Horas antes, tinha lido matéria de Paulo Briguet no Jornal de Londrina informando sobre os cortes de cargos gratificados determinados pelo reitor Wilmar Marçal entre músicos da Orquestra Sinfônica. Mais do que informar sobre os cortes, a matéria contextualizava a situação: trata-se de uma briga entre o atual reitor e a ex, agora secretária de Ciência e Tecnologia, Ligya Puppato. Marçal alega estar apenas cumprimento ordens do governo: cortar funções gratificadas. O que ninguém esperava é que os cortes viriam em cima da OSUEL, comprometendo a formação da orquestra e a condenando, senão à morte, pelo menos à UTI. Na mesma edição do JL, na página de programação cultural, vi uma nota anunciando Os Beto no Pingüim. Como acompanho aquele bando da manés há no mínimo uma década, desde que abrilhantavam a noite no bar da Casa do Jornalista, fui conferir. Estão melhores do que nunca. Nesses anos todos, sai um, entra outro, o núcleo artístico continua o mesmo e o entrosamento, claro, melhorou. Está supimpa. Aquele negócio de todo mundo entrar junto e terminar junto, voz, cozinha e cordas, isso sim caracteriza uma boa roda de samba. Horácio continua se divertindo, no atabaque, como se fosse um garoto. Dali, dei uma esticada até o Valentino. Fazia tempo que não ia lá. Não curto muito esse lance de fila pra entrar e homens de preto pra lá e pra cá, mas, enfim, meu vizinho de vilinha aqui na Rio de Janeiro, o Wesley, saxofonista, faz um singelo convite e resolvi encarar. Quando tirava o carro da garagem para ir ao Pingüim, ele também saía de casa paramentado. Disse: “Se agüentar o rojão, dou um pulo lá”. É, véio é phoda. Aos 44, não dá mais pra embalar noite adentro. Mas saí razoavelmente são do Pingüim e fui ao Valente. O pessoal do Wesley já estava tocando. O grupo, se as cervejas do samba e o conhaque do Valentino não queimaram toda a minha memória, chama-se Sarará Criolo. Ia continuar tomando cerveja, mas daí um ruído na comunicação mudou as coisas. Cheguei ao balcão e, naquela barulheira infernal, gritei pro cara: “Uma neck”. Ele: “Hein?!?”. Joguei o corpo pra frente e gritei. “Uma neck!” Um minuto depois ele voltou com um conhaque. Fazer o quê? Mas o que ia dizer que o Sarará Criolo é um puta grupo. Um bando de nego mais ou menos da minha idade, um pouco mais novos, cantando o fino. Entrosadíssimos, também. Wesley lá atrás, com outro colega de sopro, dando o molho. Quando cheguei, entoavam “Vale Tudo”, do Tim Maia. Daí, entre algumas gordinhas loiras, encouraçado na minha desenvoltura germânica, fiquei matutando. Poxa, Londrina sempre teve uma noite movimentada. Graças ao esforço de muita gente, sempre houve música ao vivo na cidade. Uns anos mais, uns anos menos, mais a noite nunca morreu em Londrina. Cheguei à cidade em 1984 e, de cara, passei a freqüentar Lumiar, Clube da Esquina, Bar do Jota, Tio Mário, Milton, Cebolinha, Paulista, Nanico, Sereno, Bar da Costela, Mocidade (quando ainda era na BH com Fernando de Noronha), Pingão, Cotovelo e, claro, as festas no RU. Tinha o Padock na Maringá, o Tigrão perto dali. E a moçada que entrava na UEL abastecia o mercado de músicos da noite. Meus colegas de Jornalismo da turma 1984/1, Luisinho e Marcão, cantavam Língua de Trapo no Lumiar. Pedrinho Livoratti, meu calouro, arregaçava no Clube da Esquina, junto com Tadeu Far Way. Café Set e Castelinho, na Higienópolis, também abriam as portas para som ao vivo. Era gente que ganhava pouco, mas curtia o que fazia. Ana e Banda no Villa Terra, Banda Beco arrepiando, Madera, pô, um monte de gente. O Ângelo Galbiatti, do Madera, coincidentemente, estava lá no Pingüim, cuidando do som pr’Os Beto. Kadu Guariente, baterista da Banda Beco, está louco para escrever um livro sobre a história do rock de Londrina nos anos 80. Victor Gorni acaba de lançar um belo CD. Nesse mesmo dia, tinha recebido uma proposta para transformar em livro um grande trabalho acadêmico sobre os conservatórios musicais da cidade. Caramba, as coisas acontecendo e uma briga mesquinha entre dois grupos políticos encastelados na universidade ameaçando a formação de um patrimônio cultural da cidade? Ao invés de estimular seus correligionários a apoiar, a criar espaços, a elaborar leis que garantam a continuidade desse pessoal que faz cultura muitas vezes na marra, no suor, no sufoco, esses líderes, ao se engalfinharem, vão pra cima da OSUEL? Caramba, esse pessoal merece mais respeito. Mais consideração. Que o reitor e a ex-reitora se entendam, sentem-se à mesma mesa, dialoguem, façam algo produtivo, positivo para a OSUEL e a cultura da cidade. Trata-se de um segmento que historicamente sofre com o descaso e que não precisa de iniciativas contrárias. Deixar a OSUEL ser desmantelada significa fecharmos os olhos e sermos ameaçados também, de repente, de perder o FILO, o Festival de Música. Londrina sempre se vangloriou de ser inquieta, crítica. Que não se cale agora. Ou, como disse Briguet ao final de sua matéria no JL, muito apropriadamente, por sinal, “toque-se com um barulho desses”.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

E esse cheiro de Argentina no ar...

Há filmes pelos quais a gente não deveria sair de casa. “No meu lugar” é assim. Fui hoje ao Com-Tour vê-lo. Não entendi lhufas. Nem vou citar diretor, atores, para não parecer pegação no pé, até porque fui, antes de mais nada, por ser uma obra nacional e tenho o grave defeito de achar que filme nacional tem de ser visto e ponto final. O problema é que depois de Tropa de Elite e Cidade de Deus e outros menos ranqueados eu achei que havíamos abandonado aquela coisa anos 70 de filme paradão, em que um ator fica horas fumando cigarro e olhando para o chão com cara de angústia e, no final, você tinha que organizar um simpósio para debater o que o diretor quis dizer naquelas duas horas de projeção. Me enganei. Até vim pensando no caminho para casa: vou gastar um tempo na internet pesquisando para ver se acho algum artigo, alguma matéria, alguma sinopse que explique o que aconteceu. Deu preguiça e olhei apenas a página do JL para reler o resumo da ópera, e estava lá: “O filme narra a história de três famílias marcadas por uma tragédia provocada pela violência”. Se esses 92 caracteres têm um ar de mistério capaz de atrair um mané ao cinema, é, ao mesmo tempo, tudo o que um redator desavisado poderia escrever para resumir um filme que é aquilo ali – um mistério. E o pior de tudo foi constatar, enquanto escrevinhava essas asneiras, que algo desse tipo só corrobora uma impressão que havia tido nos primeiros dias do ano, quando voltei de um descanso na casa dos meus pais e, de volta a Londrina, deparei com um monte de acontecimentos que, para resumir tudo, me fizeram pensar com meus botões: “2010 começou com um cheiro de Argentina...” Não me peçam para explicar, porque é daquelas impressões que não se explicam, mas é mais ou menos tipo assim. E reforçou, sobretudo, aquela sensação de – aportuguesando a grafia – dejavú que senti no domingo, ao ver o meu Palmeiras bombardeando o Corinthians o tempo todo e... perdendo o jogo. Não houve como lembrar dos anos 80 ao ver o time com Gualberto na zaga, João Victor no ataque e um treinador limitadíssimo no banco. Enfim, tanto em relação à crítica ao filme quanto ao que pode acontecer na África do Sul e, sobretudo, em relação ao futuro do Palmeiras, quero estar redondamente enganado.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Papo de boteco


Seguinte, o Parmera perdeu do Curíntia porque Roberto Carlos foi expulso. Não houve um babaca no Parmera, após o terceiro minuto de paralisação para o mundo ficar olhando o Roberto Carlos de bracinho na cintura, capaz de tirar o carinha de campo. O cara ficou ensebando o suficiente até dar a senha do que viria em seguida: Curíntia na frente, 1 a 0, o estrelão expulso, os gambás invocariam um século de arranjos e desarranjos desse time desarranjado por natureza e recuariam todos eles, os 23 milhões, para a linha intermediária, a fim de dar prosseguimento ao que fazem desde 1917 – encher o nosso saco e, de vez em quando, ganhar de nóis de 1 a 0. Faltou o Marcão dar um pulo lá e falar pro cara, ó, meu, seguinte, vamo jogá, ta na hora docê saí, e por a bola em jogo e vamos que vamos. Roberto Carlos, estupefato, fincou pé e não saía de jeito nenhum, como se tivesse sido vítima da mais injusta intervenção da arbitragem desde 1910. Faltou alguém peitá-lo ali e impor respeito. O Parmera perdeu ali. Aurélio Albano, corintiano, mandou e-mail, claro, só que, antes de alugar, lembrou dum troço verídico: contra a Suécia, na semifinal ou quarta-de-final, sei lá, em 1994, nos EUA, Romário subiu depois da becaiada e meteu a classificação do Brasil pra dentro. Jorge Henrique fez parecido: subiu no segundo pau e testou pra baixo. Caixa. Mas lembrou Aurelinho que eu, passado, ficava repetindo a cada segundo o cabeceio do Baixinho e fazendo assim, esticando o pescoço pra cima na hora que Romário subia e testando pra baixo, no vazio, o gol salvador, para delírio do Robertinho Lisboa, bem antes da passagem dele como dono de bar. E o jogo foi aquilo o tempo todo: o Parmera assediando a linha de buldogues adversária, tentando encontrar uma brecha onde não cabia uma agulha. Quando adentrou, concluiu mal ou Felipe pegou bem. Roberto Carlos foi o nome do jogo. O cara, agora tenho certeza, é gambá desde que saíram nele os primeiros bigodes. Ele saiu do Parmera em 1995 vendido para a Inter de Milão e agora, quinze anos depois, volta ao Brasil e, na terceira partida do netorno, pelo Curíntia, é expulso com poucos minutos de jogo, faz um misancene danado e o time dele, o Curíntia, ganha. Em 95, na decisão, em Ribeirão, contra o Curíntia, na última partida dele pelo Parmera, ele me erra um pênalti. E o time dele, o Parmera, perde. Passa outra hora, Robeeerto Carrrlos.