quinta-feira, 29 de julho de 2010

No aeroporto de Franca


Meu irmão me manda essa foto e provoca: "Não lembro de ter visto vc com o Lula..." Até contei a ele que em 1994, na sua segunda tentativa de se tornar presidente, o Sapo Barbudo fez uma carreata em Londrina, entrando na cidade pela avenida Tiradentes, ele que vinha de alguma cidade da região. Era repórter da Folha e acompanhei o candidato na carroceria de uma caminhonete. Como não havia quase ninguém ao longo da Tiradentes, uma avenida que abriga lojas de serviços e que, naquela época, tinha grandes espaços vazios, a caminhonete ia em alta velocidade. Lula olhava pra frente quieto. Nem se quiséssemos conseguiríamos conversar. Com aquele vento na cara, não daria para ouvir o que um falaria para o outro. Fiquei na minha, urubuservando. A falta de palavras durante o trajeto e de gente que pudesse provocar alguma reação do candidato devem ter deixado minha matéria pouco atrativa, não me lembro, mas me arrisquei a dizer pro Luís Henrique que, se procurasse, encontraria nos arquivos da Folha alguma foto minha com o Lula. No fundo, deve ter sido um pouco de despeito, porque nem me lembro se havíamos sido fotografados naquela carreata. Então, por absoluta falta de combatividade, declaro meu irmão vencedor nessa disputa, ele que na foto acima, de semanas atrás, aparece à esquerda de Orestes Quércia e à direita de Geraldo Alckmin. À esquerda de Alckmin, meu pai. Na extrema esquerda, Alcides Furtado, o homem que administrou Guará - nossa cidade - por cinco mandatos. Estavam todos no aeroporto de Franca, que fica próxima da nossa Guará e da Pedregulho de Orestes Quércia. Seo Alcides sempre foi muito ligado politicamente a Quércia - daí, acredito, a razão da visita. Seo Alcides é o líder maior da banda política denominada "macaúbas", que até hoje, embora em menor escala, disputam o poder local com os "pés-rachados". Dizem que as duas administrações seguidas de Marco Aurélio Migliori - um pé-rachado histórico - tem contribuído para amenizar esse maniqueísmo da política guaraense. Prefiro acreditar que sim. Mas o fato é que a cidade sempre se alternou entre um e outro grupo político. Os macaúbas sempre com um apelo mais popular; os pés-rachados, elitistas. Desde a época do bipartidarismo imposto pelos milicos, Arena x MDB, a disputa em Guará é entre macaúbas e pés-rachados, abrigados na mesma legenda, Arena 1 x Arena 2, depois PDS 1 x PDS 2. MDB e mesmo o PMDB tiveram poucos representantes na cidade, pelo menos até 1982, com a ascensão de Franco Montoro em disputa interna acirradíssima com Quércia, que viria sucedê-lo em 1986 no governo paulista. Seo Alcides está com 85 anos, totalmente lúcido, e é uma das minhas maiores esperanças em me conceder alguma pista da trajetória de Antônio Fernandes Sobrinho, o guaraense que, em 1954, foi eleito prefeito de Londrina, aos 32 anos de idade. Minha mãe diz se lembrar do pai dela contando que tinha uma irmã casada com Antônio Fernandes, dono de uma máquina de beneficiar café. Talvez seja o tio do Antônio Fernandes de Londrina. Se conseguir pegar o fio dessa meada, pode ser que renda uma boa história.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

No apê de Luciana



Essa foi a ilustração que Edivaldo Jacinto, artista plástico e publicitário em Londrina, fez para uma crônica minha publicada por Régis Querino na sua Revista Real, que circula em Londres. Ex-colega de Folha, Régis está na Inglaterra há vários anos. Para quem se interessar, o endereço é www.revistareal.com. A crônica foi editada nas páginas 20 e 21 da edição de julho. A esposa está concluindo um mestrado e, pelo jeito, o Papagaio - santista de nascimento e de coração, apesar do pai palmeirense - vai entrar numas de não voltar mais não. Lá, faz aquilo para o qual se formou aqui: jornalismo. E faz bem feito.

Esse polvo rende


Mais uma charge motivada por Paul, o polvo vidente da Alemanha. Essa, que chupei do Paçoca com Cebola, publicada originalmente na Gazeta capixaba, é ainda melhor que a de baixo, com o Felipão.

Seu frangueiro!

(O texto abaixo é minha estreia na seção "Boas Histórias", no site da Sercomtel. Será um texto por semana, dentro do espaço Planeta Sercomtel. Estou substituindo Apolo Theodoro. Que responsa, hein...)



O "frango" de Waldir Perez em Londrina

Muitos dos que assistiram ao recente torneio amistoso no Estádio do Café, entre Iraty, Atlético Paranaense, São Caetano e Corinthians, talvez não saibam que essa não foi a primeira Taça Cidade de Londrina. Já houve outra, em 1984, conquistada pelo Palmeiras. Para comemorar o cinqüentenário da cidade, houve vários eventos. Muitos vão se lembrar do famoso show do palco flutuante no Igapó. Alguns talvez se lembrem do show, no Moringão, com três mestres da sanfona, Sivuca, Dominguinhos e Osvaldinho. Eu, que chegara para cursar UEL justamente naquele ano, lembro de todos – mas, principalmente, do torneio entre Londrina, Café (então o segundo time profissional local), São Paulo e o Verdão de Parque Antártica.

A fórmula de disputa foi a mesma desse torneio recente: dois jogos na sexta-feira e, no domingo, a final, entre os vencedores dos primeiros confrontos. Naquela ocasião, o Londrina sapecou uma goleada no Café e, na decisão, perdeu de 1 a 0 para o Palmeiras, que eliminara o São Paulo.

Foi a primeira vez que fui ao Estádio do Café, hoje Jacy Scaff. Fui ver meu time, que estava exatamente no meio da fila de 16 anos sem títulos, que só viria acabar em 1993. E o jogo era contra o São Paulo de Waldir Perez, apontado como principal responsável pela “Tragédia de Sarriá” – aquela famosa derrota do Brasil para a Itália, na Copa de 1982, aquela dos três gols de Paulo Rossi que afundaram o futebol-arte do time de Telê.

Minha bronca com Waldir Perez vinha de 1977, quando ele catimbou os jogadores do Atlético Mineiro na decisão do Campeonato Brasileiro e os fez errar várias cobranças de pênalti. E o time de Chicão, que naquele jogo daria botinada até no papa, se ele passasse por perto, ganhou o título na base da retranca. Mas tive minha vingança.

O Palmeiras ganhou do São Paulo, em Londrina, com um gol olímpico do meia Jorginho. Ele cobrou o escanteio à meia altura, e a bola entrou entre o goleiro e a primeira trave. Mais uma falha clamorosa de Waldir Perez, que poderia ter pego a bola com facilidade. E também por não ter posicionado alguém de sua defesa no primeiro pau. Devo ter xingado o goleiro sãopaulino até cansar, mas da arquibancada não vale muito – o jogador não vai ouvir algo vindo lá de longe e, mesmo se ouvir, não vai dar bola.

Uma história que ouvi de um colega jornalista em junho agora, ou seja, 26 anos depois daquela partida, deixou minha vingança completa, pois esse colega jornalista – cujo nome, infelizmente, não posso revelar – fez naquele dia o que eu gostaria de ter feito.

Ele tinha apenas seis anos e, como eu, tinha ido pela primeira vez ao Estádio do Café. Sãopaulino roxo, o pai o levou, no dia seguinte, ao hotel onde as delegações estavam hospedadas. E, todo orgulhoso, ia apresentando ao filho os jogadores do seu time de coração, até que, frente a frente com Waldir Perez, o garoto, com a sinceridade inerente à toda criança, tascou, na lata, o desabafo entalado na minha e na garganta de milhões de brasileiros:

– Seu frangueiro!

quarta-feira, 14 de julho de 2010

O polvo




Tem gente que sabe mesmo fazer humor.