quarta-feira, 29 de setembro de 2010

E o pau quebrou

(Publicado nesta quarta-feira, 29/9, no Jornal de Londrina)

A caminho do Bar Celestial, onde Tio Mário serve um espetinho divino com farofa e molho verde, cuja receita a nora dele não revela nem sob tortura, Bracciola remoia desde a semana passada aquele “e aí, porquinho, pronto para a segundona?” do Luís César, doido para dar o troco, agora que o Verdão surrou o Flamengo no Engenhão e o São Paulo levou de três do Guarani em pleno Panetone, ops, Morumbi.

Até em tirar uma casca do Moitinha ele pensou, já que o Timão também sofrera um revés no Beira-Rio, mas, pensou, melhor não, vai que o Inter resolve aprontar pra cima do Palestra nesta quarta. Afinal, jogar em casa não tem sido uma boa receita para o time do Felipão e, deve-se reconhecer, o Curíntia está muito melhor, perdeu quando podia perder, vamos ter de rezar muito pros caras não levarem essa.

Foi então que os três diabinhos se reuniram, desta vez, com o espírito desarmado. O final de semana trouxera notícias alvissareiras para o esporte de Londrina – onde todos viviam, antes de bater as botas rumo ao purgatório.

Lembraram que no sábado o futsal arrasou. As meninas enfiaram 8 a 2 em São José dos Pinhais e se garantiram na semifinal do Paranaense. Os marmanjos viraram o jogo pra cima do favorito Marechal Rondon e estrearam com o pé direito na terceira fase da Chave Ouro.

O handebol fez 29 a 18 em Campos (RJ) e vai de vento em popa na Liga Nacional. O vôlei masculino estava na expectativa de anunciar patrocínio master para a disputa da Superliga. O autódromo está tinindo para receber a Stock em outubro.

Não havia, em tese, nenhum espaço para lances mais belicosos entre os três diabinhos, até que um cabo eleitoral, todo paramentado, com adesivos da cabeça aos pés, entra no bar e pede uma branquinha pro Carlão, o garçom. Moitinha rompe o obsequioso silêncio.

– Eu votaria na Dilma. O mano Lula até arrumou estádio pra nóis...

– Aquele poste? – retrucou Luis César. Prefiro a Marina!

– Eu iria de Serra, só pra ver um palmeirense ganhando do Sapo Barbudo – vaticinou Bracciola.

– Ah, tu prefere aquele tucano vampiro?

– Pois eu acho melhor que uma terrorista arrependida.

– E essa Marina aí, na real, eu acho que...

E o pau quebrou feio no Bar Celestial.

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Em Maringá


Clebinho França, com quem trabalhei n'O Diário, foi quem mandou a foto de parte da turma da imprensa esperando, em vão, o presidente Lula conceder entrevista. Foi quinta da semana passada, em Maringá. O "cara" nos deixou a ver navios duas vezes: ao fim da solenidade na Vila Olímpica e, depois, no pós-almoço na Cocamar, atividade de caráter privado, na qual pediu votos descaradamente para Dilma, Osmar, Requião e Gleisi. Revi alguns amigos na cidade: Ivan Amorin, Walter Fernandes, Murilo Gatti. E também Fábio Linjardi e Galleti, com quem eu e Zé Ganchão tomamos várias na quarta à noite. Walter Fernandes, que nos levou da Vila Olímpica para a Cocamar, lembrou do dia em que chegou na minha casa para tomar uma branquinha e inventou de colocar um pouco de salsinha - que eu cultivava displicentemente sobre um monte de britas - na boca. Era para ser uma passagem rápida, mas acabamos quase secando o litro de pinga e o Vartão deve ter comido um alqueire de salsa. Bons tempos.

O bairro mais boêmio de Londrina

(Publicado na seção Boas Histórias, do site da Sercomtel)


Tem lugares que mudam, mudam e continuam o mesmo, invariavelmente com a mesma vocação. É o caso da Vila Ipiranga, na área central de Londrina. Delimitado – sem nenhum rigor científico – pela avenida Bandeirantes, a rua Mato Grosso e um pedaço da JK, o bairro é o mais boêmio da cidade. São, na verdade, alguns poucos quarteirões que abrigam – sempre abrigaram – muitos bares, por onde passaram figuras lendárias, como o desenhista Dom Pablo, que hoje dá nome ao renovado Gelobel do Parque Guanabara.

Se Londrina, por motivos históricos e de afeição, tem muito mais a ver com São Paulo do que com a própria capital do Paraná, é plausível comparar a Vila Ipiranga com a Vila Madalena, bairro nobre paulistano famoso por seus botequins e pelas repúblicas recheadas de estudantes com sede demais e dinheiro de menos, ávidos por um lanche barato e um violão ao vivo.

Os estudantes universitários sempre tiveram uma predileção pela Vila Ipiranga. Por causa, evidentemente, dos bares, que mudam de lugar, trocam de dono, mas não perdem a clientela. O Bar do Jota, na rua João Cândido quase JK, é até hoje ponto de uma fauna pra lá de diversificada. Sob o som da velha MPB e ao redor das mesmas mesas de sinuca se reúnem tribos de toda espécie, de todas as idades, de todas as tendências lítero-músico-sexuais.

Hoje nas mãos de um italiano, faz semanas que corre o boato de que o Jota está prestes a trocar de dono, o que já aconteceu com diversos outros bares do pedaço. O do Cebolinha, na esquina da João Cândido com Jorge Velho, atualmente recebe um público – com mil raposas incendiárias! – absolutamente distinto dos que, antes, ouviam Dom Pablo, entre uma pinga e outra, declamar Augusto dos Anjos.

O Bar do Milton, na João Cândido com Raposo Tavares, já era. O Bar do Souza, na Mato Grosso com Paes Leme, onde foram consumidos um bilhão e meio de torresmos suculentos, também. O Valentino original, na esquina da Jorge Velho com o Buracão do Azevedo, por onde circularam gerações de artistas e malucos, idem. Marcão trocou o bar da Jorge Velho quase Rio de Janeiro por um táxi. O Meeting, na Souza Naves, teve vida curta na década de 80. E o saudoso Tio Mário, ponto de encontro de universitários, profissionais liberais, boleiros e outros desocupados, é outro que fechou as portas depois de peregrinar por dois ou três endereços da Vila.

Mas o Paulista velho de guerra continua lá, na esquina da Jorge Velho com Amador Bueno, com a cerveja gelada, a comida, a sinuca e o pano verde que atraem muitos bacanas da cidade. O espanhol Nicolas – avante, Fúria! – levou sua padaria/lanchonete da esquina da Raposo com a Rio de Janeiro (onde hoje funciona um restaurante tipo “coma quanto puder”) para a descaída da Borba Gato, mas permanece com o dispendioso hábito de apostar com o jornalista Armando Duarte meia dúzia de cervejas em qualquer confronto Corinthians x Palmeiras.

Enquanto uns fecham, outros surgem – como o Zuppa, com sua boa comida a preços civilizados, na Jorge Velho – e outros mudam de dono e de nome. O Bar do Alcides, na Praça do Aleijadinho, perdeu as centenárias teias de aranha e ganhou pintura, mesas e menu mais convidativos. E, na fachada, bem em cima, uma placa amarela com dizerem em preto, que leva o nome, a idade e a marca do bom humor: “Bigorna, desde 1630”. A data é do surgimento da bigorna, e não do bar, evidentemente.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Lula-lá

Daqui a pouco puxo o carro pra Maringá. Tenho de retirar, até as 18h, no Golden Ingá, a credencial para acompanhar a comitiva do Lula amanhã. Feito isso, vou ligar pro Linjardi n'O Diário e amarrar uma cerva. Necessariamente num bar onde passe Grêmio Prudente x Palmeiras. Mais uma pedreira para o time do Felipão. Simplesmente o lanterna do campeonato. E depois o corintiano diz que ele é o sofredor... Vai ser palmeirense pra ver o que é bom pra tosse.

Verde crise

(Publicado nesta quarta, 22 de setembro, no Jornal de Londrina; mais um texto da série "Os três diabinhos")



– Mano, seguinte: de 1º de setembro de 2009 a 30 de agosto de 2010, o Curíntia estava nos 99 anos. O centenário começa a partir do aniversário de 100 anos e dura os 12 meses seguintes. O que ele faturar até agosto de 2011 é caneco do centenário, tá ligado? Tá ouvindo, mermão?

Por mais puto que tenha ficado com a nova tese corintiana para duplicar o ano do centenário, a ponto de pedir explicações formais ao Moitinha, Bracciola praticamente ignorou o bla-bla-blá do colega diabinho, absorto que estava no balcão do Bar Celestial, agoniado com o atraso de Luís César, torcendo para que ele faltasse à reunião sagrada das segundas-feiras, nas quais é discutida, lá no purgatório, a rodada esportiva do final de semana aqui na Terra.

O 2 a 0 de domingo ainda doía no lombo. Pior – e com o Corinthians na liderança! A cada segundo só aumentava a aflição de imaginar o Cesão zoando total, entrando numa daquelas de dizer que o Palmeiras está se aportuguesando, que vai de novo pra segundona, que daqui a pouco nem torcida vai ter mais, que vive de passado, que vai acabar mesmo é disputando clássico com o Juventus na Rua Javari.

E o duro é que ele estava ficando sem argumento. Começou a achar que está se repetindo uma nova década de 80, a década perdida, a década dos elencos medíocres, da fila. A década dos Vasconcelos, dos Adalbertos, dos Ditinhos Souzas. O olho lacrimeja, o coração dispara.

– Acho que eu vou morrer de novo - pensou o diabinho palmeirense. Mas justo agora, ele lamentou. Justo agora que tínhamos estragado a festa dos 107 anos do Grêmio em pleno Olímpico, com Felipão, pai da Libertadores-99, sendo aplaudido na casa do inimigo?

Perder para o São Paulo, com o time entrando em campo com a camisa de 1942 e a bandeira do Brasil, exatamente como há 68 anos, no mesmo Pacaembu, no primeiro jogo com o nome de Sociedade Esportiva Palmeiras, em que foi campeão justamente em cima do São Paulo, que levou a virada de 3 a 1 e fugiu de campo quando ainda havia um pênalti a nosso favor?

Tão avoado ficou que Bracciola nem viu Cesão chegar e, por trás, num lance que valia cartão vermelho, dar dois tapinhas nas costas dele e sussurrar:

– E daí, porquinho, preparado para a segundona?

É a morte! Definitivamente, é a morte!

domingo, 19 de setembro de 2010

Os três diabinhos

O texto aí de baixo, "Trio diabólico", foi publicado quarta-feira no Jornal de Londrina. Foi a estreia de três personagens: o palmeirense Bracciola, o são-paulino Luís César e o corintiano Moitinha. Os nomes do são-paulino e do corintiano são homenagens a amigos meus. Não conseguia imaginar nenhum para o palmeirense, então aceitei sugestão do Pedriali. Faz uns meses que escrevo coluna no JL, convidado que fui pelo editor de Esportes, Diego Prazeres. Ele me encomendou alguns textos durante a Copa da África e, findo o Mundial, fez o convite para uma coluna semanal. Comecei fazendo textos "normais". Daí bateu a ideia de criar personagens. Estava indo de carro para Guará, no feriado prolongado de 7 de setembro, quando bateu a ideia. E não há melhor ocasião para se pensar em algo durante uma viagem de carro, você sozinho, quatro, cinco horas de viagem. Moitinha - nem sei o nome real dele, nunca soube - é um guaraense com quem joguei bola a infância toda. É da Vila Maria, onde hoje toca uma mercearia bastante concorrida. Negão, além de comerciante bem sucedido é presidente da Associação Atlética Guaraense, onde eu nadava tanto que voltava pra casa com os cabelos verdes de cloro. Enfim, no primeiro texto eu apresentei a patota e meio que alinhavei como vai se dar a coisa. Agora tenho de prosseguir com a brincadeira. E estou com um medo do caralho de não dar conta do recado. Os três diabinhos vão ao Bar Celestial todo domingo ou segunda ou terça à noite discutir a rodada. E, nesta, tem Palmeiras x São Paulo. O desafio - e é o que está me dando cagaço - não é o de escrever o que vem na cabeça do Bracciola. É tentar decifrar o que vem da cabeça do Luís César e do Moitinha. Enfim, me colocar como são-paulino e corintiano. Não busco imparcialidade, posto que é impossível. Só gostaria de poder traduzir minimamente o que passaria pela cabeça dos rivais em cada situação. Para isso, vou ficar instigando meus amigos bambis e gambás. Já fiz isso dias atrás com Fábio Linjardi, corintiano d'O Diário, de Maringá, onde trabalhei quatro anos. "Roubei" dele a explicação do porque o centenário corintiano começou (e não terminou) agora, dia 1º de setembro. Os caras são muito cara-de-pau. Deixei o santista de fora propositalmente. O Santos é meu segundo time, como, de resto, da maioria dos brasileiros, e nada, nele, me motiva a tirar sarro ou qualquer coisa assim. Bem, vamos ver no que dá.

Trio diabólico

Bracciola chegou ao Bar Celestial espumando.

– Li no JL um cara falando que o centenário do Curíntia começou agora, dia primeiro - ele disse meio que para ninguém, com o bar ainda vazio, enquanto Carlão, o garçom, arrumava as mesas de fora. “Vai ser cara-de-pau assim lá em Itaquera.”

O garçom escutou, mas fingiu que não. Sabia que quando aconteciam essas presepadas, tipo essa, do corintiano, de repente, se dar o direito de inventar um segundo ano para o mesmo centenário, o Bracciola espumava de raiva.

Carlão ficou na dele, espanando a poeira e armando cadeiras, cônscio de que dali a pouco chegariam Luís César e Moitinha, para, então, os endiabrados amigos protagonizarem aquilo a que se habituaram desde que passaram daquela pra melhor.

Sim, caro leitor, são três diabinhos – um são-paulino, um palmeirense, um corintiano. Ao baterem as botas, se encontraram lá em cima e, apesar das diferenças, não se desgrudam. De lá pra cá, se reúnem todo domingo ou segunda ou terça à noite para analisar a rodada do final de semana.

Pode ser o que for: handebol masculino, futsal feminino, basquete, natação no Country, tênis no Canadá, suíço no Iate, mas, evidentemente, curtem mais o tridêntico futebol.

São diabinhos porque não há como esconder os chifrinhos, ainda que incipientes, como um garrote desmamado. Mas eles estão lá, embaixo da boina ou do boné, como prova cabal de que seus donos estão ali, naquele purgatório, à espera do momento de passar pro andar de cima. E não há lugar melhor que o purgatório para se colocar os pingos nos is.

E, meu Deus do céu, como há coisas a serem discutidas. Brasileirão, Sul-Americana, Centenário, Ronaldo Gordo, São Contusão Marcos, Rogério Ceni, Morumbi out, Fielzão/Itaquera, Arena Palestra, Felipão, Renato Gaúcho, Manôôô...

Basquete, F-1 e todas as siglas com que o londrinense, em particular, se habituou desde sempre ou nos últimos anos: LEC, SM, PSTC, VGD, ADL e por aí afora.

Ignorando a sanha censurística juramentada de uns e outros por aí, os diabinhos vão discutir as coisas da cidade, do Brasil e do mundo, de boa. Pra começar, podiam falar de que morreram. Não antes do Moitinha explicar essa de que o centenário começa agora. Cê tá de brincadeira, hein, Moitinha...

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Boa viagem, Oswaldo


O portal Bonde, do qual tunguei a foto acima, noticiou hoje a morte de Oswaldo Bernardes, comerciante de Cornélio Procópio. Oswaldo perdeu o controle do seu Space Fox e deu de cara com uma árvore às margens da BR-369. Nem é preciso dizer por que a morte de Oswaldo virou notícia. Basta ver a foto aí. Deve ter sido uma figuraça. Comentários de internautas ao pé da notícia no Bonde dão conta de que era um suejto divertido praca. Gostaria de tê-lo conhecido. Se há ao menos um pouco de verdade em tudo o que vi ontem à noite no filme "Nosso Lar", então Oswaldo já deve estar distribuindo abraços e algumas broncas por lá. Abraços nos heróis da Taça Rio, broncas em dirigentes como aquele presidente na época da Segunda Academia que tungou aplicações de jogadores como Leão e Ademir da Guia. E deve estar procurando desesperadamente o xará Osvaldo Brandão, para agradecer tudo o que ele fez pelo Verdão e para garantir que a taça que leva o nome dele - instituída para os confrontos entre Palmeiras e Corinthians - ficará, se Deus quiser, na sala de troféus da futura Arena Palestra. Valeu, Oswaldo!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Desculpa aí

(Tungado total do blog do Juca Kfouri; até a foto. Leitura indicada a corintianos obtusos e são-paulinos empedernidos)





Por ROBERTO VIEIRA


7 de setembro de 1965.
O primeiro baile do Mineirão.
O Mineirão inaugurado dois dias antes.
Um baile heterodoxo.
Baile da seleção brasileira diante dos uruguaios.
A multidão aplaude a equipe verde-amarela.
Seleção que normalmente jogava apenas de verde.
A Seleção da Academia.
Pois a seleção brasileira era o time do Palmeiras.
Ironicamente dirigido por um estrangeiro:
O argentino Filpo Nuñes.
Único estrangeiro a dirigir a seleção brasileira.
Os celestes não traziam suas estrelas.
O jovem Pedro Rocha estava de fora.
Cubillas também.
Mas o antigo Palestra trazia uma constelação.
Djalma Santos.
Djalma Dias.
Ademir da Guia.
Rinaldo, o moço de Jurema.
Palmeiras que trazia Julinho Botelho.
Julinho em seu último espetáculo pela seleção.
O jogo foi 3 a 0.
Poderia ter sido de cinco, seis, sete.
Cincunegui, futuro jogador do Atlético-MG e do Náutico.
Não viu a cor da bola.
O arqueiro Taibo foi trocado por Fogni.
Quem sabe o desastre maior seria evitado?
Mas Rinaldo, Tupãzinho e Germano não permitiram.
Um ano depois, a seleção brasileira naufragava na Inglaterra.
Com os uruguaios se perguntando na distancia:
Por que não trouxeram a Academia?