sábado, 24 de setembro de 2011

O astro

(Publicado neste domingo 25/9 no Jornal de Londrina)

Já que o clássico de quarta ficou mesmo no zero a zero e, portanto, ninguém teria motivo para tirar sarro no outro, o são-paulino Luís César resolveu convidar Moitinha, na sexta-feira, para dividir um comercial esperto no restaurante do Danilo, na Pernambuco, ali perto do Terminal. Já passava das duas da tarde, mas o Danilo – pensou – não iria fazer essa desfeita. De qualquer modo, se o almoço já tivesse ido pro beleléu, ofereceria ao colega corintiano a oportunidade de matar dois daqueles bolinhos de carne divinos preparados pela senhora mãe do Danilo.

Antes, passaria no Detran para mudar o endereço no cadastro. Subindo a Sergipe, notou uma das coisas que mais lhe deixa na bronca: agente da CMTU de óculos escuros olhando pro nada e mascando chiclete.

Deu de cara com o Detran fechado e o aviso: horário de atendimento até as 14h. “Fechar às duas da tarde é pra acabá”, pensou Luís César, que ao passar por um shopping ouviu, na TV, a notícia de que um satélite de cinco toneladas, do tamanho de um ônibus, desativado em 2005, iria cair naquele dia na Terra, sem que a Nasa tivesse noção do local da queda. “Ah, essa eu preciso contar pro Moitinha.”

Nisso, Moitinha descia a Minas Gerais, macambúzio e sorumbático por conta da primeira semana do Timão fora da liderança, ainda que o empate com o São Paulo tivesse, pelo menos, evitado a sensação de um desastre.

Mas, na quinta, o Botafogo ganhara do Grêmio, jogando o Timão para quarto lugar. Até o Parmera vencera – 1 a 0 no Ceará, gol contra de Tiago Mathias – após longo e tenebroso inverno, com direito à torcida no Canindé gritando Ão, ão, ão/ Luan é Seleção.

“Era só o que faltava”, pensou Moitinha, indignado, sem se dar conta da ironia dos palmeirenses. “E esse Tiago Mathias... Ajudou a afundar o Londrina em 2004 e agora me faz um gol contra e a favor do Porco”, lembrou. “E o Curingão nessa draga: me perde a liderança, o capitão do time afastado, a Fiel pedindo a cabeça do treinador. O que mais falta acontecer? Um objeto espacial cair em Itaquera?”, ele viajou.

Ao virar a Sergipe, rumo ao restaurante, o corintiano dá de cara com Luís César, que exclama:

­– Moita, preciso te contar uma coisa, você não vai acreditar.

domingo, 18 de setembro de 2011

Dorflex FC


(Publicado neste domingo 18/9 no Jornal de Londrina)

Numa semana em que anunciaram o fim da Recopa Sul Brasileira – o que deixa o Tubarão definitivamente sem calendário no restante do ano – e a dolorida ausência do time de basquete do próximo campeonato da NBB, a única coisa que salvou a lavoura foi a lambreta do Leandro Damião em cima do zagueiro argentino na Superpelada das Américas, quarta-feira, em Córdoba.

Aquela foi de doer. Para o zagueiro argentino, é claro, que, aliás, chama-se... Papa! Deve ter sido a primeira vez que se viu um papa enfezado em público. Emiliano Papa ao menos foi espirituoso. Depois da partida, sobre o que pensava do drible sofrido, disse que primeiro mataria Damião; depois, o aplaudiria.

Dor pra lá, dor pra cá, Bracciola se lembrou do time de coroas que, na década de 90, desfilou seu talento por alguns campos dessa cidade. Depois de arrancar um empate heróico no campo do Santa Mônica e, surpreendemente, ter vencido um time de moleques à noite no esburacado campinho da Vila Brasil, o catadão sucumbiu, em casa, diante de uns malacos que contavam até com um ex-profissional do LEC.

Já no bar, após o jogo duramente disputado, todo mundo reclamava de dores pelo corpo, até que veio à tona um assunto antigo: com qual nome batizariam o time, que já contava com um cartel respeitável. Diante daquele bando de meia-idade enfaixando tornozelos, esparramando merthiolate e distribuindo gelol, alguém matou a charada:

– Dorflex Futebol Clube!

sábado, 10 de setembro de 2011

Greve!


(Publicado neste domingo 11/9 no Jornal de Londrina)

Pra começar, um time que adora jogar pontos preciosos na lata de lixo – como se viu contra Cruzeiro e Atlético-PR. Ainda por cima, o cara ainda é obrigado a ver o maior bambi da história completar mil jogos no Morumbi lotado, numa festança invejável. E, pra completar a desgraça, o Curíntia vira o jogo pra cima do Flamengo e sacramenta a liderança.

“Nossa Senhora do Chuveiro Elétrico”, pensou Bracciola após a rodada de meio de semana, “dai-me resistência para agüentar uma situação dessas”. Foi daí que, talvez evocando os anarquistas italianos do século passado, nosso amigo palmeirense decretou greve – dele para com o futebol.

Na falta de um Tubarão no Estádio do Café, programou o final de semana apenas com cinema. Veria “O Homem do Futuro” no Catuaí e “A Árvore da Vida” no Com-Tour. Nem daria bola para o jogo com o Inter. Não queria ver o Parmera descartando coringa mais uma vez.

Tragédia por tragédia, veio à mente o 11 de setembro, que completa 10 anos hoje. Lembrou de tudo que fizera naquele dia. Era uma segunda-feira. Às oito e pouco da manhã, foi ao Centro Comercial tomar café. Viu ao vivo, pela tevê, o segundo avião de Bin Laden adentrar a torre sul do WTC e, a partir de então, o mundo inteiro teve a certeza de que o primeiro choque, na torre norte, minutos antes, não havia sido um mero acidente aéreo, e sim o maior ataque terrorista da história.

O final daquela noite e a madrugada do dia seguinte Bracciola passou no 14º andar de um edifício defronte o cemitério São Pedro. Estava ali numa missão kamikase: cair matando em cima da moradora, uma morena clara de vinte e poucos anos que, naquela época, mesmo com roupa e tudo, representava um atentado público ao pudor – especialmente para quem freqüentava o Bar Brasil ou o antigo Valentino.

Tanto fez o nosso amigo que lá pelas tantas a garota cedeu e então, ali, sob o chuveiro, já nas primeiras carícias, se fosse possível que algo desviasse sua atenção, não seria, por mais trágico que tenha sido, o ataque às torres gêmeas.

Embora improvável, seria mais fácil a Bracciola lembrar do desfecho da velha piada do palmeirense que, indignado com a esposa reclamona, seguiu a recomendação de um amigo e, na hora de ir pro estádio, para não ouvir o chororô de sempre, pegou a patroa, colocou-a de bruços no colo e, quando preparou a palmada, olhou aquilo tudo e vaticinou:

– Que futebol que nada...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Presidente


(Publicado neste domingo 4/9 no Jornal de Londrina)

De humor supostamente restabelecido após a vitória do meio de semana diante do Grêmio, que aplacou a chateação pela derrota de domingo para o Parmera, em Presidente Prudente, Moitinha convocou os dois inseparáveis amigos, na sexta-feira, para a reunião do Clube dos Corintianos de Londrina, que pretendia lotar as dependências do Fábrica 1, ali perto do Igapó.

Encontrou Bracciola e Luís César sinucando na Sexta Sem Freio, no Bar do Jota. Com uma garrafa de cerveja cheia nas mãos, chegou de boa, reforçando o convite com estranha serenidade.

– E daí, vamos lá dar um abraço no novo presidente?

Bracciola, que deixara de ir a Prudente para testemunhar o título do Tubarão no Estádio do Café, num sol de rachar mamona, foi o primeiro a se manifestar. Jogou verde para colher maduro.

– Depende. Quem é o presidente?

– Vão empossar o Naym Libos.

– Aquele turco lazarento? Sei não. Presidente, mesmo, eu gosto é daquele outro...

– Quem?

– O Prudente. Presidente Prudente. Esse é bão.

A tirada quase tirou Moitinha do sério.

– De que adiantou ocêis ganhá? O Timão continuou líder e ocêis, ó, lá embaixo...

Moitinha logo viu que daquele mato não sairia coelho e, para não perder a esportiva, vazou pra casa a fim de tomar uma ducha e escolher a indumentária com a qual iria ao jantar que, além da possa da nova diretoria, comemoraria os 101 anos do Timão. Com boné ou sem boné? Camisa ou aquele agasalho chinfroso da Gaviões? Na dúvida, vestiu todos.

Tomou trocentos chopes e ontem à tarde, enquanto matava a ressaca no Bar do Lucílio, num estalo, lembrou de um certo carro preto passando perto do Fábrica 1 com o som no último tocando o hino do Parmera, e aquele bando de gaviões em polvorosa.

– Será que eu sonhei? - pensou o corintiano, observando a chegada de Bracciola com um sorriso sarcástico no canto da boca.