quinta-feira, 28 de abril de 2011

Sessenta e nove. Bem gostoso!



- Hoje eu faço 69 anos.


Foi o que ouvi da excelentíssima senhora minha mãe dona Maura agora há pouco, por volta das 7h45, enquanto comia, com muita manteiga, o segundo dos cinco pães que eu buscara no sacolão do Télcio, no quarteirão de casa, em Guará.

Surpresa total, porque não lembro de ter tido, nos meus 45 anos de vida, a informação de que minha mãe, na verdade, não nascera no dia 12 de junho, e sim no dia 28 de abril, e fora registrada um mês e duas semanas depois.

A 80 e poucas horas de enfrentarmos o Corinthians pela semifinal do Paulistão, não poderia deixar de relacionar o acontecimento desta manhã ao futebol. Maura Cherutti - que viria a ser Fischer - nasceu em 1942, cinco meses antes da Arrancada Heróica, como ficou conhecida a data em que o Palestra Itália jogou, pela primeira vez, com o nome de Sociedade Esportiva Palmeiras.

Minha mãe talvez estivesse rindo das galinhas ou comendo uma porção de barro na Grota, onde nasceu a grande maioria de seus dez irmãos, quando o Palestra - com novo nome, por conta da Segunda Guerra - entrou em campo, no Pacaembu, empunhando a bandeira do Brasil, para enfrentar o São Paulo na decisão do título daquele ano.

Para driblar perseguições contra entidades nacionais de alguma forma ligadas aos países do Eixo, o Palestra foi obrigado a mudar de nome. E quis o destino que a primeira partida do Palmeiras fosse na decisão do título contra o São Paulo, o clube que, sem estádio, aos sete anos de idade, fez olho grande pra cima do Parque Antártica. Bens de italianos e alemães estavam sendo confiscados - então por que não tomar o campo da italianada na mão grande?

O time entrou em campo carregando a bandeira do Brasil e enfiou 3 a 1 no São Paulo, que fugiu de campo no segundo tempo. O Palestra liderava o campeonato. Morreu líder. E o Palmeiras nascia campeão. "Arrancada Heróica de 1942" é o nome de uma passarela sobre a avenida Antártica, na zona oeste de São Paulo.

Em 1993, eu já estava em Londrina, havia nove anos. Tinha passado no vestibular da UEL em 1984, já tinha concluído o curso e trabalhava na Folha. Tinha 27 anos e nunca tinha visto o Palmeiras ser campeão. Veio a decisão contra o Corinthians. Na primeira partida, 1 a 0 pra eles, gol de Viola, que escorou uma bola que passaria perto da trave direita de Sérgio e, ao cair no chão, chafurdou no gramado feito um porco.

O segundo e decisivo jogo seria no outro sábado. 12 de junho. Dia dos namorados. Aniversário da dona Maura. No meio da semana, nos conversamos por telefone. Ela perguntou se eu iria pra Guará para o aniversário dela. Disse que estava difícil, por causa do trabalho, coisa e tal, mas queria, na verdade, era ver o jogo em casa, sozinho, com medo de levar uma bucha.

- Se você não vier, o Palmeiras vai perder.

E eu lá sou de enfrentar praga de mãe? Fui correndo para Guará e, lá, participei da carreata do título, depois dos 4 a 0 no Curíntia, 3 a 0 no tempo normal e 1 a 0 - Evair, de pênalti - na prorrogação. No Morumbi, que os bambis construíram depois com dinheiro do governo de São Paulo.

Em Guará desde o feriadão da Semana Santa, tive propostas festivas - uma bem atraente, por sinal - para voltar a Londrina no decorrer desta semana. Mas, diante da expectativa de enfrentar o Corinthians neste domingo, acho melhor ficar por aqui, na miúda, quietinho, debaixo da saia da minha mãe.




terça-feira, 26 de abril de 2011

Nóis em Sampa





Com absurdo atraso, culpa da falta de tempo com uma boa dose de preguiça, eis fotos de São Paulo no período do último Carnaval. Liguei para o Marquinho Bico-Doce, o jornalista mais talentoso da Barreirinha, dizendo que iria para Sampa no sábado. Ele, que agendara viagem pra Buenos Aires, colocou à disposição o apê na praça Benedito Calixto. Daí chamei meu irmão, que não teria muito o que fazer em Guará. Ele avisou o Toninho, amigo nosso de infância, que se mandou para São Paulo junto com quatro ou cinco irmãos e hoje domina o pedaço ali no Jaguaré. Toninho nos cieroneou o tempo todo. Foi conosco ao Pacaembu ver Palmeiras x Santo André. Corintiano, ficou rindo por dentro diante do futebol caótico apresentado pelo time de Felipão, que estava sem Kléber e Valdívia. Um zero a zero de doer. Quando chegamos, o placar eletrônico anunciava as escalações e, diante da ausência do Mago, propus a eles que vazássemos dali, embora tivéssemos pago quarenta paus cada ingresso e tivéssemos enfrentado fila debaixo de chuva, com o argumento de que, sem a dupla, o jogo seria de matar. E não deu outra. Passei o tempo todo pendurado naquele alambrado ali da foto xingando o tal de Adriano Michael Jackson, o atacante mais inútil que apareceu na face da Terra desde 1500. Faça-se justiça: fez aquele gol no empate com o São Paulo, e só. Enfim, no sábado mesmo, antes do jogo, pegamos a Sumaré e fomos a pé de Pinheiros até o Palestra, dar uma espiada no estádio já demolido. Almoçamos na lanchonete em frente e fomos a pé até o CT. A portaria não nos deixou entrar. No domingo, voltamos ao Pacaembu para ver o Museu do Futebol. Legal. Na segunda, zanzamos pelo centro. Toninho nos levou a uma churrascaria de grã-finos, e pagou a conta. Disse que da próxima vez vai nos levar a uma outra, mais chique ainda - não vou lembrar o nome de nenhuma. Pré-combinamos de nos reencontrarmos em São Paulo no dia do jogo do Gordo, em junho. Vamos ver se rola.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A risada do Gal

(Publicado dia 13 de abril no Jornal de Londrina) De uma talagada só, Moitinha emborcou a pinga com carqueja que pedira ao Tio Mário para lubrificar as ideias e, com isso, começar a relatar os causos com os quais abriria a série “Histórias do VGD” no Bar Celestial. Os três diabinhos haviam acertado que cada um procuraria lembrar de passagens engraçadas, ou pelo menos puxando mais pelo humor, porque – vamos combinar – de tristeza basta aquele que foi justamente o último jogo do LEC, em junho do ano passado. Verdade que o palco era o Café, mas convenhamos: perder do São José, pela Segundona, em casa, por 2 a 1, de virada, com dois homens a mais, o adversário com jogador de linha no gol, quando o empate bastava... Aí é demais! O Zé Lanches falando cobras e lagartos pros dirigentes, a Falange se posicionando para “recepcionar” os jogadores... Deus nos livre! Terminado o melancólico flashback, Moitinha pediu a palavra para contar histórias do VGD, um dos maiores patrimônios culturais da cidade, hoje abandonado, interditado e com futuro incerto. O corintiano então lembrou de um episódio com a turma do antigo amadorzão da cidade, gente que jogou no Corintinha, no Quarteirão e outros times das décadas de 60, 70. No intervalo de um jogo do LEC, todos se dirigem ao bar da curva. Entre eles, Lelei, filho do Tio Mário, craque de bola. E o Galdino, negão cuja risada acorda até defunto. Ninguém fica impassível diante de uma gargalhada do Nego Gal. – Todo mundo ali, lembrando dos feitos daquela época, coisa e tal, até que o Lacerdão, um zagueiro muito meia-boca, grita no meio da galera, forçando a amizade: “E aí, Lelei, a gente jogava muito, hein”. Silêncio geral por uns segundos, até que o Nego Gal solta aquela gargalhada e todo mundo explode na risada. Luís César avisa: a próxima é dele.

Cheque pré



Não sei se vai dar pra ver direito, mas reproduzo conteúdo de e-mail enviado pela Cris, uma grande amiga de Ituverava, cidade vizinha a Guará onde nasceram, entre outros ilustres, Vitor Martins (parceiro de Ivan Lins), Gustavo Borges e Marcelo Tas. Realmente é hilária a criatividade do povo. Beijão, Cris.




LEC-VGD, 55

(Publicado dia 6 de abril no Jornal de Londrina À espera de Moitinha, ontem à noite, no Bar Celestial, Bracciola tentava convencer Luís César da teoria segundo a qual o Palmeiras é uma espécie de guardião do Santos Futebol Clube. Desde priscas eras, dizia o palmeirense, sempre que precisa levar uns cascudos para se aprumar, o Peixe perde do Verdão, nem que tenha mais time e o palco seja a Vila Belmiro, como, aliás, aconteceu no domingo. – O Parmera é o único que sempre encarou o Santos de igual para igual, com Pelé e tudo. Desta vez não teve Neymar nem Ganso. Teve Gladiador. É bem capaz do Santos, agora, se recuperar na Libertadores. Só sei que na Vila, mermão, são 40 vitórias do Verdão contra 36 do Santos. Na Vila, entendeu, bambi? Ou tem que desenhar? Luís César deu de ombros. – Lá vem o porquinho de novo falando em década de 50, 60. Futebol, pra mim, começou com Telê Santana, Zetti e Raí. O resto é museu. Bracciola preparava o contra-ataque quando Moitinha chegou, com largo sorriso. Nem parecia que o Curíntia tropeçara no Botafogo de Ribeirão e ficara longe da liderança do Paulistão. Soltou um “e aí, moçada?” geral, pediu copo, uma ceva trincando e propôs um brinde. – Brinde a quê, Moita? – Não sabem que dia é hoje? – Terça-feira, uai. – Cinco de abril, aniversário do Tubarão, 55 anos! – Viva o Tuba, então! – Viva! Até o tio Mário, circunspecto, mas sempre de orelha em pé, esboçou um sorriso. Ele que, em 1956, recém-chegado do Rio, viu a fundação do LEC em abril e a inauguração oficial do VGD em junho. Ele que viu Alaor, Gauchinho, Garcia em campo. Ele que afundou o chão rente ao alambrado acompanhando o vaivém do seu Corintinha. Sempre na linha da bola, sabia quando era impedimento pra cá ou pra lá. LEC e VGD. O time, agora, está na segunda divisão do Paranaense, na Série D do Brasileiro. O estádio, devolvido à prefeitura, interditado pela Federação, corre risco de virar estacionamento, shopping center ou qualquer coisa que o mercado imobiliário imaginar. Luís César disse que tinha boas histórias pra contar sobre o velho Vitorino. Bracciola sugeriu que cada um lembrasse alguma. Moitinha disse que falaria primeiro. – Tio Mário, vê uma aí com carqueja para lubrificar as ideias.

sábado, 2 de abril de 2011

Como desembaraçar o texto?

De umas semanas para cá, sempre que post algum texto, sai desse jeito aí, ó, aí embaixo, tudo empaçocado. Cheguei a deletar post e repostar texto, com espaçamento entre parágrafos, e nada. Recorri ao bloco de nota - e nada. Alguém aí sabe o que fazer? Terá algo a ver com suposta nova versão do blogspot, que eu ignorei?

Tem troco?

Luís César desceu a Maranhão e, da calçada oposta, olhou de soslaio para o Bar do Adriano. Viu Bracciola de costas para a rua, mas nada do Moitinha. Sem ele, não teria graça. Afinal, como prescindir dele depois do 100º gol de Rogério Ceni no clássico em que o Curíntia perdeu uma invencibilidade de quatro anos sobre o São Paulo e viu a liderança do Paulistão cair no colo do... Parmera? Não, sem ele não teria graça. E mais: não ficaria esperando o colega. Entraria no bar depois dele. Queria uma entrada triunfal, à la Rogério Ceni. Escondeu-se numa árvore aguardando a passagem do corintiano, que pode ter muitos defeitos, mas não iria quebrar a regra. Logo Moitinha passou. Luís César esperou uns segundos, ajeitou o cabelo (coisa de são-paulino, saca?), respirou fundo, estufou o peito e adentrou o bar de braços abertos, mirando seu infortunado colega. – Meu gambazinho preferido! Que saudade! – Fala, bambi. E não vem não: saudade eu tô é da Tereza, lá do Gavetti. Ato contínuo, começaram os gracejos. Luís César atacava sem dó nem piedade. Moitinha ora rebatia aos gritos ora apenas grunhia, resignado. Para amenizar o massacre, deixou a mesa e pulou pra trás do balcão, sinalizando que iria ajudar Adriano a servir Pek, Bado, Jovaine e ilustríssima companhia limitada. O são-paulino falava de boca cheia, para quem quisesse ouvir: – Que jogador, que jogador. Todos têm goleiro. Só nós temos Rogério. Cem gols. E goleiro, hein... Cem gols! Até então escanteado, Bracciola entrou na conversa. – Só? Pouco. Catorze anos titular absoluto, tinha que ter feito uns 200 só de pênalti. – Ah, tá. Façanha única, seu invejoso. Maior goleiro-artilheiro de todos os tempos. Na função dele, foi melhor que Pelé. Daqui a pouco você vai dizer que nem bom goleiro ele é. – Bom, não; ótimo. Ótimo pra ficar na reserva do Marcão. Lembra da Copa? – Seu porco imun... Nem deu tempo para Luís César xingar o palmeirense. Um bebum do pedaço, com intenção de matar uma ou duas branquinhas, no máximo, aproximou-se de Moitinha, que, num primeiro momento, até gostou, porque, enfim, se livrava daquele converseiro irritante. O rapaz mostrou uma nota e perguntou: – Tem troco para 100?