domingo, 28 de agosto de 2011

Ao Café. Ou ao Prudentão?


(Publicado no domingo 28/8 no Jornal de Londrina)

Mais do que qualquer teste ergométrico, análise laboratorial ou terapia complementar, o melhor indicativo para alguém avaliar seu condicionamento físico é cortar as unhas do pé. É o meio mais eficaz para se saber se está com umas gordurinhas a mais ou está precisando de umas sessões de alongamento. Basta registrar o nível de gemidos em cada operação.


Há um pé em que fica mais confortável cortas as unhas do que o outro. No caso de um certo palmeirense, o esquerdo é praticamente uma moleza. Tirando o mindinho, que sempre arranca um leve suspiro, os outros ele corta de boa. Já no pé direito é um inferno. No dedão e no “indicador”, vá lá, a missão é cumprida com razoável facilidade. Mas passou dali a tarefa tende a ficar inglória.

O diabo é que, no curvar-se, o joelho chega a bater no queixo e, a partir daí, alcançar os últimos três dedos do pé direito faz o nosso amigo arfar como um vira-lata sedento e, sobretudo, lembrar de que há meses prometera a si mesmo começar a malhar naquela academia do San Fernando.

Sentado na soleira da porta, já recolhendo as lascas de unha espalhadas ao redor, Bracciola é interpelado pelo Moitinha, que adentrou a casa sem cerimônia.

– E daí, porquinho... Prudentão ou Café? Quer ver o título do Londrina ou o título do Curíntia?

– Que mané título, rapá. O Tuba vai só empatar dessa vez, para ganhar na quarta-feira. Por que ganhar agora, se pode ter duas rendas boas? E o Gladiador, só de raiva, vai meter três na gambazada, que nem o Obina e o Magrão. Lembra do Magrão?

– Gladiador, Gladiador... Hum... Por acaso é aquele que assinou ficha na Gaviões?

Bracciola ia empinar a carroça quando Luís César chegou botando ordem na casa.

– Parem com isso. Lá do Bar do Siroco tá dando pra ouvir esse bate-boca. Vamos todos pro Estádio do Café. E ponto final.

Silêncio. Dez segundos depois, Moitinha recomeçou:

– Tá bom, mas eu fico do lado da Falange e você fica lá na curva do autódromo.

– Ah, pensei que você ia ficar na cativa, junto dos almofadinhas, que nem o Paçoca.

– Cada gol do Curingão eu mando um torpedinho procê.

– E cada gol do Verdão eu faço um sinalzinho bacana de lá.

Esse domingo, pelo jeito, vai ser de pelar o sabugo.

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Quadros

(Publicado neste domingo 21/8 no Jornal de Londrina)

Bracciola deveria ter desconfiado que, apesar do barril e meio de cerveja, Major falava sério quando o chamou para a ponta do balcão e ali, no tête-à-tête, diante da Mara, que deixara a cozinha só para ouvi-lo, sugeriu que trouxessem os primeiros quadros para começar a encher o Bar Brasil com fotos de times de futebol.

A proposta – alegou o proponente – era de uma obviedade ululante: sendo aquele um tradicional reduto de torcedores em dias de jogos pela TV, nada melhor, portanto, que o espaço interno do dito cujo exibisse imagens de todos os times, de todas as cores, de todas as torcidas.

A proposta, contudo, parecia fadada ao esquecimento (afinal, cobrar o que da memória após três ou quatro horas ininterruptas num balcão de bar?), até que, dias depois, Bracciola reapareceu por lá e logo observou, na parede próxima à janela da Hugo Cabral, de onde se avista o velho DCE, um quadro do Santos Futebol Clube.

Sim, o Major – certamente inebriado pelo recente tri na Libertadores – tomara a iniciativa e, para tripudiar, veio logo com a melhor escalação da história do Santos, com o Negão e companhia limitada. Detalhe: a foto traz a assinatura de cada um dos jogadores, uma relíquia cujo original deve estar guardado a sete chaves na casa do dono.

O troco veio na mesma moeda. Dias depois, Bracciola entregou a Mara um quadro da Seleção Brasileira. Mara passou a procurar um lugar para o novo hóspede, sem se atinar que, na verdade, tratava-se do time do Palmeiras envergando a amarelinha – do roupeiro ao ponta-esquerda – para enfrentar o Uruguai na inauguração do Mineirão, no feriado de 7 de setembro de 1965.

Mara estacionou o quadro numa estante balcão adentro, de modo que o melhor Santos da história (Gilmar; Lima, Mauro e Dalmo; Zito e Calvet; Dorval, Mengálvio, Coutinho, Pelé e Pepe) está cara a cara com o melhor Palmeiras de todos os tempos (Valdir de Moraes; Djalma Santos, Djalma Dias, Valdemar Carabina e Ferrari; Dudu e Ademir da Guia; Julinho Botelho, Rinaldo, Servílio e Tupãzinho).

Para incrementar a iniciativa, Major disse que vai armar um esquema para que Carlos Alberto Garcia, Neneca e Marinho apareçam por lá, para que levem sua foto preferida e, claro, confraternizem com a galera.

Por via das dúvidas, Lourival já pensa em ampliar o estoque de cerveja.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Tubarão

Na semana em que o Londrina ficou sem jogar por conta da liminar do TJD que barrou o início das semifinais da Segundona, Bracciola ficou absurdado com a notícia – o fato aconteceu no mesmo dia da decisão judicial – de que um tubarão foi encontrado numa floresta dos EUA, a pelo menos uma hora de distância do litoral.


É certo que, tirante a maioria cristã e alguns paus d’água, New Hampshire não tem nada a ver com o Paraná. Mas a imagem do tubarão, mortinho da silva, estirado entre as árvores da cidade de Milton, todo azulado e, portanto, alviceleste como o nosso, perturbou a cabeça de Bracciola.

Inebriado pelos três shows a que assistiu no Festival de Blues que agitou o Valentino, o nosso amigo – dizem as más línguas – até teria tentado tirar uma chinfra de compositor, cometendo alguns versos ao imaginar como teria sido a viagem do tubarão, do mar até a floresta.

Quem ou o que, afinal, teria transportado um baita animal daqueles por pelo menos 80 km? Teria ele viajado a bordo de algum ciclone extratropical? Teria pegado carona em algum tornado impertinente? Teria sido capturado por um bando de adolescentes que achavam que ele poderia sobreviver na piscina da vizinha?

Ou teria ele ido para a rodovia e, tal qual o nosso Tubarão, na definição do filósofo Jefinho, ao invés de pegar a estrada principal foi se aventurando pelos carreadores da vida, sempre tomando o caminho mais difícil, até topar com um ignorante bêbado? Mesmo que rendesse uma letra de blues, dificilmente passaria pelo crivo de um Mindelis, um Cristovan e, muito menos, de um Jozzolino.

Bracciola ainda pensava na tragédia tubarônica quando topou com o Pinduca, em frente às obras do Calçadão. Nego fino, liso, extrovertido, falador, tapeceiro no Ilda Mandarino, passista de primeira, beque pra lá de viril nos tempos do amadorzão, Pinduca, após os cumprimentos de praxe, foi logo interpelando:

– E a bola?

– Óóóó - respondeu Bracciola, unindo o polegar com o indicador.

– A gente vai ficando velho mesmo. Beleza. Dá um abraço no pessoal. Tem visto o Apolo, o Lelei?

– De vez em quando. Mais o Bado, que trabalha ali no Centro Comercial.

– Maravilha, bro. Fica com Deus.

E cada um foi para um lado, com Bracciola ainda encafifado: como é que aquele tubarão foi parar no meio da floresta?

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Virada

(Publicado nesta sexta-feira 05/08 no Jornal de Londrina)
A terceira edição da Sexta Sem Freio – reunião de amigos em torno da mesa de sinuca no Bar do Jota, lembrando a famosa Quinta Sem Lei, que durante anos movimentou o balcão norte do Bar Brasil – teve o domínio amplo, geral e irrestrito de Paulinho Pára-Choque, que mais parecia a Carroça Desembestada do Ceará, atropelando quem viesse pela frente.

A primeira partida ele perdeu pra Bracciola que depois levou uma catracada do Véio do Rio que perdeu pro Pára-Choque que não perdeu pra mais ninguém. Com uma sequência irritante de finas impecáveis e vários imponderêibols on the teibôls, aqueles em que a bola que deveria cair ali acabou caindo lá, o são-paulino arrasou a todos – era uma “nega” atrás da outra.

A última vítima foi Armandowski, que na semana anterior faltara à reunião sinuquística por conta de um compromisso familiar e, desta vez, atrasou-se em nome de um compromisso profissional. Bracciola aproveitou a deixa para soltar todos os cachorros possíveis.

– Fecharam a Shirogohan, mandaram a Sauna Igapó pra Ibiporã, proibiram cerveja no estádio e agora vem você trocando a sinuca com os amigos por aniversário de criança e, pior, por trabalho atrasado? Assim não dá, assim não dá... Mais uma dessa e a gente arruma um jeito de te nomear secretário do Barbosa. Sem habeas corpus. Aí você vai ver o que é bom pra tosse.

A ameaça cabeluda não surtiu o efeito desejado, de levantar os brios de Armandowski. No final, mais uma vitória de Paulinho Pára-Choque, que, assim, deu prosseguimento à série de viradas históricas que começou na quarta-feira com o Flamengo do Dentuço pra cima do Santos de Neymar, continuou no domingo com a sapecada do “rebaixado” Avaí pra cima do líder Corinthians e culminou, na segunda-feira, com a punição ao Foz que jogou o Nacional de Rolândia no colo do Londrina na semifinal que apontará um dos classificados para a primeira divisão do ano que vem.

No happy hour de ontem, no Bar Celestial, Bracciola, Luís César e Moitinha combinaram que estarão no Erick George domingo. Nesse mata-mata, o Tuba sai com um ponto à frente, por ter conquistado o primeiro turno. Logo, se vencer o primeiro jogo, já leva a vaga. O que ninguém quer é uma nova virada. Agora não.