quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

No salão do Jurandir


Pra começar bem o ano, dei aquela tosada na juba. Cortei menos do que eu queria, influenciado pelo meu pai, que sugeriu: "Corta só as pontas". Meu pai sempre gostou do cabelo meu e do meu irmão compridos. Desde criancinha. Sempre achava imprópria a hora de cortar. Que ainda era cedo. Enfim, como não sou mais criancinha, me dirigi ao salão do Jurandir pontualmente às 15h30. Antigamente era por ordem de chegada; hoje é com hora marcada. Assim como no primeiro semestre, quando tinha cortado cabelo pela última vez, seo Horácio ficou na espera. Se coincidências forem bons prenúncios de ano novo, então comecei bem.


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Barbearia, sabe como é, é lugar de converseiro. No salão do Jurandir reúnem-se as línguas mais afiadas do oeste - a do dono, inclusive. Desta vez, porém, o clima estava ameno. Quando cheguei, o cara que estava na cadeira ficou praticamente mudo. O Horário também não é de jogar conversa fora. O jeito foi ficar urubuservando, e arriscando algum papo com o Jurandir.


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No salão, de uns 20 metros quadrados, chamam a atenção algumas fotos de família, duas ou três flâmulas (argh!) do São Paulo, uma velha Frigidaire vermelha do tamanho do Maguila e um pequeno cartaz, ao lado do espelho, com os seguintes dizeres: "Salão do Jurandir. Sensacional promoção. Corte o cabelo aqui e concorra a uma viagem a pé para o Beto Carreiro World com direito a dois acompanhantes".


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Já tinha passado o olho no caderno de esportes do Agora - o matutino que substituiu o Jornal da Tarde e o Notícias Populares - quando vi uma pilha de revistas na parte de baixo da bancada do espelho. Me dirigi à pequena montanha com a esperança de encontrar alguma coisa que presta. Doce ilusão. Só tinha umas Vejas antigas e coisas assim. Comentei com o Jura sobre um sofá que ele tinha no antigo salão, que ficava ainda mais perto de casa. Era uma estrutura de madeira com umas almofadas. Havia um gavetão onde encontrávamos, discretamente, revistas de mulher pelada. Era preciso atingir determinada idade e, sobretudo, um grau de liberdade com o Jurandir para se ter acesso àquelas preciosidades. Havia um outro montinho, mais escondido, com as revistinhas de catecismo - as mais almejadas, mas de acesso muito mais restrito.


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Aproveitando a deixa, Jura lembrou de uma história pessoal. Naquele tempo, coisa de 30, 35 anos atrás, ele tinha ido a Ituverava - terra de Gustavo Borges, Marcelo Tas, Vitor Martins, então comarca de Guará - para levar documentos ao INSS. Estavam todos num envelope amarelo, dos Correios, quando Jurandir, aos 48 do segundo, antes de entregá-lo à funcionária, resolve dar uma última olhada e, embaixo de toda a papelada, puxa uma capa de revistinha de catecismo - daquelas, explícitas ao extremo, boca naquilo. "Que alívio", contou Jurandir. "Naquele tempo, a mulher do INSS certamente teria chamado a polícia."


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Dei a vez ao Horácio e segui para casa, ainda imaginando a cara da funcionária do INSS se a história tivesse sido outra.

Que venha 2010

Meus amigos e minhas amigas, eu diria, plagiando um soturno senhor de bigode proeminente, desejo a todos um grande 2010.

O que interessa mesmo é termos força, disposição, tutano, alegria, para encararmos o que vem pela frente.

E, aos 44 anos, acredito que a vida já me deu mostras suficientes de que, a rigor, tudo isso concentra-se numa palavrinha que a maioria de nós, até o frescor dos vinte e poucos, sempre considerou careta: SAÚDE.

É isso que desejo a todos.

Muita SAÚDE.

Até porque dinheiro, depois do sorteio da Mega-Sena de hoje à noite, não será mais problema – pelo menos para mim.

Abraço para eles, beijo para elas.

Rogério Fischer

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Valdivino


Ele primeiro foi Toquinho, mas quatro meses depois foi solenemente batizado de Valdivino F... Não, não posso dar o nome completo, sob pena de enfrentar eventual ação judicial. Sim, porque ele tem nome e sobrenome, com os quais meu irmão “homenageou” um cidadão que lhe um calote de alguns milhares de reais.

Filho de Ferrugem com Bolinha, Valdivino nasceu no sítio do meu vô, no Barro Preto, em Guará. É descendente de um caldeirão inominável de raça. É o vira-latas por excelência. Tem o corpo alongado, estilo salsichão. As pernas são pequenas e grossas, para suportar o peso de um corpo atarracado, e as patas grandes, de cachorro de roça.

Vingou porque nasceu macho. A ninhada de Ferrugem e Bolinha veio com três machos e duas fêmeas e, segundo antigo e cruel costume que ainda reina em muitos rincões, as fêmeas foram parar em algum canto de algum brejo logo no primeiro dia de vida. Dos três machinhos, minha tia Ciló pegou um e, já vislumbrando o jeitão do cara, chamou-o de Toquinho.

Quando Luís Henrique foi aventurar-se no Prata, Minas Gerais, onde abriu uma filial da Fischer Fértil, levou o cão e passou a chamá-lo de Valdivino. Tem uns quatro anos de idade. Desde que meu irmão voltou de Minas, ambos moram na casa dos meus pais, em Guará. Do meu tio João Luís, que criou o pai dele no sítio, meu irmão e eu herdamos o costume de, brincando, judiar dos nossos cachorros, muitas vezes dando uns beliscões na virilha para azucriná-los.

Pois Valdivino criou um método de defesa. Logo que a gente chega com cara de poucos amigos, ele se prepara para chorar ao menor toque. Relou nele, o bicho estrila. Foi a maneira que criou para combater nossas crueldades. De bobo, Valdivino não tem nada.

Toda manhã abrem para ele o portão da casa para aquela voltinha matinal. Retorna depois de uns 40 minutos – algumas vezes, bastante sujo, posto que mete-se por córregos e terrenos baldios. Não sabemos se já cruzou ou não – até agora, pelo menos, nenhuma cadela apareceu reivindicando pensão alimentícia.

terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Terça-feira...

(ATUALIZADO)
Ao que parece, será um final de ano chuvoso por estas bandas. Desde ontem, uma frente fria estacionou por aqui. Chove a cada 20 minutos. Para, faz um solzinho e o céu desaba de novo. Pior é quando fica aquela garoinha, aquela chuvinha de molhar bobo, que não te deixa ir na esquina. O que aconteceu há cinco minutos foi hilário. Olhei na janela e o sol brilhava. Pensei: "Vou arriscar, vou calçar o tênis e caminhar; faço o diário à noite". Dei o comando de desligar e, antes do computador apagar, já estava chovendo de novo. Sol com chuva, casamento de viúva. Chuva com sol, casamento de espanhol. Então tá, vamos escrever, né...


Antes de ligar o computador, estava na casa da vó - pra variar... Passo lá todo santo dia. Fico sabendo dos planos da Ciló para o almoço de Ano Novo - santo compromisso de todo ano. João Luís encomendou dois pernis, de uns quatro quilos cada. Ciló matou dois frangos hoje, mata mais dois amanhã. Isso porque estaremos, ao todo, em 12 pessoas. Enfim, aquela comilança de sempre. Frango caipira de molho, pernil assado, arroz branco, arroz temperado, polenta. E sorvete de sobremesa. *** Disse a Ciló que nunca comi frango caipira assado. Ela disse então que fará dois dos quatro assados na panela, recheados. Desculpa aí hein... Mas aqui é assim.

Antes de passar na vó, levei minha mãe pra comprar uns breguetes e, no caminho, passei na lotérica para concorrer aos 100 milhões da Mega. Fila infernal. Quando cheguei na boca do caixa, uma mulher com jeitão de louquinha me bate no ombro e pede pra passar na frente. "Vai, né?", disse. "Quem esperou uma hora espera uma hora e dez." Fiz cinco apostas: três escolhendo os números, duas surpresinhas. Se eu não aparecer em Londrina no dia 10, fiquei louco ou ganhei na loteria.
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Edna Mendes me acha no gmail e batemos papo. Está em Ribeirão Preto, no apê do namorado, Lúcio "Passageiro da Garcia" Flávio. Combinamos de nos ver no sábado, quando sigo para Ibitinga para buscar a Natália. Por e-mail, intimei Zé Luís, da EPTV, a confraternizar conosco. E tem meu primo Carlinho, que deve ceder um quarto de um de seus motéis para eu desmaiar de bêbado. Daí, acordo no domingo e sigo para Ibitinga. Essa terra é boa demais. *** Meu irmão me intima para caminharmos. Digo que o tempo não é confiável. Ele insiste. Bem, vamos nessa. Não somos de açúcar. Nem bâmbis. Aqui em casa, só porco. Chuva, lama, porco. Tá tudo certo. Vamos passar no Geraldinho do Budú e conseguir uma bola. Só caminhar e correr é um saco. Batendo uma bolinha, ajuda.
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Deu tudo certo. Não choveu mais. Trotamos em volta do campo, batemos uma bolinha, suamos um pouco. Maravilha.
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Agora de noite, durante a janta, aparece o som inconfundível do zabumba. São eles! É a folia de Reis. Estão na varanda da casa dos Moreira. Até dia 6, Dia de Reis, devem aparecer mais folias por aqui. Tem gente que gosta, abre a porta para eles. Tem gente que gosta, mas prefere ouvi-los no vizinho. Quando entram na casa, geralmente comem e bebem à vontade. Já os vi em casa, mas faz muito tempo.

De manhã, descamei uma tilápia recém-descongelada enquanto minha mãe lavava roupa. As escamas não são nada; o foda é cortar as nadadeiras. Para quem não tem muito jeito pra coisa, é um terror. Come-mo-lo agora à noite. Bão pra carai. Saiu da represa do Maurinho Takahashi. Tem outro no freezer, ao lado de um matrinchã que veio da represa do Joãozinho Bim, na Grota. Caramba, grafei inicialmente com ch, fui dar uma gulgada e tem dos dois jeitos, com ch e x, mais ou menos meio a meio. Socorro, como é que escreve matrinxã? Aurelinho, tu, que pescaste em Ayolas, tens a palavra!

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Sessão macabra: em Guará, uma garota de 21 anos matou o pai enquanto ele dormia e enterrou o corpo no quintal. Alegou que o cara a molestava. Ou tentara molestar, coisa assim. Quando voltava ontem à noite da caminhada, topei com um carro da reportagem da EPTV nos arredores da delegacia. Chegando em casa, minha mãe disse ter ouvido uma "manchete" no jornal regional da Globo, mas não vira mais nada. Deu hoje, durante o almoço. Bruka Lopes, de Echaporã, e Ivan Amorin, de Maringá, me escrevem dizendo que leram também. Tem lugar aqui que o sistema é bruto, rapá.

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Segunda-feira...

Segunda-feira modorrenta, essa. Pela manhã, abro a caixa postal, e nada. Dou um pulo na casa da vó, que está quase sem provisões, o que a deixa ainda mais reclamona. A cada cinco minutos ela solta um “ihhhhhhhhhh” que quem está por perto já sabe o que vem depois. “Ficá muito véia, fio, num presta não.” Depois de todo “ih” vem o lamento. Diacho, vó. Só por que passou dos noventa? A gente – a Ciló e eu, pelo menos – sempre argumenta que ela é uma pessoa privilegiada, que estatisticamente muito poucas pessoas chegam a essa idade e, das que chegam, um número menor ainda tem a lucidez e a disposição que ela demonstra no dia-a-dia, apesar de ligeiramente descadeirada por um problema na bacia que remonta à primeira metade do século passado.

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“A vó não passa desse ano não, fio”, diz ela, uma semana antes do ano acabar, repisando o bordão de 2009, 2008, 2007, 2006, 2005... “Então por que a senhora guardou as duas agendas que a Alta Mogiana te mandou?”, pensei com meus botões, lembrando das lembranças de fim-de-ano que a usina mandou para ela, como dona de metade dos sete alqueires que, arrendados, vão ficar cobertos de cana por mais três safras ainda. “Pra agendar o que, santo Deus?”

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Ciló vai à cozinha, volta com uma nota de R$ 50 e uma pequena lista de compras: cebola, batata, alho, óleo e fósforo. Vou ao sacolão do Télcio, volto com as compras acrescidas de uma bandeja de milho verde, para aproveitar a lenha acesa no fogão e matar saudade de uma espiga na brasa. Me espantei com o preço de um litro de óleo de soja: R$ 3,89. É o fim do mundo. Quanto mais soja a gente planta, mais caro fica o óleo.

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Na verdade, queria que os dias passassem mais rápido. Que chegue logo o dia 2, quando vou a Ibitinga buscar a Natália. Na ida ou na volta, quero combinar uma cerveja com o Zé Luís, meu veterano de UEL que, desde que se formou, trabalha na EPTV, em Ribeirão. Para mim, não há, em tese, problemas em encher a cara em Ribeirão – basta desmaiar num dos três motéis que meu primo Carlinhos Tizziotti tem na cidade.

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Zé Luís é da turma de 83/2, da Benê Bianchi, da Joyce Moltefeltro, do Mário Marins. Quando trocamos e-mails, Zé avisou Marião, que imediatamente me escreveu, todo saudoso dos velhos tempos. Hoje trabalhando na TV Fronteira, em Prudente, Marião Banespa – para diferenciar do Marião Fragoso – prometeu uma incursão o mais breve possível a Londrina, para rever a cambada.

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Enviei ao Marião uma foto da nossa formatura (todos se formaram atrasados), em que aparece também o Aurélio Albano, com três arrobas a menos. Antes de entrarmos no Moringão, Aurélio e eu ficamos tomando cerveja e pinga com o Marinósio no Rangus. Saímos de lá em cima da hora, trêbados – não que fosse novidade para nós, muito menos para o professor Marinósio, mas, poxa, era noite de formatura, caramba, com ginásio lotado, nossos pais, mães... Vou te falar! A salafrarice é, realmente, ilimitada.

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Enfim, à tarde dei um pulo no escritório do meu pai e, de repente, não é que entra o Chiquitim, figuraça sobre quem eu ouvira uma história de rachar dias antes? Essa eu conto depois...

domingo, 27 de dezembro de 2009

De carona na fama alheia


Há anos ensaiava escrever sobre essa foto aí, assim como outras de antigamente, que o Ivan Amorin, de Maringá, gentilmente escaneou e gravou em CD, faz tempo. E por que estou escrevendo agora? Uai, pra pegar carona na fama do cidadão ali, que foi homenageado neste domingo, no Domingão do Faustão, com o troféu Mário Lago – como se ele precisasse disso para ficar famoso...

Num daqueles tradicionais programas para fazer o homenageado chorar, a Globo gravou inúmeros depoimentos de gente graúda do teatro, do cinema e da TV sobre a carreira do carioca Antônio da Silva Fagundes Filho. A ficha do cara é realmente extensa. Na época da foto aí de cima, pelo que se comentava, ele protagonizava “O Machão”, novela da extinta TV Tupi de São Paulo.

Em sendo verdade, o ano era 1974 e, portanto, ele tinha 25 anos, eu tinha oito e meu pai, 33. Muitos, no programa do Faustão, o chamaram de Fafá, que parece ser o apelido dele entre os atores e afins. Marília Gabriela o chamou de Fafolino. São designações que não casam muito com um machão, mas quem há de duvidar da virilidade do Fagundão?

Ele veio a Guará-SP abrilhantar um baile de debutantes e ficou hospedado na casa do Teruo Nakano, na época um dos homens mais endinheirados da cidade. Era uma das poucas casas – senão a única – com piscina. Naquela época eu não saía da piscina do clube. Voltava para casa sempre com o cabelo esverdeado de cloro. Mas piscina particular... Ah, isso era para ricos, e o Teruo era. A Flávia, filha mais velha dele, era minha colega de colégio. Estudamos juntos os nove primeiros anos de escola – do pré-primário à oitava série, sempre no Nehif Antônio, perto de casa.

A quadra do colégio fica em frente à casa da minha avó, onde havia um pé de laranja baiana. Quando tinha laranja, eu subia no telhado com uma faca de cozinha e um potinho de sal e fica chupando laranja com sal e olhando as meninas na educação física. Três dias atrás liguei para a Secretaria de Saúde porque o escoadouro da quadra estava entupido e, com as chuvas, havia uma lâmina d’água de um palmo de altura e vinte metros de comprimento – água limpa, parada, em condições propícias para a dengue. Limparam no mesmo dia.

Enfim, naquele 1974 meu pai me levou para a casa do Teruo, onde houvera uma espécie de recepção para o galã da tevê. E tiramos essa foto aí. Segundo meu pai, Paulo Figueiredo e Fábio Júnior foram outros galãs que abrilhantaram bailes de debutantes em Guará. Ele e um amigo, Diocésar, foram escalados para buscar Fábio Júnior em Uberaba. Meu pai conta que o empresário não queria que ele cantasse “Pai Herói”, megasucesso da época. Alertado de que poderia ser vaiado se não cantasse a música, Fábio Júnior capitulou.

Não lembro de absolutamente nada daquela noite com Antônio Fagundes na casa de seu Teruo. Quanto à piscina dele, convidados pela Flávia, com a desculpa que iríamos estudar, fizemos várias reuniões de pré-adolescentes lá, regadas a refri e salgadinhos e mais algumas coisas que, garanto a vocês, foram bão pra carai.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

No sítio, onde a refestelança prosseguiu


Como previsto, a "soca" da refestelança seguiu para o sítio, onde compareceu apenas metade dos que estavam na ceia. Loriz-Lazinho prestigiou a família da nora e a turma da tia Nilda pipocou. Nilson Careca ficou de cama, com diarréia. Fomos nós e o casal Dite-Fernando Papelão. Tia Dite nos fotografou enquanto eu mandava torpedo para Turquinho Aniz que, de Londrina, havia me ligado, certamente para desejar feliz Natal, e eu, longe do celular, perdi a ligação. Como de costume, eu e meu pai varremos o quintal. Levei dois balaios de folhas e mangas podres para o cafezal. Pelo andar da carruagem, voltarei a Londrina sem as muitas mangas que prometi a Andrea Monclar e a Kakau Neves. Estão no finzinho. Quem sabe no sítio do João Luís, no Barro Preto, consiga umas sabinas de última hora - bourbons e coquinhas já são espécies em extinção. O foda é que as mangas se foram e o resto ainda não veio. Cajamanga está pequeno. Os cítricos todos (laranja, poncã), também. Siriguela acho que não madura até lá. Tamarindo já elvis. Carambola está bombando, mas é bastante perecível. O pé de limão galego está carregado - limonadas garantidas. Banana não tem problema: há cachos de sobra. Mais as caixas de ovos e dois ou três franguinhos congelados, beleza. A viagem não será de todo perdida.
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Intimei Zenrique para a corrida de fim de tarde que pretendemos fazer diariamente. Chegando lá, ao passarmos em frente ao ginásio de esportes, nosso primo Emerson dá com a mão, assobiando. Estavam ele e um garoto de 17 anos, Daniel, batendo bola na tabela de entrada. Ao invés da monótona caminhada com alguns piques, decidimos encarar o basquete de quatro. Eu e Emerson - gerente da CEF em Ribeirão Preto - ganhamos a nega da dupla adversária. Vencemos a primeira com ligeira folga. Eles nos surraram na segunda (o moleque é o cão da linha de três) e, na terceira, controlamos a parada e fechamos fácil em 30 a qualquer coisa. Suamos muito mais do que se tivéssemos caminhado e corrido na pista de brita. A rigor, foi até irresponsabilidade com meus joelhos bichados. Não vou apelar ao Dorflex, mas deveria. Já prevejo um despertar dolorido neste sábado.
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Neste sábado, aliás, tem Baile do Reencontro no salão da Associação Atlética Guaraense. Quarta edição, anuncia um cartaz. Dois amigos de infância - Hélio Carlos (dentista em Fortaleza) e Carlim Gordo (dono de motéis em Ribeirão) - me intimaram. Eles vão com suas respectivas. Compraram mesa. Será?
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Na volta do basquete, quando ensaiávamos ir tomar banho, um apagão nos pegou. Encarei o chuveiro assim mesmo. Depois, ficamos coisa de uma hora papeando na varanda escura, naquelas cadeiras de varanda, olhando para a rua iluminada pelos faróis. Clima de roça na cidade. Minha mãe conta que fazia eu e meu irmão lavarmos os pés toda noite, antes de dormir. Com ela também era assim, nas décadas de 40 e 50. Dona Hermínia punha os moleques - os onze - para lavar os pés, mas nada falava sobre escovar dentes. Ninguém dos Cherutti fazia isso, naquele tempo, na Grota. O hábito só foi se consolidar na cidade, quando adultos. Faziam uma bochecha e pronto. Nem por isso ficavam com os dentes em petição de miséria.
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Pulando um ou outro artigo, estou quase terminando "A grande caçada aos tubarões", de Hunter S. Thompson. É o tal papa do jornalismo gonzo. Como todo gonzo, viaja na maionese, mas o sujeito já subiu de "bão" para "bão pra carai" depois que li os artigos referentes ao derby do Kentucky e aos pilotos de teste da base aérea de Edwards. Mas terá de melhorar se quiser alcançar o "bão pra carai pra carai", segundo o conceito que Bruka Lopes e eu elaboramos. De qualquer forma, passou longe de "ruim" e de "mais ou menos". A próxima empreitada é concluir "Fuga dos Andes", do Pedriali, que fiz o favor de esquecer em Londrina. Pelo que disse o Dinho Pelegrini numa crítica, é bão pra carai.
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Como as pessoas se cumprimentam fácil em cidade pequena... Em Guará, o padrão é assim:
- Ôôôôô.
- Ôôô.
- Bão?
- Bããão!
E tá resolvido.

Provas do crime


Flagrantes da ceia de Natal no solar dos Fischer. Abaixo, as quatro irmãs Cherutti: Judite, Loriz, Nilda e Maura (minha mãe). Faltou a Julia, de Araraquara. Nem é correto generalizar o Cherutti. O sobrenome do seu Bernardino foi sendo distorcido a cada rebento. O original é Cerut. Nos onze filhos, o cartório grafava o sobrenome de acordo com o que ouvia. Daí vieram Ceruti, Cherut, Cerutti, Cheruti, Cherutti. Uma zona. Tia Dite trouxe, além do Papelão, dois rocamboles de carne com queijo que estavam de matar o guarda. Tia Loriz trouxe, além do Lazinho, uns abacaxis doces como mel. Tia Nilda trouxe, além do Nilson Careca e dos filhos Dim e Valmir, compreensivelmente, uma caixa de cervejas. Na foto de cima, eu, meu pai e meu irmão. Desabei na cama à uma da manhã. Meu pai e meu irmão suportaram Dim e Valmir até as três. Como bebem esses meus primos. Parece que não têm fundo, sô.




Em família

Sei lá, acho que, muitas vezes, as pessoas confundem as coisas. Espera-se pela meia-noite de Natal como espera-se pela meia-noite do reveillon. Pensa-se em Cristo com uma champagne nas mãos. Mesa farta, fogos de artifício. Mas tudo bem. Não quero ser o chato da paróquia. Importante estar todos juntos, na medida do possível. De qualquer maneira, família reunida é bom. Se há fartura, melhor ainda. Acabei de tomar cerveja, de comer rocambole de carne com queijo, uma ou outra lasca de lagarto recheado e, dados os abraços, caí de boca na sobremesa, que estava chique no último. A "soca", como a gente chama aqui os restos de uma festança, a gente vai levar amanhã (ops, hoje!) para o sítio, onde todos vão se reunir novamente em volta de uma mesa farta.

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Tomara que rolem mais histórias (ops, estórias!) como as que rolaram agora. Família reunida é bom para isso. Você relembra ou fica sabendo de coisas do arco da velha. Passei a saber que teve guaraense jogando no Fluminense e no Vasco. No São Paulo - caso do meu amigo Daniel - eu já sabia. Dié, como é conhecido, começou no Orlândia, passou pelo América e acabou no Morumbi. Foi reserva de Nelsinho na lateral-esquerda durante um ano e meio. Quando Paulinho Alcântara jogou no XV de Jaú, levou o irmão Betão, que integrou aquele time do Cilinho. Por conta disso, Alfinete (jogou no Corinthians) e Luís Carlos (Santos) pularam alguns carnavais aqui em Guará. Betão atuou também pelo Botafogo de Ribeirão, foi ídolo no CSA, jogou na Seleção Brasileira de Juniores e foi levado por Cláudio Coutinho para o América do México. Hoje treina a Inter de Limeira. Foi ele quem levou meu irmão para a Ferroviária, em meados da década de 90.

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Fico sabendo que muitos parentes acompanharam a decisão da Copa de 70 aqui em casa. E, claro, teve rolo. Um tio do meu pai, Orlando Tizziotti, brigou com dois genros antes de bater por aqui. Quando ficaram sabendo que Lando torceria pela Itália, os genros o expulsaram. Tio Lando chegou aqui e meu pai, sem saber das confusões anteriores, brincou com ele: "Olha lá, hein, tio, não vai me torcer pela Itália". Tio Lando mandou meu pai à pequepê e foi chorar as pitangas com minha vó. No dia seguinte, aparecem em casa dona Zizinha - a última dos Tizziotti viva, aos 90 anos - e Paulo Fischer, tirando satisfação com o filho, que ficou uns 10 dias sem aparecer na casa dos pais, por causa do tio brigão. Ainda bem que o Brasil enfiou 4 a 1 na Itália.

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Muita gozação para cima do Papelão, a mercadoria que, depois de muito insistir, conquistou a tia Dite. Toda vez que ele dá uma de bonzão, a gente martela ele com antigas passagens em que ele se humilhava na porta da casa do meu avô. E vice-versa: quando a gente enche o saco dele, ele se gaba de ter casado com a aposentadoria mais polpuda da família. No fim, tudo acaba em pizza.

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Sacanagem o calendário deste ano: Natal e Ano Novo na sexta, com concentrações na quinta e com sábado e domingo pela frente. Não há fígado que aguente.

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Bem, passado o Natal, fica o desejo para todos de um próspero 2010, nessa terra de Dantas de mais e Bortolottos de menos.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Em casa


Depois de uma rápida passagem por Echaporã, onde já sou reconhecido nas ruas pelos leitores do "Em Dia", de Bruka Lopes, e por Ibitinga, onde matei saudades da pré-adolescente mais bonita do mundo, estou novamente em Guará, para beber, comer, descansar e ouvir histórias. Cheguei nessa terça, almocei e corri para a casa da vó. Dona Zizinha estava estirada na cama, à espera do soro que a Ciló fora buscar na farmácia a fim de reidratar o corpo sacrificado por uma disenteria daquelas. Enquanto fazíamos, mutuamente, as perguntas de praxe, Ciló contou que deu na TV que em Catanduva um homem quase foi morto por uma pedra de gelo de um metro de diâmetro que venceu o telhado de barro e o forro de madeira e explodiu a seus pés enquanto via televisão na sala às duas horas de uma tarde com céu de brigadeiro. Especialista teria dito que poderia ser gelo desprendido da asa de algum avião ou um pedaço mesmo de gelo de algum nuvem que, de repente, resolveu soltar um torpedo contra aquele senhor de Catanduva. E engatou uma história do irmão dela, o João Luís, que, ah, essa é de pelar o sabugo. Aguardem.

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Aquela espiada básica na caixa postal e, afora as muitas porcarias, um e-mail do Alexandre Sanches com duas fotos do nosso tempo na Redação de O Diário. Nessa aí de cima, Alexandre grava chamadas para um institucional que ia ao ar num canal fechado, com os destaques do dia. Eu, recostado no pilar, aguardava minha vez de gravar as chamadas, até que Ivan, o Terrível, editor de foto do jornal, resolveu fazer o flagrante. 2007, se não me engano. 2008, no máximo. É a Redação reformada de O Diário, em Maringá, onde trampei por quatro anos.

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Em outro e-mail que valia a pena, Aurelinho Albano repassa uma compilação de gozações contra os sãopaulinos. É Richarlyson para cá, uma bicha afetada para lá. Bâmbis, poupa-los-ei dessa. Nem para Osti e Bruka, meus alvos prediletos, vou encaminhar tal infâmia - até pela certeza de que outros já o fizeram por mim.

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Em meio à bagagem de sempre, descarreguei duas caixas daquelas de supermercado, onde guardava meus vinis que estão devidamente acomodados numa estante em Londrina e que podem ser útil para meu pai e minha mãe carregarem coisas para o sítio. E uma cestinha com meu presente de aniversário de Vivian e Ganchão: um pote de quiabo em conserva que estava louco para que o pessoal de Guará experimentasse - o que deve ocorrer antes do Natal. Acreditem: Vivian transforma o quiabo numa iguaria que pode ser tudo, menos quiabo - pelo menos no que ele tem de pejorativo. Ela ferve o bicho dentro desses vidros de palmito e o troço fica de lamber os beiços.

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Numa sacolinha, alguns exemplares de lichia, para chupar e tirar semente. Conheci a fruta na chácara-mansão do Kaká e da Regina, onde batíamos bola todo sábado, anos atrás. Kaká trouxera a fruta da fazenda em Arapongas. Regina é mãe da Júlia, esposa do Luciano Pagliarini, maior ciclista do Brasil, que retornou recentemente ao país, depois de passagens bem-sucedidas pela Europa. Depois da tradicional pelada, na qual Kaká teve ter feito um ou dois gols e perdido outros 200, como sempre, me deparei com a tal de lichia. Chupei centenas, guardei alguns caroços e trouxe para Guará pra minha mãe tirar semente. Está plantada há alguns anos no sítio, mas, segundo dona Maura, não vai pra frente. Não se sabe se falta cuidado ou são as galinhas que não a deixam em paz. De qualquer forma, agora temos reforço.

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Na mala, um Norman Mailer e um livro de Hunter S. Thompson, o papa do jornalismo gonzo dos isteites. Trouxe-os de Echaporã, das mãos do próprio dono. Bruka Lopes avisou que o Mailer é presente mas que o Thompson é da espécie Quatro V: "Vai e volta, viu, viado?" Tadinho...

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Programas certos por enquanto: caminhada diária em volta do gramado do "Gil Junqueira", uma limpeza de dentes às 10h do dia 4 com o Hamilton - meu companheiro de república na lendária Paraíba 322, em 1984 - e um corte de cabelo no Jurandir, sãopaulino juramentado. Acho que vou imprimir alguma coisa daquele e-mail do Aurélio para levar pra ele.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Sobre essa foto aí de baixo...

A foto abaixo é durante um jogo do Palmeiras em Londrina. Editava Esportes na Folha e meu irmão veio de Guará-SP para assistirmos ao pega com o Fluminense no Estádio do Café. Queríamos ver o time que no primeiro semestre daquele ano ganhara o Paulistão com a melhor campanha da história do campeonato - melhor, inclusive, que as campanhas do Santos de Pelé. Foi o time dos 100 gols, comandado por Djalminha, que fez gol por cobertura, da entrada da área. 5 a 1. O Flu fazia campanha que prenunciava a queda para a Segundona e, depois, para a Terceirona. Fechei a edição mais cedo, pedi para o Alberto Macedo cuidar do plantão, peguei a camisa que estava no carro e fomos fazer concentração no Bar do Lema, no Centro Comercial. Eu, Luiz Henrique e Paulo Briguet, que nos acompanharia ao estádio. Tomamos todas no Lema. Prevendo furdúncio na entrada do estádio, deixamos o carro ali na Rua Piauí e pegamos um táxi na Concha. Ríamos de cada gol marcado. Eu fiquei em pé, Briguet e Zenrique sentados. Fiquei em pé para ficar mais perto do bar. Eu, já pra lá de Teerã, mal conseguia manter ereto o copo de cerveja - naquele tempo ainda vendia-se cerveja em estádios. Era aqueles copões que abrigavam uma cerveja inteira. E, segundo o Luiz Henrique, eu ficava cambaleando que nem um joão-bobo, gritando e dando risada, e deixando o copo - sempre cheio - vazar na cabeça, nas costas, no pescoço do cara que estava sentado aos meus pés. Ele disse depois que só não apanhei do sujeito porque o Palmeiras estava ensacando o Flu e ele percebeu que estavam todos juntos ali, e relevou. Briguet também não ficou atrás. Na volta, dispensamos a ideia de um novo táxi e fomos a pé para o centro - coisa de cinco, seis quilômetros. Pegamos a Winston Churchill e fomos acompanhando o turbilhão de torcedores que desciam a avenida a pé. Tinha uns 25, 30 mil torcedores. Era quarta à noite. Deu mais público que Corinthians x Juventude no sábado seguinte, com Londrina e não sei quem na preliminar. Também fui a esse jogo, zoar o Curintia, que venceu por 1 a 0, gol de Célio Silva cobrando falta quase do meio-campo. Foi o chute mais forte que eu vi na minha vida. Pra lá da intermediária, o zagueirão pegou um canudo que entrou no ângulo do gol dos vestiários. Se houvesse mais 10 metros de campo, a bola teria entrado do mesmo jeito. Enfim, dizia que descíamos a pé para o centro. Tenho uma foto do Briguet falando com alguém no orelhão. Até hoje ele não consegue sequer imaginar para quem ligou. Ele balbuciava coisa com nada. Meu irmão, que nunca pôs uma gota de álcool na boca, rachava de rir. Bela noite de futebol e amizade.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Por que a gente é assim?



Para encerrar bem o ano, vamos pagar as dívidas. E a maior delas, agora que o time protagonizou esse vexame histórico no Brasileirão, é explicar por que o Palmeiras consegue tais façanhas. Em um dos posts abaixo, linquei texto do portal Terra que desanuvia a anarquia – no mau sentido – que tomou conta do Palestra. É cartola puxando tapete de cartola, é parceira olhando torto para diretoria, diretoria olhando torto para parceira. O texto é esclarecedor apenas por dar nomes aos bois porque, conceitualmente, desde que me conheço por gente, o Palestra sempre foi assim. Daí, a cada 15, 20 anos, todos aqueles carcamanos de dedo destroncado tomam um porre, se abraçam, choram, se unem de verdade e a gente monta um timão, abastece a sala de troféus e, finda a união, efêmera por natureza, a gente volta a montar e torcer por times medíocres. Não adianta, a gente é assim e acabou. Quer clubinho organizado, bonitinho? Pula o muro. Vira a casaca. Mas não encha o saco. E ser torcedor de futebol, vamos falar sério, é a arte de engolir sapo. É o avesso do avesso mesmo. Havia dito: corajoso daquele palmeirense que, na segunda-feira pós-Brasileirão, teve a coragem de vestir a camisa e sair às ruas. Eu não faria isso temendo que algum bâmbi ou gambá mais desavisado me olhasse com aquele sorrisinho sarcástico, daí eu teria de engolir o sapo ou tomar providências, então melhor ficar quieto. Caramba, o que eu vi de palmeirense a caráter esses dias foi uma festa. Arrisco sem medo de errar: não houve, desde que fracassamos retumbantemente, ficando fora até da Libertadores, outro clube que teve mais camisas desfilando por aí do que o Parmera. Nem do Flamengo campeão. Vi muitas camisas do terceiro uniforme, aquele azul; vi camisas de outro terceiro uniforme, aquele com o qual disputamos algumas Copas do Brasil; vi camisas dos tempos da Parmalat; e, claro, o uniforme oficial, número 1, verdão etc. Vá entender... Enfim, mas eu ia mesmo era explicar por que o Palmeiras, com a liderança folgada e uma tabela favorável pela frente, “consegue”, numa reta final de campeonato, perder 11 de 12 pontos disputados contra as quatro equipes que, naquele momento, estavam virtualmente rebaixadas e, por fim, ficar até de fora dos cinco que iriam à Libertadores. Primeiro, porque com o Palmeiras desgraça pouca é bobagem. Se, de fato, a atuação de bastidor resulta em alguma coisa, então a diretoria do Palmeiras deve ficar atenta à confecção da tabela, agora que, ao que parece, o campeonato de pontos corridos veio para ficar. Não se deve permitir jamais que o Palmeiras, em qualquer momento, encare uma sequência aparentemente fácil de jogos – principalmente numa reta final de campeonato. Jamais podemos deixar que a tabela nos obrigue a enfrentar Avaí, Fluminense, Santo André, Náutico, Sport Recife. Jamais! Temos que exigir da CBF que coloque nossos principais adversários salpicados, aqui e ali, sem que o time tenha tempo de respirar. O Palmeiras, definitivamente, não sabe jogar contra times de menor expressão. Isso é claro. É histórico. Ninguém nunca na história desse país perdeu tantos títulos, vagas, classificações, para os pequenos quanto o Parmera. O Corinthians, quando decidiu título contra a Ponte (duas vezes), contra o Guarani, contra o Botafogo de Ribeirão, ganhou. O São Paulo, quando decidiu título contra o Bragantino (Brasileirão!), Guarani (Brasileirão!), São José, ganhou. O Palmeiras, não. Parece estar no nosso sangue darmos chance, guarida, evidência aos pequenos. Pegamos o Guarani numa final de Brasileirão e levamos na tarraaqueta. Pegamos a Inter de Limeira numa final de Paulistão – já estávamos uma década na fila – e levamos na tarraqueta. Pegamos o Bragantino numa semifinal de Paulistão – ainda estávamos na fila – e levamos na tarraqueta. Uma vez, em 1984, se não me engano, perdemos a chance de ir para a decisão ao perder para o XV de Jaú, em casa, de virada, por 3 a 2, depois de fazer 2 a 0. Uma vez tiramos um tal de ASA de Arapiraca do ostracismo ao ser eliminado em casa pelo dito cujo num mata-mata da Copa do Brasil. E para o Ceará. Se você olhar a tabela e vislumbrar uma trajetória aparentemente fácil para o Parmera, esqueça: o time fatalmente vai fazer a felicidade de algum pequeno. Nossa briga, nossa índole, nos impele a pegar os grandes. Sempre foi assim. No começo, lá pelos anos 20, sapecamos um 8 a 0 no Corinthians só pra colocar os pontos nos is. Nos anos 30, fomos os primeiros tricampeões paulistas da história – título que o São Paulo, por exemplo, não tem. Ainda na década de 30, criaram o torneio Rio-São Paulo e adivinhem quem foi o primeiro campeão? Nos anos 40, o torneio sumiu e nadamos de braçada no Paulistão. Na década de 50 ele voltou e ganhamos um monte. Antes, em 51, fomos o primeiro campeão mundial de clubes ao vencer a Taça Rio, contra os principais clubes do mundo. Na década de 60, montamos a Academia de Futebol – que dá nome ao centro de treinamentos, na Barra Funda. Vestimos a camisa da Seleção e socamos 3 a 0 no Uruguai na inauguração do Mineirão. Na década de 70, a segunda edição da Academia, com a escalação que todo palmeirense com mais de seis meses de idade sabe de cor e salteado até hoje: Leão: Eurico, Luís Pereira, Alfredo Mostarda e Zeca: Dudu e Ademir; Edu, Leivinha, César Maluco e Nei. Nem o Flamengo de Zico neguinho escala desse jeito. E já tascamos um bicampeonato brasileiro. Aí tascamos uma ducha gigante de água fria no Corinthians em 74. Aí veio a década de 80, a nossa década perdida, com os times mais medíocres jamais montados. Tem uns londrinenses aí que se gabam de ter vestido a camisa do Parmera, mas esquecem de dizer que foi na década de 80, quando até Ditinho Souza, Dênis e Vasconcelos jogaram por lá. Conheço uns, dos tempos do Bar do Lelei. Aí chegou a década de 90, montamos a inédita co-gestão com a Parlamat (coitado do Vicente Matheus, só de lembrar dá dó), arregaçamos a boca do balão e encerramos a década ganhando a Libertadores que nos havia escapado em 61 (contra o Peñarol, um ano antes do Santos de Pelé chegar a uma decisão) e 68 (contra o Estudiantes, onde jogava o pai do Verón, esse que vai decidir o Mundial agora com o Barça, numa partida em que alguém, acho que o pai dele, entrou em campo com uma agulha e ficou furando o Da Guia o jogo inteiro). E ganhamos com o Felipão, catapultando para a seleção o técnico que montaria o timaço de 2002 – essa sim, uma Copa gostosa, ao contrário de 94. E os confrontos com o Corinthians nas Libertadores de 1999 e 2000, se querem saber, foram, na opinião, os maiores confrontos da história do futebol. Dois timaços, se encarando ali, frente a frente. Duas camisas de responsa. Dois camisas 10 do caralho. Essa Libertadores é emblemática para essa tese que estou defendendo. O Palmeiras começou ganhando do Corinthians. Depois trupicou nums paraguaios aí e perdeu a partida de volta para o Corinthians, ficou em segundo no grupo e, nas oitavas-de-final, caiu no colo do Vasco, então atual campeão e que havia reforçado a equipe para repetir o título e voltar a Tóquio. Atropelamos o Vasco, passamos pelo Corinthians em duas partidas memoráveis, socamos o River Plate e aí... Deportivo Cali, da Colômbia, pela frente, na final. Caraca, que sufoco ganhar desses caras. O time atropela Vasco, Corinthians e River e, quando é hora de passar por um Deportivo Cali, vira o maior sufoco. Assim é o Parmera. Enfim... Mas ter sido o Campeão do Século, conforme todos os rankings sérios desse país (Estadão, Folha de S. Paulo, Placar), não é o único título que demonstra a grandeza do Parmera. Há também o título de Protetor dos Frascos e Comprimidos, para ficar na zombaria. Nenhum time perdeu tanto para os pequenos quanto o Palestra. O interior deve muito ao Palmeiras. O Guarani, a despeito do timaço de 78, ter sido campeão brasileiro fortaleceu mais o futebol brasileiro do que qualquer resolução da CBF ou do Clube dos 13. E olha que um ano antes, em 1977, o nosso Londrina é que poderia ter beliscado o troféu, mas aí havia um Atlético Mineiro e um São Paulo com Valdir Peres e Chicão à frente. Credo! Mas o fato é que o Palmeiras deve recorrer ao STJD para impedir que a tabela de qualquer Brasileirão preveja quatro, cinco, seis confrontos com times de menor expressão numa reta final de campeonato. O Palmeiras simplesmente não consegue ganhar. Melhor que viessem Grêmio e Corinthians, como ocorreu com o Flamengo. Daí não fariam corpo mole, porque enfrentariam rivalidade de gente grande. E quando o pega é assim, mermão, a gente se transforma naquilo que Ugo Giorgetti já disse uma vez no Estadão: você tem de encarar aquele que está atravessado na garganta de todos os times brasileiros. Menos os pequenos, que, para esses, a gente dá a maior força.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Uma surra daquelas

Cheguei atrasado de novo, só pra variar, mas desta vez foi por um bom motivo: passei na casa da Kau e da Nany e peguei os dois filhos da Nany para levar ao Moringão. O Rafa, da Kau, estava na casa da tia e perdeu essa. E lá fomos nós, eu, Vinicius e a Laura, que chamamos amorosamente de Estrupício, por causa da esperteza e da inteligência precoces. Enfim, lá fomos eu, Vini e Struppy subindo a rampa do ginásio, já ouvindo a zoeira da torcida nos primeiros minutos do primeiro quarto. No início da rampa, comprei um ingresso de um cambista por R$ 5, R$ 1 a menos que na bilheteria, e me arrependi amargamente depois que peguei o bilhete e vi estampado nele "Cortesia". Quem sai ganhando com coisas desse tipo eu não sei, mas, enfim, a cagada já estava feita e, afinal, o que valia ali era a companhia de Struppy e Vini, que, eu nem sabia, havia feito aniversário no sábado. Doze aninhos. Struppy tem 10, se não me engano, mas deixa muitas de 15 no chinelo pela perspicácia. Contra o Flamengo eu havia chegado atrasado, o time ganhou e achei que chegar atrasado era a receita para o Londrina se dar bem em quadra. Doce ilusão. Contra Franca levamos o jogo equilibrado até a metade do quarto final, quando o time de Hélio Rubens abriu seis pontos, aplicou um mata-leão e levou na boa até o fim. O adversário desta segunda à noite foi Brasília, líder do campeonato. E desta vez nem emoção deu. O time de Lula - coincidência! - abriu vantagem logo de saída e deu uma surra daquelas, com direito a piti de seus principais jogadores, entre eles o armador Nezinho, bom de bola, mas marrento como ele só. Sofreram muitas faltas técnicas, por reclamação. Foi a oitava vitória dos caras em oito rodadas. 98 a 83. O Londrina continua cometendo muitos erros infantis. Pelo visto, o time vai repetir, ao menos nessa temporada, a rotina daquele final dos anos 90, quando o time brigava sempre pelo oitavo lugar, ou seja, brigava para ir ao playoff, e a melhor ocasião foi quando pegou o Mackenzie de Oscar Schmidt, naqueles confrontos épicos e rumorosos. Bem, o basquete voltou, o público voltou a prestigiar, está provado, Londrina tem público para o basquete, que é um jogo du caralho, mas precisamos contratar um americano fodão e um ala mais canchado para dar à equipe a experiência e o estofo que estão faltando. E o técnico Lula é a cara do Lula Molusco, como bem observou o Vini. Incrível. E a Laurinha, hein, vou te falar, eita boca suja. Não fica devendo nada ao Paulinho da Bengala.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

Palmeiras atrás de Ronaldinho Gaúcho

Essa aí, do título, é apenas uma das muitas especulações do mercado da bola. Vejam lá: http://globoesporte.globo.com/Esportes/Fotos/0,,GF77811-9645,00.html#fotogaleria=11. Hilário. Santos de olho em Pet e Adriano perto do Fogão são de rachar.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O caldeirão alviverde

Quando falei em "caldeirão" do Palestra, falei genericamente sobre a anarquia que costumam ser os bastidores do Palmeiras, porque não vivo, claro, o dia-a-dia do clube. Quer saber detalhes de como andam as coisas lá? Vejam esse ótimo texto no portal Terra: http://esportes.terra.com.br/interna/0,,OI4149636-EI2013,00-Saiba+mais+dos+bastidores+do+fracasso+palmeirense.html. Você vai entender o porquê do fracasso no Brasileirão.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ei, Muriçoca, não é disso que a gente gosta


"Você é jornalista e deve saber meios para nos articularmos de forma madura e racional." Assim termina o e-mail que um amigo de infância, o agrônomo Luciano Queiroz, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, me envia de Sete Lagoas (MG) a fim de que deflagremos campanha para sacar Muricy Ramalho do comando técnico da Sociedade Esportiva Palmeiras. "Tirar o David Sacconi para retrancar e garantir o 0 a 0 é pedir para tomar gol", destaca Luciano, referindo-se à derrota para o Botafogo, que sacramentou o vexame alviverde no Brasileirão. De fato, Muricy foi uma grande decepção. Contratado, a peso de ouro, no final de julho, assumiu o time na melhor posição possível: na liderança, após um 3 a 0 sobre o Corinthians, em que Ronaldo se machucou e Obina desencantou. Jorginho, o interino que substituíra o demitido Luxemburgo, tivera uma campanha irrepreensível. Com ele, o time jogou solto, chegava ao ataque com naturalidade e venceu vários jogos assim: trocando passes, criando oportunidades, concluindo com tranquilidade. Muricy, imaginávamos todos nós palmeirenses, seria a garantia de que o time chegaria às rodadas finais senão como campeão antecipado, no mínimo vigorosamente candidato ao título. Afinal, conquistara os últimos três Brasileirões pelo São Paulo fazendo exatamente o que precisávamos: conquistando vitórias magras porém seguras, fundamentais num campeonato de pontos corridos. Sim, a equipe se manteve na liderança por várias rodadas a fio, porém claudicante. De um time arrebatador, passamos a ter um jogo previsível, a ponto de, na reta final, ao encararmos as quatro equipes virtualmente rebaixadas, em sequência, ao invés de atropelá-las e partir para o título, perdermos quase todas - só empatamos com o Sport, em casa, graças a um lance legítimo, mas que o árbitro estragou ao engasgar com o apito. Já sentíamos, então, cheiro de podre no ar, o que pôde ser comprovado no pega com o Grêmio, quando levamos um gol no final do primeiro tempo e voltamos para o segundo sem dois jogadores, expulsos por trocarem socos no intervalo. Mas o pior de tudo foi constatar que Muricy - alçado à condição de supertécnico pelo tricampeonato com o São Paulo - é um treinador ruim, técnico de uma jogada só, a do chuveirinho. Deu certo num time acertado, dentro e fora de campo, como tem sido o São Paulo nos últimos anos. Mas não serve para um caldeirão sempre efervescente como o Palestra Itália. Lá, o paralelepípedo mais sóbrio puxa o tapete do presidente. Para trabalhar naquele ambiente cheio de carcamanos de dedo destroncado, como diz um amigo corintiano, é preciso muito mais do que cara amarrada. É necessário algo mais para unir aquela gente que desconfia da própria sombra. Isso é tarefa para poucos. Osvaldo Brandão, Filpo Nuñez, Luxemburgo - do tempo em que treinava mais e falava menos. É coisa para Felipão. Não é à toa que o Palmeiras quase nunca emplaca uma longa série vitoriosa. O exemplo de Felipão, aliás, é a única réstia de esperança para quem acha que Muricy ainda pode vingar. Foi contratado, em meados de 1997, em situação parecida: veio de um rival - no caso, o Grêmio - que acabara de bater de cinta no Palmeiras. O estilo de ambos era semelhante: chuveirinho na área e seja o que Deus quiser. Para isso, Felipão trouxe Arce. Não precisou trazer Jardel, porque já tínhamos Oséias e, depois, teríamos Evair. Mas, ao contrário de Muriçoca cabeça de paçoca, ele não desprezava as jogadas pelo meio, as infiltrações. E foi, aos poucos, conquistando o palmeirense, com garra, união. Conseguiu unir a fratellada - e, como já disse um antigo presidente esmeraldino, quando nos unimos, não tem para ninguém. Não é à toa que, longe de ser o time chapa-branca do Brasil, muito pelo contrário, conquistamos o título de Campeão do Século, por termos sido o clube mais vitorioso do século 20. Muricy tem disposição para ser vencedor e os palmeirenses até podem ter mais um pouco de tolerância com ele, mas ele teria de mudar radicalmente a forma de trabalhar. Ele terá de entender que nós, palmeirenses, ao contrário de uns e outros por aí, nem nos importamos tanto com a derrota, desde que ela venha com brio, com galhardia, e isso significa trocar passes, dissimular, envolver o adversário, partir para cima, avançando jardas, ocupando e conquistando espaços, como no futebol americano, até chegarmos próximos da área, e daí as arquibancadas do Palestra se inflamam, todos se levantam, o adversário sente, o burburinho é ensurdecedor, o clima, a pressão, ficam insuportáveis para quem se defende, o nosso ataque acha uma brecha e... caixa! Pegar a bola na defesa e rifá-la para o ataque nunca foi e nunca será o nosso estilo de jogo. Não é disso que a gente gosta. Não é disso que a gente precisa. Muricy, mermão, ou você muda, ou cai fora.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Filosofia de botequim

Minas de fato é um estado sui generis: embora esteja abaixo da Bahia, fica acima de São Paulo.

Outros tempos

A foto está assim, meio esquisita, ocupando espaços indevidos, porque me foi enviada assim por uma amiga a quem pedi que escaneasse. Mas, a princípio, não tem nada a ver com o que ia relatar inicialmente. Ia começar o post dizendo que fora ao banco ontem checar se, depois de um mês e meio de tentativas, os caras haviam conseguido a façanha de transferir minha conta de Maringá para Londrina, quando, na fila do caixa, encontro Gargamel. Ele estava na bica de ser atendido. Me viu e cumprimentou com aquele sorrisão de sempre. Gargamel é o apelido do Ademar - o sobrenome é Ramos, se não me engano. Armandinho Duarte talvez lembre. Garga, para os mais íntimos, era molecão de tudo quando entrou na Folha de Londrina. Ele foi contratado para substituir o Toninho, penúltimo operador de telex do jornal. O aparelho ficava no canto de dentro da Redação, ao lado do bebedouro e do banheiro, atrás da mesa onde os jornalistas se refestelavam, no meio da tarde, com um saco de pães e um pote de margarina. Isso era 1987. O equipamento recebia textos - com aquele barulho típico de teclas sendo marteladas a cem por hora - e fotos. O barulho das fotos chegando da France Press era diferente. Não sei descrevê-lo. O cilindro rodava e a impressão, em preto e branco, ia se formando naquele papel fotográfico. Garga entrou em 1986, se não me engano. Eu entrei em janeiro de 87, no Paraná Norte, jornal-caçula da empresa, de abrangência apenas microrregional. Em fevereiro, se não me falha a memória, as duas redações deflagraram greve, que durou mês e tanto. Foi até o Carnaval, quando, então, a diretoria, depois do acordo trabalhista assinado, retaliou: mandou um monte embora, colocou alguns na geladeira e fechou o PN. Eu ainda era estudante, tinha poucas semanas de "carreira" e assisti a tudo aquilo de camarote. Ao lado dos grevistas, claro - assim como Garga. "Na verdade, os jornalistas é que entraram em greve e eu que me fudi", disse ele ontem, com o sorriso no rosto, certo de que, mesmo perdendo o emprego, fizera o certo. "Mas acabei sendo importante. Se eu não trabalhasse, o jornal não tinha notícias pra dar." Era um tempo em que o então melhor jornal do Paraná tinha telex, máquina de escrever e lauda. Mas, ao contrário de hoje, tinha cafezinho, os amigos podiam nos visitar e ninguém olhava representantes do sindicato com a faca nos dentes. Ou seja, era outra coisa - embora os móveis ainda sejam os mesmos. Mas o que mudou foi, principalmente, a mentalidade de quem manda. Em 1994 - eis a razão da foto, que não consegui achar quando João Milanez morreu - reles funcionários como eu e Cláudio Osti (ao telefone) podiam pregar botton de candidato "comunista" no paletó do patrão. Hoje, se formar rodinha de três, tem o cargo ameaçado. Dá dó.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

É a minha opinião

Me surpreendi ao ver hoje, no Calçadão de Londrina, um cara com a camisa do Palmeiras. É normal as pessoas saírem às ruas com a camisa do seu time no dia seguinte a uma derrota. É uma maneira de reafirmar a devoção. Adolescentes e pré-adolescentes fazem muito isso. Dias atrás a Carina Paccola me contou que o filho dela, de 14 ou 15 anos, fez exatamente assim ao ir ao médico – que, eles sabiam, é sãopaulino. No que o doutor tascou, logo que viu o Nícolas uniformizado: “Corajoso, hein?” Mas nesta segunda, me desculpem, mas não dava. O cara do Calçadão nem moleque é, é homem feito. Tenho convicção de que os palmeirenses, que cultuam suas cores e brincam com seus símbolos, anarquicamente até, como é de sua índole, hoje estão majoritariamente envergonhados. E não dá pra conciliar vergonha na cara com neguinho te olhando atravessado, com sorrisinho sarcástico. É dar pano pra manga. Confusão na certa. Melhor não.

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De confusão e violência, aliás, esse campeonato acabou cheio. Foram vários os casos, em especial na última rodada. A invasão de campo no Couto Pereira foi a maior delas. Ser rebaixado em casa no ano do centenário não deve ser bolinho, o que, evidentemente, não justifica o que os coxas fizeram. Até no Rio houve quebra-pau, entre torcedores do Flamengo. Até agora não li nada sobre a recepção que os palmeirenses fizeram à delegação, mas não me surpreenderiam novas ocorrências como a dos tabefes no Vagner Love numa agência bancária perto do Palestra e a das pedras no ônibus da delegação que voltava de Itu. Duvido que, por conta de todo o clima criado, não tenha havido uns catiripapos em Porto Alegre. Sei que a delegação do Grêmio foi recebida com ira por torcedores que acharam que o time se empenhou demais. E, na minha opinião, quem mais mereceu apanhar acabou saindo ileso: Carlos Eugênio Simon, um grande mau caráter. Se o sujeito é afastado de um campeonato nacional por erro grosseiros e, mesmo assim, é mantido como representante deste país na Copa do Mundo, ah, a alguém ele está servindo, pode ter certeza.

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Quando, finalmente, o campeonato de pontos corridos ganhou emoção, ao reunir quatro candidatos ao título na última rodada, foi justamente quando deu asas à bronca de quem acha que o melhor é o sistema mata-mata. O argumento fatal dos pontos corridos – melhor campanha, de cabo a rabo – acabou seriamente arranhado com o corpo mole dos rivais nas últimas rodadas. Quem olhasse a tabela e, prevendo um final parelho, a comentasse, diria que o Flamengo estaria em maus lençóis, porque pegaria Corinthians e Grêmio. Seria uma análise lógica, mas a lógica foi pro espaço no momento em que, no frigir dos ovos, apareceram São Paulo, Palmeiras e Inter como rivais do Flamengo. E dois dos times considerados mais aguerridos do Brasil foram presa fácil para o Mengão, que passeou em cima do Corinthians e fez o que quis com o Grêmio.

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E não venham me dizer que o Grêmio, ao abrir o placar, dificultou as coisas para o Flamengo e deu emoção à rodada decisiva. Coisa para inglês ver. Colóquio flácido para acalentar bovinos. O Grêmio não fez absolutamente nada para ameaçar o Flamengo. Nem antes, nem durante o jogo. Antes, a diretoria sacou mais da metade dos titulares, incluindo o meia Souza (principal jogador) e o goleiro Vitor, da seleção. E mandou ao Rio um elenco em que oito jogadores nunca haviam atuado no Maracanã. Em campo, um enredo enganoso: os gaúchos saíram na frente com um gol de treino, de pelada, de rachão, em que dois jogadores, na pequena área, disputaram quem chutaria a bola vinda do escanteio. A câmera que mostrou um ângulo transversal revelou que, da defesa até o ataque, ninguém do Grêmio, com exceção dos que estavam envolvidos diretamente na jogada, comemorou o gol.

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E a leitura labial revelou que, ao entrar em campo, um cara do Grêmio disse aos demais colegas: “Parou! Ninguém mais chuta a gol”. E as câmeras mostraram o atacante flamenguista Adriano cochichando com um zagueiro do Grêmio – ambos com as mãos na boca, para evitar a leitura labial. E o clima de já ganhou que a imprensa chapa-branca criou durante a semana em torno do Flamengo serviu para camuflar, entre outras coisas, a irregularidade do primeiro gol rubro-negro, em que Adriano usa o braço para impedir a aproximação do zagueiro adversário, deslocando-o no ar. Mas quem teria peito para anotar falta ali? O londrinense Heber Roberto Lopes não teve.

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A violência é injustificável, mas burros de nós se ficarmos achando que tudo o que aconteceu de dez dias para cá é fruto apenas de uma meia dúzia de baderneiros, como os comentaristas e apresentadores sempre dizem para livrar a cara do resto da torcida em questão. A explosão de violência na emboscada ao ônibus do Palmeiras, na invasão do Couto Pereira, no quebra-pau do Rio e todas as outras ocorrências veiculadas ou não na imprensa são fruto do nervosismo sistemático a que os torcedores foram submetidos no decorrer do Brasileirão. Erros de arbitragem grosseiros. Decisões díspares e recuos inexplicáveis da Justiça Desportiva. Declarações intempestivas de dirigentes e, às vezes, dos próprios jogadores. Exploração maciça, pela mídia, de determinados supostos erros, em detrimento de outros. A chapa-branquice das emissoras que detêm os direitos de transmissão quando os times em questão são Flamengo e Corinthians. A absoluta falta de ética de torcedores e dirigentes – e, em menor grau, de outros envolvidos no processo – na hora de honrar a camisa quando o rival pode ser beneficiado.

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De resto, ficam alguns registros exponenciais. O principal deles: a reação heróica do Fluminense, que escapou do rebaixamento numa arrancada fulminante que nem mesmo o erro absurdo de Simon ao anular aquele gol de Obina arranhou. A amarelada histórica do Palmeiras, que teve todas as chances de disparar na frente e acabou fora da Libertadores. A não-vitória do São Paulo, que daria à equipe um tetracampeonato não condizente com a qualidade do elenco dos últimos quatro anos e reforçaria a baixa qualidade atual do futebol brasileiro. A vitória do Flamengo, que tirou o troféu do hegemônico Estado de São Paulo. E a absoluta necessidade de se adotar, no Brasil, uma arbitragem profissionalizada, que eliminaria grande parte de erros crassos que alteram resultados e deixam os nervos à flor da pele.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Marião Bortolotto é baleado em SP

Entrei agorinha na net para checar e-mails e verificar se o Vilches havia desistido de escrever por um tempo no blog dele, mas, antes, abri o G1, como sempre faço, e estava lá, na manchete: "Dramaturgo leva tiro durante assalto no centro de São Paulo". Ah, não pode ser... Já veio aquele frio na espinha. E era. Mario Bortolotto atracou-se com um cara armado que invadira o Bar Parlapatões às 5h30 deste sábado junto com outros dois comparsas e levou três ou quatro tiros, no tórax, pescoço e braço. Está em estado grave na Santa Casa. No Terra, a matéria já falava de uma primeira cirurgia, que durou quatro horas, e ele estava sendo submetido a outra. Que merda isso. Dizer que seria difícil acontecer é mentira, porque Marião vive nos arredores da Praça Roosevelt todo santo dia - todas santas noites e madrugadas, melhor dizendo, exceções àquelas em que ele está viajando pelo País com suas peças ou sendo jurado de alguma coisa. E a cena da tentativa de homicídio, descrita por um atriz que acabara de representar numa peça dele, ali mesmo, no Parlapatões, não deixa dúvidas sobre o estilo do Marião. Era ele em cena, pura. "Aqui você não vai assaltar ninguém", teria dito ele ao figura. E se atracou com o sujeito. Levou três ou quatro tiros - as notícias ainda estão desencontradas. Sabe-se, porém, que o estado é grave. Marião nasceu em Londrina, tem 47 anos, é conhecidíssimo por aqui. Perambulou por bares e lugares ermos a vida toda, até mudar-se para São Paulo, onde frequenta os mesmos lugares ermos - só que exponencializados pela paulicéia desvairada. Nunca admitiu cara feia pro lado dele. Amigos, como Marcelo Rubens Paiva, já estão fazendo vigília em frente à Santa Casa. O blog dele (www.atirenodramaturgo.zip.net; sórdida coincidência) é leitura obrigatória minha desde que o Bruka o recomendou, há anos. Lá ele descreve as cenas cotidianas das bebedeiras e dos shows de rock que protagoniza com a banda Saco de Ratos. Há tempos vem dizendo que anda mais sossegado, que já não briga mais como antes, embora não suporte, nunca, nhém-nhém-nhém na cabeça e abordagens impertinentes. A filha dele com a Cris Viana, atual mulher do Carlinhos Bozzelli, nosso colega fotógrafo, acho que mora em Londrina. Saia dessa, Marião. Ele não perde por esperar. Você ainda vai ter chance de pular no pescoço daquele malandro de novo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Piada real

O palmeirense intimou o corintiano, velho camarada dos tempos de faculdade, para beber umas à noite, com um grupo de amigos, para comemorar seus 44 anos. O convidado primeiro confirmou presença, mas, poucas horas antes da bebemoração, mandou msg dizendo que tinha pegado gripe daquelas e estava com o corpo moído. Ao que o palmeirense, já indignado com as facilidades dadas ao Flamengo em campo na reta final do campeonato, tascou:
- Só porque é corintiano vai fazer corpo mole?