quarta-feira, 31 de março de 2010

Ao Mestre, com carinho

Alguém pode estranhar o fato de, até então, não ter escrito nada sobre a morte de Armando Nogueira. E com razão. De todos os cronistas esportivos, é o meu preferido. O outro, Nelson Rodrigues, também já foi. Restam Ugo Giorgetti, Antero Greco e, vá lá, Juca Kfouri. É que mortes desse naipe eu não me sinto à vontade para escrever sobre. Travo. Empaco. É muita responsa. Tudo o que seria dito parece que resvalaria para o óbvio ou, pior, para o piegas. Então, acabo de achar a salvação. Marco Antônio Freire Gomes, que, entre outras virtudes, é pai de Nilo, Alice e Lauro e marido de Valéria, me encaminha uma crônica do Mestre, com o seguinte recado:

Por que eu sei que admira e coleciona. Por que sei que sentiu a perda e sempre vai lembrar. Pode mesmo já ter lido estas entre tantas que bebeu deste notável. Mas na hora em que fiquei sabendo da transferencia dele para outro estádio me lembrei do amigo Fischer.Até a proxima rodada. Abraço MGomes.




México 70
Armando Nogueira
México 70 - E as palavras, eu que vivo delas, onde estão? Onde estão as palavras para contar a vocês e a mim mesmo que Tostão está morrendo asfixiado nos braços da multidão em transe? Parece um linchamento: Tostão deitado na grama, cem mãos a saqueá-lo. Levam-lhe a camisa levam-lhe os calções. Sei que é total a alucinação nos quatro cantos do estádio, mas só tenho olhos para a cena insólita: há muito que arrancaram as chuteiras de Tostão. Só falta, agora, alguém tomar-lhe a sunga azul, derradeira peça sobre o corpo de um semi-deus.
Mas, felizmente, a cautela e o sangue-frio vencem sempre: venceram, com o Brasil, o Mundial de 70, e venceram, também, na hora em que o desvario pretendia deixar Tostão completamente nu aos olhos de cem mil espectadores e de setecentos milhões de telespectadores do mundo inteiro.
E lá se vai Tostão, correndo pelo campo afora, coberto de glórias, coberto de lágrimas, atropelado por uma pequena multidão. Essa gente, que está ali por amor, vai acabar sufocando Tostão. Se a polícia não entra em campo para protegê-lo, coitado dele. Coitado, também, de Pelé, pendurado em mil pescoços e com um sombrero imenso, nu da cintura para cima, carregado por todos os lados ao sabor da paixão coletiva.
O campo do Azteca, nesse momento, é um manicômio: mexicanos e brasileiros, com bandeiras enormes, engalfinham-se num estranho esbanjamento de alegria.
Agora, quase não posso ver o campo lá embaixo: chove papel colorido em todo o estádio. Esse estádio que foi feito para uma festa de final: sua arquitetura põe o povo dentro do campo, criando um clima de intimidade que o futebol, aqui, no Azteca, toma emprestado à corrida de touros.
Cantemos, amigos, a fiesta brava, cantemos agora, mesmo em lágrimas, os derradeiros instantes do mais bonito Mundial que meus olhos jamais sonharam ver. Pela correção dos atletas, que jogaram trinta e duas partidas, sem uma só expulsão. Pelo respeito com que cerca de trezentos profissionais de futebol se enfrentaram, músculo a músculo, coração a coração, trocando camisas, trocando consolo, trocando destinos que hão de se encontrar, novamente, em Munique 74.
Choremos a alegria de uma campanha admirável em que o Brasil fez futebol de fantasia, fazendo amigos. Fazendo irmãos em todos os continentes.
Orgulha-me ver que o futebol, nossa vida, é o mais vibrante universo de paz que o homem é capaz de iluminar com uma bola, seu brinquedo fascinante. Trinta e duas batalhas, nenhuma baixa. Dezesseis países em luta ardente, durante vinte e um dias — ninguém morreu. Não há bandeiras de luto no mastro dos heróis do futebol.
Por isso, recebam, amanhã, os heróis do Mundial de 70 com a ternura que acolhe em casa os meninos que voltam do pátio, onde brincavam. Perdoem-me o arrebatamento que me faz sonegar-lhes a análise fria do jogo. Mas final é assim mesmo: as táticas cedem vez aos rasgos do coração. Tenho uma vida profissional cheia de finais e, em nenhuma delas, falou-se de estratégias. Final é sublimação, final é pirâmide humana atrás do gol a delirar com a cabeçada de Pelé, com o chute de Gérson e com o gesto bravo de Jairzinho, levando nas pernas a bola do terceiro gol. Final é antes do jogo, depois do jogo — nunca durante o jogo.
Que humanidade, senão a do esporte, seria capaz de construir, sobre a abstração de um gol, a cerimônia a que assisto, neste instante, querendo chorar, querendo gritar? Os campeões mundiais em volta olímpica, a beijar a tacinha, filha adotiva de todos nós, brasileiros?
Ternamente, o capitão Carlos Alberto cola o corpinho dela no seu rosto fatigado: conquistou-a para sempre, conquistou-a por ti, adorável peladeiro do Aterro do Flamengo. A tacinha, agora, é tua, amiguinho, que mataste tantas aulas de junho para baixar, em espírito, no Jalisco de Guadalajara.
Sorve nela, amiguinho, a glória de Pelé, que tem a fragrância da nossa infância.
A taça de ouro é eternamente tua, amiguinho.
Até que os deuses do futebol inventem outra.

terça-feira, 30 de março de 2010

Eu sei o que você fez em 1984 - II




Tô na roça, daqui a pouco tem reunião do sindicato, mas dá tempo de postar mais duas fotos de antigamente. Nem imagino o autor delas. Para postá-las, contei com o auxílio luxuoso de Ivo Akio, que as escaneou. Na pressa, nem permiti que ele desse aquele trato photoshopístico. Foi na crua mesmo. O que sei é que foram feitas na república da Paraíba 322. Na primeira foto, estamos eu, Berenice e Dirceu. Um guaraense, dois andradinenses. Dirceu e eu morávamos lá; Berê não saía de lá, seja em visitas esporádicas, seja como presença garantidas nas festas quase semanais que se tornaram famosas em todo o complexo CECA-CCH. Berê retraída, tímida como sempre, até mais do que eu - difícil, hein... Dirceu fazendo macaquices. Pelas vestimentas, estávamos no inverno. Deve ter sido o de 1985. Em 1984, quando chegamos a Londrina, minha mãe colocou na mala uma manta de algodão que meu pai tinha ganho de presente de Benjamin Curi, tradicional plantador de algodão da Alta Mogiana. Para ela, o Paraná era a terra da geada, e o filhinho tinha de ficar bem agasalhado. Pois bem, chegou o inverno de 1984 e... necas. Passou batido. Foi como se não existisse. Ligava para casa e falava: "Mãe, aqui é que nem aí...", referindo-se à tórrida região de Ribeirão Preto. Foi como se o dono do tempo dissesse: "Ah é, é..." Pois no inverno seguinte nós tínhamos que cortar a resistência do chuveiro e deixar a torneira de forma a sair só um filete para que a água descesse minimamente quente. Que frio do caralho! Dirceu Herrero Gomes vive em Maringá há vinte e tantos anos, com a Regina Daefiol, também daqui. Berê engravidou no segundo ano de faculdade e vazou. Está, segundo a Cláudia Romariz, outra conterrânea, em São José do Rio Preto. Na foto de cima, eu com Helder Vilela e Vânia Novelli. Vânia é de Ibitinga, onde hoje mora minha filha, e era a turma 84/1, como nós. Helvil foi incorporado à nossa turma, pelas qualidades que dispunha: bom humor e uma sede industrial. Helvil é de Tamarana, do tempo em que Tamarana era distrito de Londrina. Conheci a casa dele, o seu Messias. Hoje está em Goioerê, e acho que nem está sabendo da presepada que iremos aprontar nesse final de semana. Se alguém puder avisá-lo, tenho certeza de que virá. Vânia é presença garantida, como já deixou claro em e-mails. Está em São Paulo, acho que na área de publicidade. Estava ao lado dela quando virei jornalista de verdade. A parada foi a seguinte. Ao sair de uma aula, no início do terceiro ano, estávamos juntos quando fomos abordados pelo Jogó - um veterano que, anos depois, viria a ter um filho com ela. O fato é que o Jogó veio com um papo de que já havia lido algo meu em um jornal não sei do que - eu dizia que não. Então tinha sido não sei aonde - e eu negava. Até que lá pela quarta ou quinta tentativa ele tascou: "Você quer trabalhar no Paraná Norte?" O famoso PN, produto regional lançado pela Folha de Londrina em 1986 para, mais uma vez, sufocar a tentativa de criação de um segundo jornal na cidade, estava precisando de uma segunda leva de focas depois que a primeira já começava a debandar. Fui, fiquei um mês, até tirei uma foto com a Carla Sehn - que depois publico - mas não rolou contratação porque, segundo o Jerê me comunicou, a direção não havia liberado contratações, embora o jornal estivesse necessitando. Não deu em setembro de 1986, mas aconteceu em janeiro de 1987, quando também levei o Dirceu, que inaugurava ali sua carreira. As duas fotos acima foram feitas na república, como já disse, república das festas. Mas essa é outra história.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Eu sei o que você fez em 1984 - I


Certamente fomos ao Bar do Carlão logo depois da aula. Sim, por que, ao contrário, como nos encontraríamos de dia? À tarde era o único período em que nos desgrudávamos. De manhã, aula – para quem conseguisse ir. De tarde, bode. De noite, fim de bode. De madrugada, fervo. Todos os dias. O Carlão era o bar que mais vendia cerveja na cidade. Quarenta grades, em média. Eram ele, o Souza, o Baiano, os caras que movimentavam, fizesse chuva ou sol, o bebum em Londrina. Estamos na parte secundária do L da varanda. Era a parte que dava, meio que de esgueio, ao caixa, ao qual tínhamos acesso pela janela que mal aparece na foto. Ali o gerente do Carlão, que, acho, era o irmão dele, assim como o Eduardo tocou o Bar do Jaiminho a vida toda, fica recebendo contas e comandando a tropa. Eu tava de camiseta, a única calça não-jeans que tive e havaianas – estávamos na aula, claro. Fiquei meio de frente para o fotógrafo, cujo nome ignoro, enquanto a Cláudia Romariz torcia o pescoço para mostrar o sorriso e o Negão Herrero tentava disfarçar a vontade de ficar olhando para aquela que é uma das mulheres mais bonitas que já vi. Dirceu e Cláudia são de Andradina, vieram para o mesmo vestibular e entraram para a mesma turma. Ela, uma das mais novinhas da turma – talvez perca apenas pra Carla Sehn. Ele, uns dois anos a mais, filho de seu Dorival, família convencionalmente diferente, a que tive o prazer de conhecer. O isqueiro branco era meu – só eu fumava ali. Os copos estão cheios – boa hora de tirar fotografia. Cheios de Antártica, presumo. A cidade privilegiava a Skol, que era fabricada na Cervejaria, perto do IBC, ao final da Avenida do Café. Olha a parede. A mesa, novinha. Mas nóis, do interior de São Paulo, sempre preferimos a Antártica. Isso, hoje, soa esquisito, porque a Antártica ficou pra trás, mesmo. A Brahma era a cerveja mais amarga. Antártica, a mais forte. Skol: boa, macia. Tinha muitas porções, no Carlão. Ele ganhava grana na escala da cerveja e nas porções. Se não me engano, Helvil morava ali pertinho, na Pernambuco. Pode até ser no imóvel que viria a ser o Araucana. No mínimo, muito perto dali. Atrás desse muro da Skol ficava o Açougue do Carlão. Ali Helvil, Loyolla e eu comprávamos lingüiça, mandávamos picar, comíamos com limão e tomávamos cerveja e pinga até miar. Daí eu voltava pra casa, na Paraíba 322. Eu e Dirceu moramos lá desde o primeiro dia em Londrina. Mal deixei a mala em casa, chegando de Guará, fui pro Calçadão e, sem querer total, conheci o Dirceu, que procurava um lugar pra ficar e eu disse que lá em casa acho que tinha uma vaga. Ele foi comigo e ficamos cinco anos lá, dividindo república com gente de Odonto, Engenharia, Fisio, Vetê, gente de SP, PR e SC. A república das festas... Ah! Mas isso é tema para as próximas fotos que disponibilizarei aqui durante essa semana de reencontros.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Chiquitim


Entre o Natal e o Ano Novo, estava em dúvida se amarrava o burro na sombra ou tirava a vaca do brejo quando resolvi fazer o que não havia feito desde que chegara em Guará-SP para as festas de fim de ano: dei uma passada na Fischer Fértil, ao lado da Câmara, onde meu pai vende sementes e alguns insumos agrícolas nessa terra que já foi a Capital Nacional do Algodão e hoje não passa de uma das muitas Cidades da Cana desse interiorzão paulista. Cumprimentei uns amigos que proseavam na calçada, entrei, tomei um gole d’água e já ia abrindo a Playboy da Sabrina Sato quando entra o Chiquitim.

Figuraça.

As famílias dele e do meu pai se conhecem desde a época de Matusalém. Chiquitim, que nasceu Francisco, virou Chico e depois Chiquitim, tem 14 filhos. “Nunca ninguém passou fome em casa”, ouvi ele dizer, enquanto observava um vereador folgado jogando uma bituca no meio-fio – a impressão é de que em alguns locais a consciência ambiental só vai chegar no quarto milênio depois de Cristo.

Chiquitim entrou no escritório pedindo ajuda para duas crianças da rua dele que tinham sido atropeladas no dia de Natal pelo carro da prefeitura que passou jogando bala pra molecada. E, pau pra toda obra, logo foi questionado pelo meu pai se conhecia algum veneno para morcegos, que andam infestando o sítio na Grota. “Só existe um, e eu que inventei”, vaticinou, ligeiro, atropelando as palavras, bem ao estilo caboclo. Segundo ele, a única coisa que espanta morcego é naftalina – que ele pronuncia sem o efe. Evidente que ele quis dizer que inventou não a naftalina, mas a utilização dela como tal.

Terminada a receita para afugentar os únicos animais mamíferos capazes de voar, aproveitei a deixa para checar com o dito cujo a história que ouvira dias antes numa roda de cerveja sobre uma antiga apresentação dele na TV – um desastre, segundo as más línguas.

Figura carimbada nos botecos, Chiquitim canta, digamos, muito mais ou menos. Já o alertaram sobre isso um milhão de vezes, mas sempre quis porque quis se apresentar “na rádia”, até que, de tanto insistir, conseguiu coisa melhor: uma brecha num programa sertanejo da TV Record de Franca, isso há mais de 20 anos, época em que, na esteira de Milionário e José Rico, o Trio Parada Dura – Creone, Barrerito e Mangabinha – emplacava um sucesso atrás do outro.

Combinaram que cantariam “Grão de areia”, e lá se foram ele e o parceiro Betão para Franca. Um sanfoneiro da TV ajudava os calouros. O programa era ao vivo. Sentados à espera da vez, de cabeça feita (“tomei oito pingas”), Chiquitim já começava a perder a paciência com Betão, que a toda hora o cutucava para ele não se esquecer do primeiro verso da música escolhida: já fui um grão de areia e todos pisavam em mim... “Eu sei, eu sei, diacho!”, ele repetia ao parceiro. “Ocê que vai se atrapaiá de tanto pensar nisso, sô.”

Chegada a hora, entraram no estúdio, onde havia vários monitores mostrando a dupla em diversos ângulos. Chiquitim olhou para um deles, se viu na tela da tevê, decerto se achou o bicho da goiaba e, quando o sanfoneiro puxou o fole, em cima do já fui um grão de areia entoado pelo parceiro ele tascou sou um homem de pedra que não tem mais compaixão – primeiro verso de outro grande sucesso do Trio Parada Dura na época, “Homem de pedra”.

Resultado: cantaram uma música sobre a outra durante mais de um minuto, até que engrenaram a letra certa de “Grão de areia” e foram até o final e, com isso, talvez tenham sido a única dupla na história daquele programa que cantou uma música e meia. Da TV, Chiquitim já desistiu, mas, dos botecos e da naftalina, ainda não.

domingo, 21 de março de 2010

A noite em que Londrina aplaudiu Oscar

De madrugada, à espera do dia clarear para ir na feira da Alagoas comprar queijo fresco para comer com goiabada cascão, e depois ver o basquete no Mãe de Deus, vou à caça de um texto que fiz em novembro de 2008 sobre uma palestra de Oscar Schimidt a pequenos empresários num evento do Sebrae, para o qual eu fiz assessoria de imprensa. Achei. É um texto pouco convencional para uma assessoria de imprensa. Talvez valha a pena ler de novo. Ei-lo:





A noite em que Londrina aplaudiu Oscar

Ex-jogador emociona platéia com seu jeitão boa-praça e suas histórias de vida

O que a trajetória de um jogador de basquete tem a ver com a saúde de uma empresa? Será que a rotina de um atleta pode ter alguma serventia para o dia-a-dia de um empresário? Aos 50 anos de idade, 32 deles em quadra, após 49.737 pontos assinalados em 1.615 jogos e uma lista interminável de títulos e recordes nacionais e internacionais, o agora palestrante Oscar Daniel Bezerra Schmidt acredita que sim.

“É necessário, primeiro, visão, ou seja, definir um objetivo. Em segundo lugar, decisão: você não pode fugir da responsabilidade, a vida é feita de decisões. Em terceiro, time: você pode, vez ou outra, ganhar um jogo sozinho, mas um campeonato você só ganha se tiver uma boa equipe. Depois, obstinação: não fui o melhor jogador do planeta, como havia planejado, mas treinei como ninguém, mais que qualquer um, e me orgulho disso. E, por fim, paixão: não basta gostar de basquete, tem de ser apaixonado por ele. Imagino que no mundo corporativo deva ser a mesma coisa.”

Foi essa a resposta dada por Oscar a um grupo de jornalistas de Londrina que o entrevistou no camarim do Teatro Marista, pouco antes da palestra que fez a cerca de mil pessoas, quinta-feira à noite, por conta da Semana da Pequena Empresa, promovida pelo Sebrae/PR. Naquele encontro com a imprensa, além de reafirmar os conceitos que o fizeram vencedor, o maior ídolo do basquete brasileiro falou sobre o que mais gosta e entende: basquete.

Criticou a conduta da Confederação Brasileira da modalidade, defendeu o fortalecimento de uma liga de clubes independente e defendeu-se, enfaticamente, dos momentos conturbados que viveu na cidade há uma década, por conta de decisivos confrontos dos times que defendia com a equipe local, pelos Campeonatos Brasileiros da época.

Mais de uma vez ele atuou na quadra de um Ginásio Moringão lotado por uma torcida hostil – o então técnico londrinense Enio Vecchi chegou a declarar que Oscar seria recebido a bala na cidade. Mais de uma vez ele foi xingado em coro por 8, 12, 15 mil pessoas, por supostos favorecimentos da arbitragem. Em 1997, 1998, era inimaginável Oscar Schmidt andando pelas ruas de Londrina sem que estivesse protegido por um batalhão de seguranças. Se deixasse o hotel e fosse a alguma loja do Calçadão, por exemplo, muito provavelmente algum maluco desrespeitaria seus 2,05 metros de altura.

Foram momentos em que a cidade verdadeiramente odiou Oscar Schmidt.

Se, porém, ainda havia algum resquício de animosidade entre o londrinense – que viveu apaixonadamente aquela fase áurea do basquete local, nas vitórias e nas derrotas – com o homem que jogou cinco Olimpíadas, tudo foi dissipado quando ele adentrou o palco do Teatro Marista. Foi ruidosamente aplaudido por uma platéia composta por empreendedores, mas também, muitos estudantes, professores universitários e curiosos em geral.

Em cena, Oscar deu um show. Simpático, exibia seu uniforme oficial: tênis, calça jeans e uma camiseta da seleção brasileira de futebol, com seu nome e o número 14 nas costas. Arrancou gargalhadas com suas fotos antigas e suas histórias de vida, recheadas de expressões e palavrões que fizeram parte de sua rotina de jogador.

Em várias ocasiões, deixou a platéia emocionada – em especial quando relembrou, sempre com a ajuda de imagens, a conquista do Pan-Americano de 1987 sobre os então imbatíveis EUA em plena Indianápolis e, no último capítulo da palestra, com a história do professor de educação física Hugo da Costa, que sagrou-se vice-campeão colegial do Mato Grosso do Sul com uma equipe de garotos carentes que carpiram a própria quadra num terreno baldio de Ponta Porã. Ao final, foi aplaudido de pé, por vários minutos. Sentado no beiral do palco, exerceu seu lado boa-praça, atendendo inúmeros pedidos de autógrafo e poses para fotos.

Uma noite inesquecível, em que a cidade verdadeiramente apaixonou-se por Oscar Schmidt.

Achamos o Loyolla!

Festas como essa que a Edra está organizando para a Semana Santa em Londrina, "Eu sei o que você fez em 1984", serve para isso também: achar velhos amigos, sobre os quais as pessoas perguntam e você nunca sabe o que responder, senão a última e surruda informação seguida de um "ah, mas isso faz tempo que eu ouvi, viu..." No troca-troca de e-mails que foi deflagrado pela festa, Rodrigo Garcia Lopes me indica o e-mail de uma amiga, que me fornece o endereço do sujeito, eu escrevo sem muita esperança - Rodrigo avisara: ele quase nunca responde e-mail - e eis que o cidadão reaparece. Carlos Alberto Diez Loyolla - bendito ao fruto que aparece na foto do Buraquinho, aí embaixo - informa que está em Guaíra, a terra natal, está casado, tem uma filha de quase oito anos, é funcionário "púbico" - como ele destacou - na Secretaria Municipal de Fazenda e toca a lanchonete que, além de sucos e coxinhas, fornece alimentação para empresas. No primeiro e-mail disse que morria de saudades de todos, mas que seria muito difícil vir para a festa, "talvez em maio". No segundo, já sinalizou a possibilidade de estar presente. Neste sábado, em cerimônia na UEL, encontrei Pedrinho Livoratti, que disse que ligaria para o figura a fim de convidá-lo para ficar na casa dele. "Pô, véio, o Jaca é meu chapa". Nas repúblicas, Loyolla era Jacaré. Pedrinho era nosso calouro. Tomara que o convite dele viabilize a vinda de Lolô. O Cemitério não pode ficar sem umas figuras dessas. Pelo menos nos dias 2, 3 e 4 de abril.

sábado, 20 de março de 2010

Meia-nove

Em 1992 meu pai fez 51 anos. Liguei pra ele já era quase meia-noite. Ensaiei ligar de manhã, planejei pra tarde, achei que de noite seria melhor, me enrosquei numa parada aí e fui me tocar de que ainda não havia ligado pelo aniversário dele era 11 e tralalá. Sorte que havia um telefone na mesinha de cabeceira. Liguei, pedi perdão, fiz os cumprimentos de praxe e, ao final, motivado talvez pela quase deselegância, brinquei com o velho: "51, boa idéia, hein, pai..."

Hoje ele fez 69.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Buraquinho


Num arroubo juvenil, Aurélio propôs que saíssemos pelo campus em protesto, como nas passeatas da década de 80. Santo Buraquinho. Entrei na UEL em 84/1. Em 86, integrei a V.A.C.A. e votei na eleição que elegeu o Bounassar, a primeira direta na UEL. Alvaro Dias havia concedido um benefício que caía de morto: a gratuidade. Foi nesse período que frequentei o dito cujo, que está sendo - ou já foi - destruído para dar lugar a não sei o quê, não alugando, mas porque não sei mesmo que vai virar lá, talvez até seja uma coisa boa. Mas o fato é que foi pro buraco. Li no blog do Briguet e fui atrás de uma foto que sabia que tinha. Essa aí. Acho que fui eu quem fiz, certamente para a aula do Ivan. Ivo Akio escaneou para mim e deu um trato, o que permitiu que visualizássemos a maioria dos que estão ali. Vamos lá. Sentado, Loyolla fazendo o que mais sabia: enrolar e fazer á gente dar risada. Sentada à direita dele, no espaço do caderno, Carla Sehn, que ficou séculos em Curitiba - mais exatamente nos mandatos de Emília Belinati na Assembléia e no governo - e hoje uma requisitada profissional. Nossa irmãzinha mais nova. É sério. Entrou na UEL parece que com 16 ou no máximo no começo dos 17 anos. Também sentada, recebendo não sei o que do Loyolla, a Silvana e seus eternos cabelos crespos. Trabalha na Folha faz uma cara. Gente direita pra caralho. Acima dela, em pé, com a mão no bolso, Gelson, da Arquitetura, acho. Cenógrafo premiado nacionalmente por trabalhos com o Armazém. Segundo o Bruka, está em Curitiba. Topava com ele sempre pelas ruas do centro, em especial a Mato Grosso, onde íamos comer no vegetariano. À esquerda de todos, Gracinha. Maria das Graças Topanotti Milanez. Sobrinha-neta do seu João. Ariel e eu fizemos uma serenata no apê em que ela morava com a Vânia, na Higienópolis. Casou com o Febo e foi para Umuarama. Tá lá até hoje. Na foto, ela está com o jeitinho puramente Gracinha. No sentido horário, mais Carina do que nunca, Carina Paccola, já graciosa, com aquele cabelinho escorrido. E, segurando a arvrinha, louca Vânia Novelli. De Ibitinga, onde, vocês sabem, mora minha filha Natália. Foi pra Sum Paulo e, pela troca de e-mails, presença garantida no Sábado da Aleluia, na Sexta-Feira Santa e no Domingo de Páscoa. Dias 2, 3 e 4, no Cemitério. "Eu sei o que você fez em 1984". Esse Buraquinho, vou te falar: tem mais história do que urubu de vôo. Mariano, Pia e Valéria, o trio que nunca se separava e nunca saía dali. CESA, ali ao lado. Os mauricinhos do Direito. As gostosas de Direito. As festas no DEF. As festas na Goiás. As festas na Paraíba 322. As festas da Nova República. Fazer o que, eu tentei aproveitar.

Tomou, papudo?


Sempre fui da tese de que em santista não se goza. Meus amigos são testemunha disso. Sempre tive - tivemos, nós, palmeirenses em geral - o Santos como segundo time. Poucas escaramuças. Até mesmo nas derrotas para eles o sentimento é diferente de perder para um Corinthians, um São Paulo. Me perdoem os amigos santistas, mas desta vez temos de dar um zoada básica. Principalmente depois do Madson empatar em 3 a 3 e jogar-se no gramado, tal qual um Viola em 1993, imitando o porco. A virada de 3 a 2 já não lhe tinha sido suficiente para saber que com o Parmera não se cutuca leão com vara curta, moleque?


No fundo, tudo é uma homenagem a Alberto Macedo e muitos outros amigos santistas, todos eles muito bons de cabeça, embora doentes do pé: Nelson Capucho, João Arruda, Gilberto Testa, Ivo Akio, Régis Querino, Roberto Lisboa - velhos companheiros da velha Folha. Menos o Testa, vá lá.




segunda-feira, 15 de março de 2010

4 a 3, 1958 e o Supercampeonato


No Esporte Espetacular, a Globo contou a história de Santos 7 x 6 Palmeiras, de 1958, através de imagens localizadas pelo cineasta Anibal Massaini. Grande matéria, exibida no dia em que o Santos de Robinho e Neymar, já comparado com o de Pelé, enfrentaria o Palmeiras na Vila, em partida que prometia emoções.

Lembro que quando trabalhava na Folha de Londrina, sob a batuta de Isnard Cordeiro, nossa obsessão era de que o título que déssemos a uma apresentação de jogo se confirmasse no dia seguinte, e melhor ainda se o personagem que escolhêssemos para a foto fosse decisivo para o placar. Servia para provar que nossa intuição estava certa. Era um tipo de auto-afirmação para jornalistas esportivos, uma "prova" de que entendíamos do assunto. Foi isso que a Globo fez: resgatou um belo jogo no dia de um belo jogo que se prenunciava.

Lembrei de Isnard semanas atrás, quando o Palmeiras enfrentou o Botafogo em Ribeirão Preto e, pela TV, vi uma faixa de palmeirenses de Miguelópolis, onde ele nasceu. Saudades, Cordeiro. Mas, enfim, a Globo contou, muito oportunamente, a história daquela partida de 1958, em que o Palmeiras saiu na frente, o Santos virou, o Palmeiras empatou mas o Santos abriu a caixa de ferramentas e encerrou o primeiro tempo com 5 a 2 no placar.

Daí parece que a bronca de Osvaldo Brandão no vestiário funcionou e o Palmeiras, aos 34 minutos do segundo tempo, decretava um inacreditável 6 a 5, quando Pepe marcou dois e estabeleceu o lendário 7 a 6. Para Pepe, vivinho da silva e lúcido como sempre, foi o jogo mais emocionante produzido pelo futebol brasileiro. Há registro de cinco mortes por síncope do coração durante a partida.

Disso também é feito um campeão mundial de verdade, viu, ô, mané, e não só com timbres da Fifa. Muito melhor um feito desses - mesmo com derrota - do que um título ganho num jogo só com gol de gazela.

Bem, desabafos à parte, bem que a Globo poderia ter emendado com a decisão do Paulistão do ano seguinte. Tudo bem que a pauta era baseada nas raras imagens encontradas por Massaini, autor de "Pelé Eterno", mas a final de 1959, no seu conjunto, além da proximidade de datas, foi tão ou mais emocionante que o lendário 7 a 6 do ano anterior.

Santos de Pelé e Palmeiras terminaram o torneio - disputado em pontos corridos - iguaizinhos na tabela de classificação, o que obrigou a FPF a determinar jogos extras, que ficaram conhecidos como Supercampeonato. Primeiro jogo, 1 a 1. Segundo, 2 a 2. No terceiro, Pelé abriu o placar, mas Julinho e Romeiro viraram. Desta vez não foram registradas mortes. Só alegrias.





O Palmeiras, a quem o futebol brasileiro reservou tantas tarefas, acaba de dar mais uma grande contribuição a ele: um banho de humildade nos meninos da Vila. Afinal, precisaremos deles em 2014.

***

Se parávamos o Santos de Pelé, por que não pararíamos o Santos de Neymar?


***

Ganhar do Santos foi fácil; difícil mesmo foi ganhar do Sertãozinho.

sábado, 13 de março de 2010

Glauco


Glauco é daqueles que fazem parte da vida da gente sem nunca tê-lo conhecido. Minha geração é Glauco para caramba. Glauco, Laerte, Angeli. Estava na faculdade quando ele pintou na Folha de S. Paulo, com Geraldão. Comprávamos as revistas deles, ou procurávamos nos sebos, quando não tínhamos dinheiro - e isso era comum. Crescemos dando risada com Geraldão, Neuras, Doy Jorge, Grinfa, Dona Marta. Acabei de mandar e-mail para um colega adepto do Daime para tentar entender essa droga toda. Quase perdemos Bortolotto e, agora, essa. Ainda era estudante quando entrei na Folha de Londrina e conheci colegas de infância de Glauco em Jandaia do Sul. Alberto Macedo, um irmão, era da trupe. Ele, Tadeu Banana, Ratinho. A vida já não é fácil quando segue o curso natural. Essas tragédias deixam a gente sem chão. O cara chegou na chácara pedindo para ele confirmar para a mãe que era Jesus. Logo logo vai cair na real. O caso me lembrou um pouco o de Lennon. O cara que morre pelas mãos de um fã. Que merda.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Divino


Para completar a tríade nos jardins do Parque, faltava Da Guia. Mas estou com preguiça e, na verdade, com vontade de escrever sobre o Glauco. Então vamos lá, rapidinho, só pra não passar batido e chacoalhar o bambuzal dos incautos: 901 jogos em 17 anos de Palmeiras. Filho de Domingos da Guia, o maior beque central do mundo, à frente de Luís Pereira. Virou filme, livro, tese, música, poema, ídolo, lenda. Não falem mal de Ademir para um palmeirense. Não porque virá uma reação irada, briga, discussão, essas coisas. Nada disso. É para você não ter de pedir desculpas depois.

quarta-feira, 10 de março de 2010

Waldemar Fiúme


Reproduzo a Wikipédia.

“Era chamado de o pai da bola, porque durante a carreira de 17 anos passou por várias posições. Começou como meia direita, passou a volante e terminou na quarta-zaga. Jogou só no Palmeiras entre 1941 até 1958. É um dos poucos que tem um busto no clube ao lado de Ademir da Guia e Junqueira. Era um jogador versátil e disciplinado taticamente. Morreu do coração.”

Pensei que pudesse ter jogado com Ademir, mas não. Divino chegou ao Palmeiras em 1961, três anos após a saída de Fiúme, que jogou, então, a heróica campanha de 1942. E participou ativamente das Cinco Coroas de 1951.

Reza a lenda que ficava meses sem errar um passe.


domingo, 7 de março de 2010

Junqueira, o centenário


O Marcão falou de novo em parar com a bagaça e me lembrei dos bustos que, em breve, deverão lhe fazer companhia. Temos, claro, até por conceito, Ademir da Guia como o cara. Mas tinha certeza de que ele não era o mais velho. Pelo contrário. Dos três que enfeitam os Jardins Suspensos, acho que é o mais novo. Do Waldemar Fiúme eu desconfio que tenha sido colega de escalação, mas sabia que Junqueira é o mais antigo. Dei uma gulgada básica e abri o primeiro link que veio, da Wiki. Estava tudo lá. Jogou só no Palmeiras. De 1931 a 1945. Nos tempos que só existiam os estaduais, foi oito vezes campeão – todas como capitão. Zagueiro. Jogou 326 jogos. Perdeu 52. Ganhou 201. De 1931 a 1945! Isso significa que comandou a equipe em seu único tricampeonato: 32-33-34 ( tem time grande aí que não tem nenhum). Ganhou o primeiro Rio-São Paulo da história, em 33. Vestia a tarja nos 8 a 0 - a maior goleada do Derby - sobre o Corinthians. Não marcou um gol sequer. Comandou o Palmeiras nos últimos anos de amadorismo (até 32) e na primeira década do profissionalismo. Comandou o time do Palmeiras em toda a Segunda Guerra Mundial, quando quiseram tomar nosso estádio na mão grande. Ao lado de Oberdan, carregou a bandeira do Brasil na decisão de 42 contra o São Paulo, na semana em que morria o Palestra de São Paulo e nascia - já campeã - a Sociedade Esportiva Palmeiras. Jogou pela Seleção Brasileira. Estreou com a amarelinha na Copa Roca, na decisão, contra a Argentina, no Parque Antártica. Não consta que tenha sequer ouvido falar em meias e cuecas endinheiradas. Morreu em 1985, aos 75 anos. Teria completado 100 anos em fevereiro.




sexta-feira, 5 de março de 2010

Elocubrações na madrugada

Só nos resta - a todos, mas principalmente a nós, porcos escorneados - apelar à galhardia e admitir que esse Santos é o bicho da goiaba. Conseguiram reunir num time um bando de moleques bão pra carai, no auge da petulância e nos cascos. O que o Robinho fez hoje foi espetacular. Temos que checar o gatorade dele. O cara tá simplesmente voando. Sempre achei, mesmo na pior dele, que é o diferencial da seleção. O cara capaz de resolver quando a coisa estiver no bico do urubu. Não que Adriano, Fabiano, Kaká não possam. Mas se tiver o poder de pedir a quais pés a bola tem de estar faltando 30 segundos, eu pediria que caísse nos pés de Robinho. Qualquer um da equipe pode pegar um chutão, aproveitar um chuveirinho, dar um voleio, mas, em termos de potencial, ele ganha de todo mundo. Porque, na hora em que a onça estiver acabando de beber água, talvez necessitemos de alguém que combine deslocamento, agilidade, domínio e conclusão. E isso não vamos encontrar em nenhum outro no time de Dunga. Só nele. Quem sabe seja jusamente o que precisamos para, por exemplo, dar um coro na França - o que, mesmo com Robinho, não conseguimos em 2006. Seria bom, só para colocarmos os pingos nos is. Então, mas o assunto é o Santos. E vamos combinar: tem uns três jogando que nem ele no time - mais até. Há quem ache - Chicão, na entrevista após o "chapéu" do Neymar - que Ganso é quem comanda o time. Para eles, é bom que seja. Libera aquele trio de capetas - Neymar, Robinho e André - a infernizar o adversário. No golaço do Robinho de hoje, os caras chegaram a quase tropeçarem juntos na bola, tamanha a velocidade dos moleques. E tem gente experiente - tipo Marquinhos, que o Palmeiras quis, mas para variar perdeu - para dar suporte a esse cenário dantesco - para nós, porcos indignados.

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Estamos, nós, os porcos, escorneados porque a situação do time nunca esteve tão ruim. Nem quando caiu, nem nada. O time parece ter pegado uma ladeira sem fim. Nada dá certo. Maldição do Keirrisson. Ali começou a dar tudo errado. Quando começa assim, não adianta passar 19 rodadas na liderança; uma hora a casa cai. A maneira como a direção atuou no episódio só não foi pior do que nas duas vezes em que negociamos Love - quando vendemos e quando contratamos de novo. Duas besteiras monumentais, que nos custaram muito caro.

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O Corinthians montou o melhor time que poderia montar. Todo mundo chamando os caras de véio, mas Libertadores, mermão, além da faca nos dentes, você tem de ter a bola no pé. E o Curintia tem volantes (no time e no banco) que sabem jogar, e com juventude. E o Gordo vai estar rodeado - como um ano e pouco atrás - de cobra criada: Iarley, Tcheco, Jorge Henrique, Defedorico, Dentinho. Defesa boa, apoio bom. Se não der bicho nessa goiaba, o que é comum quando se reúne muita vaidade, vai ser foda segurar os caras. O que nos conforta é que o Felipe sempre pode nos dar alegrias - embora possa executar milagres também, e isso é importante - e o time parece ficar nervoso muito facilmente. Vide a derrota pro Santos. Ficou todo mundo pilhado. Mau sinal, apesar de todo o favoritismo.

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Menos mal que o São Paulo não esteja aquelas coisas. Acho que para barrar o Curintia na Libertadores vai ater de ser Inter ou Flamengo. Mais até para o Cruzeiro, de repente. Vai ter de se por aqui mesmo. Os argentinos não vêm com muita coisa, e paraguaios e colombianos parecem ser as maiores ameaças da América Espanhola. Convenhamos, não dá pra tirar o sono de ninguém. Não está jogando nada mas parece que acertou desta vez, com Fernandinho. Porque com Léo Lima, aquele zagueiro que era do Santos e não sei mais quem... Houve contratações que contrariaram a pose de certinhos e infáliveis dos bambis.

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Se não encontrar com a França desta vez, para darmos o esperado chega-pra-lá nos caras, pelo menos que - se vier - que vençamos a Espanha. Não me venham com perder para a Espanha, pelo amor de Deus.

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E esse cheiro de Argentina no ar?

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Enquanto está contribuindo para reforçar substancialmente a seleção ao resgatar a alegria de Robinho, o Santos já projeta os atacantes de 2014.

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Nada a ver esse papo de 800 metros de muro alto isolando o Estádio do Café do resto da Terra. Vai ficar parecendo campo de concentração. Com todo o respeito à PM, que deve mesmo agir em nome de segurança, mas nesse caso parece que é a Federação quem tem pegado pesado demais. Se o estádio tem pontos vulneráveis, arrume-os. Tirar a visão de quem vai ao Café do autódromo é uma possibilidade muito ruim. Aliás, toda aquela área na entrada do estádio deveria estar todo ajardinada, agradável de se ver. Assim, tenham certeza de que ninguém vai vazar por ali na frente de todo mundo. As pessoas entram sorrateiramente no estádio porque há vazão para isso, há brechas para isso. Essas brechas têm de ser anuladas. Pô, melhorem aquele alambrado que já separa o estádio do autódromo, cuidem das fronteiras do autódromo, transformem toda a área em algo legal para se ver. Londrina não sabe cuidar de seus patrimônios. Os banheiros da margem do Igapó na real nunca foram utilizados. Sempre foram utilizados sim, mas para neguinho pichar algum desaforo direcionado a quem sempre anda por cima da carne seca por aí - não que eles não mereçam. O espaço onde foi encenada "A Tempestade" não sedia mais nada lá. O campo daquele troço que os japoneses mais velhos jogam está às moscas lá no fundo do Zerão. As quadras e o gramado pelo menos estão sendo bem movimentados. Há recursos, há servidores - ou deveria haver - para cuidar do Estádio do Café e mesmo assim vira e mexe está interditado porque não se arruma isso, não se arruma aquilo. Tenham dó. Faz mais de um ano que o Londrina garantiu classificação para a Copa do Brasil de 2010 e chega a hora de jogar e não tem estádio? A cidade anda fazendo muita besteira. Não enterrar a fiação na reforma do calçadão vai perpetuar aquela feiúra que está lá unindo postes. Tem um bendito viaduto na PR-445 que nunca acaba, nem avança. A cidade está precisando de uns lances positivos, que motive a gente, que alavanque alguma coisa. Não de um muro de 800 metros de comprimento e três metros de altura em volta do lugar onde mais se conseguir reunir londrinenses. Já pensaram, cidadão, chegar em 2014, Copa no Brasil, e nós com o Estádio do Café cercado por um muro? Não construam, por favor, se for para derrubar depois.