quarta-feira, 25 de maio de 2011

Bicho furão

(Publicado nesta quarta-feira, 25/05, no Jornal de Londrina)

Os três amigos chegaram ao Estádio do Café de ingressos na mão, comprados antecipadamente a R$ 10. Bracciola dissera durante a semana do jogo que vintão ele não pagaria nem que elefante voasse. Moitinha foi mais radical: não pagaria R$ 20 pra ver o LEC nem que todos os buracos de rua da cidade resolvessem sumir de uma vez só.



Já Luís César assumira postura moderada. Até pagaria vintão, desde que não visse mais ninguém – tirante as crianças e os velhinhos – entrando de graça. Os carteiraços sempre o incomodaram. Não entendia por que policial, gente da prefeitura, gente do Fórum e neguinho folgado da imprensa podem entrar de graça, enquanto a maior parte da galera sua para bancar seu ingresso.



No momento em que terminavam de subir a rampa das numeradas, viu um conhecido barnabé dar a costumeira carteirada na mocinha da roleta. Luís César não agüentou. Da outra roleta, a uns três metros de distância, tascou, em alto e bom som, tentando constranger o furão:



– Bonito, hein?!?



Em campo, aquela maravilha: torcida presente, time bem postado, três a zero no placar, vitória na estreia, três pontos no embornal. Derramavam-se em elogios ao LEC na sagrada reunião de terça, no Bar Celestial, quando Moitinha, que não consegue ficar meia hora sem falar no Coringão, entrou de sola:



– E aquele voleio do Liedson? Coisa linda! O gol mais bonito da rodada.



– É, mas o do Lucas foi melhor - emendou o são-paulino. Lembrou o Fenômeno na época do Barça.



– Lucas, Fenômeno? Não me faça rir. Isso é piada mais pronta que o Barrichello, que faz aniversário no Dia da Tartaruga. O gol do Gladiador sim é que foi bonito. Se bobear vai ser o mais bonito do campeonato - exagerou o palmeirense.



E passaram a se engalfinhar em torno da beleza dos gols, cada um puxando a sardinha para sua brasa. Lembraram detalhes edificantes, evocaram sutilezas decisivas. E, nessa toada, tomaram várias cervejas, emborcaram algumas branquinhas, devoraram quilos de torresmo.



Na hora de pagar a conta, entreolharam-se em busca de um auxílio salvador. Ninguém ali tinha um tostão furado. Nem precisaram dizer nada. Tio Mário, que acompanhara o desfecho constrangido da conversa, saiu detrás do balcão, passou pano na mesa e encarou os caloteiros:



– Bonito, hein?!?

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Programão

(Publicado nesta quarta-feira, 18/05, no Jornal de Londrina)

Não que ele seja santo, que isso ele não é mesmo, mas, por precaução, ao invés dos bares da vida, como seria natural, Moitinha resolveu acompanhar a decisão do Campeonato Paulista num ambiente mais privativo e protegido – atitude bastante sensata numa cidade em que se atira nas pessoas tanto quanto se rouba da Saúde.


Daí que, cauteloso, ligou para Bracciola com a proposta de que convocassem Luís César e assistissem ao jogo juntos – afinal, raciocinou o corintiano, se tivesse de agüentar zoação nas sagradas reuniões de segunda ou terça, que já enfrentasse o perigo ali, ao vivo, na barba do leão.


Combinaram um rango esperto, regado a latinhas de cerveja e a uma pinga de alambique daquelas de azular o bico da chaleira, trazida de Minas pelo vizinho de Bracciola, o Belchior. Prato principal: paleta de porco assada, com pele, comprada, surpreendentemente, a R$ 4,67 o quilo no Carrefour.


E azulou mesmo, porque o Santos nem bem tinha esquentado o papo do goleiro do Curíntia e Moitinha já roncava estirado no único sofá dois-lugares da sala, o que obrigava os outros dois espectadores a torcer o pescoço nos principais lances da TV.


Murmurou algo desconexo quando Arouca abriu o placar. E arriscou abrir um olho quando Neymar, com um toque maroto, fez Júlio Cesar engolir uma penosa. O infortúnio corintiano acendeu em Bracciola – ainda atordoado pelos 6 a 0 diante do Coritiba, pela Copa do Brasil – a chama da vingança.


– Aí, ó! Para quem gostava tanto de Coxa, sobrou um frango inteiro.


Sacramentado o resultado, cada um se preparava para seguir rumo quando alguém se lembrou de que nesta quarta tem Santos pela Libertadores (“Sou Once Caldas desde criancinha!”, vociferou Moitinha) e, no domingo, já começa o Brasileirão. Também no domingo, ressaltou Bracciola, tem Londrina em campo, no Estádio do Café, ainda que pela segundona estadual.


– Caraca, não vende mais cerveja no estádio.


– Tudo bem, ué. A gente se cruza no centro, vai a pé até o Jardim Pacaembu, parando de bar em bar, turbina no Zé Cofel e passa na dona Vanira pra beliscar qualquer coisa.


– Daí a gente arrasta o Marião e vai matando um tarja preta lá do Franciscato no canteiro da Henrique Mansano.


– Fechado!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Que time!

Festa de aniversário de Emília na mansão dos Antunes. Golaço!


Doce vingança


Nada como um dia atrás do outro, né, gambazada?


quarta-feira, 11 de maio de 2011

Maus-tratos

(Publicado nesta quarta-feira, 11/05, no Jornal de Londrina)

Com cinco brahmas 650 ml e muito folk rock na cabeça, Moitinha deixou o Vitrola Bar às três da manhã de domingo convicto de que tinha valido a pena segurar a onda até de noitão no sábado para ver a tal banda australiana que, além de uma guitarra afiada, um baixo nervoso e uma batera firme, tem, na cozinha e na flauta, duas gatas – o que é aquilo, torcida brasileira? – experientes e infernais.


Saiu do Vitrola convicto de que, à tarde, no Pacaembu, o Curíntia, vitaminado pela vitória sobre o Parmera na semifinal, atropelaria o Santos no primeiro jogo da decisão paulista. O Curíntia não atropelou ninguém, mas, de qualquer forma, nosso diabinho curtiu o zero a zero. Afinal, o Santos, agora sem Ganso, será presa fácil para o Timão domingo que vem, na Vila.

A semana começara bem demais, com o Timão vivo no Paulistão e, nas ruas e na internet, piadas à vontade pra cima dos palmeirenses, depois da traulitada de meia dúzia a zero diante do Coritiba pela Copa do Brasil.

Moitinha gostou principalmente da foto do Osama com a camisa verde e o seguinte cabeçalho: “Confirmado! Bin Laden morreu de desgosto”. E aquela, então, da mulher acordando o marido na segunda? “Benhê, levanta, já são sete”. O cara pula da cama, assustado: “O quê, mais um do Coxa?”

Melhor do que isso, só ao vivo, pensou, flagrando um cara em frente ao Bar do Rosinha, perto da avenida Inglaterra, falando para o dono, palmeirense roxo, de que estava ali para entregar um carregamento de coxas. Moitinha rachou o bico com a cara de desentendido do Rosinha, dizendo toda hora “mas eu não pedi coxa nenhuma...”

Ontem, reuniu-se com os amigos diabinhos na lanchonete do Nicolas. Já tinham tomado várias e, por crueldade, nem Moitinha nem Luís César tinha zoado com Bracciola, cientes de que o palmeirense devia estar com os miolos fervendo, até que lá pelas tantas o corintiano tascou:

– Vocês viram no jornal que o Ibama multou o Coxa? Também, quem manda ficar maltratando os animais? Coitados dos porquinhos.

– Engraçado - retrucou Bracciola. Não me consta que multaram o Tolima por ter ferido milhões de gambás. E olha que daí é crime internacional, hein...

Pagaram a conta e foi cada um para um lado, cuidar da vida.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Muy amigos


Meus amigos me adoram. De segunda-feira até hoje, sexta, recebi e-mails de um monte deles. Não sei se tem a ver com a eliminação de domingo pelo Curintia nos pênaltis ou a chacoalhada desta quinta-feira diante do Coritiba. O fato é que quando ocorrem revezes palmeirenses meus amigos sempre lembram de mim. O Bruka mandou mensagem na terça ou quarta-feira. São-paulino, ele cconomizou no texto e mandou apenas a imagem acima.

O Mané Pelego, gambá de vários costados, me brindou hoje cedo com o seguinte chiste:

Palmeiras: TRUCOOOOO.

Coritiba: SEISSSSS

Poka Marques, gambazinho que anda arrastando a perna por aí, após mais uma cirurgia no joelho bichado, repassou a seguinte historinha:

O príncipe casou com a plebéia.

O lobo mau morreu.
Os bambis voltaram para a floresta
E a casa dos porquinhos caiu....

Já Fábio Linjardi, colega d'O Diário, de Maringá, veio com esta:

A mulher do palmeirense, hoje cedo:

-- Acorda, já é sete!
Aí o cara dá um pulo, com o olho arregalado:
-- Puta que pariu! Mais um do Coxa??

Tudo bem, convenhamos: a gente merecemos.

Versões

(Publicado nesta quinta-feira, 05/05, no Jornal de Londrina)



De carona no mau humor de Luís César, que mandara avisar que em vez de discutir futebol estava mais a fim de afogar o Ganso, Bracciola rezou o dia todo para que caísse do céu algo que impedisse o Moitinha de ir ao boteco na segunda-feira. Assim, evitaria topar com o colega gambá no dia seguinte àquele maledetto Palmeiras x Corinthians.




E deu graças a Deus quando o próprio ligou dizendo que, na ausência do são-paulino, aproveitaria para ficar lá pelo purgatório mesmo a fim de pagar uns pecados extras que haviam arrumado para ele. Mesmo querendo distância do corintiano, o sangue italiano falou mais alto.



– Ganhando roubado desse jeito, você não paga seus pecados nunca.



Moitinha iria pronunciar o oitavo impropério quando Bracciola desligou o telefone e mais do que depressa se refugiou no computador, à caça de notícias sobre a morte de Bin Laden ou qualquer coisa que lhe desanuviasse a cachola.



De repente, lembrou do nome maluco de um cara com quem dividira mesa na sexta-feira. Aminadablius. Sim, esse era o nome do cara. Ia dar uma gulgada básica pra ver se achava xarás do Aminadablius quando lembrou que precisava encher de músicas o pen drive que comprara para abastecer o som novo do carro.



– Já sei, vou gravar o hino do Parmera. Se pintar algum gambá me enchendo o pote, chucho o hino na orelha dele.



Acessou um site com um monte de versões para o hino palmeirense. Foi baixando uma atrás da outra, sofregamente, pulando as repetidas. Em pouco mais de uma hora, tinha gravado o hino na voz de Branco Mello, Igor Cavalera, Iara Negrete, Ratos do Porão, Tihuana e até da Banda do Corpo de Bombeiros da Guanabara.



Gravou o hino em diversos estilos: rock, eletrônica, heavy metal e, acreditem, jazz. Havia também diversas versões instrumentais – ao piano, orquestrada, na viola e um sem-número delas na guitarra. Decidiu parar quando se deu conta de que gravara versões em japonês e com a voz do Pato Donald.



Então se tocou de que havia visitado apenas 14 de 210 páginas disponíveis no site. Ou seja, havia lá qualquer coisa perto de duas mil versões do Hino do Palmeiras. Ficou orgulhoso e, ao mesmo tempo, tentado a digitar “hino do Corinthians” para ver se apareciam tantas versões assim.



Achou melhor não. Não resistiria a uma segunda derrota em apenas dois dias.