sexta-feira, 6 de maio de 2011

Versões

(Publicado nesta quinta-feira, 05/05, no Jornal de Londrina)



De carona no mau humor de Luís César, que mandara avisar que em vez de discutir futebol estava mais a fim de afogar o Ganso, Bracciola rezou o dia todo para que caísse do céu algo que impedisse o Moitinha de ir ao boteco na segunda-feira. Assim, evitaria topar com o colega gambá no dia seguinte àquele maledetto Palmeiras x Corinthians.




E deu graças a Deus quando o próprio ligou dizendo que, na ausência do são-paulino, aproveitaria para ficar lá pelo purgatório mesmo a fim de pagar uns pecados extras que haviam arrumado para ele. Mesmo querendo distância do corintiano, o sangue italiano falou mais alto.



– Ganhando roubado desse jeito, você não paga seus pecados nunca.



Moitinha iria pronunciar o oitavo impropério quando Bracciola desligou o telefone e mais do que depressa se refugiou no computador, à caça de notícias sobre a morte de Bin Laden ou qualquer coisa que lhe desanuviasse a cachola.



De repente, lembrou do nome maluco de um cara com quem dividira mesa na sexta-feira. Aminadablius. Sim, esse era o nome do cara. Ia dar uma gulgada básica pra ver se achava xarás do Aminadablius quando lembrou que precisava encher de músicas o pen drive que comprara para abastecer o som novo do carro.



– Já sei, vou gravar o hino do Parmera. Se pintar algum gambá me enchendo o pote, chucho o hino na orelha dele.



Acessou um site com um monte de versões para o hino palmeirense. Foi baixando uma atrás da outra, sofregamente, pulando as repetidas. Em pouco mais de uma hora, tinha gravado o hino na voz de Branco Mello, Igor Cavalera, Iara Negrete, Ratos do Porão, Tihuana e até da Banda do Corpo de Bombeiros da Guanabara.



Gravou o hino em diversos estilos: rock, eletrônica, heavy metal e, acreditem, jazz. Havia também diversas versões instrumentais – ao piano, orquestrada, na viola e um sem-número delas na guitarra. Decidiu parar quando se deu conta de que gravara versões em japonês e com a voz do Pato Donald.



Então se tocou de que havia visitado apenas 14 de 210 páginas disponíveis no site. Ou seja, havia lá qualquer coisa perto de duas mil versões do Hino do Palmeiras. Ficou orgulhoso e, ao mesmo tempo, tentado a digitar “hino do Corinthians” para ver se apareciam tantas versões assim.



Achou melhor não. Não resistiria a uma segunda derrota em apenas dois dias.

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