(Publicado nesta quarta-feira, 25/05, no Jornal de Londrina)
Os três amigos chegaram ao Estádio do Café de ingressos na mão, comprados antecipadamente a R$ 10. Bracciola dissera durante a semana do jogo que vintão ele não pagaria nem que elefante voasse. Moitinha foi mais radical: não pagaria R$ 20 pra ver o LEC nem que todos os buracos de rua da cidade resolvessem sumir de uma vez só.
Já Luís César assumira postura moderada. Até pagaria vintão, desde que não visse mais ninguém – tirante as crianças e os velhinhos – entrando de graça. Os carteiraços sempre o incomodaram. Não entendia por que policial, gente da prefeitura, gente do Fórum e neguinho folgado da imprensa podem entrar de graça, enquanto a maior parte da galera sua para bancar seu ingresso.
No momento em que terminavam de subir a rampa das numeradas, viu um conhecido barnabé dar a costumeira carteirada na mocinha da roleta. Luís César não agüentou. Da outra roleta, a uns três metros de distância, tascou, em alto e bom som, tentando constranger o furão:
– Bonito, hein?!?
Em campo, aquela maravilha: torcida presente, time bem postado, três a zero no placar, vitória na estreia, três pontos no embornal. Derramavam-se em elogios ao LEC na sagrada reunião de terça, no Bar Celestial, quando Moitinha, que não consegue ficar meia hora sem falar no Coringão, entrou de sola:
– E aquele voleio do Liedson? Coisa linda! O gol mais bonito da rodada.
– É, mas o do Lucas foi melhor - emendou o são-paulino. Lembrou o Fenômeno na época do Barça.
– Lucas, Fenômeno? Não me faça rir. Isso é piada mais pronta que o Barrichello, que faz aniversário no Dia da Tartaruga. O gol do Gladiador sim é que foi bonito. Se bobear vai ser o mais bonito do campeonato - exagerou o palmeirense.
E passaram a se engalfinhar em torno da beleza dos gols, cada um puxando a sardinha para sua brasa. Lembraram detalhes edificantes, evocaram sutilezas decisivas. E, nessa toada, tomaram várias cervejas, emborcaram algumas branquinhas, devoraram quilos de torresmo.
Na hora de pagar a conta, entreolharam-se em busca de um auxílio salvador. Ninguém ali tinha um tostão furado. Nem precisaram dizer nada. Tio Mário, que acompanhara o desfecho constrangido da conversa, saiu detrás do balcão, passou pano na mesa e encarou os caloteiros:
– Bonito, hein?!?
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Zé Cofel, dona Vanira e morcegão do Ivo Akio já são clássicos internos aqui no JL.
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