terça-feira, 8 de dezembro de 2009
Outros tempos
A foto está assim, meio esquisita, ocupando espaços indevidos, porque me foi enviada assim por uma amiga a quem pedi que escaneasse. Mas, a princípio, não tem nada a ver com o que ia relatar inicialmente. Ia começar o post dizendo que fora ao banco ontem checar se, depois de um mês e meio de tentativas, os caras haviam conseguido a façanha de transferir minha conta de Maringá para Londrina, quando, na fila do caixa, encontro Gargamel. Ele estava na bica de ser atendido. Me viu e cumprimentou com aquele sorrisão de sempre. Gargamel é o apelido do Ademar - o sobrenome é Ramos, se não me engano. Armandinho Duarte talvez lembre. Garga, para os mais íntimos, era molecão de tudo quando entrou na Folha de Londrina. Ele foi contratado para substituir o Toninho, penúltimo operador de telex do jornal. O aparelho ficava no canto de dentro da Redação, ao lado do bebedouro e do banheiro, atrás da mesa onde os jornalistas se refestelavam, no meio da tarde, com um saco de pães e um pote de margarina. Isso era 1987. O equipamento recebia textos - com aquele barulho típico de teclas sendo marteladas a cem por hora - e fotos. O barulho das fotos chegando da France Press era diferente. Não sei descrevê-lo. O cilindro rodava e a impressão, em preto e branco, ia se formando naquele papel fotográfico. Garga entrou em 1986, se não me engano. Eu entrei em janeiro de 87, no Paraná Norte, jornal-caçula da empresa, de abrangência apenas microrregional. Em fevereiro, se não me falha a memória, as duas redações deflagraram greve, que durou mês e tanto. Foi até o Carnaval, quando, então, a diretoria, depois do acordo trabalhista assinado, retaliou: mandou um monte embora, colocou alguns na geladeira e fechou o PN. Eu ainda era estudante, tinha poucas semanas de "carreira" e assisti a tudo aquilo de camarote. Ao lado dos grevistas, claro - assim como Garga. "Na verdade, os jornalistas é que entraram em greve e eu que me fudi", disse ele ontem, com o sorriso no rosto, certo de que, mesmo perdendo o emprego, fizera o certo. "Mas acabei sendo importante. Se eu não trabalhasse, o jornal não tinha notícias pra dar." Era um tempo em que o então melhor jornal do Paraná tinha telex, máquina de escrever e lauda. Mas, ao contrário de hoje, tinha cafezinho, os amigos podiam nos visitar e ninguém olhava representantes do sindicato com a faca nos dentes. Ou seja, era outra coisa - embora os móveis ainda sejam os mesmos. Mas o que mudou foi, principalmente, a mentalidade de quem manda. Em 1994 - eis a razão da foto, que não consegui achar quando João Milanez morreu - reles funcionários como eu e Cláudio Osti (ao telefone) podiam pregar botton de candidato "comunista" no paletó do patrão. Hoje, se formar rodinha de três, tem o cargo ameaçado. Dá dó.
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