quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Ei, Muriçoca, não é disso que a gente gosta


"Você é jornalista e deve saber meios para nos articularmos de forma madura e racional." Assim termina o e-mail que um amigo de infância, o agrônomo Luciano Queiroz, pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, me envia de Sete Lagoas (MG) a fim de que deflagremos campanha para sacar Muricy Ramalho do comando técnico da Sociedade Esportiva Palmeiras. "Tirar o David Sacconi para retrancar e garantir o 0 a 0 é pedir para tomar gol", destaca Luciano, referindo-se à derrota para o Botafogo, que sacramentou o vexame alviverde no Brasileirão. De fato, Muricy foi uma grande decepção. Contratado, a peso de ouro, no final de julho, assumiu o time na melhor posição possível: na liderança, após um 3 a 0 sobre o Corinthians, em que Ronaldo se machucou e Obina desencantou. Jorginho, o interino que substituíra o demitido Luxemburgo, tivera uma campanha irrepreensível. Com ele, o time jogou solto, chegava ao ataque com naturalidade e venceu vários jogos assim: trocando passes, criando oportunidades, concluindo com tranquilidade. Muricy, imaginávamos todos nós palmeirenses, seria a garantia de que o time chegaria às rodadas finais senão como campeão antecipado, no mínimo vigorosamente candidato ao título. Afinal, conquistara os últimos três Brasileirões pelo São Paulo fazendo exatamente o que precisávamos: conquistando vitórias magras porém seguras, fundamentais num campeonato de pontos corridos. Sim, a equipe se manteve na liderança por várias rodadas a fio, porém claudicante. De um time arrebatador, passamos a ter um jogo previsível, a ponto de, na reta final, ao encararmos as quatro equipes virtualmente rebaixadas, em sequência, ao invés de atropelá-las e partir para o título, perdermos quase todas - só empatamos com o Sport, em casa, graças a um lance legítimo, mas que o árbitro estragou ao engasgar com o apito. Já sentíamos, então, cheiro de podre no ar, o que pôde ser comprovado no pega com o Grêmio, quando levamos um gol no final do primeiro tempo e voltamos para o segundo sem dois jogadores, expulsos por trocarem socos no intervalo. Mas o pior de tudo foi constatar que Muricy - alçado à condição de supertécnico pelo tricampeonato com o São Paulo - é um treinador ruim, técnico de uma jogada só, a do chuveirinho. Deu certo num time acertado, dentro e fora de campo, como tem sido o São Paulo nos últimos anos. Mas não serve para um caldeirão sempre efervescente como o Palestra Itália. Lá, o paralelepípedo mais sóbrio puxa o tapete do presidente. Para trabalhar naquele ambiente cheio de carcamanos de dedo destroncado, como diz um amigo corintiano, é preciso muito mais do que cara amarrada. É necessário algo mais para unir aquela gente que desconfia da própria sombra. Isso é tarefa para poucos. Osvaldo Brandão, Filpo Nuñez, Luxemburgo - do tempo em que treinava mais e falava menos. É coisa para Felipão. Não é à toa que o Palmeiras quase nunca emplaca uma longa série vitoriosa. O exemplo de Felipão, aliás, é a única réstia de esperança para quem acha que Muricy ainda pode vingar. Foi contratado, em meados de 1997, em situação parecida: veio de um rival - no caso, o Grêmio - que acabara de bater de cinta no Palmeiras. O estilo de ambos era semelhante: chuveirinho na área e seja o que Deus quiser. Para isso, Felipão trouxe Arce. Não precisou trazer Jardel, porque já tínhamos Oséias e, depois, teríamos Evair. Mas, ao contrário de Muriçoca cabeça de paçoca, ele não desprezava as jogadas pelo meio, as infiltrações. E foi, aos poucos, conquistando o palmeirense, com garra, união. Conseguiu unir a fratellada - e, como já disse um antigo presidente esmeraldino, quando nos unimos, não tem para ninguém. Não é à toa que, longe de ser o time chapa-branca do Brasil, muito pelo contrário, conquistamos o título de Campeão do Século, por termos sido o clube mais vitorioso do século 20. Muricy tem disposição para ser vencedor e os palmeirenses até podem ter mais um pouco de tolerância com ele, mas ele teria de mudar radicalmente a forma de trabalhar. Ele terá de entender que nós, palmeirenses, ao contrário de uns e outros por aí, nem nos importamos tanto com a derrota, desde que ela venha com brio, com galhardia, e isso significa trocar passes, dissimular, envolver o adversário, partir para cima, avançando jardas, ocupando e conquistando espaços, como no futebol americano, até chegarmos próximos da área, e daí as arquibancadas do Palestra se inflamam, todos se levantam, o adversário sente, o burburinho é ensurdecedor, o clima, a pressão, ficam insuportáveis para quem se defende, o nosso ataque acha uma brecha e... caixa! Pegar a bola na defesa e rifá-la para o ataque nunca foi e nunca será o nosso estilo de jogo. Não é disso que a gente gosta. Não é disso que a gente precisa. Muricy, mermão, ou você muda, ou cai fora.

2 comentários:

  1. sempre falei que era um trenero de merda mesmo com o tri pelo meu são paulo. vc sabe disso. tanto que dediquei verdadeiras odes de esculacho a esse muriçoca cabeça de piroca no meu blog.
    grande abraço

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  2. ô "Ficha" vc foi muito manso com o Muriçoca!
    Penso que foram tantas retrancas e tanto sofrimento nesse ano ano que mesmo nas vitórias (lembra do segundo tempo do Palmeiras 2 X 1 Cruzeiro e do 2x1 contra o Atlético PR??? Só sufoco....parecia time do Parreira...
    Contra o Fluminense foi o máximo da covardia (medo??? falta de criatividade??) ao escalar o time com tantos volantes e zagueiros...como ser campeão?

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