domingo, 1 de janeiro de 2012

Todo ano é o mesmo crime. Basta!



Imagino que exista algum regime político em atividade – Sudão, Iêmen, Coréia do Norte, Haiti, sei lá – que puna severamente o tipo de abuso que todo ano é cometido em plena luz do dia pelo consórcio Fischer-Tizziotti em Guará, interior de São Paulo. Não é possível que, mesmo no democrático Estado brasileiro, inexista algum capítulo ou mesmo um mísero artigo – ainda que dependa de regulamentação – capaz de ao menos refrear o ímpeto anticristão dessa gente que tem a pachorra de cozinhar para seus 13 membros o equivalente, em comida, para se satisfazer um batalhão de lenhadores.

Hoje, por exemplo. Não obstante os alertas de sempre para o evidente exagero, a Ciló preparou um pernil de porco gigantesco – quatro quilos, numa estimativa modesta – e quatro frangos caipiras que ocuparam, das oito da manhã à uma da tarde, três bocas do fogão de lenha da dona Zizinha, cujos 92 anos não impedem que a faça cúmplice desse estrago jurídico-gastronômico. Meu pai garante que, civilizadamente servidos, apenas os quatro frangos, acompanhados de arroz branco e salada de tomate, satisfariam 30 pessoas.

O problema não se resume somente à quantidade sem noção. A questão mais grave é a absoluta falta de originalidade, o que poderia suscitar o enquadramento em mais de um artigo que tipifique esse tipo de crime. Todo primeiro dia de ano é a mesma coisa: pernil de porco assado, frango caipira em molho, arroz branco, feijão, lasanha, polenta, cerveja, refrigerante e, para sobremesa, bolo gelado e picolé da Vila Vitória. O primeiro almoço de 2012, em razão de condicionantes factuais, trouxe agravantes de balançar a toga até de catedráticos ministros do STF: milho verde em três versões – cozido, refogado e espigas na brasa – e um musse presenteado pela Juliana.

Isso tudo para que José, Ciló, João Luís, Maura, João Batista, Vera, Rogério, Zenrique, Emerson, Mônica, Evelyn e Leandro ficassem – antes, durante e depois da refestelança – batendo papo e dando altas gargalhadas, num claro acinte à sobriedade com que cidadãos decentes deveriam receber o ano que se inicia. Não é possível que esse povo continue agindo assim impunemente. Não é possível!