(Texto publicado no suplemento Folha Ambiente & Sustentabilidade, encartado neste 19 de março)
É impossível não admirá-la. Quem passa pelo HU rumo aos bairros mais distantes da zona leste depara com um gigante da natureza – provavelmente a maior árvore da área urbana de Londrina. Tem estimados 22 metros de altura. As raízes, irradiadas em todas as direções, chegam ao dobro desse tamanho, no mínimo. A copa, com 35 metros de comprimento, alcança as duas calçadas da Avenida Robert Koch, como se formasse um portal. É, de fato, exuberante aquela seringueira.
Seringueira?
É o que pensam dez em cada dez pessoas. Por conta do látex que sai do seu caule, imagina-se que seja da espécie que impulsionou o crescimento de Manaus, Porto Velho e Belém durante o Ciclo da Borracha, na virada do século XIX para o século XX. Ledo engano.
É uma figueira!
“Todos confundem, inclusive os próprios estudantes de Biologia”, afirma Moacyr Medri, doutor em Botânica pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) e professor aposentado da UEL. “A confusão se dá porque é muito leitosa”, ele explica. “O látex dela também dá borracha, mas tem composição muito baixa em relação ao da seringueira, o que a torna inviável economicamente”, acrescenta. “Nem parentes elas são.”
Diferentemente da seringueira, pertencente à família Euphorbiaceae e nativa da região amazônica, a figueira – ou Ficus elastica, da família Moraceae – é uma árvore exótica no Brasil. É originária do Sudeste Asiático e, segundo Medri, aqui chegou pelas mãos de imigrantes. Ao contrário da seringueira, que se assemelha mais ao brasileiríssimo ipê, a figueira não dá flores nem frutos; se reproduz por estacas.
De baixa resistência, a madeira também não é explorada comercialmente. É, portanto, uma planta ornamental, que tem um ritmo de crescimento impressionante. Enquanto a peroba rosa, por exemplo, absorve de 10 a 12 miligramas de gás carbônico por hora em cada decímetro quadrado de folha, a figueira absorve de 30 a 36 mg.
Enquanto as folhas se alimentam de CO2, diz Moacyr Medri, as raízes utilizam oxigênio. “A figueira tem um metabolismo muito ativo, que requer grande quantidade de O2. Para isso, além do sistema subterrâneo, ela lança raízes aéreas, chamadas adventícias, que maximizam a absorção de oxigênio e ajudam a dar suporte ao caule”, descreve o botânico.
“É uma árvore voraz, que não rejeita solo; para ela, qualquer barranco serve. Em terras profundas e férteis, cresce ainda mais vigorosa. Em seu habitat natural, como a Malásia, pode chegar a 60 metros de altura.”
O homem que ajudou a plantar “A Grande Árvore” da Avenida Robert Koch mora a poucos metros do terreno da antiga Cervejaria Londrina, onde trabalhou durante 36 anos. Olívio Gaion, que muito pequeno ganhou o apelido de Léo, chegou à cidade, com a família, em 1942, proveniente de Ibitinga, SP. O pai, José Souza Gaion, comprou um sítio de cinco alqueires, mais tarde cedido à família Garcia em troca do asfalto no loteamento que viria a ser o Jardim Gaion.
“Lá onde está a árvore ficava a porteira do sítio”, conta Léo, hoje com 67 anos de idade. “Fomos pescar no Três Bocas, eu, meu pai, um tio e um pessoal do sítio, e na volta achamos umas mudas no meio do pasto do Pimpão. Arrancamos duas, com raiz e tudo, e plantamos ao lado dos palanques da porteira. Uma delas, quando já tinha uns seis metros, nós cortamos porque estava forçando o palanque. A outra ficou, e virou aquilo lá. Num instantinho ela já estava uma arvrona.”
Léo arrisca que o ano do plantio tenha sido 1952, o que confere à figueira a condição de sexagenária. Mas o que, afinal, teria atraído a atenção dos Gaion a ponto de terem pegado as mudas perto do Ribeirão Três Bocas para plantar no sítio? Léo responde:
– A gente achou que era seringueira.
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