(Publicado neste domingo 06/11 no Jornal de Londrina)
Enquanto Moitinha e Bracciola torciam o rosto diante da súbita manifestação de soberba do até então educado e sereno Léri-bí, que sinalizara a mudança do nome diante da certeza do sucesso santista no Mundial da Fifa, em dezembro, Luís César parece ter curtido o novo companheiro de mesa.
– Léri-tri, né? Gostei dessa. Mas vocês vão ter de jogar muito pra superar a rapaziada do Messi, hein... Esse gostinho de ganhar do Barça em final de Mundial é para poucos. De qualquer forma, boa sorte. De repente a gente arruma um espaço para vocês aqui no clube dos tricampeões mundiais.
– Como é bom ganhar Mundial de verdade, né, compadre? Pena que nem todo mundo é assim.
Léri devolvera a “gentileza” e... pronto! Ficara estabelecida uma divisão clara: santista e são-paulino de um lado; corintiano e palmeirense de outro. Moitinha e Bracciola se entreolharam novamente, como que buscando, telepaticamente, um argumento como contraponto à soberba da dupla adversária. Pelas caras que fizeram, dava para imaginar o calibre da reação que gostariam de ter.
A troca de “gentilezas” foi uma indireta ao Mundial conquistado pelo Curíntia em 2000 – ou Torneio de Verão, como é tratado pelos rivais – e à Taça Rio, que os palmeirenses defendem como verdadeiro Mundial até a morte. Indireta, sim, mas que pegou como um direto de Mike Tyson. Mário, o garçom, deixou duas geladas na mesa e, sentindo o clima, vazou rapidinho.
Moitinha parecia querer voltar aos tempos de várzea no interior de São Paulo, naquelas refregas cujo lema – comum entre ambas as equipes – era algo do tipo “da medalhinha pra baixo é tudo canela”.
A expressão de Bracciola revelava o desenho de uma voadora do Júnior Baiano em tarde de chuva, daquelas em que o animal abria o compasso a dez metros de distância e só largava a vítima após certificar-se de que o coitado já estava devidamente estatelado no alambrado, com três ou quatro fraturas em cada perna.
Moitinha respirou fundo e, supostamente calmo, dirigiu-se ao agora aliado Bracciola.
– Você ou eu primeiro?
– Tenha a gentileza, nobre colega.
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