quarta-feira, 1 de janeiro de 2014

A primeira manhã de 2014

Será mau presságio sonhar com duas ex-namoradas na primeira madrugada do ano? Se for, tô fudido. Acordei às oito e pouco com as lembranças de um caso que encerrei há sete anos - lembranças tórridas, aliás - e outro bem mais recente. Estranha maneira de começar a primeira semana do tal ano novo. Sensação estranha - mais pra ruim que pra bom. Levantei e tomei café com biscoito de polvilho, porque as padarias hoje nos abandonaram. Meu pai, que nunca foi de comer nada pela manhã, fazia o primeiro cigarro de palha do dia. "É... Ano de Copa...", comentou, talvez esperando engatar um papo que não rolou.

Fui pro sofá e li mais 15 ou 20 páginas de "Eny e o Grande Bordel Brasileiro", de Lucius de Mello, excelente biografia romanceada da cortesã mais famosa de Bauru. A Casa da Eny mexeu com a cidade em meados do século passado. Conheci a casa, alguns anos atrás, levado por uma amiga fotógrafa que fez pós em Londrina e uma amiga dela. Funcionava um bar no local, com sinuca, mas pelo tamanho do imóvel e o número de quartos cujas portas dão para um amplo jardim deu para imaginar o rendevú que era.

Peguei a bicicleta e avisei os velhos que daria uma volta, com a intenção de suar um pouco e encarar o banho preparatório para o tradicional almoço de ano novo na casa da vó Zizinha. Peguei o rumo da avenida Mogiana, que substituiu o leito da linha férrea. O prefeito da época acertou em cheio: plantou centenas de palmeiras imperiais ao longo da avenida, que está muito bonita e hoje concentra grande parte do comércio de Guará.

Passo pelo professor Tufi com sua indefectível bicicleta. A única imagem que tenho dele é andando de bicicleta. Se tem ou algum dia teve carro, seo Tufi acho que nunca dirigiu. É professor de Educação Física, de tradicional família libanesa, os Chaud, embora, na infância e adolescência, tenha sido mais ligado aos Tannous e aos Aboud. Seo Tufi me deseja feliz ano novo, retribuo daquele jeito alemâo de ser, "pro senhor também", mal olho para ele, pedalo adiante. Poucos segundos depois seo Tufi deseja o mesmo para um sujeito sentado no banco do canteiro central - imaginei que ele saiu de casa para desejar um bom ano para todos com os quais encontrasse.

Fazendo a curva da antiga estação vejo um jovem casal, com mala e banho tomado, certamente se dirigindo à rodoviária. Pombas, mas não são nem 10 da manhã e já vão embora? Devem morar longe. Para São Paulo, por exemplo, poderiam pegar o ônibus depois do almoço que estariam lá a tempo de dormir de boa e aguentar o trampo de amanhã. Iriam os dois ou o rapaz estaria fazendo a gentileza de levar a bagagem da irmã/namorada?

Entro num pedaço de rua sem asfalto que é prolongamento da Washington Luiz e que ainda está sem asfalto porque ali vai sair o novo loteamento da cidade - meu pai e meu irmão reservaram dois lotes e, se sobrar algum, vão passar a pagar as prestações em breve, com o início efetivo do empreendimento. Muitos canudos de papelão pelo chão, acusando fogos de artifício espoucados. No portão de entrada casa do seo Ziquinho de Paula, um gatinho preto, com poucos dias de vida, chama a atenção, andando sem rumo pela calçada. Mais de perto vejo que um irmão dele está estatelado, meio que no local onde passam as rodas direitas do carro. Hum...

Seo Tufi foi o cara que, trinta e cinco anos atrás, disse que minha posição era a de volante. O livro de Lucius de Mello remete ao caso amoroso mais recente. Hoje é aniversário do caso mais antigo, que eu vi pela última vez no final de semana em que o Corinthians foi rebaixado. Deixa pra lá. Tem frango caipira, polenta, pernil e cerveja nos aguardando na vó. Vou acordar meu irmão, esse folgado.

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