quarta-feira, 10 de novembro de 2010

O grupo de pagode que nasceu de uma piada


(Publicado na seção Boas Histórias do site da Sercomtel)


Consta que certa madrugada a dona de uma pensão, já velhinha, quase cega, ouviu barulho no corredor, foi ver o que era e deparou com um vulto. Sabendo-se inferiorizada fisicamente, planejou atacar o ponto fraco do suposto malandro. Na verdade era o Beto Mudinho que, tomado de sede, resolvera ir até a geladeira. Mas, para a velhinha, não passava de um ladrão. Eis que a indefesa senhora foi direto nas partes baixas do sujeito, numas de não dar chance de reação. Apertava com vontade, mas o cara não dava um pio. Apertava mais, e perguntava: “Quem é?”. Nada de resposta. Apertava mais e perguntava de novo. Diante do silêncio, apertou com raiva o mais que pode e intimou: “Quem é?” Tanto apertou que o sujeito arrumou forças não se sabe de onde e balbuciou baixinho: “É o Beto Mudo”.

A velhinha que fez o mudo falar motivou a criação de um dos grupos de samba mais simpáticos da história de Londrina. Daquela velha piada, contada numa tarde qualquer numa concessionária de veículos, nasceu Os Beto, que está perto de completar uma década de vida, de muito samba e muita história.

Foi lá na concessionária que Edmir Massi e Marco Gomes se conheceram. Depois que Edmir, não se sabe por que, disse que tocava cavaquinho, Marquinho completou: “Eu toco violão”. “Então aparece amanhã”, propôs Edmir. “Vai ter um happy hour aqui.”

Pronto: estava formado o núcleo do grupo que, hoje, contabiliza cerca de 500 apresentações em mais de 80 locais diferentes – de bares toscos a requintadas festas de aniversário, de festas populares (como a do Trabalhador, em Arapongas) a reuniões de empresas, passando por eventos tradicionais como a Oktoberfest de Rolândia, o Femucic de Maringá e a Expo-Londrina.

O grupo começou a crescer ali mesmo, naquele happy hour da Metronorte. Tocando no improviso puro, a dupla agradou a rapaziada, o que levou o eufórico Edmir a lembrar-se de que tinha um amigo que toca pandeiro. Eis que Devancir Dias juntou-se à trupe, levando a esposa Inês e a filha Érica, com quem dançava de dar inveja nos momentos em que descansava da percussão.

Pelos bares da vida
O trio passou a se apresentar em bares de amigos e conhecidos, como o Bar do Teixeira, na Duque de Caxias, e principalmente no Tio Mário, ponto boêmio tradicional da Vila Ipiranga que o jornalista e ator Apolo Theodoro reconstruíra na Casa do Jornalista. “Ali foi nossa plataforma de lançamento”, lembra Marquinho Gomes.

Logo na primeira apresentação, na pré-inauguração do Tio Mário, conheceram Horácio Lapa, tocador de timba, que imediatamente se incorporou ao grupo. No início, tocavam na raça, à capela, no gogó – até que perderam a vergonha e foram adquirindo caixas amplificadas, retornos, microfones.

“Para nós era um hobby; tocávamos para nos divertir”, lembra Edmir. “A maneira da gente tocar, fazendo brincadeiras, tocando o que o público desejava ouvir, logo criou um empatia grande, que é a nossa marca até hoje.” E dá-lhe Zeca Pagodinho, Cartola, Noel, Adoniran, Caymmi, Benjor.

Irreverência
A irreverência, de fato, é a marca registrada d’Os Beto, como comprovam os títulos das duas composições próprias do grupo: “Tratado de paz” – que tradicionalmente levanta a galera – e “Canto p’a Deus, canto p’a God”, um trocadilho sonoro entre a palavra inglesa e o gênero musical preferido deles.

Além, é claro, do slogan na faixa que vira e mexe acompanha o grupo em uma apresentação: “Tocando gostoso”.

Os Beto foi absorvendo novos componentes, como Orlando Horner (cavaco e pandeiro) e Vinicius Fantim Alves (surdo). O grupo, porém, nunca foi fechado – muito pelo contrário.

Além do entra-e-sai natural em um grupo que prima pela diversão (dos citados, apenas Deva, hoje em Indaiatuba-SP, não participa mais), Os Beto acabou atraindo diversos outros músicos amadores que orbitam em torno deles onde quer que se apresentem: o Sílvio da cuíca, o Maé e o Gavião do surdo, o Bola do agogô... O número de agregados é enorme.

Estatísticas
Não bastasse ser o faz-tudo da equipe, Edmir Massi – sem ele Os Beto não existiria, garante Marquinho – controla as finanças e virou uma espécie de historiador do grupo. É ele quem anota números e elabora estatísticas. Segundo a planilha do cavaquinho titular, Os Beto levou uma média de 150 pessoas no ano em que se apresentou no Tio Mário e perto de 180 no ano e meio em que tocou no Quebra Gelo, antigo bar na Higienópolis.

O maior público, sem sombra de dúvida, ocorreu na Exposição Agropecuária e Industrial de Londrina de 2004, na arena João Milanez, onde a trupe se apresentou para 15 mil pessoas antes do rodeio.

Nesse tempo todo, muitas histórias rolaram – até de amor. “Não sei quantos casamentos nós desfazemos, mas pelo menos um nós arranjamos”, brinca Marquinho, lembrando da união entre Dalva e o escritor Dinho Pellegrini, que se conheceram no Tio Mário. “E o detalhe”, confirma Pellegrini, “é que na época eu não ia mais em bares, e a Dalva nunca ia”.

Encontraram-se numa noite por conta de amizades. Dinho fora ao Tio Mário prestigiar o amigo Apolo, o dono. E Dalva por ser amiga da mulher de Deva. Desde então não se separaram mais. Continuam tocando a vida gostoso na Chácara Chão. Esses Beto...

2 comentários:

  1. Oló gostaria de saber quanto custa um show de cvs?

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  2. Mande e-mail para mim: rogerio.fischer@gmail.com, com um telefone para contato.

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