(Publicado nesta quarta, 24/11, no Jornal de Londrina)
“Pra começo de conversa”, discursou Moitinha assim que adentrou o Bar Celestial, de pé, voz exaltada, dedo em riste, o semblante enfezado em contraste com os olhares sádicos de Bracciola e Luís César, “quero deixar bem claro: pro Parmera eu não torço!”
E já empinou a carroça pra cima do colega são-paulino, que exibia ar de plena satisfação desde que seu time perdera para o Flu e arrancara o Corinthians da liderança. “Tá rindo de quê, bambi?”, atacou o corintiano. “Tudo bem, vocês queriam perder, e perderam. Mas tinha que ser de quatro?”, arrematou, sentindo-se quase vingado.
Primeiro a ter chegado ao boteco para a sagrada reunião semanal dos diabinhos, realizada desta vez na segunda à noite, Bracciola não deu tempo para o tricolor contra-atacar. O palmeirense tratou logo de por as cartas na mesa. “Tão dizendo aí que só tem um jeito do Curíntia ganhar esse campeonato...”
E ficou em silêncio, conferindo as unhas, esperando a pergunta óbvia que resistia em sair da boca do corintiano. “Quer saber não?”, cutucou Luís César. Contrariado, as veias do pescoço explodindo, Moitinha, muito a contra-gosto, cedeu: “Desembucha, seu porco imundo!”
Bracciola começou então a desfiar o 171, na maior calma, como se contasse uma piada de mineiro. “Então, tem um corintiano amigado com a prima de uma colega da minha irmã que ouviu dizer que um pai-de-santo lá do São Jorge falou pra um pedreiro que aparece por lá de olho na vizinha que...”
Moitinha destemperou: “Deixa desse enrolation e fala logo!” Bracciola: “Enfim, o cara disse que pro Parmera segurar o Fluminense só se vocês vestirem verde”. Moitinha: “Nunca que o Curíntia vai usar verde no uniforme”. Bracciola: “Não é o time. É a torcida”.
Diante do corintiano estupefato, sem reação, de tanta raiva, o palmeirense prosseguiu: “Não precisa ser o uniforme completo do Parmera. Pode ser qualquer pedaço de pano, uma fitinha, qualquer coisa verde. E nem precisa aparecer. Pode ser por dentro da meia, do calção, embaixo do boné, mas tem que usar no domingo inteiro, da hora que pula da cama até a meia-noite”.
“Conversa fiada”, vaticinou Moitinha que, dizem as más línguas, foi visto na terça-feira à tarde rondando uma loja de tecidos na Duque.
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entendi a piada. mas o motinha não está morto? como poderia ser visto numa loja de tecido na duque?
ResponderExcluirSão três diabinhos fictícios que estão pagando seus pecados no purgatório e, de vez em quando, autorizados pelo Divino, descem à Terra para cumprir tarefas terrenas, devidamente disfarçados.
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