quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Brincadeiras e mancadas do garçom Nelson

(Publicado na seção Boas Histórias, do site da Sercomtel)






Nelson Faneco mora no conjunto São Lourenço. Tem 71 anos – cinco a menos que Londrina, levando em conta a data da emancipação. Nasceu “na fazenda do Mister Thomas”, onde hoje é o conjunto Lindóia, zona leste da cidade. Seus pais vieram de Catanduva (SP). O pai trabalhava no setor de Costumes da Polícia Civil, checando livros de entrada de hóspedes em hotéis e pensões daquela Londrina pioneira.

Talvez isso explique o gosto de Nelson por lugares movimentados como o Restaurante Rodeio, onde trabalha desde janeiro de 1969. Seu estilo peculiar de atendimento o faz conhecido por todos. Na área central de Londrina, não há uma mosca que não o conheça.

Nesse tempo todo de Londrina e de Rodeio, Nelson Faneco colecionou amigos, homenagens – é, inclusive, cidadão honorário – e histórias.

Maguila
Nelson gosta de lembrar quando o pugilista Adilson Maguila Rodrigues (nosso maior peso-pesado, apesar do queixo de vidro) esteve na cidade para enfrentar o norte-americano Mike White, que de white não tinha nada – era um respeitável afrodescendente de dois metros e cacetada, que depois daquela luta no Moringão, em 1984, foi jogar basquete no Corinthians.

Na noite anterior à da luta, provavelmente hospedados que estavam no hotel Bourbon, os dois contendores foram jantar no Rodeio. Ficaram em mesas distantes e se trataram friamente. Nelson lembra que White jantou um filé. Maguila, dois – com sobremesa. No dia seguinte, depois da luta, banho tomado e tudo, voltaram ao Rodeio para jantar, já tardão da noite. “Foi engraçado vê-los sentados nas mesmas mesas, com uma diferença: as duas caras amassadas de tanta pancada”, diz Nelson.

Moraes Moreira
Nelson conta também um mico que pagou no tempo da ditadura. Havia três caras que todos os dias, religiosamente, comiam no Rodeio. Sentavam-se na mesa 11, do canto. De repente, os rapazes sumiram. Dez anos depois, reapareceram. Os três entraram no Rodeio, sentaram-se à mesa 11. Nelson, agitado como sempre, ao atendê-los, brincou: “Vocês estavam presos, por acaso?” Quase. Eram três ativistas políticos que passaram uma década exilados.

Situação semelhante ele viveu quando “um cara barbudo, cabeludo, de havaianas no pé” sentou-se à mesa 5 e pediu, no Rodeio, o que poderia ter pedido em qualquer espelunca da cidade: arroz, feijão e ovo frito. Ressabiado, Nelson encostou-se no balcão do caixa e cochichou para Arlindo, o dono: “Não vou servir aquele cara ali não. Não passa de um mendigo”. Arlindo esticou o pescoço e devolveu: “Você não sabe quem é? É o Moraes Moreira, Nelson”.

Jô Soares
O famoso apresentador foi alvo de brincadeira de Nelson quando fez um show em Londrina em meados da década de 80. Jô chegou para jantar, com sua trupe, já perto da 1h30 da madrugada e, para ele, pediu filé na manteiga completo.

Nelson não se fez de rogado: depois de consultar um dos amigos do apresentador, que lhe deu sinal verde, aproximou-se de Jô e, em pé, passou a falar de uma disfunção orgânica da qual sofria. Contou que aquilo lhe atrapalhava muito, que havia consultado vários médicos e nada. Depois de muita lenga-lenga, perguntou a Jô se ele sabia “o que é bom para urina solta”.

Enquanto aguardava a resposta, deixou cair feijões na perna de Jô, o que, segundo ele, dá a impressão, para quem é a vítima da brincadeira, de urina sendo despejada. “O Jô se assustou, como todo mundo se assusta, mas acabou caindo na gargalhada”, afirma Nelson. “Viu, fio?”

2 comentários:

  1. Tenho uma boa com o Nerso:
    Certo dia levei a patroa para almoçar no Rodeio, queria apresentar a ela aquele que, para mim, era o melhor filé da cidade.
    Para dar uma de "light" ignorei o parmegiana e pedimos, ao referido garçom, filé alto com legumes.
    Quando foi cortar um belo ramo de couve-flor, a patroa quase caiu da cadeira ao encontrar uma lagarta branca enorme, do tamanho do seu dedo mindinho.
    Indignado, chamei o Nerso e mostrei o bigatão no prato. Ele olhou e disse apenas:
    - Criada! - se referindo ao tamanho da bicha.
    Acabamos comendo bife com fritas...
    Acho que já contei essa história várias vezes, mas tá valendo, fica o registro junto com a sua bela crônica.
    Abraço!

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  2. Excelente!
    Estou até imaginando a frase literal do Nelson: "Criada, hein, fiu..." E ele debruçado na mesa, olhando para o bigatão.
    Pra não perder o rebolado numa hora dessa, o cara tem que ser craque mesmo.

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