quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Chorintians

(Publicado nesta quarta-feira, 8/12, no Jornal de Londrina)

No domingo, a fim de secar mais de perto o Curíntia, o diabinho Bracciola pediu licença ao Divino e desceu até Londrina. Chegou cedo e começou a peregrinação pelo Vale do Rubi, onde acompanhou uma pelada daquelas de matar qualquer um de risada. Seguiu a turma de peladeiros até o bar do Quinim.

Com meia dúzia de Brahmas na telha e o estômago roncando, já passava das três da tarde quando Bracciola saiu andando pela Nilson Ribas, pegou a Tiradentes, seguiu a JK, quebrou à esquerda, atravessou a Leste-Oeste e acabou caindo num inferninho da Duque.

Lá, acompanhou a rodada decisiva numa TV de 14 polegadas e acalmou o estômago com duas coxinhas e um quibe com cara de anteontem.

Consumado o título do Flu, ficou em dúvida se ia até o Moringão ver as lutas do Londrina Fight – ganhara convite do Lelei, com quem puxara conversa nos Bancários – ou ficava por ali mesmo. Já meio zureta, acabou ficando e, pra comemorar, pediu uma dose de Velho Barreiro.

A mulata com pneuzinhos salientes – que ele tinha desdenhado quando entrara no bar – ganhara, àquela altura, contornos de princesa. Bracciola passou a olhar de esguelha para a mulata, mas agora era ela quem o desdenhava. E logo apareceu o motivo: um sarará com cara de pedreiro – e em cuja dentição faltavam o centroavante e o meia-esquerda – interpelou-o:

– E aí, branquelo, tá querendo o que co’a minha nega?

O sujeito vestia uma camiseta do Curíntia, daquelas do tempo da Kalunga, a 10 com o nome do Neto atrás. Bracciola achou que era melhor mudar de ares. Passara a semana escutando choramingo dos corintianos por causa da “entregada” para o Fluminense.

O consolo era que, ao sequer terem ganhado do Goiás, os corintianos pelo menos parariam de culpar o Parmera por suas mazelas. Daí sua cara de espanto quando o sarará voltou à carga:

– E ainda por cima ocê tem cara de parmerense. Perdero pro Cruzeiro só pra deixá nóis em tercero.

Ah, não, pensou Bracciola. Aí já é demais. Levantou-se, tirou água do joelho, acertou a conta, entornou mais uma dose, passou incólume pelo corintiano, chegou à calçada, olhou para a direita, aprumou o passo e desceu a Duque de Cachaça cantando.

– Salve o Chorintians / O mais chorão dos mais chorões / Eternamente / Dentro dos nossos coraçõeeessss...

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