(Publicado no Jornal de Londrina desta quarta, 1/12)
À espera do Moitinha, Luís César e Bracciola discutiam sobre o que iam conversar até a chegada do corintiano, na sagrada reunião das terças à noite. Haviam matado três cervas e dois espetos com farofa e molho verde, especialidade do tio Mário, que àquela altura do campeonato vez ou outra passava resmungando pela mesa dos amigos diabinhos, já disposto a fechar as portas e descansar os ossos.
Luís César, absolutamente conformado com o ano meia-boca do São Paulo, sugeria o assunto. E Bracciola, azedo por mais uma temporada trágica do Palmeiras, não dava muita trela.
– Eleições no LEC?
– Vamos ver no que dá.
– Vôlei na Superliga!
– Quando o time entrosar, engrena.
– Futsal.
– Trombamos com um osso duro. O Guarapuava joga muito.
– Barça cinco, Real zero.
– Vixe, que sapatada, hein...
– Propina pro Ricardo Teixeira.
– Grande novidade...
– Sei lá, venda da Garcia, censo do IBGE, Complexo do Alemão, Conferência do Clima, vamos falar de alguma coisa.
– Na verdade, tô doido para saber se o Moitinha usou verde domingo...
– Mesmo que tivesse usado você sabe que ele não falaria nem morto.
– Aposto que ele usou. Não foi só na Duque que viram ele não. Na Sergipe também. O Silvio da pastelaria viu ele perscrutando umas lojas por lá.
– Percrus o quê?
Nisso, Moitinha chegou. “Entregaram, né?”, foi logo desabafando, olhando torto para o palmeirense. “Lá se faz, lá se paga”, rebateu Bracciola, sem esconder um sorrisinho sarcástico, enquanto já elocubrava alguma maneira de arrancar do colega a confissão de que teria usado alguma peça de roupa verde como superstição para ver se o Parmera arrancava pelo menos um empate do Flu, como fora sugerido por um pai-de-santo do Cincão.
Instiga daqui, arrisca dali, e nada. Até que Bracciola percebeu que Moitinha usava o mesmo boné com o qual fora visto no domingo todo. Desconfiado, o palmeirense arrancou o boné da cabeça do corintiano, observou todos os detalhes e arrematou:
– Ahá, é verde por dentro.
– É pra torcer pro Guarani, seu porco imundo.
Atrás do balcão, tio Mário suspirou. Aquela conversa ia longe...
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