quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

No boné

(Publicado no Jornal de Londrina desta quarta, 1/12)

À espera do Moitinha, Luís César e Bracciola discutiam sobre o que iam conversar até a chegada do corintiano, na sagrada reunião das terças à noite. Haviam matado três cervas e dois espetos com farofa e molho verde, especialidade do tio Mário, que àquela altura do campeonato vez ou outra passava resmungando pela mesa dos amigos diabinhos, já disposto a fechar as portas e descansar os ossos.

Luís César, absolutamente conformado com o ano meia-boca do São Paulo, sugeria o assunto. E Bracciola, azedo por mais uma temporada trágica do Palmeiras, não dava muita trela.

– Eleições no LEC?

– Vamos ver no que dá.

– Vôlei na Superliga!

– Quando o time entrosar, engrena.

– Futsal.

– Trombamos com um osso duro. O Guarapuava joga muito.

– Barça cinco, Real zero.

– Vixe, que sapatada, hein...

– Propina pro Ricardo Teixeira.

– Grande novidade...

– Sei lá, venda da Garcia, censo do IBGE, Complexo do Alemão, Conferência do Clima, vamos falar de alguma coisa.

– Na verdade, tô doido para saber se o Moitinha usou verde domingo...

– Mesmo que tivesse usado você sabe que ele não falaria nem morto.

– Aposto que ele usou. Não foi só na Duque que viram ele não. Na Sergipe também. O Silvio da pastelaria viu ele perscrutando umas lojas por lá.

– Percrus o quê?

Nisso, Moitinha chegou. “Entregaram, né?”, foi logo desabafando, olhando torto para o palmeirense. “Lá se faz, lá se paga”, rebateu Bracciola, sem esconder um sorrisinho sarcástico, enquanto já elocubrava alguma maneira de arrancar do colega a confissão de que teria usado alguma peça de roupa verde como superstição para ver se o Parmera arrancava pelo menos um empate do Flu, como fora sugerido por um pai-de-santo do Cincão.

Instiga daqui, arrisca dali, e nada. Até que Bracciola percebeu que Moitinha usava o mesmo boné com o qual fora visto no domingo todo. Desconfiado, o palmeirense arrancou o boné da cabeça do corintiano, observou todos os detalhes e arrematou:

– Ahá, é verde por dentro.

– É pra torcer pro Guarani, seu porco imundo.

Atrás do balcão, tio Mário suspirou. Aquela conversa ia longe...

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