quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

História de torcedor: Carlos quer desenterrar bandeira do Palmeiras

(Publicado na seção Boas Histórias do site da Sercomtel)




A trágica derrota do Palmeiras para o Goiás na quarta-feira dia 24 de novembro, em pleno estádio do Pacaembu lotado, foi mais uma ducha d’água fria na torcida. Afinal, o Verdão vai terminar a década sem ter conquistado um título expressivo.

Pior é que o time de Felipão só precisava empatar em casa com uma equipe que já estava rebaixada para a Série B do Campeonato Brasileiro. E, ainda por cima, saiu na frente do placar. E conseguiu tomar a virada, para desespero de 37 mil incrédulos torcedores – entre eles o garotinho de oito anos que apareceu chorando na TV.

Nada, porém, parece abalar o lado espirituoso desta gente – como mostra esse caso ocorrido em Assaí, Norte do Estado, segundo o relato de Silvio Antônio Bueno (foto), que há nove anos toca uma pastelaria na avenida Rio de Janeiro, área central de Londrina.

A família Fuzari é formada por descendentes de italianos que há muito tempo vivem na região de Assaí e Cornélio Procópio. No início do ano passado, morreu seo Lázaro, “palmeirense doente”, na definição de Sílvio, “daqueles que gostam de ver jogo sozinho, sabem a escalação de equipes antigas do Palestra Itália e são capazes de sair na briga se o Parmera for destratado”.

Não só seo Lázaro era fanático pelo Palmeiras. A paixão é comum em toda a família. Durante o enterro, realizado no cemitério municipal de Cornélio, Tiago, jovem escriturário, neto de Lázaro, colocou uma pequena bandeira, uma flâmula, do Palmeiras junto do avô.

Carlos, dono de restaurante em Assaí, desconfiado como todo bom palmeirense, cochichou com alguém do lado: “Isso não vai dar certo”. Outro parente, mais zombeteiro, ainda brincou: “Vô, não vai enterrar o Palmeiras junto, hein...”

O fato é que, desde então, o Palestra só colecionou fracassos. No ano passado, sob o comando de Muricy Ramalho, hoje no Fluminense, liderou boa parte do Campeonato Brasileiro, era apontado como favorito disparado ao título, mas “amarelou” na reta final e nem para a Libertadores se classificou.

No primeiro semestre deste ano, fez campanha pífia no Paulistão e foi desclassificado prematuramente da Copa do Brasil. No intervalo estabelecido para a Copa do Mundo, na África do Sul, acertou a contratação de Luís Felipe Scolari, campeão mundial com a seleção em 2002 e comandante da campanha vitoriosa do Palmeiras na Libertadores de 1999.

Para os palmeirenses, chegara a hora do clube voltar a conquistar título, ainda mais depois que a diretoria trouxe de volta o atacante Kleber e o habilidoso meia chileno Valdívia.

Com campanha irregular no Brasileirão, Felipão decidiu priorizar a Copa Sul-Americana, que dará ao campeão vaga na Libertadores do ano que vem – grande objetivo do clube para 2011. O time chegou à semifinal e, mesmo apoiado maciçamente pela torcida, e tendo vencido o Goiás no primeiro jogo, em Goiânia, “surtou” ao levar o gol de empate em São Paulo e acabou derrotado.

Para o filho Carlos, tão fanático quanto o pai Lázaro, só resta uma alternativa: “Vamos desenterrar o caixão e arrancar a bandeirinha de lá”, disse ele para a esposa, que deu de ombros. “Isso é coisa de louco”. Mas tem gente em Assaí e Cornélio que não duvida muito disso não.

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