sábado, 2 de abril de 2011

Tem troco?

Luís César desceu a Maranhão e, da calçada oposta, olhou de soslaio para o Bar do Adriano. Viu Bracciola de costas para a rua, mas nada do Moitinha. Sem ele, não teria graça. Afinal, como prescindir dele depois do 100º gol de Rogério Ceni no clássico em que o Curíntia perdeu uma invencibilidade de quatro anos sobre o São Paulo e viu a liderança do Paulistão cair no colo do... Parmera? Não, sem ele não teria graça. E mais: não ficaria esperando o colega. Entraria no bar depois dele. Queria uma entrada triunfal, à la Rogério Ceni. Escondeu-se numa árvore aguardando a passagem do corintiano, que pode ter muitos defeitos, mas não iria quebrar a regra. Logo Moitinha passou. Luís César esperou uns segundos, ajeitou o cabelo (coisa de são-paulino, saca?), respirou fundo, estufou o peito e adentrou o bar de braços abertos, mirando seu infortunado colega. – Meu gambazinho preferido! Que saudade! – Fala, bambi. E não vem não: saudade eu tô é da Tereza, lá do Gavetti. Ato contínuo, começaram os gracejos. Luís César atacava sem dó nem piedade. Moitinha ora rebatia aos gritos ora apenas grunhia, resignado. Para amenizar o massacre, deixou a mesa e pulou pra trás do balcão, sinalizando que iria ajudar Adriano a servir Pek, Bado, Jovaine e ilustríssima companhia limitada. O são-paulino falava de boca cheia, para quem quisesse ouvir: – Que jogador, que jogador. Todos têm goleiro. Só nós temos Rogério. Cem gols. E goleiro, hein... Cem gols! Até então escanteado, Bracciola entrou na conversa. – Só? Pouco. Catorze anos titular absoluto, tinha que ter feito uns 200 só de pênalti. – Ah, tá. Façanha única, seu invejoso. Maior goleiro-artilheiro de todos os tempos. Na função dele, foi melhor que Pelé. Daqui a pouco você vai dizer que nem bom goleiro ele é. – Bom, não; ótimo. Ótimo pra ficar na reserva do Marcão. Lembra da Copa? – Seu porco imun... Nem deu tempo para Luís César xingar o palmeirense. Um bebum do pedaço, com intenção de matar uma ou duas branquinhas, no máximo, aproximou-se de Moitinha, que, num primeiro momento, até gostou, porque, enfim, se livrava daquele converseiro irritante. O rapaz mostrou uma nota e perguntou: – Tem troco para 100?

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