segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Cão chupando manga

É preciso cair de boca numa bourbon, numa sabina ou numa coquinho para se entender exatamente aquela expressão segundo a qual algo ou alguém é tão feio quanto o Cão chupando manga. Pode ser numa espada também, e foi o que fiz hoje, por volta das três da tarde, nesta cidade em que só se pergunta, para quem veio de fora ou da roça, se andou chovendo por lá. Já havia passado duas horas e meia do almoço, bateu aquele oco no estômago e, ato contínuo, acorri à geladeira, onde me esperava a manga espada que a vó Zizinha me presenteara no sábado, quando cheguei em Guará. Mangona de uns 400 gramas. Madura, mas não totalmente. Tinha acabado de passar do estado de “de vez”. Madura, sim, mas com a carne ainda firme, principalmente nas costas, onde manga demora mais pra madurar. Na verdade, comecei de maneira civilizada. No começo, nada indicava que terminaria naquele estado deplorável. Cortei uma banda e chupei, raspando a carne com os dentes de cima, a casca apoiada nos dentes de baixo. Poderia descascá-la e comê-la em pedaços, mas assim seria civilizado demais. O correto – poderia reivindicar um guaraense mais convicto – seria abocanhá-la desde o princípio, arrancando nacos generosos, deixando que os dentes e a língua separassem a carne da casca. Mas o fato é que cada tipo de manga tem um jeito peculiar de ser chupada. Em uma manga grande como a bourbon pode-se usar a faca e cortar de um lado e de outro, deixando o caroço pelado dos lados mas recoberto de carne nas extremidades. Em mangas menores como a coquinho e a sabina, não. Morde-se a bichinha, começando, sempre, pela ponta menor, que é a parte mais doce. A coquinho, se estiver bem madura, pode ser chupada da mesma maneira com que antigamente tomávamos guaraná, ou seja, furando a tampinha. Morde-se a ponta da coquinho e vai-se chupando o caldo na medida em que vai-se espremendo a fruta, de forma que, ao final, sobram apenas a casca, praticamente intacta, e o caroço. Mas, assim, termina-se a operação com a boca limpa, exceto alguns fiapos com os quais pode-se brincar o resto da tarde. Quando se cai de boca numa manga grande, raspa-se até o caroço com os dentes, com voracidade, de maneira que não só os lábios, mas o buço e o queixo também fiquem lambuzados de amarelo tal qual palhaço de picadeiro. Quando, além da voracidade, usa-se a avidez, é comum que a ponta do nariz e parte da bochechas também fiquem amareladas. Daí sim, fica-se com o aspecto digno de um Cão chupando manga. Eu recomendo.

2 comentários:

  1. KKKK..ROGER..VC PELO JEITO É EXPERT NA MATÉRIA....MAS SÓ FALTOU UMA COISINHA...VOU FALAR! MELHOR QUE ISSO...SÓ MESMO SE FOSSE TIRADA NA HORINHA DO PÉ...E DEVORASSE A DITA CUJA ACOMODADO NUM DE SEUS FRONDOSOS GALHOS, TENDO SÓ AS ABELHAS E PASSARINHOS INVEJOSOS COMO TESTEMUNHAS DA LAMBANÇA!!

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