quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Verde crise

(Publicado nesta quarta, 22 de setembro, no Jornal de Londrina; mais um texto da série "Os três diabinhos")



– Mano, seguinte: de 1º de setembro de 2009 a 30 de agosto de 2010, o Curíntia estava nos 99 anos. O centenário começa a partir do aniversário de 100 anos e dura os 12 meses seguintes. O que ele faturar até agosto de 2011 é caneco do centenário, tá ligado? Tá ouvindo, mermão?

Por mais puto que tenha ficado com a nova tese corintiana para duplicar o ano do centenário, a ponto de pedir explicações formais ao Moitinha, Bracciola praticamente ignorou o bla-bla-blá do colega diabinho, absorto que estava no balcão do Bar Celestial, agoniado com o atraso de Luís César, torcendo para que ele faltasse à reunião sagrada das segundas-feiras, nas quais é discutida, lá no purgatório, a rodada esportiva do final de semana aqui na Terra.

O 2 a 0 de domingo ainda doía no lombo. Pior – e com o Corinthians na liderança! A cada segundo só aumentava a aflição de imaginar o Cesão zoando total, entrando numa daquelas de dizer que o Palmeiras está se aportuguesando, que vai de novo pra segundona, que daqui a pouco nem torcida vai ter mais, que vive de passado, que vai acabar mesmo é disputando clássico com o Juventus na Rua Javari.

E o duro é que ele estava ficando sem argumento. Começou a achar que está se repetindo uma nova década de 80, a década perdida, a década dos elencos medíocres, da fila. A década dos Vasconcelos, dos Adalbertos, dos Ditinhos Souzas. O olho lacrimeja, o coração dispara.

– Acho que eu vou morrer de novo - pensou o diabinho palmeirense. Mas justo agora, ele lamentou. Justo agora que tínhamos estragado a festa dos 107 anos do Grêmio em pleno Olímpico, com Felipão, pai da Libertadores-99, sendo aplaudido na casa do inimigo?

Perder para o São Paulo, com o time entrando em campo com a camisa de 1942 e a bandeira do Brasil, exatamente como há 68 anos, no mesmo Pacaembu, no primeiro jogo com o nome de Sociedade Esportiva Palmeiras, em que foi campeão justamente em cima do São Paulo, que levou a virada de 3 a 1 e fugiu de campo quando ainda havia um pênalti a nosso favor?

Tão avoado ficou que Bracciola nem viu Cesão chegar e, por trás, num lance que valia cartão vermelho, dar dois tapinhas nas costas dele e sussurrar:

– E daí, porquinho, preparado para a segundona?

É a morte! Definitivamente, é a morte!

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