sexta-feira, 15 de outubro de 2010

E aconteceu!

(Publicado na edição deste mês do jornal Em Dia, de Echaporã-SP)


O “algo muito grande” – vide a coluna passada, por favor – que seria necessário para reverter o quadro eleitoral e evitar a vitória petista no primeiro turno demorou mas aconteceu. Nos últimos dez ou quinze dias de campanha, Marina Silva abocanhou algo em torno de sete milhões de votos – a maioria da Dilma, o restante dos indecisos – e tornou-se a grande protagonista, até agora, da eleição presidencial.

Este país é mesmo do avesso. Todos os holofotes se voltaram para Marina. Até o alto-falante da praça da igreja matriz está morrendo de curiosidade para saber qual dos candidatos finalistas ela apoiará. Com razão, comemorou com seus correligionários o extraordinário desempenho em 3 de outubro. E, no fundo, das candidaturas realmente viáveis, foi a única que, paradoxalmente, ficou de fora da grande decisão.

Vai entender... Até parece futebol.

Culpa do Lula. Foi só ele ficar comparando qualquer coisa com futebol que até a política ganhou um grau de imponderabilidade que não sabíamos que pudesse existir. Até o domingo anterior ao da eleição ninguém apostava um fósforo queimado na oposição. A vitória de Dilma eram favas contadas. Já se discutia o ministério do próximo governo. A suposta “onda verde” levou José Serra de graça para o segundo turno.

Convenhamos: o tucano não fez nada para merecer. Enquanto oposição, foi uma lástima – nem arrebanhar para si as virtudes do governo FHC, do qual foi ministro, ele conseguiu. Em termos de carisma, é um zero à esquerda. Iniciou a campanha na TV tentando colar em Lula – tática suicida. A participação nos debates foi pífia.

As propostas de campanha de Serra foram tão insossas que, se fizerem uma enquete no bar do Esmeraldo, dificilmente alguém se lembrará de alguma. O tal salário mínimo de seiscentão é bravata das grossas – todo mundo sabe disso. O segundo turno lhe caiu no colo. Uma eventual vitória sua terá o dedo, as mãos, as orelhas e as duas pernas de Marina Silva.

Ao prolongar a campanha eleitoral até o próximo dia 31, o grande mérito da candidata do PV, além de ter dado uma enxadada na soberba dos governistas, foi o de propiciar ao País um embate realmente mais sério entre as visões de mundo e o modo de governar dos dois grupos políticos que desde 1994 disputam o poder no Brasil.

Dar a vitória, logo no primeiro turno, a uma candidata que jamais passara por um teste eleitoral significaria reduzir o nível de discussão e debate da política nacional ao nível das tiriricas e dos carrapichos. A expectativa, agora, é de que José Serra honre a vaga que Marina lhe proporcionou.

Apesar da visível decepção nas hostes governistas e da euforia que dominou o ninho tucano, será muito difícil impedir a vitória de Dilma Rousseff. Lula tirou 20 milhões de pessoas da linha da miséria, robusteceu o salário mínimo com aumentos reais e fortaleceu sobremaneira o mercado interno com crédito facilitado e redução de impostos na hora certa – o que permitiu, por exemplo, que o Brasil passasse praticamente ao largo da crise global de 2009.

Vá convencer esses milhões de eleitores – que antes do Bolsa-Família não tinham dinheiro para nada e hoje comem carne mais de uma vez por semana – que eles têm de mudar o governo. Eis o grande desafio de José Serra.

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