quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Nem morto!

(Publicado quarta-feira, dia 6, no Jornal de Londrina)

No papo de ontem à noite no Bar Celestial, o futebol começou em segundo plano. Com os chifres, ou melhor, a cabeça na eleição, os três diabinhos se divertiam ouvindo as histórias do Tio Mário, dos tempos em que era cabo eleitoral (profissional!) em Laje do Muriaé, no noroeste fluminense.

Hoje tem urna eletrônica, o voto é universal, até piá de 16 anos vota, mas naquele tempo do onça, primeira metade do século XX, analfabeto não votava – e como tinha analfa, hein... Principalmente na zona rural, onde seo Mário atacava a cada quatro anos. Em cada campanha eleitoral, ele percorria sítios e fazendas.

O objetivo era ensinar os analfas a escrever o nome – e só isso. O que já era suficiente para tirar o título de eleitor. Certa feita, acompanhado de um incauto, foi ao Fórum garantir mais um voto para seus candidatos-patrões.

O problema foi que, na hora de revelar o nome para o seo Mário ensiná-lo a escrever, o papa-goiaba disse que se chamava Antônio Pereira. Esqueceu do Silva no final, como constava na sua certidão de nascimento.

No cartório eleitoral, ele assinou o que seo Mário tinha lhe ensinado – Antônio Pereira – até que o funcionário, observando a certidão de nascimento do sujeito, indagou: “Cadê o Silva do seu nome?”. No que o capiau, na maior inocência, entregou: “Ué, esse aí o seo Mário não me ensinou”.

Resultado: o juiz local mandou caçar o seo Mário, que teve de driblar muita gente para não acabar no xilindró.

Terminada a gargalhada, Bracciola – com a alma mais leve, agora que, ao que parece, o Parmera tomou tendência – resolveu provocar os amigos. O primeiro alvo foi Luís César.

– Carpegiani... Sei não. Vocês tão mais pra Sul-Americana que pra Libertadores. E olha lá!

O são-paulino fingiu que não ouviu. Arrancou com os dentes o último pedaço do espetinho – ignorou até a farofa com molho verde – e saiu mastigando rumo ao banheiro, para tirar água do joelho.

Bracciola então pegou Moitinha para cristo. Coçou a barbinha rala de uma semana e, sentindo-se inspirado, tascou:

– Amanhã o Curíntia ressuscita o Galo!

Olhando o palmeirense de esguelha, misturando desprezo com impaciência, Moitinha devolveu:

– Perder pro Diego Souza e pro Fábio Costa? Nem morto!

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