quinta-feira, 17 de março de 2011

Meio a meio

(Publicado nesta quarta-feira, 16/03, no Jornal de Londrina)

Está lá para quem quiser ver: há três anos que o Gerson guarda no freezer uma garrafa de cerveja com rótulo da Brahma e tampinha da Antarctica. É uma relíquia que ele mostra aos frequentadores mais curiosos do bar e que, vira e mexe, instiga acirradas discussões entre quem curte cerveja e futebol – ou seja, 99,9% da população mundial.

Com Moitinha, Luís César e Bracciola, que pintaram lá para uma cumbuca de mocotó, não foi diferente. Afinal, eles são do tempo em que um sujeito que tomava Brahma não admitia uma Antarctica. E vice-versa. No máximo, uma Skol, que era fabricada na cidade e reconhecidamente muito boa.

Do tempo em que se era Senna ou se era Piquet. De vez em quando, um Nigel Mansell, desde que ele não atrapalhasse nossos títulos mundiais – como, de fato, nunca atrapalhou.

Do tempo em que se freqüentava Clube da Esquina ou Café Set – em tese, não dava para misturar bicho-grilo da UEL com boyzinho da Higienópolis. No máximo, um Carlão ou um Souza, points de todas as tribos.

Se tempos atrás alguém flagrasse o Carlão da Ótica tomando Antarctica no Bar do Lema ou o Alemão Schwartz tomando Brahma no Estoril, haveria motivo para sérios estranhamentos. A rigor, nem seria possível, porque Jorge e Lucílio conheciam muito bem a preferência de seus fregueses e jamais ofereceriam a eles outro tipo de cerveja.

Ao ver aquela estranha garrafa no Bar do Gerson, o são-paulino Luís César imediatamente evocou Vicente Matheus, que, na comemoração pelo título de 1977, teria agradecido a Antarctica por ter enviado aquelas braminhas para a festa corintiana. Moitinha embarcou na dele e, para gargalhada geral, desfiou algumas frases célebres do lendário presidente alvinegro.

– Quem está na chuva é para se queimar. Tive uma infantilidade muito triste. De gole em gole a galinha enche o papo. Não veio o Falcão, mas comprei o Lero-Lero.

Já Bracciola resolveu mexer na ferida. Encarou Moitinha e tascou, lembrando 1999:

– E aquela camisa meio Corinthians/meio Manchester, está guardada ainda?

Definitivamente, há certas coisas em que é melhor não mexer. Nem entre muito amigos.

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