quarta-feira, 13 de julho de 2011

Sinuca

(Publicado nesta quarta-feira 13/07 no Jornal de Londrina)

Mais absurdo que o enorme muro cinza e com arame farpado que deixou o Estádio do Café com cara de campo de concentração é a facilidade com que o bancário Paulo Lima mata de fina na sinuca. No meio, no canto, pela esquerda, pela direita, de perto, de longe: não importa a situação, o sujeito é mestre na fininha.

Bracciola sofreu nas mãos do Paulinho na segunda-feira à noite, no Bar do Jota, onde a turma está tentando restabelecer o Dia da Sinuca. O placar de quatro ou cinco a um, de virada, não representou a realidade do pega. Bracciola apenas foi mais feliz nos arremates finais. Alguns dos quais mereceram o comentário característico do adversário.

– Imponderêibou on the têibou.

É assim que Paulinho se manifesta toda vez que o imponderável sobe à mesa. Tipo aquela boa que cai na caçapa do meio depois de bicar em dois ou três cantos, tá ligado? O resultado adverso certamente deveu-se ao inferno astral de Paulinho, um corno-procopense são-paulino – uma coisa não tem nada a ver com a outra – que ontem completou 54 anos.

Embora a turma lá costume rachar o custo das fichas irmanamente, Paulo Lima, com o espírito natalino, decidiu quitar a conta da sinuca. Restou a Bracciola e ao Armandinho – outro que festejou idade nova ontem, quatro ponto cinco – apenas a conta da cerveja.

Que, aliauses, não foi pequena. A relação da comanda fez Bracciola lembrar o mar de latas que forrava a rampa leste do Café na noite do jogo com o Toledo. Sem poder saborear uma cerveja dentro do estádio, a torcida foi emborcando a última pelo caminho.

Nos 40 ou 50 metros que separam a Henrique Mansano das catracas, havia talvez milhares de latinhas – intactas, amassadas, pisoteadas, comprimidas. Um reciclador ali faria a festa. Certamente o mesmo deve ter ocorrido na rampa oeste, que dá acesso às cativas.

Bracciola, Moitinha e Luís César resolveram ver a partida caminhando, para espantar o frio. Pararam no último lance de arquibancada, ao lado dos espetinhos de gato. Não mais que de repente, Moitinha viu um torcedor cruzando rapidamente aquele espaço, com um espeto numa mão e, na outra, um copo com uma espuminha suspeita. A reação foi instintiva:

–Ei, brother, que cê tá tomando aí?

O apressado torcedor apenas sorriu aquele sorriso dos espertalhões, e sumiu em meio ao fumacê dos braseiros.

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