sexta-feira, 1 de julho de 2011

O troco

(Publicado quarta-feira 29/06 no Jornal de Londrina)

É claro que depois de um 5 a 0 daquele Luís César tinha certeza mais do que absoluta de que levaria o troco de Moitinha. Afinal, na sagrada reunião das terças-feiras, semana passada, crente de que o São Paulo, líder do campeonato, surraria o Corinthians no domingo, esquentara o ouvido do colega com uma série de piadas infames.

Mas não sabia que o troco viria tão rápido. Assim que pisou no Bar Celestial, Moitinha gritou para Tio Mário, torcedor do Bangu que, ao trocar o Rio de Janeiro por Londrina, virou gavião de carteirinha, a ponto de ter presidido o Corintinha da Vila Ipiranga, campeão amador do Paraná em 1967:

– Tio Mário, traz um franguinho pra gente.

 – A passarinho?

– Não, à la Rogério Ceni.

Pô, zoar tudo bem, mas começar pegando pesado justamente com seu ídolo maior, de cara, na bucha, deixou o são-paulino com uma tromba de elefante. Mesmo assim, evocou o espírito esportivo, puxou a cadeira e sentou ao lado de Bracciola, que também não estava lá muito sorridente depois de levar 2 a 0 do... Ceará!

O palmeirense ficou na dele, pensativo. Notou Major Adalberto no canto do balcão, à espera da turma de sempre; ao lado, Alberto Macedo, Marcelo Rocha e Pafu – todos saboreando o tri da Libertadores. Pensou juntar-se aos santistas e começar, ali, uma campanha pela volta da cerveja aos estádios. Inspirado nas várias passeatas que têm pululado pelo Brasil, estava arquitetando a Marcha dos Maiores Abandonados em Prol de Uma Inocente Cervejinha nos Estádios de Futebol.

Pior para Luís César é que ele nem imaginava que Moitinha pesquisara algumas piadas infames para rebater as da semana passada. E piada infame, todo mundo sabe, é engraçada quando você está de bom humor. Se tu andas escorneado, é o fim da picada. De novo sem rodeios, o corintiano empinou a carroça:

– Meu bambi preferido, me diga uma coisa: o que o cavalo foi fazer no orelhão?

– Sei lá, seu gambá desqualificado.

– Foi passar um trote, uai.

E, antes que o são-paulino pudesse respirar, emendou:

– O que dá o cruzamento de pão, queijo e um macaco?

– X-panzé.

Luís César suspirou profundamente, como que se preparando para uma longa e tenebrosa noite de alugação.

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