quarta-feira, 18 de novembro de 2009
Um grande abraço, meu camarada
Está fazendo um ano que morreu Henri Junior. Sei que foi mais ou menos por esses dias de novembro do ano passado que ele entregou os pontos, depois de meses batalhando contra um câncer devastador. Meses antes, ele se divertia mostrando aos amigos o buraco que tinha na cabeça. Bem no alto do crânio. Pedia para os amigos apalparem o crânio. Era um buracão. E a gente, lógico, não fazia outra coisa senão ralhar com ele para que fosse logo ao médico ver que merda era aquilo. Até que foi. Lembram daquela chuva de granizo que destelhou centenas de casas e derrubou árvores em Maringá? Então, foi em março/abril de 2008. Pois num domingo eu ainda estava limpando a casa onde morava, na Cariovaldo Ferreira, quando ele apareceu. Nas mãos, o resultado do exame que ele mostraria ao doutor no dia seguinte. Ele e Walter Tele ficaram tomando umas latinhas de cerva enquanto eu dava duro no rodo com pano. Minha casa ficara novamente alagada - voltou a chover dois dias depois do granizo que destruiu o telhado de eternit. Tele pediu para dar uma olhada no envelope. Horas depois, quando já havíamos dissolvido a rodinha, Tele me contou que procurara o significado de algumas palavras sinistras que ele havia lido no exame e que, salvo engano, o resultado daquele envelope era aterrador. Daquele texto de laboratório, Tele havia depreendido que havia algo grave e, pior, devastador. Não deu outra. Semanas depois, o Cabeça passava pela primeira cirurgia, na Santa Casa, na mesma rua Cariovaldo Ferreira. A recuperação, avisaram os médicos, seria lenta e sofrida - se houvesse recuperação. Enfim, o bicho voltou a atacar e, contrariando os primeiros prognósticos, que desaconselhavam uma segunda cirurgia, o Cabeçudo passou por mais uma e outra, em Maringá e Curitiba. Os médicos não conseguiam explicar como ele ainda resistia. Entrava e saía do coma. Vivia a base de morfina. Ficávamos, os amigos, divididos entre a torcida por um milagre e a torcida por um descanso - dele, da família, da heróica namorada. Até que, em meados de novembro, ele se foi. Eu estava em Londrina, assessorando o Sebrae na Semana do Pequeno Empreendedor. Estava hospedado no velho Hotel Aliança, na esquina da Goiás com a Duque. Acordei, como sempre, perto de sete horas, encafifado com o sonho daquela madrugada. Nele, o Henri me chamava para ver um determinado local. Chegando lá, vi o pai dele, o Francês, sentado, de costas - não vi sua feição. Era um daqueles barracões de estrutura armada, mas só a estrutura, sem paredes nem teto. No chão, três grandes canteiros, como se fossem canteiros semeados com hortaliças. Quando nos aproximamos, o Cabeça correu na frente e se jogava num daqueles canteiros, como uma criança que brincava na piscina de plástico de casa ou na enxurrada da sarjeta. Gritava, feliz, como gritam as crianças despreocupadas. Daí, acordei. Logo que cheguei ao Sebrae, na Santos Dumont, às oito, liguei o computador e liguei para a Dani, minha namorada, em Maringá. Perguntei se havia novidades sobre a situação do Henri. Dani disse que não ouvira falar nada - estava tudo na mesma. Contei o sonho. Hora e meia depois, ainda estava on-line quando Ivan Amorin, chefe dele no departamento fotográfico de O Diário, me mandou e-mail avisando que, poucos minutos antes, o Cabeça se fora. Daí entendi o sonho: camarada como era, como sempre foi, e como sempre será, o Cabeçudo tinha ido ao meu sonho se despedir. E, pelo jeito como se comportou, foi uma despedida feliz. Ele devia estar contente por ter lutado contra aquela merda toda e, sabe-se lá por que, entregara os pontos - talvez com dó dos amigos, da família, dele mesmo, que desafiara o câncer e a medicina meses a fio. As fotos desse post foram feitas pelo Ivan, sem sabermos. Estávamos na arquibancada no Willie Davids, num domingo chuvoso, esperando Paraná x Palmeiras. 2006, se não me engano. Cheguei ao estádio com duas horas de antecedência. Havia chovido a madrugada toda, o dia inteiro. Não havia mais lugares no estádio. Quando escolhi o ponto em que ficaria, deparei com o Cabeçudo com o indefectível copão de cerveja nas mãos. Flamenguista doente, não sabia o que ele fazia ali, naquele aguaceiro danado. Nem perguntei. Amigos não questionam esse tipo de coisa. Porque camarada é camarada, e ponto final. Ele estava contente por acompanhar o amigo "forasteiro" de Londrina no jogo do time do camarada no estádio da cidade dele. Tomamos trocentos copos de cerveja para aguentar a chuvarada. De repente, um maluco abre um encerado amarelo, desses de caminhão. Ficamos na pontinha, às vezes livrando-se da chuva, às vezes levando na cabeça aquela cachoeira de água que ficava acumulada no encerado. Eu tinha ido meio que preparado, com uma capa de chuva branca, que comprara antes de um jogo do Parmera em São Paulo, anos antes. Fiquei parecendo o Gasparzinho. Lembranças. Agora só ficam as lembranças. Do carisma do cara, que não podia faltar aos nossos churrascos, sob pena de a festa perder a graça. Do talento profissional do cidadão. De muita, muita amizade. E, no meu caso, ficam ainda dois DVDs que ele me emprestou, identificados como Asian II e Asian III, dos quais pretendo usufruir bastante ainda.
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Saudade enorme do amigo que se foi. Joguei um pouco da minha cerveja numa árvore, lembrei dessa promeça que fiz pro Warte.Hoje não aguentei, fui no Colégio onde estuda a filha do Cabeça, a Isadora, fotografar crianças para formatura de fim de ano, a primeira que me vem é ela própria, estava eu e Dona Edna Amorin, tive que sair da sala, eu sou fraco para essas coisas. Chorei.
ResponderExcluirFischer, que bela homenagem ao Cabeção. Você retratou bem quem ele era e a luta dele e da família contra o câncer. Lembro do dia em que a notícia chegou à redação de O Diário. A Elaine Utsunomia ficou estarrecida e chorava convulsivamente. A Adriana Franco também ficou chocada - segunda morte em pouco tempo em pessoas tão jovens e próximas a ela. Os poucos que estavam na redação nesta hora sentiram a perda desse cara. O Jaca e o Pardal relembravam histórias dele. Realmente foi uma grande perda. Eu, convivi pouco com ele, mais trabalhando na redação. Na Cariovaldo Ferreira dividi algumas latinhas de cerveja, principalmente inaugurando a churrasqueira da "associação", gentilmente doada pelo Alan Maschio. Isso foi em dezembro de 2007. Boas lembranças.
ResponderExcluirAlexandre Sanches
Bela homenagem Fischer. As vezes penso no Cabeça e ainda custo a acreditar que ele se foi. Foi um grande amigo e com certeza, faz muita falta.
ResponderExcluirAbraços! Léo Filho.
Tive o prazer de conviver com Henri nos meses que fiquei em Maringá. Admirava seu talento como profissional e sua lealdade aos amigos. Impressionante, gostei desse cara, no primeiro dia. Tomamos muitas cervejas juntos e conversamos bastante também. Fui embora e alguns anos depois, sem contato, descobri que ele estava doente e pelos blogs de outros amigos de Maringá acompanhei tudo que aconteceu até chegar novembro de 2008. Bela homenagem para um cara que não praticava maldade e só se importava em viver a vida e fazer o bem. É daquelas pessoas que a gente sente muita falta.
ResponderExcluirAbraços!
Marco Martins
Tribuna do Vale
Santo Antonio da Platina
Linda homenagem a esse heroi....Obrigado a esses amigos verdadeiros que ele amava muito..abraços..STELA
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