quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Ametur informa!

(Publicado no Jornal de Londrina desta quarta-feira, 19/01)


Luís César jiboiava na cadeira da varanda. Devorara um frango caipira e pensava na sobra para o jantar. Já passava muito das três da tarde quando decidiu que iria, sim, ao Café ver Ronaldinho Gaúcho. Além de matar a saudade do estádio, ajudaria as vítimas da chuvarada no Rio.

Tão logo chegou, tentou cavar uma vaga na sombra que, àquelas horas, divide a cativa da arquibancada. Sem chance. A parada estava tomada de flamenguistas. O jeito foi encostar-se no muro com arame farpado que agora impede quem está no estádio de ver aquela curva do autódromo.

– Vou pegar uma cerva e ficar aqui, de pé, pra ver se vejo o Dentuço de longe.

No balcão do bar, se tocou de que faz tempo que não mais se vende cerveja em estádio. Bateu uma deprê no nosso diabinho tricolor. Enquanto a galera acompanhava o amistoso com o América-MG como se fosse semifinal da Taça Rio, Luís César permaneceu estático, sorumbático, olhar perdido para além do gol dos vestiários.

Fazia um tempo que ele não ia a estádio – desde que o Londrina caíra para a segundona do Paranaense e para a Série F do Brasileiro. Tudo estava diferente. Não viu a galera de sempre. Soube que o time do LEC é, na verdade, o Iraty. Cerveja está proibida. Vestir camisa que não a do Londrina está ficando perigoso.

Lembrou das tardes e noites no VGD, das figuras carimbadas que desciam do Cincão, da Casoni, do Leonor, do Ideal, da Fraternidade, de São Jerônimo da Serra. Da cerveja vagabunda e nem sempre gelada, do espetinho de gato, do desfile de dirigentes e corneteiros, do “Ametur informa!”, dos amigos de longa data. Das conversas fiadas, do alambrado, dos coitados dos bandeiras e dos laterais.

Tentou puxar pela memória; não se lembrou de um único incidente mais grave que pudesse justificar a proibição de se vender cerveja no estádio. O fato é que, agora, em nome da segurança, o estádio estava diferente.

Vazou no intervalo. Saiu cabisbaixo, meio down. Desceu pelo Santa Mônica, alcançou a BR e pegou a Duque de Caxias, torcendo para topar com o Jairão Pão Doce, o Jair Bala, o Marião, o Bado, o Lelei, o Marquinho Feio, o Cláudio Paçoca, o Paulinho Bengala, um tranqueira qualquer para afogar a saudade de um tempo que, pelo jeito, não volta mais.

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