segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Na telinha

(Publicado na quarta-feira 29/12 no Jornal de Londrina)


Ao ouvir a chamada na TV, Moitinha logo pensou em intimar os colegas diabinhos. Antes, foi ao mercado. Comprou uma quantidade industrial de cerveja e tira-gosto à vontade. Rapelou quase todo o estoque daquela marca que havia meses ocupava o fundo do corredor. Ligou pro Luís César.


– A Band vai mostrar o filme do Curíntia. Chega aí.

– Que filme? O Soberano?

– Que mané soberano? Aqui é Todo Poderoso, rapá.

Ligou pro Bracciola.

– Domingo, nove e meia. Comprei uns troços pra nóis bebê.

– Não me venha com aquela cerveja vagabunda de novo não, hein...

– Geladinha, qualquer uma desce. Vê se não atrasa.

Começou o documentário. Moitinha ocupou todo o sofá de dois lugares na frente da TV. À esquerda dele, Bracciola se ajeitou numa velha poltrona que arrastou do quintal. À direita, Luís César se contentou com um banquinho sem encosto. No centro, uma mesinha. Sobre ela, um prato com mussarela picada e salame de beira de estrada.

Na telinha, o início: cinco operários redigindo a ata de criação do SCPP à luz de velas. A primeira década na várzea. A luta para entrar na “liga dos ricos”. Os primeiros títulos. A construção da Fazendinha. Os primeiros ídolos. A rivalidade já latente com o Palestra.

E o roteiro ia se desenrolando, em ordem cronológica. O título do Quarto Centenário em 1954. O longo jejum diante do Santos do Pelé na década de 60. A “Libertação” pelos pés de Basílio, na década de 70. A “democracia” de Sócrates, Casagrande & Vladimir, na década de 80.

Juca Kfouri, supostamente da sacada de seu apartamento, com o Pacaembu ao fundo: “A década de 90 foi quase um passeio”. E dá-lhe o primeiro título brasileiro, pelos cravos de Tupãzinho. Os Paulistões de 95, 97 e 99. A Copa do Brasil de 95 e o bi nacional em 98/99.

Aquele “quase” chamara a atenção. Passeio? Na década em que o São Paulo fora bicampeão continental e do mundo? Em que o Palmeiras fora bicampeão brasileiro e paulista simultaneamente e campeão da Libertadores? Bracciola e Luís César se entreolharam.

– E aquele gol do Raí em 98, voltando da França? - atacou o são-paulino.

– E os pênaltis no São Marcos? - emendou o palmeirense.

Moitinha nem tchuns. Continuava vidrado na TV. Estava por vir o Mundial de 2000. Esse ia dar pano pra manga...

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