quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

À espera do avião, Adriano pilota um bar na Maranhão

(Publicado na seção Boas Histórias do site da Sercomtel)





Vá lá saber como nascem os bons botequins, desses que formam uma clientela fiel que os mantém abertos por décadas. Seja qual for o segredo, o caso do Bar do Adriano, na rua Maranhão, centro de Londrina, certamente escapou de qualquer receita convencional.

Afinal, quase tudo ali – incluindo a decoração – é obra dos próprios fregueses, gente que perambulou uma vida toda à procura de um espaço em que pudesse realmente se sentir à vontade. E, finalmente, achou.

Trata-se de um local reservado, que muitas vezes passa despercebido. Fica na lateral da saída de um estacionamento. Não há placa – o que faz com que ninguém, com exceção do dono, saiba o nome oficial do estabelecimento: “Garagem”. É o Bar do Adriano, e ponto.

E a coisa tinha tudo para dar errado. Inaugurado no final de fevereiro de 2010, o negócio capengou logo no início, com a saída – não muito honrosa – do sócio de Adriano, que resolveu dar um pulo em Lins (Lugar Incerto e Não Sabido) e até hoje não voltou. Foi um tombo federal.

Habituado à dura lida do sítio onde nasceu e viveu até os vinte e poucos anos, em São José do Povo, a 80 km de Rondonópolis, no sudeste matogrossense, Adriano encaixou o golpe e foi à luta, contando com a contribuição dos próprios clientes.

Presentes
O bar exibe peças de todos os tamanhos doadas pelos fregueses, que foram levando para lá coisas que achavam “a cara” do local – copos com distintivos de clubes de futebol, pequenas peças artesanais, samambaias.

“Nem acreditei quando vi um cara magrinho carregando nas costas uma roda de carroça”, conta Adriano, se referindo a Pinduca, o frequentador que, além da roda, pôs estofo em mesas, cadeiras e banquetas por um preço camarada.

Com o bar sob sua direção, Adriano passou a oferecer música ao vivo, uma vez por semana. Passaram por lá músicos de tradição da noite londrinense, como Joel, Timóteo, Pinheiro, que atraíram, segundo o proprietário, “uma galera mais antiga”, que conheceu e se misturou aos mais jovens, dando ao bar a característica atual: um clima de camaradagem e descontração.

Pela TV
A descontração transformou-se em euforia quando Adriano decidiu homenagear a clientela: o pessoal que vai às quartas-feiras, dia de costela e som ao vivo, é fotografado e, na semana seguinte, enquanto a música rola, se vê em slides projetados na TV de 32 polegadas.

“O pessoal sente-se em casa”, afirma Adriano, que recebe os fregueses sempre com a mesma brincadeira. “Você tem dente cariado?” ou então “Pode ser assim?” – ele pergunta, antes de abrir uma cerva estupidamente gelada.

O bar na rua Maranhão é o primeiro negócio próprio de Adriano Pereira Neto, 28 anos, terceiro de cinco irmãos. Depois que deixou o sítio da família, trabalhou como operador de máquinas, motorista e mecânico de uma empresa agrícola e, da amizade com um piloto que fazia pulverizações, nasceu a paixão pela aviação.

Assuntando daqui e dali, Adriano descobriu o curso de Ciências Aeronáuticas da Unopar. Desembarcou em Londrina no dia 7 de novembro de 2007. Cursou os dois primeiros anos de Ciências Aeronáuticas em 2008 e 2009. Em 2010, trancou a matrícula para se dedicar ao bar.

Carreira
No segundo semestre daquele ano, fez o curso teórico para piloto privado, cuja banca está marcada para fevereiro. Uma vez aprovado, estará apto a realizar aulas práticas de voo. Daí, pretende retomar o curso na Unopar, até alcançar a meta de atuar na aviação comercial – de preferência, numa empresa de táxi aéreo.

“Quero seguir carreira”, ele avisa. E o bar, como fica? “Arrumo um sócio ou um funcionário que saiba administrar direitinho.”

4 comentários:

  1. Pô, Fischer, quero tomar umas nesse tal Bar do Adriano, rs.
    Abraço!

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  2. Maranhão quase Duque, à esquerda de quem desce. Ideal para uma mesa de quatro, cinco amigos. Às quartas tem a indefectível costela assada. Se chegar cedo, vai ouvir o Pek elocubrando suas teorias sobre o Palmeiras. Se chegar tarde, vai pegar o Bado cantando suas paródias maravilhosas do Roberto Carlos. Grande abraço.

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  3. Ah, Carina Paccola também manifestou vontade de tomar uma lá. Bela companhia. Ela é da turma 84/1 de Jornalismo.

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  4. Claro, será um prazer. Acho que lembro dela da festa no Cemitério de Automóveis.

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