terça-feira, 7 de junho de 2011

Arapa

(Publicado nesta quarta-feira, 08/06, no Jornal de Londrina)
¬ Vamos pra Aparongas?

– Demorô. Vamos nessa.

Moitinha e Bracciola tomaram o metropolitano na Tiradentes e vazaram pra Arapa. Pararam num ponto de ônibus a poucas quadras do campo, 300 metros morro abaixo. Antes da bilheteria, embora já atrasados, pediram duas latinhas para molhar a garganta. O ambulante, todo atrapalhado, não conseguia sequer abrir o saquinho.

Tirar a cola daqueles saquinhos de fato é um sacrifício, ponderou Bracciola, que enfrenta a mesma dificuldade quando vai ao supermercado. E riu quando o ambulante passou ao colega um saquinho aberto no fundo, e Moitinha viu um generoso gole da sua brahma parar no chão empoeirado. Resolveram, então, arrancar alguma coisa proveitosa daquele cidadão.

– Vende cerveja lá dentro?

– Vende, mas é mais caro.

Compraram ingressos (a deizão, sem essa de antecipado, que é o que devia ser nessa segundona, comentou Moitinha) e, já na entrada, a ducha fria: após a tradicional revista, foram orientados a consumir o precioso líquido ali mesmo, próximo às catracas. Descer com o saquinho de cerveja pra arquibancada? Nã-na-ni-na-não. Ambulante mentiroso!

O jeito era curtir o jogo. Estádio dos Pássaros com 1.500 torcedores, 95% com a camisa do Tubarão. Domingo frio de sol ardido. Agostinho Garrote pegou uma bandeira emprestada para proteger a careca reluzente. Jurandir Barrozo usava a blusa de couro como guarda-sol.

O Estádio dos Pássaros estava daquele jeito que todo torcedor gosta: bastante gente, batucada na geral e muita figurinha carimbada, mais ou menos assim como um VGD quando reúne aquela tranquerada da Fraternidade, do Leonor e da Vila Ipiranga. E aquele cara vestido de boneca cor de rosa com chifres na cabeça? Mataria de inveja metade do FILO.

Tudo perfeito – inclusive pelo placar – a não ser a chateação de, mais uma vez, ter de encarar um futebol a seco. Um grupo passou a fazer marcação cerrada pra cima dos policiais, implorando uma brecha para comprar uma geladinha dos ambulantes lá de fora. Nã-na-ni-na-não. Até que um torcedor, depois da enésima tentativa frustrada de matar aquela sede obscena, desabafou, emburrado, em voz alta:

– Esse povo tá pensando que campo de futebol é igreja.

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