quinta-feira, 22 de abril de 2010

Limão cravo ladeira acima

Depois de bater, mais uma vez, o telefone na cara de um zero-oitocentos, lá no escritório do meu pai, cheguei na casa da dona Zizinha, onde Ciló e Vera depenavam o quarto frango caipira da tarde. Cheguei de bicicleta, ao contrário do que sempre faço – a casa da minha vó fica a uma quadra de distância de casa, mas decidi não entrar na da minha mãe porque a Elisângela estava terminando de lavar a varanda e não queria marcar toda a lajota com pneus de bike. Ato contínuo, segui pra vó e, além dos frangos depenados, encontrei tio João pronto para apanhar limão cravo na chácara do Renê Telles. “Vamu?”, convidou. “Vamu, uai.” A chácara do Renê – pai da Zezé, minha colega de escola dos seis aos 17 anos – fica ao lado do Rondon, até hoje o único colégio em Guará que oferece segundo grau. Pulamos a cerca, parmeando as bicicletas, e fomos ladeira acima, enfrentando as touceiras de braquiária até o pé de limão, a uns 150 metros da rua. O pé de limão cravo fica ao lado das ruínas do que foi a primeira caixa d’água da cidade, construída, segundo tio João, pelo prefeito Urbano Junqueira quando eu era moleque. Lembrei que, naquele tempo, tinha uma mangueira enorme ali, onde fica o ponto mais alto da cidade – na verdade, do município, porque ali onde estávamos fazia 150 metros que a área urbana tinha acabado. A água, então, abastecia todas as casas somente pela gravidade. Dali se vê Guará toda e se ouve o barulho dos carros e caminhões na Rodovia Anhanguera. Apanhamos limão suficiente para lotar um saquinho de supermercado. Ainda não tinha afofado o chinelo numa bosta de vaca quando recebi mensagem da Turca, anunciando, de Londrina, que estava chegando ao fim a busca por um novo apê. Vazamos dali sob o temor de que alguém da chácara nos tivesse visto e viesse nos dar bronca. Só faltava essa, pensei: eu, aos 44, com meu tio, passando dos 60, levando bronca de chacareiro por pular a cerca e roubar limão cravo. Seria o fim da picada. Na volta, após lavar os braços e descobrir que, de fato, é impossível apanhar limão cravo sem levar ao menos um arranhão, a Ciló preparou uma limonada e nos ofereceu biscoitos de nata enquanto papeávamos, pra variar, sobre coisas antigas, relembrando passagens. Lembrei que, apesar de ter estudado com a Zezé um par de tempo, nunca entrei na casa do Renê, embora fique a caminho do clube, de onde não saíamos enquanto os cabelos não esverdeavam. Fomos lembrando dos moradores de cada quarteirão, até chegar na casa do Ronaldo, filho do Toniquinho Ribeiro. Daí contei que, aos 15 anos, o Ronaldo pegou a Marajó zerada do pai e fomos pro sítio do meu vô, no Barro Preto. Na volta, atolamos no barreiro da porteira e já estávamos desistindo – apesar da ameaça de que fôssemos tosquiados pelo Toniquinho – quando meu tio João Luís, voltando do sítio de bicicleta, parmeou a traseira do carro e conseguimos sair do atoleiro. Daí o Turquinho Aniz me liga, certamente para derrubarmos algumas brahmas no Nicolas e, quando informo que estou a 560 km de distância, manda abraços pra família. Bem, é final de tarde e acho que vou tomar uma ducha para derrubar uma meia grade lá no Bar do Moitinha. Adoro azucrinar corintianos, especialmente depois de uma “vitória” como a de ontem sobre o Atlético Paranaense. Que coisa, hein, Zé Ganchão? Quando teremos de novo um time minimamente confiável? Argh!

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