quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Ultimato

(Publicado nesta quarta-feira 23/02 no Jornal de Londrina)


Mais forte do que as insurreições na África e no Oriente Médio, mais implacável do que o poder de Sarney em Brasília e mais persistente do que a dengue em Londrina foi o ultimato que Bracciola levou da namorada na manhã de domingo.

– Vou com você, e ponto final!

Definitivamente, o aplique havia fracassado. Ele dissera à namorada – uma loirinha esbelta de lábios provocantes com quem sonhava desde os tempos de faculdade – que iria ao autódromo a trabalho, cobrir a ausência de um amigo jornalista que viajara no fim de semana para ver a formatura do filho no interior de São Paulo.

– Eu é que não vou ficar sozinha nesse calorão enquanto o senhor fica lá no meio daquela mulherada que desfila pra cá e pra lá de salto alto e perna de fora.

Ainda insistira, alegando que não poderia dar atenção a ela porque teria de ficar ligado nas provas e nos pilotos. E seriam quatro baterias de categorias diferentes, sendo que Marcas e Speed correriam juntas, numa miscelânea de modelos, nomes e cores que demandaria, de fato, muita atenção.

– Logo você, que ainda confunde Itamar Assunção com Luiz Melodia, Moraes Moreira com Alceu Valença e Luiz Ayrão com Agepê? Ah, tenha dó!

Depois dessa, Bracciola se viu obrigado a esquecer a farra que havia planejado para aquela tarde. Emburrado, com a tromba arrastando no chão, lá foi ele, com a namorada a tiracolo, exibindo as pernas e os seios numa microssaia e num decote de parar o trânsito – e até hoje ele desconfia que aquela largada abortada por causa do sinal que não funcionou foi por culpa dela.

O consolo foi que no autódromo, ao contrário do vizinho estádio, dá pra tomar uma cervejinha gelada. Conformado, deixou a pista e a mulherada de lado e ficou tomando umas e outras em frente à TV na lanchonete dos Tumiatti, sofrendo com a ruindade do Parmera contra o Mogi e pensando se já não era hora de dar um fora na namorada que, de uns tempos para cá, vivia embaçando seus “programas esportivos”.

Para não parecer chato demais, puxou conversa com a digníssima, falando da saudade em ver um jogo do Tubarão no VGD, saboreando uma gelada e um espeto de gato.

– Ah, que bom, amor. Quero ir também.

Se jeito regula, esse namoro não vai longe.

3 comentários:

  1. porra, mas esses caras ressucitaram! o cara vai cobrir jornalista e até namorada tem!
    sou chato memo! até por que sou leitor! amarra direito essa história ou ressucita os caras de vez!!

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  2. " cobrir a ausência de um amigo jornalista que viajara no fim de semana para ver a formatura do filho no interior de São Paulo"
    curioso

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  3. Mera coincidência, Nilão, mera coincidência. rsrs

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