sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Dá-lhe, Dunga


Gosto muito mais, torço muito mais, sofro muito mais pelo meu clube do que pela seleção. Talvez porque se meu clube perder certamente vou cruzar com rivais em cada esquina, todos com uma piadinha na ponta da língua. Se a seleção perder, ninguém vai me alugar - no café do Royal, no balcão do Lucílio e na mesa do Jota vamos todos nós descer a lenha em quem falhou, no que está errado, no que poderia ter sido feito e não foi. O time é entidade particular; seleção é de todo mundo. Talvez seja essa a diferença entre torcer pelo time e pelo escrete. Até porque da seleção nós, brasileiros, temos muito pouco a reclamar. Temos o maior número de conquistas e participações em Mundiais, temos o Rei, somos temidos por onde passamos etc. E mesmo assim reclamamos, porque assim tratamos a seleção. Com o clube é diferente. O empedernido são-paulino sofre tanto quanto o fanático pelo ASA de Arapiraca. O torcedor da Chapecoense vibra tanto com uma vitória suada quanto o corintiano em viradas de gala. Em delírios de torcedor, Maracanã e Vila Xurupita têm a mesmíssima dimensão. Com o time, choramos uma ou duas vezes por semana. Com seleção, sorrimos abertamente na vitória ou ignoramos olimpicamente na derrota. Com exceções. E uma dela estará em campo neste sábado, em Rosário. A rigor, poderíamos apenas nos divertir com o desespero argentino. Afinal, los hermanos necessitam dos três pontos para visualizarem África-2010; nós, não. Eles estão buscando afirmação; nós, por increça que parível, estamos felizes com Dunga & Cia. Eles precisam ganhar para melhorar o retrospecto contra nós; nós não estamos nem aí, temos vantagem de sobra. Mas o confronto em Rosário é mais do que um "simples" Brasil x Argentina. É a chance - talvez derradeira - de Dunga colocar uma pedra em cima de um período negro de sua própria história, de devolver com juros o que lhe foi feito na Copa de 1990. Na Itália, ainda como jogador, Maradona, em apenas um lance, decidiu o jogo contra o Brasil e inaugurou a "Era Dunga", um período negro para o futebol brasileiro encarnado no estigma com que tratamos o nosso então raçudo volante. Período que teria fim no Mundial seguinte. Pode-se considerar que ali, nos EUA, Dunga dera o troco em Maradona, pois Maradona saiu da competição pela porta dos fundos, pego no antidoping, enquanto Dunga levantou a taça e deu o primeiro grito de "tetra". Mas não. O troco oficial tem de ser dado agora. No confronto direto. Na casa do adversário, contra um adversário completo e sedento. É este jogo, o de pelar sabugo, que vale. É nestas ocasiões, nas quais a jiripoca pia e a onça bebe água, que se comprova superioridade. Ainda hoje sofremos com a jogada de Maradona, que entortou nossa linha de defesa e, com um toque, deixou Cannigia na cara de Taffarel. Como sofremos com toda derrota brasileira em Copas, porque achamos que, de 50 para cá, deveríamos ter vencido todas elas. Neste sábado, o confronto é entre Dunga e Maradona. E, admiradores de bom futebol, até daria para termos esquecido a ferroada de 1990, se pelo menos Maradona parasse de falar besteira sobre Pelé.

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