Flagrantes do domingo 30 de agosto, quando Elzira Ilza Tizziotti completou 90 anos de vida. O almoço-festança foi na casa dela, que ganhou tinta nova semanas atrás. Nesse quadradinho de grama, onde há uma roseira, havia uma frondosa árvore. Sem ela, passamos um calorão infernal. Na parte de trás da casa, que fica defronte o Nehif Antônio, onde estudei dos cinco aos quinze anos, havia um pé de laranja baiana. Na época em que frutificava, eu subia no telhado com uma faca de cozinha e um potinho de sal. Ficava chupando laranja com sal e olhando as meninas na aula de educação física. De saco cheio da molecada jogando pedra para panhar laranja, meu vô cortou a laranjeira. Neste domingo, colocamos duas mesas na garagem e almoçamos lá. Foi o primeiro dia de sol ardido em Guará, onde 15 graus é frio pra cacete. Na foto de baixo, dona Zizinha com os três filhos Fischer: José Moacyr, João Luís e Maria Aparecida, vulgo Ciló. Na de cima, com os quatro netos: a bancária Mônica (formada em turismo), o agrônomo Luís Henrique, o também bancário Emerson (gerente da CEF em Cravinhos) e o galã aqui, jornalista há 25 anos, agora um pouco mais chateado, depois que Gilmar Mendes et caterva cassaram a exigência do diploma para o exercício profissional. Não era para a vó ter nome composto. Na festa, ela contou a história - que eu não conhecia. Ela se chamava apenas Elzira. Quando o pai morreu, em Sales de Oliveira, e foram repartir a herança, uma casa e um sítio, o banco não quis dar a parte dela porque lá ela estava identificada com Ilza. A vó era menor de idade e a solução foi agregar o Ilza no nome para satisfazer o banco. Foi ao cartório como Elzira e saiu Elzira Ilza Tizziotti. É a caçula de onze irmãos. E a única viva. Ficou 51 anos sem falar com o irmão Silvio - que morreu há alguns anos, com 94 - depois de uma desavença dele com o marido dela, Paulo Fischer. Foi convocada pelo irmão no leito de morte. Depois de tanto tempo sem se verem, Silvio morreu num quarto da Santa Casa quando estava a sós com a irmã, num hiato de tempo em que todos os outros haviam saído do quarto. Ao cumprimentá-la pelos 90 anos, às 10h55 da manhã, disse que ela é um orgulho para toda a família e, como os descendentes de italianos gostam de dar uma no cravo e outra na ferradura, completei dizendo que concederíamos a ela prazo de dez anos para deixar de ser resmungona. Seu único lamento é não poder trabalhar - o mesmo lamento do marido, que se foi há três anos, aos 88. Neto de alemães, Paulo Fischer sonhava em poder percorrer novamente, três ou quatro vezes por dia, os 5 km de casa ao sítio, de bicicleta Gorki, levando duas latas cheia de lavagem para a porcada e trazendo galões de leite cru. E também por não poder empunhar uma enxada, com a qual, a partir dos 15 anos, com a morte do pai, ajudou a mãe a criar os quatro irmãos menores e com a qual construiu casa para os três filhos, quando estes se casaram. Se lhe dessem a ferramenta e um restinho de força, talvez desenterrasse o olho de enxada que ele fincou ao pé de um mourão no dia do casamento, em um local que nunca revelou a ninguém.
quarta-feira, 2 de setembro de 2009
Provas do crime
Flagrantes do domingo 30 de agosto, quando Elzira Ilza Tizziotti completou 90 anos de vida. O almoço-festança foi na casa dela, que ganhou tinta nova semanas atrás. Nesse quadradinho de grama, onde há uma roseira, havia uma frondosa árvore. Sem ela, passamos um calorão infernal. Na parte de trás da casa, que fica defronte o Nehif Antônio, onde estudei dos cinco aos quinze anos, havia um pé de laranja baiana. Na época em que frutificava, eu subia no telhado com uma faca de cozinha e um potinho de sal. Ficava chupando laranja com sal e olhando as meninas na aula de educação física. De saco cheio da molecada jogando pedra para panhar laranja, meu vô cortou a laranjeira. Neste domingo, colocamos duas mesas na garagem e almoçamos lá. Foi o primeiro dia de sol ardido em Guará, onde 15 graus é frio pra cacete. Na foto de baixo, dona Zizinha com os três filhos Fischer: José Moacyr, João Luís e Maria Aparecida, vulgo Ciló. Na de cima, com os quatro netos: a bancária Mônica (formada em turismo), o agrônomo Luís Henrique, o também bancário Emerson (gerente da CEF em Cravinhos) e o galã aqui, jornalista há 25 anos, agora um pouco mais chateado, depois que Gilmar Mendes et caterva cassaram a exigência do diploma para o exercício profissional. Não era para a vó ter nome composto. Na festa, ela contou a história - que eu não conhecia. Ela se chamava apenas Elzira. Quando o pai morreu, em Sales de Oliveira, e foram repartir a herança, uma casa e um sítio, o banco não quis dar a parte dela porque lá ela estava identificada com Ilza. A vó era menor de idade e a solução foi agregar o Ilza no nome para satisfazer o banco. Foi ao cartório como Elzira e saiu Elzira Ilza Tizziotti. É a caçula de onze irmãos. E a única viva. Ficou 51 anos sem falar com o irmão Silvio - que morreu há alguns anos, com 94 - depois de uma desavença dele com o marido dela, Paulo Fischer. Foi convocada pelo irmão no leito de morte. Depois de tanto tempo sem se verem, Silvio morreu num quarto da Santa Casa quando estava a sós com a irmã, num hiato de tempo em que todos os outros haviam saído do quarto. Ao cumprimentá-la pelos 90 anos, às 10h55 da manhã, disse que ela é um orgulho para toda a família e, como os descendentes de italianos gostam de dar uma no cravo e outra na ferradura, completei dizendo que concederíamos a ela prazo de dez anos para deixar de ser resmungona. Seu único lamento é não poder trabalhar - o mesmo lamento do marido, que se foi há três anos, aos 88. Neto de alemães, Paulo Fischer sonhava em poder percorrer novamente, três ou quatro vezes por dia, os 5 km de casa ao sítio, de bicicleta Gorki, levando duas latas cheia de lavagem para a porcada e trazendo galões de leite cru. E também por não poder empunhar uma enxada, com a qual, a partir dos 15 anos, com a morte do pai, ajudou a mãe a criar os quatro irmãos menores e com a qual construiu casa para os três filhos, quando estes se casaram. Se lhe dessem a ferramenta e um restinho de força, talvez desenterrasse o olho de enxada que ele fincou ao pé de um mourão no dia do casamento, em um local que nunca revelou a ninguém.
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