sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Era uma segunda-feira


O 11 de setembro de 2001 é daquelas datas que quase todo mundo se lembra do que fez naquele dia, assim como o 1º de maio de 1994, quando morreu Ayrton Senna. No dia do atentado às torres gêmeas, eu chegara, como de costume, por volta de 8 horas ao escritório da Gazeta Mercantil em Londrina, no último quarteirão da Rua Piauí, próximo da Concha Acústica, no centro da cidade. Fazia quase um ano que tinha sido demitido da Folha, onde trabalhei 14 anos. No início do ano, durante algumas semanas, tinha dado uma mão ao Capucho, que abrira O Popular de Londrina. O jornal abrigava novos repórteres, como Marcelo Frazão, Rodrigo Grota e Fábio Cavazotti. Também trabalhei alguns meses no Mais Londrina, de João Arruda, até Nilson Monteiro, de Curitiba, me convidar para cobrir a licença-maternidade seguida de férias da repórter Josiane Schulz na GM. Era segunda-feira. Abri o escritório da Gazeta pensando no desastre daquela madrugada, quando deixara o celular do jornal despencar do 9 º andar de um prédio na Alagoas, em frente ao cemitério. Era o apartamento da fotógrafa Luciana Franzolin, de Bauru, que fazia pós na UEL e que pegara uns frilas no Mais Londrina. Havíamos tomado todas e eu estava na sacada fumando o 120º Hollywood do dia quando o celular da Gazeta – um tijolão analógico de uns 800 gramas – escorregou entre maços de cigarros, isqueiro e canetas que lotavam o bolso da camisa e foi se esbugalhar no estacionamento do prédio. Abrira o escritório naquele dia pensando no que falar ao Nilson. Principalmente em como falar. Liguei o computador e os sites de notícias falavam de um suposto atentado em Nova York. Um avião tinha batido numa das torres do World Trade Center. “Deve ter sido algum piloto bêbado”, desprezei, ainda com o caso do celular na cabeça. Desci para o indefectível café no Bar do Lema e, enquanto adoçava o dito cujo, vi na pequena TV do bar o segundo avião atravessando a outra torre. Pronto, agora estava claro: os EUA estavam sendo, pela primeira vez na história, vítima de um atentado terrorista em seu próprio território. As imagens dos dois aviões entrando nos prédios nova-iorquinos como espetos num pedaço de costela só foram suplantadas com o desabamento das torres, primeiro uma, a outra depois. Daí sim todos nós fizemos ideia do tamanho da coisa, da dimensão da tragédia que aquilo representava. Os noticiários já despejavam números: milhares de mortos, e outros aviões despencavam em outros lugares dos EUA, em alvos-chave, como o Pentágono. Havia estupefação, mas, também, excitação no ar. Ninguém em são consciência deixaria de admitir o terror daquele tudo, mas havia algo que mexia com as pessoas. Seria imbecilidade dizer que estava gostando daquilo, mas era mais ou menos isso que eu sentia. Estava gostando, evidentemente, não da tragédia em si, os milhares de mortes, um país assustado, o mundo boquiaberto, mas, de alguma forma, aquele acontecimento, daquela grandeza, aquelas cenas de cinema ao vivo, de verdade, enfim, havia naquilo tudo um quê de não sei o que, um tipo de lado B que instigava, que batia na sua cara e falava “Ó aí, meu chapa, algo de muito importante está acontecendo no seu mundo, e está acontecendo agora”, acrescido de algo tipo “O gigante foi ferido, alguém muito menor planejou tudo e feriu o gigante, tá ali, ó, a história do Davi contra Golias”, e nisso tudo havia uma ponta de satisfação, de você ter, a partir daquilo, a certeza de que, sim, é possível alguém muito menor ferir o inimigo grandão, bastam uma boa dose de planejamento e um caminhão de ousadia. Mas eu tinha também outras coisas com que me preocupar naquela segunda-feira, e a principal era contar para o chefe como eu tinha destruído o celular da empresa numa madrugada de farras.

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