O Comitê Olímpico Internacional (COI) anuncia nessa sexta a cidade que sediará os Jogos de 2016. Pela enésima vez, o Rio é candidato e, ao que parece, agora com chances reais de vitória. Copenhague recebe comitivas de apoio. Pelé, Lula e Paulo Coelho – para citar apenas os brasileiros mais conhecidos no mundo – estarão lá para defender a candidatura carioca. Barack Obama defenderá Chicago. Tóquio e Madri estão na parada. A briga é de cachorro grande.
Sim, eu sei que a decisão não está por conta da caneta do COI, que é uma eleição reunindo os representantes nacionais, mas sei também que a tal família olímpica tem de tudo, menos fair play. Ali, meu amigo, o mais ingênuo dá nó em pingo d’água.
As chances do Rio de Janeiro se devem menos às soluções que a cidade deu aos seus magistrais problemas – transporte, segurança, rede hoteleira, telecomunicações – e mais à possibilidade, real, de que o COI penda suas asas para a América do Sul. Depois da Fifa levar a Copa do Mundo à Ásia e, agora, à África, é bem capaz de o COI entrar na barca e, pela primeira vez, aprovar uma Olimpíada no Terceiro Mundo.
É indiscutível que a ideia divide o País. Basta ler e ouvir o que as pessoas – nos gabinetes, nas ruas – estão dizendo para constatar que é dúbio o sentimento nacional em torno da perspectiva de o Brasil sediar os Jogos. De um lado, os que acham que não, não temos condições de sediar um evento tão importante, em função dos problemas que enfrentamos. De outro, os que acham que catzo, ora bolas, vamos trazer essa bagaça para cá e foda-se o resto.
E é exatamente assim que eu me sinto. Absolutamente dividido. De um lado, querendo muito que o Rio ganhe essa parada. Que a cidade, no fim das contas, vai herdar um legado físico e histórico importante. Que teríamos, assim, a honra de sediar a primeira Olimpíada do continente.
De outro lado, a certeza de que meu bolso vai sangrar, assim como sangrou no Pan-2007. Que essa candidatura do Rio virou uma obsessão inaceitável. Que quem vai lucrar é a mesma turminha de sempre, a mesma que encheu os bolsos com o Pan. Que o legado físico (ginásios, piscinas, campos, raias) vai ficar ao léu como ficou a estrutura do Pan. Que, com a vitória, vamos encher ainda mais a bola do Lula, que já está artificialmente inflada faz tempo.
Caramba, que dilema. Mas penso que é nessas horas que ninguém pode ficar em cima do muro. Mermão, se formos absorver ao pé da letra a tese de que primeiro precisamos arrumar o País para depois pensarmos em eventos dessa grandeza, vamos sediar uma Olimpíada quando? Quando acabarem as reservas do pré-sal? Quando a Amazônia estiver definitivamente a salvo da burrice nacional? Quando nossos índices de corrupção se equipararem aos da Noruega? Quando enterrarmos o jeitinho brasileiro? Quando a nossa mistura étnica e racial finalmente dar um bom caldo além de pés habilidosos e bundas empinadas? Quando o Corinthians ganhar a Libertadores?
Não, não podemos esperar tanto. Foda-se o resto. Que ganhe o Rio. Mas eu preferia São Paulo.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário