segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Vergonha nacional


Deveríamos confiar mais na nossa intuição. Não sei com vocês, mas comigo ela funciona assim (como se fosse fácil explicar): no instante em que deparo com algo, há um aviso de que aquilo é, de alguma forma, importante. Não sei exatamente o que ocorre. Talvez uma minidescarga de adrenalina. Algo que te deixe momentaneamente "ligado", coisa de milésimos de segundo, o suficiente para o aviso. Na verdade, não sei se fico "ligado" ou entorpecido, mas algo ocorre, algo químico, acho, acompanhado de uma breve sensação de deja-vù. Se fosse preciso apontar alguma parte do corpo onde ela ocorre, eu diria na barriga. O fato é que a intuição nunca falha. Agora consigo entender que foi isso que senti naquela corrida em Cingapura, ano passado - a primeira prova noturna da história da Fórmula 1. A sensação foi camuflada por um misto de raiva e decepção quando Nelsinho Piquet porrou o muro, bestamente, sem motivo aparente. A decepção não veio por causa de Nelsinho em si, por um brasileiro estar fora da prova, mas porque outro brasileiro, Felipe Massa, havia sido monstruosamente prejudicado. Felipe Massa, que largara na pole, se finou-se com a batida e a entrada do safety car. Caiu da liderança para a 13ª posição, se não me engano. Alonso, que estava lá atrás, assumiu a ponta e ganhou a prova. Ao parar, Massa saiu com a mangueira do combustível atarracada no carro, perdendo muito tempo. No fim, ele, que buscava aproximar-se de Hamilton na luta pelo título, nem pontuou. Agora que sabemos que o acidente de Nelsinho foi uma farsa, premeditada, bate a indignação. Acredito que não estejam dando a importância devida àquela ocorrência. O consenso é de que trata-se de um dos maiores escândalos da história da F-1, senão o maior. Todos sabemos que aquele circo é mesmo um circo de intrigas, vaidade, poder, grana. Mas daí até mudar-se um resultado por um acidente deliberado... O que Nelsinho fez não mancha apenas a sua carreira. Mancha, sobretudo, a carreira do pai. E o automobilismo nacional também. Pô, o pai dele é tricampeão mundial. E o que pode ter levado Nelsinho a aceitar a tramoia estúpida perpetrada pelo Briatore? Se ainda dependesse de apenas alguns segundos para pensar, no calor da corrida, vá lá. Mas a coisa foi precipitada. Foi discutida e decidida antes da corrida. Para garantir um lugar na Renault? E isso é justificativa para alguém que nasceu em berço de ouro, que disputou um lugar na F-1 correndo em escuderias criadas pelo próprio pai para alavancar sua carreira? Evidente que não surpreende uma atitude dessas num país em que Lula abraça Quércia, lubruza com Maluf, absolve Collor, separa-se de Marina e casa-se com Sarney, mas vá lá, ele tem até motivos para isso, muita gente depende dele, mas Nelsinho não precisava ajoelhar-se a Briatore e agarrar-se a ele como a um prato de comida. Isso é para quem precisa de um prato de comida. Tivesse ele contrariado suas próprias características e mandado Briatore à merda, ele perderia, sim, a vaga na Renault, mas ganharia moral com meio mundo e pavimentaria seu retorno à F-1. E agora, mermão? quem vai querê-lo à sua volta? Com que cara esse piloto vai encarar uma equipe de engenheiros, uma entrevista coletiva, uma arquibancada patrícia? Quem vai respeitá-lo agora? O duro, como torcedor, não é lamentar a cagada de um piloto brasileiro por causa de uma atitude antidesportiva, é constatar que essa atitude antidesportiva tirou o título de um brasileiro em 2008 - ou já nos esquecemos que Massa perdeu o Mundial por um ponto na última curva da última prova, e no Brasil? Nelsinho tirou o título de Massa e perdeu o respeito do Brasil.

4 comentários:

  1. Meu irmão, você disse tudo. Esse f.d.p. tirou o título de Massa. Infelizmente, esse imbecil não foi banido da F1, mas com certeza ele só vai poder correr de F1 em video-game. Ah, se eu visse esse boiola na na minha frente!!!!Parabéns pelo texto!

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  2. Rogê, saca só: o cara foi egoísta, burro e traíra duas vezes! Entrou no esquema sacana para manter o emprego (agora tão falando que ele que deu a idéia) e dedou o Briatore para não ser banido na F1, ou seja, fez duas vezes a mesma besteira para se manter no circo. Só que ele não sabia que o circo já não aceita mais palhaço sem graça....hehehehe

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  3. De fato, é muita cagada para um piloto só, Misa.

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  4. Se o Porco se lembra, há tempos deixei de me interessar pela F-1. Sou do tempo em que as corridas eram decididas nas pistas, no braço e na coragem. Esse negócio de ultrapassagem nos boxes, mais dia menos dia, tinha que dar merda. Por falar em merda, o sinal fisiológico a que você se referiu, só podia ser, mesmo, na barriga... Mario Fragoso

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