quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Lembranças de Ribeirão Preto


Na volta de Ibitinga, dia 2, minha mãe, Natália e eu passamos em Ribeirão Preto para tentar encontrarmos um tênis que minha filha tinha visto numa revista e, claro, em Ibitinga não tinha. A caminho do Ribeirão Shopping, passamos pela avenida da qual dá pra ver uns 20% da arquibancada do Santa Cruz, o estádio do Botafogo local, onde, em março de 1981, meu tio Lazinho e eu vimos Brasil 2 x 1 Chile, gols de Zico. Era o time de Telê que, na Espanha-82, deixaria o mundo de boca aberta de surpresa e o Brasil de boca aberta de choro.

Mas a lembrança, nesse dia, foi outra. Fui remetido a 1995. Ribeirão sediou os jogos finais do Paulistão daquele ano. O Palmeiras se classificara para a semifinal contra o São Paulo. Estava engasgado com os bâmbis desde a Libertadores do ano anterior, embora tivéssemos sido campeões brasileiros, mas aquela era a hora de darmos um troco. Estava em Londrina, mas queria levar a família toda para ver o jogo, que seria dia 14, entre os aniversários do meu irmão (dia 4) e do meu pai (dia 20).

Mas como garantir ingresso?

Procurei Sandro Dal Picollo, que já trabalhava na Globo, mas ainda estava na Coroados, em Londrina. Ele disse que o pai dele quebraria o galho, sem problemas. Encomendei quatro ingressos. Vazei no sábado, passei em Ribeirão, peguei os ingressos e rumei para Guará. Os pais do Sandrão me trataram muito bem. Fizeram-me descer do carro, me ofereceram café, queijo, bolo, doces, enfim, aquela recepção de interior, de pais satisfeitos por estarem fazendo um favor a um amigo do filho deles.

Claro que, no dia seguinte, ao voltarmos a Ribeirão, a família toda, passamos lá, deixamos um frango caipira, agradecemos pra caramba o favor, coisa e tal, e fomos para o estádio. Meu irmão estava com a perna quebrada. O estacionamento ficava muito longe dos portões de entrada - é uma rampa semelhante, talvez maior que a do Estádio do Café. Pedi aos policiais para que permitissem que eu fosse de carro até lá em cima para deixar meu irmão, que eu voltaria. Permitiram.

Lá dentro, festa. Ganhamos de 1 a 0, gol de Rivaldo. Fomos para a final, contra o Corinthians. Seriam as duas últimas partidas de Roberto Carlos no Palmeiras - o lateral, agora contratado pelo Corinthians, já estava negociado com a Inter de Milão. E não é que o filho da mãe me perde pênalti no primeiro jogo da decisão? O cara, famoso pelo chute forte, tomou aquela distância, veio com aquela vontade, achávamos que jogaria o goleiro para dentro do gol, pegou na orelha da bola e deu um chute torto, fraco, rasteiro, mascado, pra fora. Merda!
No segundo e decisivo jogo, até endurecemos, graças a um gol de Nilson, mas o Corinthians ganhou com um gol de Elivelton na prorrogação. Foi a primeira vez que o Corinthians venceu o Palmeiras numa decisão de campeonato. Mesmo assim na prorrogação. Nos 90 minutos, até hoje eles nunca ganharam da gente.

Mas o inusitado dessa passagem é que, de volta a Londrina, meses depois, quando nos encontramos, Sandrão confidenciou que fora a única vez que o pai dele, comercialino roxo, botara o pé perto do estádio do Botafogo. Foi ao guichê comprar nossos ingressos, a pedido do filho. O que um pai não faz por um filho?

Se o Sandrão tivesse me falado da paixão do pai pelo Comercial, teria contado a ele, durante aquele café maravilhoso, que eu, aos 16 anos, promissor médio-volante, tinha jogado no Estádio Palma Travassos, defendendo o bravo Vila Nova, de Guará, num confronto com os juniores do Comercial, numa preliminar de Comercial x Portuguesa. Marinho Rã, atacante da Lusa, foi ao nosso banco de reservas nos cumprimentar pela partida, apesar da nossa derrota por 1 a 0, fatos - a visita do craque da Lusa e a magra derrota para o poderoso Comercial - que renderam comentários por meses nas mesas de bar de Guará.

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