terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Terça insana
Deveria emendar o resto de tarde com uma tarefa profissional, mas a tarde desta terça-feira estava por demais convidativa para ficar trancado em casa, à frente de um computador e de um ventilador barulhento, e resolvi então fazer a caminhada vespertina, daquelas de limpar a serpentina. Já tinha dado uma checada básica nos e-mails e lido mais um texto fudido do ressuscitado Mário Bortolotto. Vesti a indumentária padrão, deixei a chave de casa no Nícolas - o espanhol dono do La Tienda, na Borba Gato entre Rio de Janeiro e Amador Bueno - e desci pro Zerão. Nícolas é torcedor do Real Santander e, claro, do Corinthians. Tem uma aposta eterna com o palmeirense Armandinho: todo jogo entre eles, seja final de campeonato, primeiro turno, qualquer coisa, Copa São Paulo, cuspe a distância, quem perder paga meia dúzia. Mas estava eu na primeira volta no Zerão quando deparei com o pessoal da Folha FM em frente aos aparelhos de ginástica, fazendo promoção. Distribuíam água gelada e chamavam o pessoal para a primeira das aulas de alongamento que dariam até de noitinha. Ganhei uma garrafinha daquelas de levar água, escondi atrás do alicerce das barras e vazei para o Igapó 2, onde a caminhada costuma ser mais aprazível, dado o povo que frequenta lá. O plano inicial era dar uma volta caminhando - coisa de uns três mil metros - e outra correndinho. No intervalo, faria uns exercícios na ATI construída ali há poucos meses, mas, como sempre, o local estava fervendo de gente que acha que aqueles aparelhos são bancos de descansar e de moleques pentelhando pra tudo quanto é lado. Grande iniciativa, a da Unimed, em colocar uma ATI ali. Já conhecia as de Maringá, onde há várias Academias da Terceira Idade, uma série de aparelhos para exercícios leves. Onde morava, na Zona Cinco, tinha uma pertinho, no bosque das Grevíleas, e ia lá quase todo fim de tarde. Em Maringá, pra variar, as ATIs eram mais uma coisa sob suspeita. O comentário geral era de que a Unimed de lá construiu as ATIs para... Enfim, deixa pra lá; Maringá que se resolva com os donos dela. Não é o caso de botar a mão no fogo, mas é difícil acreditar que em Londrina houvesse algo parecido. Issao Udihara, o presidente, não iria se queimar por tão pouco. E muito menos o nome do pai, o velho Udihara, médico pioneiro da cidade. O fato é que as tais Academias ao ar livre são uma curtição. Mais até do que em Maringá, em Londrina a Unimed poderia espalhá-las pela cidade, que seriam sucesso garantido. Só nas margens do Igapó daria para implantar, facinho, facinho, umas oito - e todas, em especial nessa época de verão, ficariam lotadas. Retornando da caminhada, dei uma geral no que precisava em casa e entrei para o banho, sem antes de tomar uma iniciativa pouco prudente: colocar um vinil na vitrola. Isso é de um risco absurdo, levando-se em conta o estado do meu toca-discos e dos meus vinis. Não deu outra: com poucos minutos de chuveiro, o disco do Purple enroscou no meio da primeira faixa, "Strange Kind of Woman", e logo depois do refrão "ai uont iú, ai nid iú" a agulha enroscou num tal de "celebreitis/ú, celebreitis/ú" do qual não saía mais. Não ia molhar metade da casa para tirar a agulha de lá e deixei rolar. Desculpa aí, vizinho. Debita mais essa na conta. Pô, o disco é do caralho. Made in Japan. Dois discos gravados ao vivo, em dois shows, um em Tóquio, outro em Osaka. O Lobo, do Menina Bar, ventilou a hipótese de levar para lá a Noite do Vinil, que Apolo Theodoro criou no bar que ele construiu para os irmãos na Casa do Jornalista. E disse que, se rolar, me chama para a primeira. O barato é o seguinte: um convidado vai lá e toca a seleção musical que quiser, desde que seja em vinil. Se rolar a do Menina, Deep Purple vai abrir e fechar a noitada. Já estava me preparando para mais uma noite de sossego e trabalho quando resolvo ligar pra Andrea Monclar, a fim de darmos cabo a um quilinho de tilápia congelada que trouxera de Guará e deixara metade em casa e metade na casa dela. Rango combinado, ela me conta que Regis Querino estava me procurando. Regis, o Papagaio, santista de nascimento, santista roxo, pai palmeirense, há anos em Londres com a mulher, Adriana, está de passagem por Londrina e pediu meu celular. Como não ligava, liguei eu para o hotel Igapó e o intimei para umas no Bar do Jota. O hotel fica a uma quadra da minha casa e o Jota, quatro. Ele pediu 40 minutos para tomar um banho e checar os e-mails - podia ser que houvesse algum enrosco de trampo na caixa postal, ele que edita uma revista em português em Londres. Daí, abri o notebook para registrar essas mal traçadas. Regis já tinha combinado com uns salafras dar um pulo no Valentino para prestigiar a Terça Tilt de Nelson Sato, mas eu tô fora. Em tese, pelo menos. O que vai virar disso tudo, só Deus sabe.
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Ufa! Estou lendo aos pedaços. Amanhã continuo.
ResponderExcluirBeijo beijo.
Desconfio que essa parada de vinil no Menina dos Olhos Bar não rola mais. Pelo que sei, o bar da Av. Santos Dumont fechou as portas em outubro.
ResponderExcluirNão que eu nutra muita esperança, Marcos, mas o Menina a que me referi é o da Maringá, administrado pelo Lobo. O da Santos Dumont, pelo que me disseram, foi aberto pelo ex-sócio dele.
ResponderExcluirVocê descreve tão bem, que as imagens surgem diante de meus olhos nitidamente. Quando te leio posso vê-lo caminhando pelas ruas; posso vê-lo voltando para casa, posso vê-lo colocando um vinil na vitrola. Imagino-o... tomando banho (risos). Brincadeiras á parte, você tem um prodigioso talento descritivo para contar histórias, além de um enorme bom humor que suaviza meu dia-a-dia.
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