sexta-feira, 31 de julho de 2009

Jornal de Londrina, 20 anos. Caramba...


Caramba, hoje o JL completa 20 anos de vida. Parece que foi ontem. Apaixonado, saí da república onde ficara seis anos, na lendária Paraíba 322, para me mudar, “casado”, com a Cris, para a rua Taubaté, quase em frente ao portão dos fundos da Londrimalhas, perto da esquina com a Araçatuba, onde ainda funcionava a Belon, distribuidora da Skol. Bem em frente de casa tinha o consórcio Norpave. Ali, ao contrário do que muitos pensam, não é Jardim Alvorada. É, vim saber tempos depois, um tal Jardim Vera Liz. Tinha pouca coisa na Rua Taubaté. Do lado de cima, além desse famoso consórcio, todo o fundo da Londrimalhas e, na parte de baixo, onde morávamos, algumas casas. A Taubaté é uma rua pequena, que vai da Araçatuba até a Arthur Thomas – uns 300, 400 metros. No quarteirão do meio tinha um terrenão baldio, onde depois viria a ser construída a primeira cancha de society artificial de Londrina. Bem, eu e a Cris fomos morar no primeiro quarteirão da Taubaté, perto da Belon. Na outra ponta da rua, na esquina com a Arthur Thomas, ficava um imóvel que, meses antes, tinha servido de comitê eleitoral para Alex Canziani. Alex tinha se candidato a vereador, se não me engano. É, tinha que ser a vereador mesmo, porque dois anos antes, em 86, ele fizera parte da turma da Realidade, a chapa que perdeu as eleições no DCE para a Vaca, da qual eu fazia parte, junto com o Marcelo Sokolowski, a Carla Sehn, o Leandrão, a Jamile, uma turma fera e bem intencionada. Pois no ano em que eu e a Cris fomos morar na Taubaté, numa casinha de fundo, com um jardim imenso na entrada, o Jornal de Londrina nasceu e ocupou o tal imóvel do Canziani. Para um jornalista, como eu, a proximidade física com o jornal recém-nascido era só um detalhe, e menor, nessa relação. Eu já era profissional da Folha havia dois anos e meio. Por sorte, entrara no jornal ainda estudante, numa época em que a imprensa escrita de Londrina tinha voz única. Em setembro de 1986 e nos primeiros meses de 87, eu trabalhara no Paraná Norte, jornal regional editado pela própria Folha para, mais uma vez, entre outros propósitos, sufocar a ideia de um segundo diário na cidade. Aí, no carnaval de 87, o PN morreu. As duas redações entraram em greve, no que teria sido a maior greve de jornalistas do País, e ao fim da paralisação a direção decidiu fechar o PN. Os jornalistas que lá trabalhavam e cujo vínculo era com a Folha foram reabsorvidos. Alguns iniciantes, também. O resto dançou. Eu, focaço, estudante, dancei. Fui chamado dois ou três meses depois para o Local da Folha, que estava sendo reestruturado. O editor era Edílson Leal, então – e até hoje – assessor de Alvaro Dias. Jerê, o lendário editor de Local, era editor-chefe do PN, comandava o jornal com o Bernardo. Na reincorporação, ele e os cabeças da greve (por sinal, os melhores jornalistas da cidade) foram segregados numa tal Editoria Especial: Edson Vicente (Jerê), Bernardo Pelegrini, João Arruda, Nelson Capucho. Apolo Theodoro, que começara em jornal no PN, também. Mas o Local estava sendo reestruturado, e eu entrei. Havia os que haviam sobrado da greve – Ruth Meira, Helder Vilela – e os novatos. A cada dia entrava alguém novo: Rosane Barros, Marcos Gouveia. A Redação tinha as feras da Editoria Especial e os veteranos Jota, Widson, Stélio, Isnard, Rui, Petrin. Por muitos anos eu fui o caçulinha da Redação da Folha. Entrei lá aos 20 anos, saí perto dos 35. Em 1989, finalmente, rebentou o sonhado segundo jornal de Londrina. Graças ao Belinati e ao Walter Macarini. Belinati, por ter voltado à prefeitura, após a desastrosa primeira passagem. Walter, pela atuação frente ao Comercial da Folha, impondo suas próprias regras aos anunciantes. Foi então, pelo que me lembro, que um grupo de jornalistas ideológica e pragmaticamente ligados ao ex-prefeito Wilson Moreira, aquele que pôs ordem na casa após o furacão Belinati I, convenceu um grupo de empresários, ligados majoritariamente ao ramo imobiliário e da construção civil, a empreender um órgão para ser uma alternativa comercial e editorial à Folha e ao grupo político que voltava ao poder. Para nós, jornalistas, foi um momento muito especial. Não apenas – corporativamente falando – pelo surgimento de novas vagas de trabalho, em um mercado já saturado, mas, sobretudo, pela relação que se estabeleceria entre a Redação da velha Folha com os profissionais do novo jornal. Viveríamos, nós, os jornalistas da Folha, uma situação ímpar: dividir os fatos do dia, as entrevistas coletivas e tudo mais, com profissionais de outro jornal. Como ficaria, então, essa convivência, entre uma redação habituada a ser voz única com um “intruso”, um grilo falante? Como se ombrariam, no dia a dia, esses dois grupos? A questão era muito mais séria do que se pode imaginar hoje. Era um momento único, especial. A expectativa dessa convivência, desse embate, desse duelo, era aterrador. A Redação da Folha passaria a ter concorrência. Conviveria com a possibilidade, o temor, de furos. Ninguém, por mais cortês que possa ser, gosta de ter seu quintal invadido. E era essa a sensação da época. E os departamentos comerciais de ambos os jornais, da Folha em especial, passaram a alimentar esse embate, tão logo o pessoal do JL começou a trabalhar ainda intramuros. E daí vem o resultado que me fez e me faz até hoje a ter – apesar de tudo! – orgulho dessa categoria. Pois se sobrevivemos sem nenhum arranhão foi graças à maneira com que os profissionais de ambas as redações se portaram naquele momento particularmente espinhoso. Embora irradiássemos, em cada poro, desconforto e algum constrangimento, pela situação absolutamente ímpar em que nos encontrávamos, o modo respeitoso e profissional como nos tratamos, naqueles primeiros dias, primeiras semanas, primeiros meses, foi essencial para estabelecermos, em Londrina, uma categoria forte, razoavelmente unida, sobretudo madura, uma categoria que, naquele ano e nos seguintes, construiria uma relação corporativa que resultaria na criação de um sindicato próprio e na conquista de pontos – como o piso salarial – que são, vinte anos depois, o esteio de um segmento profissional que, hoje, procura seu rumo feito cachorro caído de um caminhão de mudança. A maneira como nos comportamos frente a frente, na cobertura diária e então não mais monopolizada da notícia, a maneira como nos colocamos na busca pela notícia exclusiva, pela abordagem dos fatos, tenho certeza de que contribuiu significativamente para o lado bom da sociedade de Londrina. Resgatar esse período seria fundamental para que os jornalistas de Londrina – depois de tudo o que sofreram e tudo o que erraram – se reaprumassem. Pode acreditar: se a Redação do JL, atualmente, é integrada por profissionais majoritariamente competentes e decentes, isso tem muito a ver com o que aconteceu desde 20 anos atrás. Por tudo, mas principalmente pelos jornalistas que lá estão e que por lá passaram, o JL merece, sim, os parabéns.

7 comentários:

  1. Wow, Roger, adorei tudo, o texto, a retrospectiva, que aulona de história sobre esse período tão especial mesmo para Londrina. Beijos, saudades.

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  2. Ah, postei seu texto lá no meu twitter. Entra lá: http://twitter.com/carlasehn .

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  3. Bacana. Memória fabulosa sobre outros tempos do jornalismo londrinense.Valeu.

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  4. Bacana. Memória fabulosa que você faz de outros tempos do jornalismo londrinense. Valeu.

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  5. Muito bom. Eu tenho um grande carinho pelo azulzinho desde o início. Pelo seu post fiquei sabendo um pouco mais sobre a história do jornal. Abraços.

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  6. Rogério, que texto fantástico! Me fez lembrar muitíssimo bem dessa época. Bons tempos! E a grande figura do Jerê. Valeu! Beijo bem grande

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  7. Muito bom, gato.
    Que saudades de vc.
    bjocas

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